Estacionei o carro no setor de desembarque do aeroporto e inspirei fundo antes de sair. O coração batia pesado contra o peito. Em poucos minutos, eu veria Olivia novamente e, mais do que isso, conheceria Isabella. Minha filha.O fluxo de passageiros aumentava conforme os voos internacionais chegavam.Procurei na multidão até que avistei Olivia. O tempo não parecia ter passado para ela. Os cabelos continuavam com aquele tom castanho iluminado, e o sorriso era o mesmo, aberto e confiante. Mas foi a garotinha ao seu lado que capturou toda a minha atenção.Isabella segurava a mão da mãe com força, olhando ao redor com olhos curiosos. Tinha os cachos soltos sobre os ombros e usava um vestidinho azul com pequenas margaridas estampadas. O meu estômago revirou. Ela era minha filha. Minha.— Matteo — Olivia disse ao se aproximar, um sorriso nervoso nos lábios. — Aqui está ela. Isabella, esse é seu pai.Isabella ergueu o rosto para mim, estudando-o com atenção. Eu nunca tinha me sentido tão vul
A luz do jantar era suave, mas eu me sentia exposta sob ela. Matteo havia pedido para preparem algo que Isabella gostava, e agora ela estava sentada à mesa entre nós, segurando o garfo com a leve hesitação de quem ainda se acostuma a um novo lugar. Ela era curiosa. Seus olhos inquietos deslizavam pelo ambiente, e suas perguntas vinham sem filtro.— Por que vocês moram aqui e não em outro lugar? — perguntou, os olhos saltando entre mim e Matteo.— Eu não sei... — respondi com um sorriso que me custou um esforço extra. Matteo, ao meu lado, observava Isabella com uma paciência admirável.— E por que o sofá da sala é branco? Mamãe não gosta de branco. Ela disse que dá dor de cabeça. — Isabella franziu a testa, como se tentasse entender a contradição.Tentei ignorar a pontada de ciúmes que apertou meu peito e dei de ombros.— Acho que gostamos de branco. — murmurei, como se isso fosse uma explicação suficiente.Isabella aceitou a resposta com um balançar de cabeça e continuou a comer, mas
Acordei com um som abafado, uma batida suave na porta do quarto. Pisquei algumas vezes, tentando ajustar meus olhos à penumbra. Ao meu lado, Angeline dormia profundamente, a respiração calma e constante. Outro som. Dessa vez, mais insistente. Me levantei devagar, tomando cuidado para não acordá-la. Ao abrir a porta, encontrei Isabella, seu pequeno corpo envolto em um cobertor rosa. Seus olhos castanhos estavam arregalados, um misto de sono e incerteza. — O que foi, Isabella? — minha voz saiu rouca, carregada de sono. — Não consegui dormir. — ela murmurou, segurando um coelhinho de pelúcia. — Pode ler uma história para mim? Por um instante, hesitei. Ainda estava tentando encontrar meu papel nesse novo mundo, tentando entender o que significava ser pai. Mas, ao ver o olhar esperançoso dela, qualquer resistência desapareceu. — Vamos lá, pequena. Escolha um livro. — disse, levando-a de volta ao quarto dela. Ela sorriu, subiu na cama e pegou um dos livros da prateleira. Me sente
Estava sozinha no quarto, sentada na poltrona próxima à janela. Matteo havia saído para o trabalho. Olivia e Isabella decidiram aproveitar o dia para passear, e eu não fazia ideia de onde Verônica e Alessandra estavam.A casa, apesar de cheia de empregados, parecia vazia. O silêncio não me incomodava; na verdade, eu gostava dele. Mas hoje, havia algo sufocante nesse vazio.Foi então que ouvi batidas suaves na porta.— Entra! — disse sem muito entusiasmo.Luigi apareceu na soleira com seu sorriso fácil, mas seus olhos denunciavam o cansaço. Ele sempre teve esse dom de parecer bem, mesmo quando não estava. Sentou-se na cadeira ao lado da minha e suspirou pesadamente.— Resolvi passar para ver como você está. — disse ele.Sorri de canto, balançando a cabeça.— Você veio para ver como eu estou ou para fugir um pouco de casa?Ele soltou uma risada baixa, desviando o olhar para as próprias mãos.Silêncio. Um silêncio diferente do que eu sentia antes. Esse, sim, me incomodava.— Como está se
