6

Bom, eu realmente me arrependi de colocar Ayla a força dentro do meu carro, ela não para de gritar, chorar, me chutar e bater, além de estar quase quebrando a maçaneta da porta e dando socos nas janelas, ela chega está vermelha de tanto gritar.

            — Ayla! Ayla! — chamo olhando para ela e para a estrada, eu não podia leva-la para a cidade estando daquele jeito, então estávamos naquela luta já havia minutos, estávamos perto da costa já. — Ayla para! — eu disse pegando em uma das pernas dela e apenas escutamos o som de algo destroncando. Ela gritou e eu soltei a mão imediatamente e joguei o carro para o acostamento, já estávamos de frente para o mar. Destravei as portas e Ayla abriu a dela, saiu correndo e mancando.

            — Ei! — eu gritei e ela continuou andando até parar num tronco caído.

            — Fica longe! — ela disse tremendo e chorando. — Mais um passo e eu grito! — mais do que já gritou? Meus ouvidos estão doendo.

            — Olha, fica calma — eu disse me aproximando e ela berrou, um berro agudo que me fez levar as mãos aos meus ouvidos sensíveis. — Dá pra parar?!

            — O que você vai fazer comigo? Vai me matar? É por isso que está se aproximando de mim?! Pra me matar e depois brincar com meu corpo como se eu fosse uma boneca inflável?! — ela gritava fazendo as veias do pescoço fino saltarem.

            — O quê?! Não! Eu nunca faria isso Ayla! — eu disse colocando as mãos no meu peito. Ela levou as dela ao tornozelo destroncado.

            — Por que diabos me sequestrou então?! — ela perguntou.

            — Eu não te sequestrei!

            — A partir do momento que você coloca uma pessoa contra a vontade dela em um carro é SEQUESTRO! — ela gritou.

            — Tá, talvez eu tenha feito algo errado — eu disse. 

            — Tudo bem ai?! — disse a voz de uma mulher e olhei para a estrada, ela estava dentro de uma camionete preta.

            — Tudo! Ela só torceu o tornozelo! — eu disse e Ayla deu risada, uma risada sarcástica.

            — Precisam de ajuda?! — perguntou.

            — Já vamos para o hospital! — eu disse fazendo sinal para a mulher ir embora. Ela me olhou desconfiada e continuou seu caminho.

            — Você que destroncou meu tornozelo! — gritou Ayla e rosnei baixo, um rosnado nada humano e que por sorte ela não escutou.

            — Você puxou a perna! — eu disse me voltando para ela que limpava as lágrimas do rosto. — Eu não quis te machucar.

            — Mas machucou — ela disse limpando as lágrimas. — Por que me colocou dentro do carro daquele jeito?

            — Vi um bicho nos olhando e fiquei com medo — disse me sentando ao lado dela no tronco. — Posso ver? — me referi ao seu machucado.

            — Não — respondeu seca. — Era um lobo?

            — Não existem lobos nessa região — disse suspirando. — Por causa do seu escândalo eu não podia ir pra cidade — Ayla ficou em silêncio, e a olhei, ela sempre tinha a postura de ombros caídos, como se estivesse sempre encolhida e tremia, tremia feito um filhote medroso.

            — Eu vou ter tomar mais remédios — ela disse rindo sem graça. Então eu ia passar meu braços pelos ombros dela, mas ela se encolheu mais e se afastou, ela resmungou e negou com a cabeça.

            — Ok — eu disse. — Vem, vou te levar pro médico.

            — Espera eu me acalmar antes de me enfiar no seu carro, de novo — ela disse e assenti. Olhando bem agora, Ayla sempre está com os olhos assustados, sempre em alerta e nunca deixa ninguém se aproximar, o que houve com você Ayla?

