Eu nunca fui uma mulher que gostasse de confrontos. Sempre preferi o silêncio, o recato, a gentileza. Mas ali, diante dela, a mãe da filha do meu marido, não havia como evitar a conversa. Eu precisava manter a compostura. E Olivia, ao que tudo indicava, também.Estávamos na sala de estar, um espaço amplo, mas que de repente parecia pequeno demais para comportar nossa estranha dinâmica. Isabella, sentada entre nós, balançava os pezinhos no sofá, alheia à tensão sutil que pairava no ar.— E vocês? Gostaram do passeio no parque?— Sim, Isabella se divertiu muito. Matteo foi muito atencioso com ela.Assenti levemente, mantendo minha expressão neutra. Porém surpresa de saber que ele estava presente.— Ele sempre vai se preocupar com o bem-estar dela.— Sim, e fico feliz por isso. É importante para ela sentir-se acolhida.Houve um breve silêncio antes que Isabella, sempre pronta a preencher qualquer espaço com sua alegria inocente, batesse palminhas e sorrisse.— Angeline, você gosta de bol
A semana passou voando desde a chegada de Olivia e Isabella. No começo, eu não sabia o que esperar. A ideia de ter minha filha aqui, trouxe uma mistura de emoções: alegria, nervosismo e uma leve insegurança.Isabella, que ainda estava se adaptando a tudo, começou a se aproximar de mim. Era estranho, mas ao mesmo tempo reconfortante. Eu a levava para passear, e ela parecia querer saber mais sobre mim, sobre a nossa família. Eu nunca pensei que ser pai fosse tão complexo.Mas a atmosfera em casa estava diferente. Angeline e eu estávamos afastados. O que deveria ser um momento de união e felicidade estava envolto em uma tensão que não conseguia ignorar.Havia uma distância crescente entre nós, como se um abismo tivesse se formado. Ela parecia distante, lidando com algo que eu não conseguia entender. Tentava disfarçar, mas era impossível não notar a tristeza em seu olhar. Havia momentos em que a via observando Olivia e Isabella, e a expressão dela misturava culpa e um certo desconforto.E
A festa estava em pleno andamento, e as risadas e músicas envolviam o ambiente em um clima de celebração. Mas, para mim, havia um peso que tornava tudo mais difícil. Enquanto Matteo apresentava Isabella como uma nova integrante da família, eu não conseguia evitar que os olhares se voltassem para mim.As conversas ao meu redor eram inevitáveis."Como Angeline conseguiu aceitar isso?""Ela deve estar se sentindo traída.""Como ela pode permitir que uma estranha entre na família?"As palavras flutuavam no ar, como se tivessem sido cuidadosamente escolhidas para machucar. Eu tentava ignorar, mas a verdade era que cada sussurro parecia ecoar em minha mente.Enquanto observava Isabella receber abraços e cumprimentos, eu sentia um misto de tristeza. Era uma menina encantadora, e eu a via tentando se encaixar, tentando encontrar seu lugar em nossa família. Mas a dor da traição ainda estava presente. Eu queria apoiar Matteo, queria que ele se sentisse orgulhoso de sua filha, mas meu coração se
A luz do sol penetrava pelas cortinas, despertando-me de um sono inquieto. A festa da noite anterior ainda pairava em minha mente, como uma nuvem densa que não queria se dissipar. Eu me sentia exausta, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. A ressaca era um lembrete incômodo do que aconteceu, das palavras ditas e das emoções à flor da pele.Levantei-me da cama, tentando lembrar o que havia acontecido. A cena de Matteo me puxando para o canto, sua expressão preocupada e a tensão em sua voz ainda estavam frescas em minha memória. Eu me perguntava como teríamos conseguido superar isso. O peso da noite anterior parecia ainda mais pesado com a luz do dia.Desci as escadas, o silêncio na casa era quase ensurdecedor. O ar estava fresco, e enquanto me dirigia à cozinha, eu tentei me concentrar nas tarefas simples, como tomar um café. O cheiro do café fresco era reconfortante, mas não conseguia me livrar da sensação de que tudo havia mudado.Enquanto o café passava, meus pensamentos vagav
