Parte 2...
Isabela
Eu até travei a respiração um instante e levei o olhar para as mesas ao lado, para dar a entender que não estava observando-o.
— Ele está encarando você - Angelique disse atrás de mim, baixinho.
— Eu sei - abri mais os olhos ao me virar.
— Que homem é esse? - ela se abanou com o bloquinho de pedidos.
— Ele ainda está olhando para cá?
Ela disfarça mexendo na caixa registradora e olha para o salão cheio de mesas ocupadas. Abaixa a cabeça e faz um sinal de positivo, escondendo a mão atrás da caixa alta.
Não sei porque, mas meu coração está batendo mais rápido.
** ** **
* Marco *
Eu não estou com muito humor hoje. Na verdade, tem alguns dias que ando aborrecido. Alguns problemas chatos estão tirando minha paciência, que já não é muita.
— O que mais encontrou, Marcello?
Decidi aproveitar e parar na cafeteria para tomar um bom capuccino antes de seguir para o escritório. Marcello está comigo, é meu braço direito.
Trastevere é uma área histórica e encantadora de Roma. É um labirinto de ruas de paralelepípedos, estreitas e sinuosas, ladeadas por edifícios antigos.
Apesar de meu escritório ser aqui, eu ainda não tinha vindo até esse lugar. O nome Caffè Bella Vista, entalhado em uma placa de madeira crua e com trepadeiras verdejantes adornando a entrada, me fez entrar para provar o café do lugar.
E para minha surpresa, o lugar é muito aconchegante, com uma mistura eclética de móveis de madeira e sofás de couro confortáveis, distribuídos pelos dois salões.
As paredes têm fotografias emolduradas de paisagens italianas e cartazes vintage de filmes clássicos italianos.
E outra coisa que gostei do lugar, foi a garçonete que andava graciosamente de um lado para outro, segurando uma bandeja ou um bloco para os pedidos.
— Marco... Está me ouvindo ou está mais interessado no rabo empinado da garota?
Eu olhei para ele fazendo uma cara de cansaço por seu comentário. Como se eu não tivesse muitos rabos empinados na hora que eu quiser. Aliás, eu tenho um me esperando.
— É claro que estou ouvindo tudo, Marcello. Não seja besta.
Apesar dele ser meu braço direito na organização, às vezes Marcello me dá broncas como se fosse meu pai. Isso não me incomoda, mas eu finjo que sim, apenas para que ele não fique se achando o esperto pra cima de mim.
— Pois bem, nós precisamos definir o que fazer com a mercadoria que não foi entregue essa semana - ele fala baixinho e faz um bico aborrecido — Não podemos ficar com o prejuízo. O erro não foi nosso.
Eu sei que não foi. Tem algum filho da puta que está passando as informações para o grupo de combate às drogas em Miami. Tem quase três meses que o DEA vem intensificando as buscas e isso já nos atrapalhou duas vezes. Essa foi a terceira. Mas eu sei que tem alguém que está passando informações de dentro e quando descobrir, essa pessoa vai pagar bem caro pelo prejuízo que nos deu.
Eu não posso ficar perdendo dinheiro ou mercadorias tantas vezes seguidas. Isso vai impactar em minha moral dentro da Famíglia.
— Quem mais reclamou de não receber os produtos? - olhei de novo para a garçonete.
— A casa de encontros de Toretto está reclamando. O que eles têem está quase no fim e dois pontos avulsos já acabaram.
Os avulsos são os pequenos distribuidores. Uma gente nojenta que trabalha por pouco, mas que nos dá um grande lucro. Pontos avulsos são sempre bons porque são rápidos.
Quando olhei para a garçonete, ela estava olhando direto para mim, apesar de tentar disfarçar, olhando para os lados.
Gostei de como ela ruborizou e mudou o olhar para outra mesa, achando que eu não percebi que me observava.
Eu a encarei. Analisei sua figura. É bonita, de um jeito diferente. Não é muito alta. A calça escura colada ao corpo deixa perceber que tem curvas. A blusa branca de botões é um pouco fina e dá para notar o sutiã por baixo, cobrindo os seios pequenos, mas altos.
Senti uma pontada entre as coxas. Que coisinha linda. Tem o rosto delicado, quase de uma boneca. Olhos curiosos, nariz arrebitado, boca carnuda e um sinal na bochecha esquerda, dando um ar de atriz de cinema dos anos trinta ou quarenta.
— Marco, acho melhor irmos para o escritório para tratar disso - Marcello olha para ela também — Você está se distraindo.
Realmente estou, mas isso não é problema. Eu tenho mulheres quando quero, não me faltam. E agora ainda estou para me casar com Carolina Spinoza, uma princesinha da máfia espanhola. “Los Reyes”.
