Eu estava fraca. A dor ainda pulsava, mas era uma dor que eu conhecia, uma dor que me acompanhava por tanto tempo que já não sabia mais se a sentia de verdade ou se era apenas parte de quem eu me tornei. Mas, ao ser deixada nos braços de Sofia, algo mudou. O medo não era mais só meu. Eu podia sentir a tensão nos músculos dela, a preocupação em cada movimento. Ela tentava ser gentil, tentando aliviar a rigidez que eu sentia, mas suas mãos estavam tão firmes quanto as de Matteo. Havia algo estranho nisso, algo que me fazia sentir a distância de quem realmente importava. Eu sabia que ele estava lá, observando de longe, talvez esperando que eu fosse me levantar sozinha, como sempre fiz. Mas eu não podia. Não agora. O peso da noite, das escolhas feitas, de tudo o que estava prestes a acontecer, parecia esmagar cada fibra do meu ser. — Você está bem? — Sofia perguntou, a voz suave, mas com uma preocupação que eu não conseguia ignorar. Eu sabia que ela queria mais, que ela queria que eu d
Eu não conseguia tirar Angeline da cabeça. A fragilidade que eu tinha visto nela, o medo, a vulnerabilidade… tudo isso estava me consumindo. Sabia que ela era importante para mim, mas, por alguma razão, a dor que ela carregava parecia mais pesada do que eu estava disposto a admitir. Eu passei a noite rondando os corredores, evitando meu escritório, tentando me manter longe das tentativas de controle que surgiam a cada segundo. Mas, de alguma forma, meu pensamento sempre voltava para ela. Para Angeline. Eu sabia o que ela representava, sabia que, por mais que eu tentasse, não conseguiria controlar tudo o que ela sentia. Mas, mesmo assim, não pude deixar de me preocupar. O som da chuva lá fora se misturava com o som abafado dos meus passos enquanto eu me movia pelo corredor em direção ao quarto. Eu queria saber como ela estava, mas, ao mesmo tempo, tinha medo da resposta. O que ela diria? O que ela pensaria de mim agora, depois de tudo o que aconteceu? Cheguei à porta do quarto e par
Eu estava sentada na beira da cama, sentindo a tensão pulsar em cada músculo do meu corpo. Matteo estava na porta, sua presença imponente, mas eu sabia que tinha chegado o momento de contar a verdade, de finalmente tirar o peso que me consumia por dentro. A mentira estava se arrastando, e agora, não havia mais como esconder. Ele precisava saber. O olhar dele estava frio, observador, como se aguardasse que eu dissesse algo que justificasse a nossa situação. Mas eu sabia que ele não estava preparado para o que estava prestes a ouvir. Eu não estava preparada para isso também, mas não havia mais volta. Eu respirei fundo, e as palavras saíram mais baixas do que eu queria, como se a própria voz se recusasse a ser ouvida. Mas eu não tinha escolha. — Matteo... — Comecei, as palavras engasgando na garganta. — Isabella não é sua filha. Ele me olhou como se eu tivesse acabado de dizer algo absurdo. A raiva surgiu rapidamente, mas ele não falou nada. O silêncio que se seguiu estava mais pesad
Eu queria abraçá-lo. Queria reunir toda a sua dor e transmiti-la para mim, como se o toque pudesse amenizar o que se passava dentro de nós. Mas, no fundo, eu sabia que ele não precisava de conforto agora. Ele precisava de espaço para lidar com a devastação que acabou de descobrir. Ele estava em um turbilhão, e eu estava apenas assistindo, impotente. Mas, ainda assim, meu corpo reagiu sem que eu pensasse. Me aproximei, os braços se estendendo quase por instinto. Ele me olhou por um segundo, como se estivesse avaliando se permitia que eu o tocasse, ou se minha presença era mais um peso para ele naquele momento. Seu olhar, que antes estava cheio de raiva, agora estava carregado de uma tristeza profunda, e isso me quebrou por dentro. Eu queria ser forte, queria ser a mulher que ele sempre precisou, mas o que estava acontecendo entre nós parecia maior do que qualquer força que eu pudesse oferecer. Ele me evitou, dando um passo para trás, afastando-se de mim como se a simples proximidade
