Parte 5...
Isabela
Nós entramos na boate e foi um choque. O lugar era muito pomposo. A atmosfera era vibrante e sofisticada. A decoração era elegante com uma iluminação que misturava cores suaves e quentes que criavam um ambiente acolhedor e glamoroso.
— Vamos - ele nos chamou — Eu separei uma mesa ali perto do bar para vocês.
A música mudou e ficou uma batida mais forte e agitada. Já tinha muita gente dançando na pista lá embaixo e também em outros pontos em volta. Onde nós ficamos dava para ver legal o que rolava lá embaixo.
— Daqui a pouco eu trago umas bebidas para vocês - ele deu um beijo em Mariane e saiu.
— Vem cá, esse aí é só amigo mesmo? - Angelique perguntou.
— É... Mais ou menos - ela deu uma risada — A gente dá uns beijos de vez em quando. Mas nada sério - ela fez um gesto engraçado — Eu fico com quem eu quero e ele também. Se der, a gente fica junto.
— Hum, moderna ela - eu disse rindo.
— Você também deveria ser - ela gira o dedo no meu rosto — Já está ficando velha pra continuar virgem, sabia?
Eu fiz uma cara feia pra ela, mas de brincadeira, para que não comentasse isso ali, em um lugar público.
— Não se preocupe - eu dei um sorriso de canto de boca — Eu estou aberta para algo que seja interessante o suficiente para começar.
— Ainda bem! - ela ergueu as mãos para cima — Gente, vamos encher a cara hoje.
— Ficou doida? - eu me inclinei de lado.
— Não, mas a gente tem que aproveitar. Não vai ser sempre que vamos ter essa folga de entrar em um lugar fino como esse - Mariane disse olhando para a pista — E vamos dançar muito também. Quero chegar cansada em casa.
Eu adoro dançar. Faz parte de minha cultura. Nasci no Recife, no estado de Pernambuco e dançar é algo que já veio comigo. Desde pequena já estava no frevo, nas danças folclóricas e me acabava nas festas juninas, dançando em duas quadrilhas.
— Vamos - eu me animei — Faz tempo que não danço - deixei minha bolsa em cima da mesa — Só não quero exagerar.
Descemos e Angelique ficou na mesa. Ela logo encontrou um cara na mesa ao lado e ficaram trocando olhares.
Assim que tocamos a pista de dança no meio da boate, começou a tocar uma sequência que eu adoro. São músicas mais velhas, mas que eu sempre curti. Eu tenho um gosto musical aberto, mas as músicas dos anos setenta e oitenta sempre me pegam mais.
Engraçado que eu sinto uma nostalgia sem sentido, porque eu não vivi essa época. Mas sinto também uma alegria e energia que pra mim são contagiantes. Eu fico empolgada.
Fomos para o meio e começamos a dançar. Me senti envolvida pela música e comecei a mexer o corpo de forma sinuosa, balançando o cabelo de um lado para outro e até fechei os olhos algumas vezes, embalada pelo ritmo gostoso.
Eu amo música e tenho tantas melhores músicas em minha playlist que posso fazer toda a faxina do apartamento por um ano inteiro, ouvindo uma atrás da outra sem repetir.
Mariane também se balança toda feliz, jogando os braços, as pernas. Nossa, está muito bom. Para ficar melhor, só se eu beijar na boca hoje para tirar a secura dos lábios.
Meu último beijo tem uns três meses, em um evento da faculdade, onde troquei beijos no corredor com o primo de uma colega de turma.
E aí, do nada, a música muda e começa a tocar Dancing Queen, do ABBA. Eu amo essa música e ela cabe muito bem com a noite que estou tendo com as meninas.
“Friday night and the lights are low...
Looing out for a place to go...
Where they play the right music...
Getting in the swing...
You come to look for a king...
Anybody could be that guy...
Night is young and the music´s high...”
“É sexta-feira à noite e as luzes estão baixas... Procurando um lugar para ir... Onde tocam a música certa... Entrando no ritmo... Você vem procurar por um rei... Qualquer um pode ser aquele cara... A noite é jovem e a música está alta...”
Nossa, isso se encaixa com perfeição na minha noite de hoje. Quase. Eu não estou à procura de ninguém, só de mim mesma. Quero curtir um pouco. Faz tempo que só tenho responsabilidade.