Eu não conseguia tirar os olhos de Angeline. Sua expressão era um misto de incredulidade e raiva, mas havia algo mais ali, uma dor profunda, uma decepção que me atingia como um soco no estômago.Eu queria acreditar nela. Queria acreditar que ela jamais machucaria Isabella. Mas os soluços da minha filha, sua voz trêmula lhe acusando, me deixavam sem chão.Quando todos saíram, quando o barulho dos passos se dissipou, restamos apenas nós dois no quintal. Um silêncio pesado caiu entre nós, mas eu sabia que era a calmaria antes da tempestade.— Você realmente acha que eu fiz isso? — a voz de Angeline rompeu o silêncio, baixa, cortante.— Eu não sei o que pensar, Angeline. Eu vi Isabella no chão, chorando, dizendo que você a empurrou. O que você queria que eu fizesse? — minha voz saiu mais dura do que eu pretendia.— Você podia ter ficado do meu lado! — ela explodiu, dando um passo à frente. Seus olhos ardiam em fúria. — Mas, ao invés disso, você escolheu duvidar de mim.— Não é tão simples
O silêncio na sala era sufocante. Meu peito pesava com o olhar expectante de Olivia, a raiva da minha vó e os soluços abafados de Isabella. Eu sentia minha cabeça girar, preso entre duas realidades que pareciam se chocar como ondas violentas.— Matteo, você precisa tomar uma decisão. — Olivia insistiu, os braços cruzados. — Você vai continuar fingindo que nada aconteceu ou vai proteger nossa filha?Minha mandíbula travou.— Eu nunca disse que nada aconteceu, Olivia. Eu só não vou condenar Angeline sem ter certeza da verdade.— A verdade está bem na sua frente! — Olivia gesticulou em direção a Isabella, que esfregava os olhos ainda úmidos de choro. — Sua filha está dizendo que foi empurrada! O que mais você precisa?— Preciso de coerência, Olivia! — Minha voz saiu mais dura do que eu esperava. — Preciso entender por que diabos Angeline faria isso! Você quer que eu acredite que, do nada, ela decidiu machucar Isabella?— Porque ela me odeia! — Isabella gritou, e seu choro voltou com forç
Fiquei ali, parada no meio do quarto, o gosto amargo ainda na minha boca e o peso das palavras de Matteo pressionando meu peito como um fardo impossível de carregar. Ele queria que eu me afastasse. Como se eu fosse um problema. Como se eu fosse um risco.Soltei uma risada vazia, jogando o copo na cômoda com um pouco mais de força do que o necessário. A raiva pulsava em mim, mas por baixo dela havia algo ainda pior, dor.Eu sabia que esse momento chegaria. Desde que Isabella cruzou aquela porta, desde que vi Olivia se infiltrando aos poucos, eu sabia que, em algum momento, Matteo teria que escolher um lado. E ele escolheu.Passei as mãos no rosto, tentando conter o aperto na garganta. Não ia chorar. Não ia dar esse gosto para ninguém, nem mesmo para mim mesma.Mas a verdade era que Matteo tinha conseguido o que queria. Ele me quebrou sem precisar levantar um dedo.Caminhei até a penteadeira e encarei meu reflexo no espelho. Meus olhos estavam carregados de mágoa, meus lábios pressionad
Cheguei em casa de madrugada, exausto após um dia cansativo, a mente girando com todas as discussões que haviam ocorrido. A porta rangeu ao ser aberta, e entrei, o peso das minhas decisões pesando nos ombros. O silêncio da casa era quase ensurdecedor, e um aperto no peito me acompanhava enquanto caminhava em direção ao quarto.Quando abri a porta, encontrei Angeline dormindo na cama, seus olhos inchados e vermelhos de tanto chorar. A visão dela ali, vulnerável e ferida, provocou uma onda de emoções conflitantes dentro de mim. Parte de mim queria confortá-la, mas a outra parte estava dominada pela frustração e pelo ressentimento.Decidi que precisava de algo para me ajudar a suportar a tensão. Fui até o bar e peguei uma garrafa de uísque, despejando um bom gole em um copo. O líquido desceu queimando, mas a sensação era boa, uma forma temporária de anestesiar a dor.Então, voltei ao quarto. Angeline ainda estava deitada, e, ao ouvir o som do copo se chocar contra a mesa de cabeceira, el