Eu sabia que Olivia mentia para mim, mas nunca imaginei a extensão de sua traição. Quando Giovanni me entregou os documentos, uma frieza percorreu meu corpo. Isabella... não era minha filha. Sentei-me no sofá do meu escritório, encarando aqueles papéis como se pudessem mudar a verdade. Meu peito subia e descia lentamente, enquanto minha mente trabalhava para absorver a realidade. Olivia estava sentada à minha frente, com os olhos arregalados de medo. Ela sabia que eu havia descoberto. Sabia que seu tempo estava chegando ao fim. — O que foi, Matteo? — Sua voz tremia. Levantei o olhar para ela, segurando o papel entre os dedos. O silêncio entre nós se alongou por segundos eternos. Então, ergui a voz, fria e afiada como uma lâmina: — Isabella não é minha filha. O rosto de Olivia empalideceu. Sua respiração se tornou ofegante, as mãos tremiam sobre os joelhos. — Matteo, por favor, eu posso explicar! — Ela tentou se aproximar, mas meu olhar a fez congelar no lugar. — Explicar? Você
O motor do carro roncava baixo enquanto eu encarava a estrada à minha frente. As luzes da cidade piscavam ao longe, indiferentes ao que acabou de acontecer. Meus dedos ainda seguravam o volante com força, como se apertassem algo invisível, algo que eu não conseguia soltar. Mas eu sabia que a decisão estava tomada. Olivia se foi. E com ela, o peso de sua traição. Ao chegar em casa, a mansão estava silenciosa. Passei pelos corredores amplos, sentindo o frio do mármore sob meus pés. Meus homens sabiam que era melhor não cruzar meu caminho naquela noite. Subi as escadas devagar, meus ombros carregando um peso que não deveria estar ali. Eu havia feito o necessário. O correto. E ainda assim... Abri a porta do quarto de Isabella. A luz do abajur iluminava seu rosto sereno, seus pequenos dedos agarrando um ursinho de pelúcia. Ela dormia tranquila, alheia ao caos que sua mãe criou, alheia ao destino de Olivia. Me aproximei, sentindo algo profundo se agitar dentro de mim. Isabella não era meu
Eu estava sozinho, envolto por um silêncio que nada suavizava. Naquela tarde, o crepúsculo invadia as janelas da mansão sem oferecer qualquer conforto. Isabella se aproximou com cautela, os olhos curiosos denunciando uma dor que ela mal compreendia. — Papai, por que tudo está tão diferente? — perguntou, a voz trêmula mas esperando uma resposta que eu não sabia expressar com afeto. Eu a encarei sem mudanças na expressão, ciente de que precisava transmitir a verdade, ainda que minhas palavras soassem desprovidas de ternura. — Isabella, sua mãe não vai voltar. — declarei, de forma direta e fria, como se estivesse apenas afirmando um fato inalterável. Houve um silêncio breve enquanto eu observava a confusão se misturar à dor em seus olhos. Eu sabia que aquilo causaria sofrimento, mas não possuía o dom de amenizá-lo com palavras acolhedoras. Em vez disso, continuei com a mesma frieza controlada: — A ausência dela é permanente. Sei que é difícil compreender, mas é a realidade. Mesmo qu
Eu a conduzi até o jardim, onde o silêncio parecia mais suportável, e nos sentamos em um banco, perto de algumas flores. Isabella estava quieta, com os olhos baixos, o peso de algo que ela ainda não conseguia entender claramente estampado no rosto. Eu sentia que ela precisava falar, mas também sabia que as palavras dela viriam do fundo de um coração pequeno, tentando entender a imensidão do que estava acontecendo. Depois de alguns minutos, ela finalmente quebrou o silêncio. — Angeline... eu… eu queria pedir desculpa. — Sua voz era tímida, quase um sussurro. Ela olhou para mim com os olhos cheios de um medo que me fez apertar o peito. — Desculpa? — Perguntei, suavemente, sem saber onde ela queria chegar. Ela mordeu o lábio, olhando para as mãos, como se tentasse encontrar coragem. — Eu… eu falei que você me empurrou. Mas não foi assim, né? Eu menti. — Sua voz tremia, como se a confusão e a culpa estivessem amarradas nela. Eu a olhei, o coração apertado. Isabella era apenas uma cr