Parte 3...
Isabela
Depois que o bonitão sexy se foi, continuei servindo as mesas até meu horário de saída. Angelique também iria sair no mesmo horário que eu. Vamos juntas para a faculdade de artes. Não é muito longe daqui.
Fomos conversando sobre a faculdade enquanto esperávamos pelo ônibus, que por sinal é uma loucura aqui em Roma.
São tantas rotas que cobrem a cidade, incluindo áreas de turistas e pontos periféricos, que é fácil se locomover. No geral nós esperamos coisa de vinte minutos por um ônibus, mas durante a noite fica complicado porque eles param de rodar e cada empresa tem seu horário.
A loucura maior fica por parte das pessoas que usam o transporte público. É gente demais nesse sobe e desce e vez ou outra rola uma mão boba de algum descarado ou de algum “scippatore”, que são ladrões de carteiras ou bolsas e que têem a mão leve.
— Pelo amor de Deus, vê se não demora muito na aula - Angelique me diz, segurando no apoio do ônibus.
— Eu não vou demorar, vou sair na hora em que acabar.
— Ai, não... Isabela - ela faz uma careta — Você tem que sair pelo menos uns vinte minutos antes. Nós temos que enfrentar um fila gigante para entrar no show.
— Eu sei, mas não dá pra largar a aula assim no meio, Angelique. Você sabe que eu não posso me dar ao luxo de perder a bolsa.
— Você nunca sai da aula antes do horário. Se fizer isso uma vez, não vai impactar em suas notas, pelo amor de Deus!
Ela revira os olhos. Eu sei que isso não vai mesmo afetar minhas boas notas e minha pontuação de frequência, mas ainda assim, eu fico preocupada.
Não foi nada fácil conseguir essa bolsa de estudos lá no Brasil. Eram poucas vagas para muita gente. A minha sorte foi ter uma certa fluência no idioma, que me colocou à frente de outros candidatos.
— Está bem - eu suspiro — Só dessa vez eu vou sair meia hora antes.
Ela dá pulinhos animada.
— Ai que bom, eu estou doida para ver esse show.
Eu até entendo Angelique. Eu também sempre fui fã de Tiziano Ferro. Adoro suas músicas e também o modo emocionado com que desenvolve as músicas.
O show fica relativamente perto da faculdade onde estudamos, mas é melhor sair mais cedo mesmo e pegar um ônibus para chegar ao local. É mais seguro.
** ** **
Eu olhei o relógio mais uma vez, de modo disfarçado para que o professor não note minha ansiedade em sair mais cedo. Acho deselegante que ele veja alguém tentando escapar de sua aula.
Quando ergo a cabeça de novo, vejo Angelique passar pelo corredor e olhar para dentro da sala me procurando. Ergui a mão.
— Sim, senhorita Costa?
— Professor, eu preciso me retirar mais cedo da aula, hoje - expliquei.
— É mesmo? - ele ergue a sobrancelha.
— Sim! - eu afirmo.
— Está bem, pode sair - ele pega a caneta e marca algo em sua agenda.
Eu pego minha bolsa e recolho o livro e o caderno. Será que ele anotou minha saída mais cedo? Fiquei na dúvida.
Agradeci e saí rápido, indo encontrar com Angelique que estava no fim do corredor, conversando com um grupo.
— Ah, até que enfim você saiu - ela pega minha mochila com os livros — Vamos deixar as mochilas aqui. Não vai dar para ir ao show carregando essas coisas, né!
Ela tinha combinado com a dona da cantina de deixar nossas mochilas lá e pegar na noite seguinte. Saímos da faculdade andando rápido, mas decidimos chamar um táxi porque ir andando não era tão seguro. Apesar de ter muito movimento na rua, era perigoso.
Acenamos agitadas para um táxi que passava e o homem parou um pouco adiante.
— Ei! - Angelique gritou com um casal que se aproximou do carro — Esse táxi é nosso! Sai daí!