Eu não pensava em me casar, mas para abrir as portas de nossa Famíglia Corvino na Espanha, de forma definitiva e sem tanta demora ou conflitos, a ideia do casamento foi a mais rápida, embora não a ideal para mim.
E além de minha bela noiva, que foi uma sorte ser mesmo bonita, eu tenho também Giuliana, que está sempre disposta a me agradar, não importa o dia ou horário. Só tenho que estalar os dedos.
— Pelo menos vamos tomar o capuccino - eu disse dando de ombros — Depois vamos para o escritório e quero todos os relatórios de Miami desde o começo do ano - eu apertei os lábios e o punho — Quando descobrir quem está nos sacaneando, vou tirar o couro desse safado e picar seu corpo para dar aos porcos.
Marcello me olhou de um jeito que não concordava muito, mas ele sabe que nunca deixei nada pela metade.
A Famíglia Corvino não aceita traições.
Autora Ninha Cardoso.
Obs: o livro está completo e narra conflitos, confusões, situações de preconceito, encontros adultos, linguajar mais pesado e um enredo sobre a máfia.
Como autora descrevo uma relação adulta amorosa entre personagens de ficção. Se houver coincidências na trama, não refletem a realidade, são apenas palavras em um enredo para leitores do estilo.
Como mulher, não romantizo e nem incentivo atos descritos neste romance. É pura ficção!
Parte 3...IsabelaDepois que o bonitão sexy se foi, continuei servindo as mesas até meu horário de saída. Angelique também iria sair no mesmo horário que eu. Vamos juntas para a faculdade de artes. Não é muito longe daqui.Fomos conversando sobre a faculdade enquanto esperávamos pelo ônibus, que por sinal é uma loucura aqui em Roma.São tantas rotas que cobrem a cidade, incluindo áreas de turistas e pontos periféricos, que é fácil se locomover. No geral nós esperamos coisa de vinte minutos por um ônibus, mas durante a noite fica complicado porque eles param de rodar e cada empresa tem seu horário.A loucura maior fica por parte das pessoas que usam o transporte público. É gente demais nesse sobe e desce e vez ou outra rola uma mão boba de algum descarado ou de algum “scippatore”, que são ladrões de carteiras ou bolsas e que têem a mão leve.— Pelo amor de Deus, vê se não demora muito na aula - Angelique me diz, segurando no apoio do ônibus.— Eu não vou demorar, vou sair na hora em q
Parte 4...Isabela— Meu Deus! - eu dei risada quando fui arrastada para fora pelo grupo agitado que saía do pavilhão — Gente, socorro! - dei risada alta.Senti uma mão me puxando. Mariane ria, com o rosto vermelho de dançar sem parar, se balançando com as músicas agitadas e lentas de Tiziano. Foram quase três horas de uma apresentação maravilhosa. Esse vai ficar na memória.— Desse jeito você vai ser empurrada de volta para o Brasil - ela disse alto e rindo — Está muito magra, Isa!Eu sei que sou magra, mas isso não me incomoda. Meu peso sempre foi abaixo do que seria ideal para minha altura.Eu não sou muito alta, tenho só um metro e sessenta, o que me deixa bem abaixo das duas. Em especial com relação a Angelique que é uma francesa alta e comprida.Eu já tentei engordar para ter um pouco mais de carne e não parecer que sou tão mais nova do que minha idade, mas o máximo que consegui foi aumentar dois quilos.Eu nunca tive problema com meu peso, mas parece que as pessoas têem. É bem
Parte 5...IsabelaNós entramos na boate e foi um choque. O lugar era muito pomposo. A atmosfera era vibrante e sofisticada. A decoração era elegante com uma iluminação que misturava cores suaves e quentes que criavam um ambiente acolhedor e glamoroso.— Vamos - ele nos chamou — Eu separei uma mesa ali perto do bar para vocês.A música mudou e ficou uma batida mais forte e agitada. Já tinha muita gente dançando na pista lá embaixo e também em outros pontos em volta. Onde nós ficamos dava para ver legal o que rolava lá embaixo.— Daqui a pouco eu trago umas bebidas para vocês - ele deu um beijo em Mariane e saiu.— Vem cá, esse aí é só amigo mesmo? - Angelique perguntou.— É... Mais ou menos - ela deu uma risada — A gente dá uns beijos de vez em quando. Mas nada sério - ela fez um gesto engraçado — Eu fico com quem eu quero e ele também. Se der, a gente fica junto.— Hum, moderna ela - eu disse rindo.— Você também deveria ser - ela gira o dedo no meu rosto — Já está ficando velha pra