Senti mãos segurando meus ombros e me virei. Era um cara até bonito, mas não gostei do modo como ele foi se chegando pra cima de mim.
Eu o empurrei pelo ombro quando ele tentou me puxar para perto e me virei. E ele veio de novo com suas mãos para cima de mim, só que dessa vez, ele segurou em meus quadris.
Eu retirei suas mãos com uma certa grosseria e olhei feio para ele, mas o cara continuou a sorrir e tentou me tocar de novo. Eu lhe dei um tapa na mão.
— Não me toque! - eu disse firme.
— Você está dançando tão bonita - ele meneia a cabeça e sorri me examinando — É um convite - ele abriu os braços — Eu aceitei.
— Não foi um convite - eu falei alto por causa do barulho em volta — E se fosse, você não foi convidado a me tocar.
Me virei e voltei a dançar com Mariane.
— Você não disse que queria beijar na boca hoje? - ela perguntou ao meu ouvido.
— E quero, mas quem escolhe sou eu.
— Hum... Poderosa! - ela fez uma careta engraçada e começamos a rir.
— Pelo menos alguma coisa eu preciso ter o poder, né! - encolhi os ombros.
Depois de mais duas músicas eu estava doida para tomar algo e molhar a garganta.
— Mariane, vamos pegar algo para beber? - encostei a boca na orelha dela — Estou morrendo de sede.
— Vamos lá no bar onde meu amigo fica.
Ela me puxou pela mão e fomos passando entre as pessoas que dançavam. Cheguei até a levar um pisão. Ainda bem que meus tênis são fofinhos.
— O que você quer beber? - ela me perguntou — Vou pedir ao meu amigo.
— Algo gelado, não muito forte e não muito caro - ergui as sobrancelhas e ela riu.
— Não esquenta - ela abanou a mão — Eu pago depois a ele, se a conta ficar alta.
Eu ri balançando a cabeça. Mas ainda assim insisti que não fosse nada caro. Nessas boates assim tudo é caro, até mesmo água.
Ela foi falar com o amigo - barra - peguete e eu fiquei esperando. Vi que no camarote acima tinha um grupo de homens que estavam olhando aqui para baixo e se não me engano, acho que eles estavam olhando diretamente para mim.
Autora Ninha Cardoso
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Parte 6...IsabelaAchei isso estranho. Eu não fiz nada de errado. Ou será que o carinha que eu fui rude está com eles? Fiquei um pouco desconfiada.Eu não gosto de ficar desconfiada. Isso estraga toda a diversão.— Aqui, experimenta esse - Mariane me entregou um copo.— O que é isso? - eu ergui o copo colorido.— Bebe, você vai gostar - ela puxou a bebida dela com o canudo — Esse é um tropical breeze. É bem fresco.Eu dei uma cheirada na bebida. Por nome eu não conheço. Aliás, nomes são uma coisa complicada para mim. Eu sempre esqueço os nomes de filmes, de comidas e em ruas então, é ainda pior. Sou péssima em dar a direção de um lugar para alguém só com o nome da rua.Senti um cheiro gostoso de abacaxi e maracujá e acho que de manga também. Experimentei um golinho devagar e foi uma explosão de sabor em minha boca. Senti o gostinho de limão também. Era uma delícia.Mas achei um pouco forte. Apesar das frutas, senti que tem vodka na mistura.— E aí, gostou?— Hum, hum... - confirmei c
Parte 7...IsabelaMeu Deus! Alguém tem que segurar minha língua. Acabei de me dedurar dizendo que o vi antes e ainda o chamei de bonitão. Que ridícula!Ele sorri e eu observo seus dentes brancos, a boca grande, o nariz aquilino, olhos pretos como se fossem duas jaboticabas.Ai, me deu saudade de comer jaboticabas. No sítio de um primo meu tem muitas árvores e eu gostava de subir nos galhos e comer a jaboticaba lá mesmo.E porque diabos eu estou pensando em comer jaboticaba com um homem desse parado na minha frente?Ele é bem alto. Ou eu que sou muito baixa. Tenho que erguer o rosto para falar com ele. Suas mãos estão em meus braços. Ele me ajudou a levantar e ainda me segura. E eu gosto disso.Caralho! Eu percebo que alguma coisa se apertou dentro de mim. Passei o olhar nele todo e me veio logo a pergunta. Será que ele tem o pau grande?Balancei a cabeça para espantar o pensamento safado e dei uma risadinha. Solucei e levei a mão à boca, ainda rindo. Misericórdia!— E você é a garçon