A mulher fez uma cara feia e o homem a segurou pela mão. Entramos rápido no táxi e comecei a rir quando ela deu um tchauzinho para o casal que ficou parado na rua.
— Criatura, você quase deu um infarto no homem - ajeitei o cabelo.
— Ah! E eu ia perder esse táxi por causa deles? - ela bateu no ombro do motorista — Oi, você parou para quem?
— Para vocês duas - ele respondeu.
— Viu só? - ela deu de ombro — Hoje a noite é nossa... Uhu! - se balançou toda.
Angelique é uma pessoa muito divertida e também Mariane. Como ela é da Venezuela, a gente tem um jeito diferente de Angelique, acho que por sermos ambas da América do Sul.
— E por falar nisso, onde está a Mariane?
— A essa hora ela já está no portão de entrada esperando por nós.
— Que bom - olhei o movimento aumentando perto do local do show — Acho que devemos parar por aqui, Angelique. Vai ser difícil mais na frente, tem muita gente.
— É mesmo - ela olhou para fora — “Tassista”, por favor, pare adiante.
Ele foi um pouco mais adiante e encostou. Já tinha muito carro e gente passando apressada. Dividimos a corrida e descemos, andando rápido de mãos dadas entre as pessoas.
— Corre, Isa... A fila vai estar enorme.
Ainda bem que eu vim de tênis porque Angelique está quase me arrastando e já me bati com umas três pessoas pelo caminho.
— Oiê, coisinha gostosa!
Um cara comenta quando passamos por ele e seu grupo, com um sorriso descarado me encarando.
Tudo bem, vou ignorar. Estou aqui para me divertir com minhas amigas e talvez dar uns beijos na boca. Eu detesto que me chamem de coisinha. É algo que sempre me irritou.
— Oiê! - ele fala mais alto e tenta segurar minha mão — Que pressa é essa coisinha?
— Coisinha è la puttana che ti ha messo al mondo! - eu respondi de imediato de forma firme e segurando o sotaque e Angelique gargalhou quando ele se inclinou para trás com espanto — Ah! Vai à merda!
— Amiga, você é doida - ela ri alto.
— Olha só quem fala? - eu ri também.
— Adooroo quando você fala em italiano pesado com eles. A cara deles é engraçada.
— Eu amo o idioma italiano, mas se me chamar de coisinha, vai ouvir mesmo - ergui o queixo — Por isso que faço questão de segurar o sotaque. Tanta palavra interessante para um flerte e o cara me vem com coisinha?
Eu não sei o que é, mas tem certas palavras que eu fico tão irritada que me dá vontade de baixar porrada na pessoa.
— Angelique! Isabela!
Procuramos quem nos chamava. Era Mariane, agitando os braços do outro lado.
— Ainda bem que vocês chegaram - ela nos entregou os ingressos para o show — Já abriram os portões, vamos logo. Tem um colega meu que ficou na fila pra mim.
Saímos as três de mãos dadas e ela nos apresentou o colega que guardava o lugar. Claro que teve muita gente de cara feia quando nos viu parar ao lado dele, mas quer saber, eu não tô nem aí.
Esse vai ser meu primeiro show de Tiziano Ferro e não vou perder a oportunidade de ficar o mais perto possível.
— Nossa! - eu abri mais os olhos quando chegamos na parte de dentro — Que massa!
Fomos recebidas por uma explosão de luzes e música eletrônica que tocava enquanto não começava o show. É um grande pavilhão com fileiras de assentos que vão até o teto alto.
Luzes coloridas dançando pelas paredes e pelo teto, dando ao ambiente mais vibração e emoção.
Nos juntamos à multidão para encontrar um melhor lugar para ficar. As pessoas se movem de um jeito frenético. Alguns correm para a frente pra ficar bem pertinho do palco e outras vão para as cadeiras no alto que dá uma visão mais panorâmica do lugar todo. Tem um burburinho enchendo o ar e sinto meu coração bater acelerado.
Encontramos lugares estratégicos nas fileiras centrais onde dava para ver o palco muito bem e tinha espaço pra gente dançar de boa.
