O salão estava repleto de pessoas influentes, vestidos de luxo e sorrisos ensaiados. O brilho dos lustres dourados refletia nas taças de champanhe e nas joias extravagantes das mulheres. Matteo e eu entramos de braços dados, a imagem perfeita de um casal poderoso e inabalável. Eu mantinha a pose de mulher submissa, meu olhar baixo e minha expressão serena, mesmo que meu peito estivesse em chamas.Os cumprimentos eram trocados com naturalidade, sorrisos falsos e promessas vazias flutuavam pelo ar. Matteo conduzia a conversa com maestria, e eu assentia nos momentos certos, rindo quando esperado. Por dentro, cada palavra parecia um peso que eu precisava carregar. Ele tocava minha cintura com possessividade.Foi quando vi Bianca, observando-me à distância. Seu olhar era inquisitivo, quase preocupado. Engoli em seco, desviando o olhar antes que Matteo notasse. Não podia me dar ao luxo de demonstrar qualquer fraqueza.— Você está maravilhosa está noite. — Matteo sussurrou contra minha orelh
As luzes da cidade passavam como borrões pelo vidro do carro enquanto Angeline e eu seguíamos em silêncio. O clima entre nós era denso, sufocante. Desde que saímos da festa, ela não disse uma palavra. Eu também não sabia por onde começar. Mas precisava falar. Precisava contar.Suspirei, passando a mão pelo rosto, sentindo o peso do que estava prestes a dizer. A verdade queimava na minha garganta desde que voltei de Nova York, mas não sabia como soltá-la sem causar ainda mais dor.Quando o carro parou em frente à nossa casa, Angeline saiu sem esperar. Segui atrás dela, observando seus passos apressados e a tensão visível em seus ombros.Engoli em seco. Meu coração batia forte. Não era assim que eu queria que essa conversa começasse, mas não havia mais tempo para hesitação.— Preciso te contar uma coisa. — Minha voz saiu mais baixa do que eu queria, mas firme.Ela cruzou os braços e me encarou, esperando.— Minha viagem para Nova York… não foi apenas sobre negócios. — Olhei nos olhos de
O álcool queimava minha garganta, mas não tanto quanto as palavras de Angeline ainda queimavam dentro de mim. Eu encostei o copo na mesa, meus olhos perdidos nas luzes difusas da boate. A música alta e o cheiro de cigarro misturado com perfume caro formavam o ambiente perfeito para alguém que queria se afogar nos próprios pensamentos. E eu queria. Eu precisava.Foi quando Giovanni se sentou ao meu lado, pedindo um uísque para si. Ele me olhou de soslaio e suspirou.— Matteo, você está parecendo um cachorro abandonado. O que foi dessa vez?"Soltei uma risada sem humor.— Acredite, Giovanni, dessa vez é pior.Ele ergueu uma sobrancelha e tomou um gole da bebida antes de se recostar na cadeira.— Vai, fala logo. Desembucha.Eu passei a mão no rosto, tentando organizar os pensamentos turvos pelo álcool.— Lembra da Olivia?— Claro. O que tem ela?Suspirei pesadamente.— Descobri que tenho uma filha com ela, Giovanni... A menina tem cinco anos. E a Angeline... Ela tá furiosa. Se sentiu tra
A manhã chegou e, apesar da resistência, desci para o café da manhã. Encontrei Verônica e Alessandra. A ausência de Sofia, que partiu para a Rússia, tornou o ambiente ainda mais solitário.Verônica ergueu os olhos da xícara de café e, com sua expressão severa de sempre se pronunciou.— Pensei que ficaria no quarto o dia inteiro, como tem feito ultimamente.Alessandra interveio com um sorriso gentil para mim.— Deixe-a em paz, Verônica. Todos lidamos com o sofrimento de formas diferentes. Como está se sentindo, minha querida?Respirei fundo antes de responder.— Estou tentando me ajustar, Alessandra. Algumas coisas ainda parecem irreais.Verônica suspirou e mexeu o chá com lentidão.— Bom, espero que essa sua... melancolia não atrapalhe Matteo. Ele tem muito com o que se preocupar.Engoli em seco, mas antes que pudesse responder, Alessandra tocou minha mão suavemente.— Matteo ama Angeline, Verônica. E ela faz parte da nossa família, quer você goste ou não. Então tudo vai ser resolvido
