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Eu odeio bigodes!

Uma semana depois...

A semana foi pesada. O clima de casa não estava bom. Meu pai estava mal-humorado e minha mãe chorava pelos cantos. Eu me sentia péssima. Se eles queriam me entristecer e fazer com que eu me sentisse culpada, conseguiram. Mas pensando bem, lá no fundo, eu não me arrependia de ter assustado meu pretendente.

Eu ia assustar todos! Eles acabariam desistindo de mim.

Eu estava no quarto, sozinha, infeliz. Imersa em pensamentos, quando ouvi batidas na porta.

— Entre.

Era minha mãe que logo que me viu, avançou no quarto.

—Hoje à noite, a família e seu novo pretendente virão te conhecer. — Ela disse tremendo os lábios. — Eu juro. Se você não se comportar, eu lavo minhas mãos. Seu pai tratará com você de perto, e eu não quero nem ver.

Eu forcei o sorriso como uma idiota.

—Vou me comportar mamãe. Serei sacrificada, para fazer vocês felizes. E o rapaz? Como ele é?

Vi a minha mãe apertar os lábios.

—A aparência não importa. O que importa é que ele te fará feliz.

—Como sabe? Por acaso tem bola de cristal? —O desespero aumentou minha voz.

Ela me olhou nervosa.

— Não vou discutir com você. Você está mudada. Sempre foi obediente. Por que tudo isso agora?

—Por que é meu futuro que está em jogo. Será que não enxerga isso?

—Enxergamos que, os ocidentais são uns homens beberrões, vazios, infiéis e descompromissados. E estamos garantindo um futuro tranquilo para você, mas infelizmente, você não enxerga isso.

Eu me levantei da cama.

— Enxergo, que eu poderia escolher meu marido. Por que não dar uma festa e convidar todos os homens disponíveis do nosso povo? Quem sabe assim eu não me sinta tão pressionada?

—Como você é pretensiosa. E você acha que é fácil assim? Que tem um monte de homens disponíveis? Seu pai é bem relacionado por causa do hotel. Por isso conhece os homens de bem e disponíveis, mas mesmo assim, não foi fácil encontrar essa família.

—A senhora não pode me falar um pouco dele? —Eu perguntei angustiada.

—Ele é um homem de negócios, fala fluente o árabe, negocia a compra de petróleo com o exterior.

— Allah! Um homem como esse, para não ter se casado, deve ser barrigudo, baixo e velho.

— Está vendo, como não consigo falar com você!

—Acorda mãe! Ele deve ser rico. Por que não se casou ainda?

—Quem disse que não se casou?

—Como assim?

—Ele é viúvo. Tem um filho adolescente.

—Tem um filho adolescente? Só me faltava essa!

Eu a vi me olhar angustiada. Ela me disse chorosa:

—Viu como eu não deveria falar com você? Por que não ouço seu pai? 

Colocando as mãos no rosto, chorou. Eu fui até ela e a abracei. Minha mãe se casou muito jovem, tinha apenas quarenta anos. Era linda e agora chorando assim parecia muito mais jovem e mais frágil.

—Mamãe. Pare, por favor. Eu prometo me comportar. —Acabei dizendo.

Ela levantou o rosto, suas feições estavam pesadas. Mas não resisti e eu pedi:

— Só uma última pergunta.

Ela endureceu o olhar. Eu continuei:

—Para ele ter um filho adolescente, ele deve ser bem mais velho?

— Sim.

Eu me senti quente por dentro.

—Quantos anos, mamãe?

— Quarenta.

Eu suspirei me sentindo sacrificada. Ajeitei meus cabelos compridos num gesto nervoso. Mamãe me olhou com um sorriso entre as lágrimas e eu percebi que mamãe ia tentar melhorar a situação, eu a conhecia bem:

— Você sabe que homens mais velhos são muito bem-vindos pela experiência. Ele saberá conduzir o casamento, melhor que um homem mais novo.

— Vocês querem se ver livre de mim, é isso? Por quê? Tenho sido um peso para vocês?

—Por Allah! Não! —Foi a resposta dela imediata e fria.

—Não? Pois é o que parece!

—Desisto! Esteja pronta às sete horas. Já separei o vestido. Abiá está passando.

— Tem que ser preto, combina com meu humor negro.

Eu a vi sair de modo altivo. E isso me enervou.

Isso tudo era um complô!

Às sete horas, eu estava pronta para o jantar. Minha mãe tinha escolhido um vestido creme e dourado, abaixo dos joelhos, muito bem-comportado. Deixei meus cabelos soltos, que desciam pelas costas. Já que era para encarar meu destino, ia encarar com classe, por isso fiquei bonita.

Mas pensando bem, por que não ousar na maquiagem? Bem carregada.

