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          Ainda no hospital por conta do estado que eu havia chego, não apenas pelo inicio de hipotermia, mas também pela dor de garganta que piorou, acabou inflamando, e também pelo meu estado mental e emocional, uma terapeuta e o xerife foram falar comigo. Ela para entender o que havia acontecido com a doida estúpida aqui e o xerife para saber quem eram os três caçadores que me importunaram e me fizeram ter aquele surto. Claro que contei tudo, só falar o nome Joe e o xerife já sabia exatamente do trio de caçadores de quem eu falava.

            Comendo uma horrível e gosmenta sopa de hospital eu suspirava de tédio, até minha tia chegar.

            — Fui à sua escola justificar a sua ausência — disse tia Eve. — Se bem que todo mundo da cidade já sabe...

            — Eu imagino — eu disse rouca.

            — Aproveitei e falei com seus professores — disse tia Eve e a olhei de olhos arregalados. — Qual é Ayla, você é uma ótima aluna...

            — Fiquei um ano estudando em casa, perdi o ritmo — eu disse.

            — Claro que não — disse ela. — Garota você é extremamente inteligente e está ficando de recuperação em praticamente tudo. Por que Ayla?

            — Eu ando tendo um pouco de dificuldade, apenas isso — eu disse deixando a sopa de lado. — Quando eu vou embora?

            — Quando a infecção de garganta melhorar — disse minha tia e assenti. — Bom, eu tenho que ir trabalhar, vê se se comporta — me deu um beijo na cabeça e foi embora, apenas fiz um bico puxando a boca para o lado, deixei a sopa na mesinha próxima e me deitei. Até que escutei alguém bater na porta e olhei.

            — Oi... — disse Orion sorrindo e me sentei na cama, ele estava com um buque de flores na mão, eram lírios amarelos. — Eu não sei se gosta, mas era o que tinha de mais bonito na floricultura.

            — São bonitos — eu disse sorrindo de canto. — Obrigada... — Orion veio até mim e me entregou as flores e as coloquei em meu colo.

            — Está melhor? Sua voz ainda parece de um robô sem pilha — ele disse e o olhei assentindo. — Sobre a floresta...

            — Obrigada por me encontrar — eu disse por cima dele que assentiu uma vez com a cabeça.

            — Olha... Eu fiquei realmente preocupado — ele disse.

            — É, eu estava bem fora de mim.

            — Eu sei que não somos amigos e nem nada disso — disse Orion. — Mas, se precisar de qualquer coisa...

            — Não preciso, obrigada pelas flores — disse seca e olhando para baixo. Orion apenas assentiu com a cabeça e se retirou do quarto sem dizer mais nada, minha boca tremeu num sorriso pequeno de desconforto, levei meus dedos as pétalas dos lírios e delicadamente acariciei, eu era inteiramente grata a Orion, mas, eu não podia me tornar próxima de ninguém, quanto mais distante e solitária eu fosse, melhor seria, pelo menos para mim.

            Depois de uma semana eu finalmente estava recuperada, finalmente fora daquele hospital, mas não estava finalmente longe da terapia que minha tia havia me levado. Estava sentada em frente à terapeuta, uma mulher chinesa de meia idade que me olhava sem dizer uma palavra sequer.

            — Sabe como funciona uma sessão de terapia, não sabe? — perguntou ela e assenti. — Não tem nada que queira dizer, Ayla?

            — Tenho — eu disse limpando a garganta. — Talvez eu esteja ficando esquizofrênica — a terapeuta suspirou profundamente.

            — Por que acha isso? — perguntou ela.

            — Ando vendo umas coisas... Diferentes — eu disse.

            — E que tipo de coisas são essas?

            — Lobos enormes — respondi como um robô.

            — Lobos?

            — Sim, e enormes, tipo, quase do tamanho de um cavalo — ergui os braços tentando demonstrar o tamanho dos bichos. — E vi um deles me observando enquanto eu ia da escola para casa.

            — E sabendo que a ocorrência de lobos em nossa região é rara, você teve a conclusão que está tendo alucinações? — disse a mulher e assenti. — E quando isso começou exatamente?

            — A primeira vez que vi os olhos do bicho... — disse pensando. — Acho que fazem uns dez dias...

            — Dez dias — ela anotou na prancheta.

            — A segunda vez eu vi quatro na floresta, quando eu desapareci — eu disse e ela me olhou. — Era um preto, um marrom, um cinza escuro e um cinza claro. Eles estavam comendo um cervo, rasgando a carne dele...

            — Depois disso viu mais alguma coisa do gênero? — perguntou ela e neguei. — Bom, Ayla, talvez você tenha tido algum tipo de alucinação por conta do surto de pânico que tivera, então acho pouco provável que esteja se tornando esquizofrênica.

            — Então, os lobos são só fruto da minha mente perturbada e em pânico? — perguntei.

            — Possivelmente que sim — disse a terapeuta. — Agora, vamos falar sobre o que te fez ter aquele momento...

            — Claro... — eu disse lambendo os lábios. — Eu sofri violência sexual há um ano e meio, quase dois anos eu acho, não lembro... Foi tudo filmado e jogado na rede, então, meio que... — mordi meu lábio inferior e meu olhar ficou distante.

            — Já entendi... — disse a terapeuta e assenti. — Então, desde o ocorrido você tem crises?

            — Sim, eu entrei e ainda estou numa depressão, tentei suicido e muitas vezes me da ataques de pânico, principalmente se estiver escurecendo e eu não estiver em casa, como aconteceu — eu disse. — E aqueles três caçadores, eles... Eles se aproximaram demais... — senti o enjoo nesse exato momento.

            — Entendo — disse a terapeuta e engoli em seco. Continuamos a sessão, o resultado? Com toda certeza mais alguns remédios.

           Quando cheguei em casa apenas me tranquei no quarto e olhei para o teto.

            — Os lobos não são reais, eles não são reais — eu disse baixinho. — Se tivesse uma matilha de lobos eles iriam uivar, certo? Certo — fora dizer isso que escutei um uivo, um uivo longo e grosso. Sentei-me na cama rapidamente e fui até a janela, olhei para as árvores do quintal e ali estava, os grandes olhos amarelos me olhando fixamente, minhas mãos começaram a tremer e as levei às cortinas, as fechei rapidamente e me sentei no chão abaixo da janela. Doutora péssimas notícias, eu estou ficando louca sim. 

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