Entrei na igreja sentindo meu coração pesado, como se cada passo que eu desse aumentasse o peso da culpa sobre meus ombros. O cheiro de incenso me envolveu assim que atravessei as portas de madeira, e por um instante fechei os olhos, buscando um alívio que não veio.Dirigi-me ao confessionário. Assim que me ajoelhei, senti minhas mãos trêmulas e minha respiração curta. Sabia o que precisava dizer, mas as palavras pareciam presas na garganta.— Padre, eu preciso confessar.Minha voz soou fraca, hesitante. Do outro lado da grade, ele permaneceu em silêncio, esperando. Respirei fundo e continuei:— Eu sinto raiva. Sei que é errado, mas não consigo evitar. Raiva por uma criança inocente… e mágoa por meu marido.Só dizer o nome dele já me feria. Apertei os dedos contra o tecido da saia, tentando conter a dor que latejava no peito.— Conte-me, minha filha — ele disse, sua voz calma, quase acolhedora.Fechei os olhos. O medo da menina ser parecida com Matteo veio a minha mente, medo de ela t
Estacionei o carro no setor de desembarque do aeroporto e inspirei fundo antes de sair. O coração batia pesado contra o peito. Em poucos minutos, eu veria Olivia novamente e, mais do que isso, conheceria Isabella. Minha filha.O fluxo de passageiros aumentava conforme os voos internacionais chegavam.Procurei na multidão até que avistei Olivia. O tempo não parecia ter passado para ela. Os cabelos continuavam com aquele tom castanho iluminado, e o sorriso era o mesmo, aberto e confiante. Mas foi a garotinha ao seu lado que capturou toda a minha atenção.Isabella segurava a mão da mãe com força, olhando ao redor com olhos curiosos. Tinha os cachos soltos sobre os ombros e usava um vestidinho azul com pequenas margaridas estampadas. O meu estômago revirou. Ela era minha filha. Minha.— Matteo — Olivia disse ao se aproximar, um sorriso nervoso nos lábios. — Aqui está ela. Isabella, esse é seu pai.Isabella ergueu o rosto para mim, estudando-o com atenção. Eu nunca tinha me sentido tão vul
A luz do jantar era suave, mas eu me sentia exposta sob ela. Matteo havia pedido para preparem algo que Isabella gostava, e agora ela estava sentada à mesa entre nós, segurando o garfo com a leve hesitação de quem ainda se acostuma a um novo lugar. Ela era curiosa. Seus olhos inquietos deslizavam pelo ambiente, e suas perguntas vinham sem filtro.— Por que vocês moram aqui e não em outro lugar? — perguntou, os olhos saltando entre mim e Matteo.— Eu não sei... — respondi com um sorriso que me custou um esforço extra. Matteo, ao meu lado, observava Isabella com uma paciência admirável.— E por que o sofá da sala é branco? Mamãe não gosta de branco. Ela disse que dá dor de cabeça. — Isabella franziu a testa, como se tentasse entender a contradição.Tentei ignorar a pontada de ciúmes que apertou meu peito e dei de ombros.— Acho que gostamos de branco. — murmurei, como se isso fosse uma explicação suficiente.Isabella aceitou a resposta com um balançar de cabeça e continuou a comer, mas
Acordei com um som abafado, uma batida suave na porta do quarto. Pisquei algumas vezes, tentando ajustar meus olhos à penumbra. Ao meu lado, Angeline dormia profundamente, a respiração calma e constante. Outro som. Dessa vez, mais insistente. Me levantei devagar, tomando cuidado para não acordá-la. Ao abrir a porta, encontrei Isabella, seu pequeno corpo envolto em um cobertor rosa. Seus olhos castanhos estavam arregalados, um misto de sono e incerteza. — O que foi, Isabella? — minha voz saiu rouca, carregada de sono. — Não consegui dormir. — ela murmurou, segurando um coelhinho de pelúcia. — Pode ler uma história para mim? Por um instante, hesitei. Ainda estava tentando encontrar meu papel nesse novo mundo, tentando entender o que significava ser pai. Mas, ao ver o olhar esperançoso dela, qualquer resistência desapareceu. — Vamos lá, pequena. Escolha um livro. — disse, levando-a de volta ao quarto dela. Ela sorriu, subiu na cama e pegou um dos livros da prateleira. Me sente