Narrado por Orion
Ela chegou faz três meses, uma garota não muito alta de cabelos escuros e olhos castanhos esverdeados, magra e pálida, usava roupas escuras e sempre números maiores, os cabelos eram mal cuidados, não usava maquiagem e sempre parecia estar no mais péssimo humor que uma pessoa poderia estar. Quando entrou na sala pela primeira vez não quis se apresentar, se sentou na ultima carteira e durante todo esse tempo não fez um amigo sequer, não tirava boas notas, apenas parecia respirar por obrigação biológica. Ela acabou me chamando atenção, aposto que não queria fazer isso, mas sendo tão reservada ela meio que causou algumas lendas urbanas sobre si mesma. Para falar a verdade, o cheiro dela foi o que mais me chamou a atenção, um cheiro diferente, todo ser humano tem um cheiro especifico, mas o dela foi o que mais me chamou atenção, então, durante esses três meses eu a estive observando escondido, mas fui descuidado e ela me viu pela primeira vez de tocaia no meio das árvores enquanto voltava da escola para casa no meio de uma chuva gelada. O pavor nos olhos dela me fez entender que ela era apenas um ser humano no fim das contas.
Depois de ser visto por ela, desapareceu por três dias e depois voltou, doente por conta da friagem que havia tomado, o interessante foi que no mesmo dia ela desapareceu no cair da tarde, toda cidade ficou sabendo e ajudando a procura-la, mas eu não podia fazer muita coisa, afinal, era dia de caça do meu grupo e por talvez irônia do destino enquanto eu e meus familiares estraçalhávamos um cervo ela apareceu nos vendo. Fiquei em choque, mas quando saiu correndo tive que ser mais rápido que meus irmãos e irmã, voltei a forma humana e vesti minhas roupas, usei minha jaqueta para limpar o sangue do meu rosto e mãos o melhor que pude. Eu a encontrei primeiro, aterrorizada, nunca tinha visto um olhar feito aquele, nem nos animais que eu caçava.
— A garota está bem? — perguntou minha avó. Eu vivo em uma comunidade no meio da floresta, são vários hectares que pertencem a minha família a gerações. Vivo na casa principal com minha família. Na verdade, família é o modo humano, somos uma matilha, uma matilha de lupus, uma das varias espécies de lobisomens, somos os mais pacíficos e que se transformam inteiramente em lobos gigantes sem depender das fases da lua e permanecemos com nossa total consciência na nossa forma lupina..
— Está — respondi enquanto lia um livro em sua companhia. Eu e minha avó tínhamos essa tradição de nos reunirmos na biblioteca da mansão Blackwood e lermos juntos sob a luz da lareira, não precisamos de muita luz afinal temos visão noturna.
— Ela viu vocês — disse minha avó, Helene.
— Isso não irá nos causar problemas.
— Por que anda vigiando a menina? — perguntou novamente e fechei o livro que lia. — Sabe que não aceitamos casamentos mestiços.
— Ninguém está falando de casamento aqui — eu disse. — Ayla só... Só me desperta curiosidade, apenas isso.
— Você está ficando muito descuidado Orion — disse minha avó fechando o livro e me olhando. Assim como boa parte de minha família, minha avó tinha descendência nativo americana. Nossa família era a junção do lupus europeu com o nativo americano. — Sabe que ela pode querer investigar.
— Ayla tem preguiça até de viver, quanto mais de fazer pesquisas — eu disse sorrindo de canto e me lembrando dela. — Ela não é um problema.
— Por enquanto — disse minha avó. Então eu deixei o livro em cima da mesinha de madeira e me retirei em silêncio da biblioteca. Escutei meus irmãos mais novos.
— Você não sabe fazer isso! — disse Cygnus, ela era uma dos últimos trigêmeos que minha mãe teve, tinha os cabelos ruivos escuros e pele branca, assim como nossa mãe, mas seus olhos eram um verde e outro castanho, uma condição chamada heterocromia, muito comum na nossa raça. Os trigêmos tinham oito anos então eram filhotes, e muito curiosos.
— É claro que eu sei! — respondeu Cetus. Ele tinha os cabelos marrons acobreados e os olhos, sendo um olho verde e o outro castanho, diferente de Cygnus o olho direito era castanho e o esquerdo verde.