Eu nunca fui uma mulher que gostasse de confrontos. Sempre preferi o silêncio, o recato, a gentileza. Mas ali, diante dela, a mãe da filha do meu marido, não havia como evitar a conversa. Eu precisava manter a compostura. E Olivia, ao que tudo indicava, também.Estávamos na sala de estar, um espaço amplo, mas que de repente parecia pequeno demais para comportar nossa estranha dinâmica. Isabella, sentada entre nós, balançava os pezinhos no sofá, alheia à tensão sutil que pairava no ar.— E vocês? Gostaram do passeio no parque?— Sim, Isabella se divertiu muito. Matteo foi muito atencioso com ela.Assenti levemente, mantendo minha expressão neutra. Porém surpresa de saber que ele estava presente.— Ele sempre vai se preocupar com o bem-estar dela.— Sim, e fico feliz por isso. É importante para ela sentir-se acolhida.Houve um breve silêncio antes que Isabella, sempre pronta a preencher qualquer espaço com sua alegria inocente, batesse palminhas e sorrisse.— Angeline, você gosta de bol
A semana passou voando desde a chegada de Olivia e Isabella. No começo, eu não sabia o que esperar. A ideia de ter minha filha aqui, trouxe uma mistura de emoções: alegria, nervosismo e uma leve insegurança.Isabella, que ainda estava se adaptando a tudo, começou a se aproximar de mim. Era estranho, mas ao mesmo tempo reconfortante. Eu a levava para passear, e ela parecia querer saber mais sobre mim, sobre a nossa família. Eu nunca pensei que ser pai fosse tão complexo.Mas a atmosfera em casa estava diferente. Angeline e eu estávamos afastados. O que deveria ser um momento de união e felicidade estava envolto em uma tensão que não conseguia ignorar.Havia uma distância crescente entre nós, como se um abismo tivesse se formado. Ela parecia distante, lidando com algo que eu não conseguia entender. Tentava disfarçar, mas era impossível não notar a tristeza em seu olhar. Havia momentos em que a via observando Olivia e Isabella, e a expressão dela misturava culpa e um certo desconforto.E
A festa estava em pleno andamento, e as risadas e músicas envolviam o ambiente em um clima de celebração. Mas, para mim, havia um peso que tornava tudo mais difícil. Enquanto Matteo apresentava Isabella como uma nova integrante da família, eu não conseguia evitar que os olhares se voltassem para mim.As conversas ao meu redor eram inevitáveis."Como Angeline conseguiu aceitar isso?""Ela deve estar se sentindo traída.""Como ela pode permitir que uma estranha entre na família?"As palavras flutuavam no ar, como se tivessem sido cuidadosamente escolhidas para machucar. Eu tentava ignorar, mas a verdade era que cada sussurro parecia ecoar em minha mente.Enquanto observava Isabella receber abraços e cumprimentos, eu sentia um misto de tristeza. Era uma menina encantadora, e eu a via tentando se encaixar, tentando encontrar seu lugar em nossa família. Mas a dor da traição ainda estava presente. Eu queria apoiar Matteo, queria que ele se sentisse orgulhoso de sua filha, mas meu coração se
A luz do sol penetrava pelas cortinas, despertando-me de um sono inquieto. A festa da noite anterior ainda pairava em minha mente, como uma nuvem densa que não queria se dissipar. Eu me sentia exausta, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. A ressaca era um lembrete incômodo do que aconteceu, das palavras ditas e das emoções à flor da pele.Levantei-me da cama, tentando lembrar o que havia acontecido. A cena de Matteo me puxando para o canto, sua expressão preocupada e a tensão em sua voz ainda estavam frescas em minha memória. Eu me perguntava como teríamos conseguido superar isso. O peso da noite anterior parecia ainda mais pesado com a luz do dia.Desci as escadas, o silêncio na casa era quase ensurdecedor. O ar estava fresco, e enquanto me dirigia à cozinha, eu tentei me concentrar nas tarefas simples, como tomar um café. O cheiro do café fresco era reconfortante, mas não conseguia me livrar da sensação de que tudo havia mudado.Enquanto o café passava, meus pensamentos vagav