Parte 8...IsabelaDepois de fazer minha rotina no banheiro voltei para a cama e peguei meu notebook para enviar uma mensagem para meus pais.Por internet é a forma mais rápida e barata de fazer isso. Como somos nós três que dividimos a conta, não fica pesado pra mim.Eu gosto de enviar mensagens para minha família, assim eles não ficam preocupados comigo. Não é sempre. Às vezes eu passo até duas semanas sem dar notícias, mas eles sabem que esse é meu tempo máximo sumida.Depois tomei um café da manhã leve, só uma fruta com yogurte. Depois de ontem estou com uma dor de cabeça chata. Acho que deve ser a tal de ressaca. Sinto um gosto estranho no fundo da garganta.Ainda sonolenta separei minhas roupas e coloquei na máquina de lavar da área de serviço, amanhã eu passo ferro em tudo. Aproveitei e fui para o quartinho - barra - escritório. Abri minha conta no banco e apoiei a mão no queixo, desanimada com os números que aparecem na tela.Eu preciso muito encontrar um modo de conseguir gran
Parte 9...IsabelaEu gosto de trabalhar aqui no restaurante, mas dia de sábado é sempre cheio. É um dia que as pessoas conseguem uma folga para aproveitar e a rua tranquila começa a encher de gente fazendo suas compras nas galerias.E claro, depois elas procuram um lugar para comer ou beber algo diferente. E aqui tem uma boa reputação e sempre temos muitos clientes.Eu só não esperava encontrar com ele de novo. O cliente bonitão. Acho que meu coração parou um instante. Ele me encarava.Depois meu coração volta a bater, só que mais acelerado. Ele está usando uma camisa cinza grafite, enrolada nos punhos, deixando ver suas tatuagens.
Parte 10...Isabela— Ai... Porque o homem é muito gato - eu esfreguei a testa com os dedos.— Como é? - ele gargalhou — Você é doida, querida?Eu fiz que mais ou menos com a mão.— Ontem eu o vi no lá no café... À noite ele estava na mesma boate que eu e hoje... - bati uma mão sobre a outra — Ele aparece aqui.— Bom, o café e o restaurante são dos mesmos donos... - ele gesticulou — Já a boate eu não sei dizer... Coincidência?Eu franzi a testa. É, pode ser.— Mas ele j&
Parte 11...IsabelaNa outra noite eu não prestei atenção em como essa parte VIP é chique. Minha cabeça estava fora de mim e passei tão rápido que não notei como essa área é bonitaAgora meu pulso tem uma pulseira que sinaliza que eu sou VIP. Acho isso uma frescura, já que todo mundo está ouvindo a mesma música e usando os mesmos serviços, mas, quem sou para brigar contra o sistema capitalista que separa todo mundo por classes.— Fala sério - Angelique fala ao meu ouvido — Nós estamos arrasando hoje - ela se mexe de acordo com a música que toca — Eu estou me sentindo maravilhosa.— E está mesmo - eu respondo — Esse
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Parte 1...IsabelaPorra! Sério? Eu vou passar a noite xingando toda vez que ele fizer algo assim. Pelo amor de Deus, o que está acontecendo comigo?Ele começa a se movimentar, me levando junto. Estamos grudados, ele me segura firme com a mão em minhas costas.— É uma velha mania - respondo.— Eu gosto, mas isso me dá vontade de provar esse lábio - ele toca meu lábio com os dedos — Macio... - ele aperta entre os dedos.Eu respiro fundo. Dou uma risadinha nervosa e olho a boca dele também.— Se quiser pode provar - ele diz.Eu ergo o olhar. Seus olhos são muito escuros, mas parecem entregar uma mistura de intensidade e ternura ao mesmo tempo. Não consigo compreender bem.Parece que tem algo especial acontecendo aqui. Não sei se estou certa. Ou então é só comigo mesma. E agora? O que eu digo?Antes que meu cérebro conseguisse destravar e formular alguma palavra, ele desceu a cabeça e pressionou os lábios contra os meus. Foi só isso, um selinho demorado. O suficiente para que eu sentisse