— Ai, que excitante! - Mariane diz, segurando o rosto entre as mãos.
— Nem fala - eu disse sorrindo — Estou muito animada. Meu coração até acelerou.
O som de uma batida pulsante ecoou pelo lugar de repente, anunciando a entrada de Tiziano e a multidão gritou e se agitou. As luzes do palco se acenderam em um espetáculo de cores vivas.
Os aplausos começaram e quando ele apareceu no palco a gritaria se intensificou. Me sinto tão bem que parece que essa vai ser a noite da minha vida.
Deus sabe que eu estou precisando!
Parte 4...Isabela— Meu Deus! - eu dei risada quando fui arrastada para fora pelo grupo agitado que saía do pavilhão — Gente, socorro! - dei risada alta.Senti uma mão me puxando. Mariane ria, com o rosto vermelho de dançar sem parar, se balançando com as músicas agitadas e lentas de Tiziano. Foram quase três horas de uma apresentação maravilhosa. Esse vai ficar na memória.— Desse jeito você vai ser empurrada de volta para o Brasil - ela disse alto e rindo — Está muito magra, Isa!Eu sei que sou magra, mas isso não me incomoda. Meu peso sempre foi abaixo do que seria ideal para minha altura.Eu não sou muito alta, tenho só um metro e sessenta, o que me deixa bem abaixo das duas. Em especial com relação a Angelique que é uma francesa alta e comprida.Eu já tentei engordar para ter um pouco mais de carne e não parecer que sou tão mais nova do que minha idade, mas o máximo que consegui foi aumentar dois quilos.Eu nunca tive problema com meu peso, mas parece que as pessoas têem. É bem
Parte 5...IsabelaNós entramos na boate e foi um choque. O lugar era muito pomposo. A atmosfera era vibrante e sofisticada. A decoração era elegante com uma iluminação que misturava cores suaves e quentes que criavam um ambiente acolhedor e glamoroso.— Vamos - ele nos chamou — Eu separei uma mesa ali perto do bar para vocês.A música mudou e ficou uma batida mais forte e agitada. Já tinha muita gente dançando na pista lá embaixo e também em outros pontos em volta. Onde nós ficamos dava para ver legal o que rolava lá embaixo.— Daqui a pouco eu trago umas bebidas para vocês - ele deu um beijo em Mariane e saiu.— Vem cá, esse aí é só amigo mesmo? - Angelique perguntou.— É... Mais ou menos - ela deu uma risada — A gente dá uns beijos de vez em quando. Mas nada sério - ela fez um gesto engraçado — Eu fico com quem eu quero e ele também. Se der, a gente fica junto.— Hum, moderna ela - eu disse rindo.— Você também deveria ser - ela gira o dedo no meu rosto — Já está ficando velha pra
Parte 6...IsabelaAchei isso estranho. Eu não fiz nada de errado. Ou será que o carinha que eu fui rude está com eles? Fiquei um pouco desconfiada.Eu não gosto de ficar desconfiada. Isso estraga toda a diversão.— Aqui, experimenta esse - Mariane me entregou um copo.— O que é isso? - eu ergui o copo colorido.— Bebe, você vai gostar - ela puxou a bebida dela com o canudo — Esse é um tropical breeze. É bem fresco.Eu dei uma cheirada na bebida. Por nome eu não conheço. Aliás, nomes são uma coisa complicada para mim. Eu sempre esqueço os nomes de filmes, de comidas e em ruas então, é ainda pior. Sou péssima em dar a direção de um lugar para alguém só com o nome da rua.Senti um cheiro gostoso de abacaxi e maracujá e acho que de manga também. Experimentei um golinho devagar e foi uma explosão de sabor em minha boca. Senti o gostinho de limão também. Era uma delícia.Mas achei um pouco forte. Apesar das frutas, senti que tem vodka na mistura.— E aí, gostou?— Hum, hum... - confirmei c