— Os dois não sabem! — disse Leo, ele assim como eu e boa parte de nossos irmãos havia puxado a aparência a humana de nosso pai, cabelos e olhos escuros, pele castanha clara. Quando uma fêmea lupus engravida sua gestação é assim como a das mulheres humanas, dura nove meses, mas o detalhe é que sempre virá mais um de um bebê, então, o máximo foram seis da minha tia Artemis. Muitas vezes elas ficam na forma de lobo pois o corpo é maior e a forma da mãe dita como a criança vai nascer, se está em forma de lobo nascerão filhotes de lobo, se está na forma humana nascerão bebês humanos e assim que ela se transforma novamente em humana os bebês também o fazem, por puro instinto adaptativo e apenas nos transformamos novamente em lobos no inicio na infancia quando temos que aprender a controlar esse traço.
— Nenhum dos três sabe — eu disse e os três me olharam. — O que estão fazendo?
— Queremos abrir essa pedra pra ver o que tem dentro, mas não estamos conseguindo — disse Cygnus me dando a pedra. Sorri casto e coloquei um de meus joelhos no chão ficando na alyura próxima das crianças. Apenas uma pequena força e eu consegui partir a pedra no meio.
— Uau! — disseram os três vendo que dentro da pedra havia uma gema azul. — Obrigado Orion! — disseram eles pegando a pedra e saindo correndo. Eu sou o mais velho dos filhotes, por assim dizer. Minha mãe teve três crias, quadrigêmeos, gêmeos e trigêmeos. Os quadrigêmeos somos eu, meus irmãos Draco e Aquila e minha irmã Lyra. Os gêmeos são Apus e Erídanos, por fim os trigêmeos Cygnus, Cetus e Leo. Sim, todos temos nomes de constelações.
— Está cada vez mais forte — disse meu pai atrás de mim e me levantei o olhando. Meu pai era um homem de pele castanha um pouco mais quente que a minha, cabelos pretos com fios grisalhos longos e lisos, olhos escuros, tinha um cavanhaque e se vestia sempre com roupas sociais. — Isso é muito bom! — ele quer que eu seja seu substituto, ou seja o próximo alfa.
— É... — eu disse forçando um sorriso de canto.
— Zeus — disse minha mãe descendo as escadas e a olhamos, ela era linda, cabelos ruivos como o fogo, pele branca feito a neve, olhos verdes feito o musgo mais viçoso da floresta, costumava a usar vestidos longos e elegantes e de tecidos leves que dançavam quando andava.
— Sim, Jaspe? — perguntou meu pai. Ele tem o nome do Deus Grego Zeus e minha mãe Jaspe por conta da gema vermelha.
— Parece que os Stormholt estão vindo — ela disse olhando diretamente para mim. Stormholt são uma matilha do sul e o líder quer casar a filha deles comigo. Puro interessese racial.
— Maravilha — disse meu pai e então eu o dei as costas. — Orion? — não respondi, apenas sai de casa dando de cara com meus irmãos e irmã abaixo do lance de três dragraus que dá a porta dupla de maderia trabalhada com lobos uivando ao luar da entrada da mansão.
— A onde vai? — perguntou Lyra. Ela tinha cabelos ruivos escuros curtos com a lateral raspada e pele clara, os olhos eram escuros. Usava roupas de couro, eu costumava a chamar de motoqueira.
— Nenhum lugar — fui até meu carro, uma camionete Ford Silverado prata cabine dupla do ultimo ano.
— Vai ver a humana? — perguntou Aquila e o olhei. Aquila e Draco se pareciam comigo, a única coisa que mudava era que assim como Cygnus e Cetus, Draco tinha heterocromia nos olhos. O que mudava também era o corte de cabelo e pouca coisa nos rostos. Aquila tinha uma pinta no lado esquerdo do queixo e cabelos bem cortados e penteados, usava roupas mais maduras. Já Draco tinha o estilo de cabelo chamado coque samurai e se vestia com camisetas de banda, calças mais largas, all stars nos pés.
— Não — respondi entrando na camioneta e ligando em seguida. Aqui nessa comunidade vivem três famílias, a de meu pai e as de meus tios, Apolo e Artemis. Somos uma matilha de lobos que tenta o máximo possível ser humanos.
Dirigi pela estrada em direção a cidade, tudo calmo e sombrio como sempre foi, mas freei bruscamente ao ver na beira da estrada Ayla, ela olhava para as árvores da floresta com as mãos na cintura e andava de um lado para o outro, apenas fechei os olhos e suspirei, voltei a dirigir devagar até chegar próximo a ela que sequer ligou para uma camioneta enorme parando perto de si. Abri a porta e desci.
— Ayla? — perguntei e ela assustou dando um grito sobressalto. — Ei! Calma, não me viu chegando?!
— Não! — ela disse fazendo uma feição idiota no rosto. — O que está fazendo aqui?
— Eu estava indo pra cidade e você? — disse olhando para ela e para a floresta. — Vai se perder de novo?
— O que? Não! — ela disse rindo. — Talvez — ficou séria.