Parte 6...IsabelaAchei isso estranho. Eu não fiz nada de errado. Ou será que o carinha que eu fui rude está com eles? Fiquei um pouco desconfiada.Eu não gosto de ficar desconfiada. Isso estraga toda a diversão.— Aqui, experimenta esse - Mariane me entregou um copo.— O que é isso? - eu ergui o copo colorido.— Bebe, você vai gostar - ela puxou a bebida dela com o canudo — Esse é um tropical breeze. É bem fresco.Eu dei uma cheirada na bebida. Por nome eu não conheço. Aliás, nomes são uma coisa complicada para mim. Eu sempre esqueço os nomes de filmes, de comidas e em ruas então, é ainda pior. Sou péssima em dar a direção de um lugar para alguém só com o nome da rua.Senti um cheiro gostoso de abacaxi e maracujá e acho que de manga também. Experimentei um golinho devagar e foi uma explosão de sabor em minha boca. Senti o gostinho de limão também. Era uma delícia.Mas achei um pouco forte. Apesar das frutas, senti que tem vodka na mistura.— E aí, gostou?— Hum, hum... - confirmei c
Parte 7...IsabelaMeu Deus! Alguém tem que segurar minha língua. Acabei de me dedurar dizendo que o vi antes e ainda o chamei de bonitão. Que ridícula!Ele sorri e eu observo seus dentes brancos, a boca grande, o nariz aquilino, olhos pretos como se fossem duas jaboticabas.Ai, me deu saudade de comer jaboticabas. No sítio de um primo meu tem muitas árvores e eu gostava de subir nos galhos e comer a jaboticaba lá mesmo.E porque diabos eu estou pensando em comer jaboticaba com um homem desse parado na minha frente?Ele é bem alto. Ou eu que sou muito baixa. Tenho que erguer o rosto para falar com ele. Suas mãos estão em meus braços. Ele me ajudou a levantar e ainda me segura. E eu gosto disso.Caralho! Eu percebo que alguma coisa se apertou dentro de mim. Passei o olhar nele todo e me veio logo a pergunta. Será que ele tem o pau grande?Balancei a cabeça para espantar o pensamento safado e dei uma risadinha. Solucei e levei a mão à boca, ainda rindo. Misericórdia!— E você é a garçon
Parte 8...IsabelaDepois de fazer minha rotina no banheiro voltei para a cama e peguei meu notebook para enviar uma mensagem para meus pais.Por internet é a forma mais rápida e barata de fazer isso. Como somos nós três que dividimos a conta, não fica pesado pra mim.Eu gosto de enviar mensagens para minha família, assim eles não ficam preocupados comigo. Não é sempre. Às vezes eu passo até duas semanas sem dar notícias, mas eles sabem que esse é meu tempo máximo sumida.Depois tomei um café da manhã leve, só uma fruta com yogurte. Depois de ontem estou com uma dor de cabeça chata. Acho que deve ser a tal de ressaca. Sinto um gosto estranho no fundo da garganta.Ainda sonolenta separei minhas roupas e coloquei na máquina de lavar da área de serviço, amanhã eu passo ferro em tudo. Aproveitei e fui para o quartinho - barra - escritório. Abri minha conta no banco e apoiei a mão no queixo, desanimada com os números que aparecem na tela.Eu preciso muito encontrar um modo de conseguir gran
Parte 9...IsabelaEu gosto de trabalhar aqui no restaurante, mas dia de sábado é sempre cheio. É um dia que as pessoas conseguem uma folga para aproveitar e a rua tranquila começa a encher de gente fazendo suas compras nas galerias.E claro, depois elas procuram um lugar para comer ou beber algo diferente. E aqui tem uma boa reputação e sempre temos muitos clientes.Eu só não esperava encontrar com ele de novo. O cliente bonitão. Acho que meu coração parou um instante. Ele me encarava.Depois meu coração volta a bater, só que mais acelerado. Ele está usando uma camisa cinza grafite, enrolada nos punhos, deixando ver suas tatuagens.
Parte 10...Isabela— Ai... Porque o homem é muito gato - eu esfreguei a testa com os dedos.— Como é? - ele gargalhou — Você é doida, querida?Eu fiz que mais ou menos com a mão.— Ontem eu o vi no lá no café... À noite ele estava na mesma boate que eu e hoje... - bati uma mão sobre a outra — Ele aparece aqui.— Bom, o café e o restaurante são dos mesmos donos... - ele gesticulou — Já a boate eu não sei dizer... Coincidência?Eu franzi a testa. É, pode ser.— Mas ele j&