Parte 7...IsabelaMeu Deus! Alguém tem que segurar minha língua. Acabei de me dedurar dizendo que o vi antes e ainda o chamei de bonitão. Que ridícula!Ele sorri e eu observo seus dentes brancos, a boca grande, o nariz aquilino, olhos pretos como se fossem duas jaboticabas.Ai, me deu saudade de comer jaboticabas. No sítio de um primo meu tem muitas árvores e eu gostava de subir nos galhos e comer a jaboticaba lá mesmo.E porque diabos eu estou pensando em comer jaboticaba com um homem desse parado na minha frente?Ele é bem alto. Ou eu que sou muito baixa. Tenho que erguer o rosto para falar com ele. Suas mãos estão em meus braços. Ele me ajudou a levantar e ainda me segura. E eu gosto disso.Caralho! Eu percebo que alguma coisa se apertou dentro de mim. Passei o olhar nele todo e me veio logo a pergunta. Será que ele tem o pau grande?Balancei a cabeça para espantar o pensamento safado e dei uma risadinha. Solucei e levei a mão à boca, ainda rindo. Misericórdia!— E você é a garçon
Parte 8...IsabelaDepois de fazer minha rotina no banheiro voltei para a cama e peguei meu notebook para enviar uma mensagem para meus pais.Por internet é a forma mais rápida e barata de fazer isso. Como somos nós três que dividimos a conta, não fica pesado pra mim.Eu gosto de enviar mensagens para minha família, assim eles não ficam preocupados comigo. Não é sempre. Às vezes eu passo até duas semanas sem dar notícias, mas eles sabem que esse é meu tempo máximo sumida.Depois tomei um café da manhã leve, só uma fruta com yogurte. Depois de ontem estou com uma dor de cabeça chata. Acho que deve ser a tal de ressaca. Sinto um gosto estranho no fundo da garganta.Ainda sonolenta separei minhas roupas e coloquei na máquina de lavar da área de serviço, amanhã eu passo ferro em tudo. Aproveitei e fui para o quartinho - barra - escritório. Abri minha conta no banco e apoiei a mão no queixo, desanimada com os números que aparecem na tela.Eu preciso muito encontrar um modo de conseguir gran
Parte 9...IsabelaEu gosto de trabalhar aqui no restaurante, mas dia de sábado é sempre cheio. É um dia que as pessoas conseguem uma folga para aproveitar e a rua tranquila começa a encher de gente fazendo suas compras nas galerias.E claro, depois elas procuram um lugar para comer ou beber algo diferente. E aqui tem uma boa reputação e sempre temos muitos clientes.Eu só não esperava encontrar com ele de novo. O cliente bonitão. Acho que meu coração parou um instante. Ele me encarava.Depois meu coração volta a bater, só que mais acelerado. Ele está usando uma camisa cinza grafite, enrolada nos punhos, deixando ver suas tatuagens.
Parte 10...Isabela— Ai... Porque o homem é muito gato - eu esfreguei a testa com os dedos.— Como é? - ele gargalhou — Você é doida, querida?Eu fiz que mais ou menos com a mão.— Ontem eu o vi no lá no café... À noite ele estava na mesma boate que eu e hoje... - bati uma mão sobre a outra — Ele aparece aqui.— Bom, o café e o restaurante são dos mesmos donos... - ele gesticulou — Já a boate eu não sei dizer... Coincidência?Eu franzi a testa. É, pode ser.— Mas ele j&
Parte 11...IsabelaNa outra noite eu não prestei atenção em como essa parte VIP é chique. Minha cabeça estava fora de mim e passei tão rápido que não notei como essa área é bonitaAgora meu pulso tem uma pulseira que sinaliza que eu sou VIP. Acho isso uma frescura, já que todo mundo está ouvindo a mesma música e usando os mesmos serviços, mas, quem sou para brigar contra o sistema capitalista que separa todo mundo por classes.— Fala sério - Angelique fala ao meu ouvido — Nós estamos arrasando hoje - ela se mexe de acordo com a música que toca — Eu estou me sentindo maravilhosa.— E está mesmo - eu respondo — Esse