— Ayla... — eu disse ela apenas puxou a boca para o lado.
— Eu quero ver aqueles lobos e eu vou filmar para ter certeza de que eles estão aqui — ela disse pegando o celular. Ela não é problema, não é Orion? Eu devia ter pensado bem antes de falar isso.
— Não tem lobos aqui, agora, como chegou até aqui afinal? — perguntei olhando em volta e não tem nenhum carro por perto.
— Vim andando — ela disse assentindo com a cabeça e ergui as sobrancelhas surpreso. — Tchau — ia entrando na floresta.
— Espera! — eu disse pegando em seu braços.
— ME SOLTA! — ela berrou batendo na minha mão e me olhando com medo. — Não... Não encosta... — cruzou as mãos sobre o peito as apertando no moletom.
— Acho melhor deixar você entrar então — eu disse, mas então olhei sobre a cabeça de Ayla e vi algo nada, mas nada bom. Tinha quase dois metros de altura, a cabeça de lobo, o corpo humanoide quase sem pelos, as pernas pulinas, braços longos e no fim doa dedos garras de mais de cinco centimetros. Um crinos, o típico lobisomem meio a meio, o mais perigoso de todos, o mais feroz, o mais sedento por sangue humano e ele olhava diretamente para Ayla com seus enormes olhos vermelhos sangue reluzindo na sombra.
— O quê? — ela perguntou se virando e numa reação rápida eu a peguei e a coloquei no meu ombro a fazendo gritar desesperadamente e se debater. — ME SOLTA! ME SOLTA! AGORA! ME SOLTA! — ela dava socos nas minhas costas e pude escutar que começou a chorar. A coloquei rapidamente dentro da cabine da camioneta e entrei, liguei o carro e sai cantando pneu, aquilo não devia estar aqui, aquela coisa, aquele ser maldito e que propaga o vírus lycantropo, o que transforma humanos em lobisomens, diferente do que as pessoas pensam, não é apenas durante a noite de lua cheia que surgem, mas durante a luz do dia do ciclo da lua cheia também, mas são espertos o bastante para se esconder e esperar suas presas.
Bom, eu realmente me arrependi de colocar Ayla a força dentro do meu carro, ela não para de gritar, chorar, me chutar e bater, além de estar quase quebrando a maçaneta da porta e dando socos nas janelas, ela chega está vermelha de tanto gritar. — Ayla! Ayla! — chamo olhando para ela e para a estrada, eu não podia leva-la para a cidade estando daquele jeito, então estávamos naquela luta já havia minutos, estávamos perto da costa já. — Ayla para! — eu disse pegando em uma das pernas dela e apenas escutamos o som de algo destroncando. Ela gritou e eu soltei a mão imediatamente e joguei o carro para o acostamento, já estávamos de frente para o mar. Destravei as portas e Ayla abriu a dela, saiu correndo e mancando. — Ei! — eu gritei e ela continuou andando até parar num tronco caído. — Fica
Narrado por Ayla. Eu devia ter tirado os lobos da minha cabeça, sim eu devia mesmo, mas não pude e ia entrar novamente na floresta se não fosse Orion aparecer do nada como sempre, bom, não foi do nada, mas eu não o havia percebido. Além disso, ele fez algo nada recomendado para comigo, me agarrou sem aviso e me jogou dentro de um carro e dirigiu sem rumo por minutos a fio. Claramente eu tive um p**a ataque de pânico e por incrível que pareça ele teve muita paciência para meu gritos e surtos. — Meu Deus! — gritou minha tia na sala e eu que estava deitada com o pé luxado para cima tive que fazer o esforço de me levantar e manca ir ver o que havia ocorrido. Estava passando uma reportagem do noticiário local, a manchete dizia que um morador foi encontrado morto ontem. — Qual o espanto? As pessoas morrem tia — eu disse com deboche. — C
Diferente de mim que fiquei reclusa no meu canto tentando não chamar a mínima atenção, Vincent era o oposto, assim que a aula de artes terminou ele já fora se apresentar para todos da sala, e eu só queria jogar ele pela janela. Mas, se ele permanecer longe de mim, eu vou ficar muito, mas muito de bem com ele aqui, mas se ele vier com amizade para meu lado por que eu sou a única que ele conhece, dai o negocio vai mudar de cenário e eu posso muito bem ser presa por assassinato. E como se não fosse mais irritante, Vincent está em todas, repito, todas as minhas aulas, com toda certeza a única vez que vou ficar livre dele é na antiga sala de musica, e aqui estou, sentada na janela comendo meu sanduiche de atum e azeitonas e tomando meu suco de laranja natural. Suspiro enquanto mastigo e olho para fora, parece que por milagre irá fazer sol. — Posso? — perguntou Orion entrand