Quem sabe isso o assustava?

Pintei meus olhos de negro, lápis, sombra. Reforcei o batom vermelho. Pronto! Só faltava colocar a etiqueta: VENDIDA.

Antes de sair do quarto minha mãe entrou:

—Pode limpar tudo isso agora!

—Limpar o quê?

—Não se faça de desentendida! Agora não é o momento para usar uma maquiagem tão carregada. Vamos!

Eu suspirei e pisando duro fui até o banheiro, passei um lenço umedecido e limpei tudo. Fui de cara lavada.

— Assim?

—Pode ser! Melhor passar a imagem de pureza do que de uma mulher vulgar. E outra coisa, você não ficará com ele sozinha, para não desandar tudo.

Allah! Agora eu estava ferrada!

Dirigi-me a sala como uma condenada, já podia ouvir até a música fúnebre tocando atrás de mim a cada passo que eu dava. 

Conforme fui avançando no corredor, vi meu pai sorrindo a um casal bem idoso. A conversa parecia bem animada. Meus olhos então focalizaram meu pretendente.

Quase sai com a mão na cabeça gritando.

O homem tinha uma barriguinha saliente, cabelos grisalhos, bigode.

Eu odeio bigodes!

Quando entrei todos me fitaram. Eu andei como uma cordeirinha sentenciada à morte.

Por que eu não fiquei com o magrinhooooooooooooo e novoooooooo?

Mas quem disse que eu ia gostar do outro?

Allaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!

Nãooooooooooooooooooo!

 Nem aquele, nem esse!

Focalizei então um adolescente, parecia ter uns 14 anos. Ele estava em frente à janela da sala, parecia pensativo. Quando ele sentiu minha presença, voltou para mim seu olhar. Ele não parecia nada amistoso.

Meu pai logo que me viu abriu um sorriso:

—Nádia. Minha Nádia. Quero que conheça os Abdul-Nasser. A senhora Anani e o senhor Farid.

Eu fiz um leve movimento com a cabeça. Ele pegou minha mão e me levou a meu pretendente.

— Esse é Fadir Abdul-Nasser — Acenei com um gesto de cabeça, séria. —Ele tem um filho. Fatin.

Logo todos nós estávamos reunimos em volta da mesa. Como sempre minha mãe caprichou. Mas mesmo com a comida apetitosa, eu não conseguia comer nada, sentindo o tempo todo os olhos de Fadir em mim.

Depois do jantar fomos para a sala. Fadir se manifestou ao meu pai:

— Senhor Mustafá, gostaria de, se possível, convidar sua filha amanhã, para um jantar de negócios. Seria uma forma de estreitarmos o relacionamento. E uma forma também, dela se acostumar à rotina de jantares quando for a senhora Abdul Nasser.

Meu pai piscou um pouco, vi que ele ficou incomodado. Era natural, ele não estava costumado a me liberar para sair sozinha, e ainda mais acompanhada. Então, eu não me admirei quando meu pai falou:

— Não se ofenda Fadir, mas minha Nádia não está acostumada a sair sozinha. A mãe dela sempre a acompanhou.

Isso pareceu agradar Fadir que olhou para mim e sorriu com aprovação.

—Oras, mas não tem problema, a senhora sua esposa, pode nos acompanhar.

Minha mãe interveio:

— Mustafá, Nádia poderá ir sem minha presença. Tenho certeza que Fadir vai respeitá-la seguindo os ensinamentos do nosso profeta Maomé.

— Isso é verdade, não tocarei num fio do cabelo dela. Ela participará de um jantar muito importante para mim. E na minha sinceridade, quero dizer que eu estava à procura de alguém que me acompanhasse como futura esposa nesse jantar, seria ótimo para os negócios.

Meu pai olhou para mim pensativo.

— Bem, sendo assim. Tudo bem. Mas não a traga tarde da noite.

— Isso não ocorrerá, o Sheik Mansur Al Jain não costuma prolongar muito esses jantares.

Minha mãe sorriu para meu pai com um brilho nos olhos, e meu pai não disfarçou também a alegria de sua filha estar ao lado de um homem tão importante que tinha acesso a jantares com um Sheik.

Quando todos foram embora, fui chamada pelo meu pai na biblioteca. Ele fechou a porta e olhou bem sério para mim.

—Nádia, como viu, Fadir é uma boa pessoa. É um homem rico, de boa índole. Nada te faltará, minha querida. Serás tratada como uma rainha.

—Dinheiro? Vocês só pensam nisso?

Meu pai falou num tom enérgico:

— Você só fala isso, pois não te faltou nada até hoje.

Impossível! Meu pai nunca iria me entender!

