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Capítulo 3: Isabella Viana

O dia foi longo. Mais longo do que o normal, se é que isso é possível. Meus pés doíam como se tivessem sido esmagados por uma prensa, e minhas costas pareciam carregar o peso de todos os lençóis que troquei hoje. Trabalhar como camareira em um hotel cinco estrelas pode parecer glamouroso para alguns, mas a realidade é bem diferente. Quartos imensos, banheiros gigantes e clientes exigentes que nunca estão satisfeitos. Hoje, felizmente, não tenho aula na faculdade. Meu único plano é chegar em casa, tomar um banho quente e tentar estudar um pouco antes que o cansaço me derrube.

Entrei no ônibus quase arrastando os pés. Encontrei um lugar no fundo, longe das janelas quebradas e dos assentos rasgados, e encostei minha cabeça no vidro frio. O barulho do motor e o balanço do veículo quase me fazem adormecer, mas resisto. Preciso checar meu e-mail. Talvez a professora Ana tenha respondido sobre o programa de au pair. Ela me ajudou a me inscrever há semanas, e desde então vivo checando a caixa de entrada como uma louca.

Abri o aplicativo do celular, segurando a respiração enquanto esperava os e-mails carregarem. E então, lá estava. Um e-mail da agência do programa. Meu coração disparou, e minhas mãos tremeram enquanto abria a mensagem.

"Prezada Isabella,

É com grande satisfação que informamos que você foi pré-selecionada para o programa de au pair na Espanha..."

Não consegui ler o resto. Meus olhos encheram de lágrimas, e eu tive que cobrir a boca para não gritar de alegria ali, no meio do ônibus. Era a minha chance. Minha única chance de sair dali, de dar uma vida melhor para minha mãe e, quem sabe, encontrar um pouco de paz para mim mesma. Passei o resto do caminho rezando, agradecendo a Deus, ao universo, a qualquer coisa que pudesse estar me ouvindo. Finalmente, algo estava dando certo.

Quando o ônibus parou no meu ponto, desci rapidamente, quase tropeçando na calçada. Caminhei até em casa com um misto de euforia e medo. Como eu ia contar para a mãe? Ela ia entender? Ia me apoiar? Essas perguntas ecoavam na minha mente enquanto abria a porta de casa.

O cheiro de álcool atingiu meu nariz assim que entrei. Era forte, quase insuportável. Minha mãe estava na cozinha, de costas para mim, mexendo algo no fogão. Ela não se virou quando eu entrei, e eu já sabia o que tinha acontecido. Meu coração, que há pouco estava leve, agora pesava como uma pedra.

— Mãe... — chamei, tentando manter a voz firme.

— Isa, você chegou — ela respondeu, sem se virar. A voz dela estava cansada, distante.

Dei um passo em direção a ela, sentindo o cheiro de cachaça ainda mais forte.

— O que aconteceu? Ele fez algo de novo?

— Não foi nada, filha. Só um mal-entendido.

Um mal-entendido. Quantas vezes eu já ouvi essa frase? Quantas vezes eu chorei, implorei, chamei a polícia, e ela sempre voltava para ele, sempre dizia que era um mal-entendido. Dessa vez, eu não consegui segurar.

— Mãe, por favor. Você precisa sair dessa. Ele não vai mudar. Eu não aguento mais ver você assim.

— Isa, não comece. Eu estou bem. Ele não fez nada.

Eu queria gritar, sacudi-la, fazer ela ver que não estava bem. Mas sabia que não adiantava. Ela estava presa numa teia que eu não conseguia romper. Respirei fundo, tentando me acalmar.

— Mãe, recebi uma resposta do programa de au pair. Fui pré-selecionada.

Ela finalmente se virou, os olhos vermelhos e inchados, mas com um brilho de esperança.

— Sério, filha? Isso é maravilhoso! — Ela limpou as mãos no avental e veio me abraçar.

Senti o cheiro de álcool misturado com o perfume que ela sempre usava, aquele cheiro que me lembrava infância, segurança, amor. E, por um momento, me senti culpada por querer ir embora.

— Mãe, eu não vou. Não posso te deixar aqui sozinha.

Ela afastou-se de mim, segurando meus ombros com firmeza.

— Não fale besteira, Isa. Você vai sim. Eu não vou deixar que os meus erros atrapalhem os seus sonhos.

— Mas, mãe...

— Não tem "mas". Você vai, e vai ser feliz. Eu vou ficar bem.

Ela voltou para o fogão, como se a conversa tivesse terminado. Eu fiquei ali, parada, sentindo meu coração se partir em mil pedaços. Como eu podia ir embora sabendo que ela ficaria aqui, presa nesse ciclo de dor? Mas, ao mesmo tempo, como eu podia desperdiçar essa chance?

— Mãe... — tentei de novo, mas ela não respondeu.

Voltei para o meu quarto, fechando a porta com cuidado. Sentei na cama, olhando para o e-mail no celular. A resposta estava ali, clara como o dia. Eu tinha uma chance. Mas o preço parecia alto demais.

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