Eu não sei o que Orion fez, e sinceramente eu não quero saber, mas não vou dizer que não paro de pensar nisso no caminho para casa, e como você bem deve saber, a minha sorte é uma vadia, um carro passou rápido pela rua e estacionou ao lado da calçada onde eu andava mais a frente. Ótimo, o que é agora? Eu vou morrer dessa vez? Então a pessoa desceu do carro e eu fiquei surpresa, era Vanessa. — Ayla! — ela disse correndo até mim e pegou em minhas mãos. — Você está bem? — Sim? — disse confusa. — Não, não está, vem comigo! — ela começou a me puxar para o carro. — Ei! Espera Vanessa! — eu disse enquanto ela me puxava até o carro dela que era um sedam br
Narrado por Orion. Quando contei ao resto da matilha que havia visto um crinos todos ficaram assustados, um crinos é sinal de muito problema. Não interessa se vocês fazem parte da mesma espécie, um crinos tentara te devorar da mesma maneira. Os mais novos da matilha sempre costumam a andar pela floresta em forma de lobo com um adulto para aprenderem a caçar e a patrulhar, mas com um crinos a solta em Oak Village isso não será mais possível. Na noite passada eu fui vigiar a casa de Ayla já que o crinos a havia visto, mas cheguei tarde, ele já estava ali e perto da janela dela com ela o vendo, isso é sinal que ele já a escolheu como presa. Depois que se afastou da casa de Ayla eu o persegui por vários quilômetros pela floresta, meus irmã
Deixando aquela reunião inútil, eu me transformei na minha forma de lobo novamente, sequer tirei minha roupas o que acabou as rasgando, eu andei sem rumo por muitos quilômetros, cacei um cervo para morder alguma coisa e diminuir o estresse, mas além disso, segui pelas matas tentando pegar uma trilha de cheiro do crinos, ele havia andando por muitos lugares, os cheiros se curzavam fazendo um labirinto e o cheiro humano dele desapareceu naquele meio, ou seja, eu não conseguia encontrar. Ao cair da noite eu segui para outro lugar, sim, me escondi em meio as árvores do quintal de Ayla e me sentei ali, escondido na escuridão, deixando apenas meu olhos amarelos brilhantes aparecendo, a vantagem de ser um lobo negro é que me misturo perfeitamente com a noite e as sombras. Me deitei e cruzei as patas dianteiras, encostei o queixo ali e suspirei. Talvez eu estivesse ficando apaixonado
Narrado por Ayla. Eu não conseguia mais pregar os olhos a noite, não só pelo medo, mas também por confusão, eu tenho tantas perguntas, dezenas delas, mas nenhuma delas parece ter uma m*****a resposta racional. Nesse momento estou olhando para a pulseira cheia de badulaques que Vanessa me deu, estou me perguntando como caralhos essa coisinha vai evitar de eu ser devorada por um... Como é o nome mesmo? É um lobisomem isso eu sei, mas o tipo dele... Cripos? Credos? Pricos? Ah! Crinos, isso, esse é o nome. Bom, eu andei pesquisando, me sentei na minha cama e peguei meu celular, parece que tem gente que sabe bem dessa coisa toda, com toda certeza fanáticos pelo sobrenatural, um blog onde contem “relatos verdadeiros” de pessoas que viram com os próprios olhos seres sobrenaturais, somo vampiros, lobisomens, bruxas etc. Este ultimo eu tive o prazer de ver também, se bem que acho que Vanessa possa ter usado truques. Enfim, pesquisando eu vi que existem cinco tipos de
Depois do passeio incrível pelo parque Olympic voltamos para casa no fim da tarde, o céu estava muito bonito, pintado de laranja, rosa, roxo, as cores do entardecer. Eu e Orion íamos conversando e contando coisas engraçadas de nossas vidas, fazia muito tempo que não ria daquele jeito, de fazer minha maxilar doer e me faltar ar, mas teve um momento que parei e olhei para ele enquanto sorria, ele tem um sorriso lindo, as covinhas são um charme a parte, eu me sinto segura perto dele, sinto que estou viva de novo. Passei a mão nos meus cabelos descuidados e olhei para a paisagem, acho que deveria me cuidar mais. Orion parou em frente de casa, já esta bem de noite, peguei minha mochila e meus livros e o olhei. — Obrigada por hoje, fazia tempo que não me divertia assim — eu disse sorrindo doce. — Sua companhia que foi uma honra — ele disse sorrindo de canto. Então em engoli em seco, inclinei meu corpo para frente e depositei um beijo demorado na bochecha macia dele