—Está certo papai. Tesbah ala kheir. (Boa noite!) —Encerrei a conversa.

— Tesbah ala kheir.

No dia seguinte acordei triste. Fadir tinha combinado com meu pai de me pegar às cinco horas da tarde. O jantar seria em uma mansão em um bairro nobre, aqui em Londres.

Passei o dia na cama, em um estado de entorpecimento. Nem o jantar dessa noite me animava.

Quando deu quatro horas da tarde, minha mãe entrou em meu quarto.

—Nádia, querida. Você precisa ver a roupa que irá nesse jantar.

— Escolhe você.

Ela se dirigiu ao meu guarda-roupa. Pegou um vestido azul turquesa. Eu vi e não disse nada, mas aquele vestido estava apertado. Eu há muito tempo não o usava, pois, minhas formas estavam mais cheinhas. Na época eu era bem mais magrinha.

—Pronto! Esse! Ficará lindo em você. Como a noite é fria, eu te emprestarei meu sobretudo de pele.

Hum, nada como ter um jantar com um sheik. Pensei.

— Jura que a senhora irá me emprestar?

—Jurar é haraan. (Pecado) E afinal, não é todo dia que se tem um jantar com um sheik!

Eu suspirei.

—Está certo!

Mamãe deixou tudo na cama. Cinco e meia, eu já estava pronta. O vestido me fez parecer uma sereia.

Ótimo! Quem sabe assim espantaria Fadir? Se ele fosse conservador, seria uma forma de afugentá-lo.

Eu quase não andava direito dentro do vestido. Sorri, colocando o sobretudo. 

Fadir chegou no horário. Fui levada para uma limusine que nos esperava. Até que eu estava gostando, nunca tinha andado em uma.

No interior dela, ele pegou minha mão, e levou aos lábios, beijando a palma, o seu bigode me provocou mais cócegas do que prazer. Eu sorri para ele, sem recato. Precisava assustá-lo. Ele retribuiu o sorriso, sem dizer nada. Com certeza, depois dessa noite, ele iria desistir de me ter como esposa.

Logo chegamos à mansão. Eu fiquei boquiaberta com o lugar. Muros altos a se perder de vista. Calçadas todas arborizadas com grandes pinheiros.

O carro avançou logo que os grandes portões foram abertos. E logo avistei um grande, não, imenso palácio, daqueles que só se vê em filmes. Olhei tudo como se eu estivesse dentro de um sonho.

Quando o carro estacionou na grande entrada que era formada por um grande arco que parecia banhado em ouro puro, um senhor uniformizado com roupas engraçadas e sapatos engraçados, abriu a porta do carro.

As roupas que ele usava, parecia as do Aladim. Quase dei uma gargalhada histérica, mas me contive.

Avançamos para o interior do palácio. Mas como tudo não era perfeito, vi um homem gordo, careca e feio, mas muito bem trajado a nossa espera.

— Sua majestade o Sheik Mansur Mohamed Al Jain, vai atendê-los.

Hum, esse não era o Sheik.

Nunca tinha visto um Sheik na vida! Dentro de mim se revolvia dois sentimentos, o da curiosidade e o nervosismo.

Entramos no interior do palácio. Espaçoso, ventilado, enorme. Cada canto dele uma estátua de algum artista famoso. Quadros espalhados pelas paredes e muitas palmeiras.

Adentramos a uma grande sala, com muitos sofás de cores alegres, misturadas ao dourado. Eu ia me sentar, quando Fadir fez menção de tirar meu casaco. Meu coração se agitou com aquilo que viria a seguir. Suspirando permiti. Quando meu corpo se revelou, seus olhos se detiveram no vestido justo e se arregalaram. O vestido marcava tanto que parecia pintado no meu corpo esbelto. O tecido da cor turquesa colado aos meus seios fartos e firmes, desenhando o meu bumbum redondo, isso o desnorteou.

—Allah! Como pode se vestir dessa maneira?

Eu o fitei demonstrando um susto, que eu não sentia. Fiz a minha cara de Anjo novamente:

— Mas eu sempre me visto assim. Não estou bonita?

Rodopiei na frente dele para provoca-lo e sorri, fazendo meus cabelos negros e compridos ondularem em meu corpo.

Ele pegou o casaco e jogou em cima de mim, como eu não o segurei, ele caiu aos meus pés.

— Você fez de propósito! —Ele apertou meus braços e me sacudiu com raiva, com os dentes trincados, irritado.

— Me larga! — Ordenei.

Ele me disse cheio de cólera:

— Não vou te largar até você me falar o que você pretende com isso? Você não se vestiu assim em nosso primeiro encontro!

Ouvi uma voz atrás de mim.

— O que está acontecendo aqui? Por que sacode essa moça?

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