            Depois de os ânimos calmos levei Ayla ao médico, por sorte, não foi nada demais, apenas uma luxação. Já estava anoitecendo então Ayla avisou a tia que estava tudo bem e que já estava indo para casa. Elas moram numa casa em uma das ultimas ruas da cidade, ou seja, próximas as árvores onde eu me escondo várias noites observando Ayla. A casa é pequena, mas de bom tamanho para duas pessoas.

            Parei o carro e Ayla abriu a porta.

            — Ei — chamei e ela me olhou. — Não vai mais na floresta, é perigoso... — Ayla apenas assentiu e fechou a porta do carro com calma. A tia dela abriu a porta e fora até ela a ajudando a ir para dentro de casa, esperei as duas entrarem e então toquei meu caminho de volta para casa. Quando cheguei ali estacionei meu carro e olhei para minha casa antiga e que parecia um mausoléu, as luzes ainda eram amarelas, já que nossa visão é perfeita. Mas então olhei para a casa de minha tia Artemis, é uma enorme casa assim como a que eu vivo, mas a arquitetura morderna, quase não tem paredes tendo enormes janelas que dão uma visão razoavél da parte interna luxuosa. Sem pensar duas vezes eu fui até ali e bati na porta.

            — Ah, oi Orion! — disse meu tio, um homem de pele negra escura, cabelos cortados em degrade, usava óculos de grau apenas por charme, era grande e forte como todos os homens lobos, seu nome é Christopher, mas o chamamos de Chris apenas. Ele é médico e muito bem sucedido, trabalha numa cidade um pouco maior por perto.

            — Tia Artemis está? — perguntei para meu tio.

            — Lavando a roupa das crianças — disse ele olhando para o lado e vendo os seis filhos dele, eram cinco garotos e uma garota, tinham 12 anos. Os meninos jogavam videogame e sequer tiravam os olhos da tela e a menina mexia no celular. — Entra garoto.

            — Obrigado tio — eu disse entrando e olhando meus primos. Todos eles eram negros, mas de pele mais clara que meu tio, já que minha tia era branca, e o mais legal era que eles não eram idênticos como eu e meus irmãos. — Vou na lavanderia — assenti uma vez com a cabeça e meu tio assentiu fazendo sinal para eu ir, há um bom motivo para eu falar com minha tia Artemis. Desci as escadas que iam para a lavanderia e a encontrei dobrando as roupas e cantando pelo nariz. Minha tia tem a pele clara, olhos azuis como o céu, cabelos castanhos lisos e curtos num corte Chanel, usava sempre calças jeans, botas de cano curto e blusas de manga comprida, seu corpo era muito bonito mesmo depois de ter seis filhos de uma vez.

            — Tia Artemis? — chamei e ela me olhou.

            — Oi querido! Ao que devo a sua visita? — ela perguntou me olhando brevemente e continuando a dobrar as roupas.

            — Tia, você é formada em psicologia não é? — perguntei e ela assentiu ainda cantando. — Sabe, tem uma garota..

            — Garota? — ela disse parando de dobrar a roupa e me olhou. — Que garota?

            — Da minha classe — eu disse encostando meu ombro na parede. — Ela é estranha... Tipo, muito estranha.

            — Estranha bonita? — perguntou minha tia fazendo uma feição de malicia no rosto.

            — Tia... — eu disse sorrindo e ela deu risada.

            — Ok, eu juro que vou parar de tentar me meter na sua vida amorosa — disse ela rindo. — Mas me fala, por que acha ela estranha?

            — Ela chegou tem uns três meses, veio de outro estado, não fez nenhuma amizade, vive reclusa e sozinha — disse. — Vive tirando notas péssimas e tem um humor horrível...

            — Querido as vezes ela só seja introvertida e mau humorada — disse tia Artemis voltando a dobrar as roupas.

            — É a garota que sumiu depois que os caçadores mexeram com ela — eu disse e minha tia me olhou — A que eu encontrei.

            — Ah, a menina que teve um surto e parou na floresta — disse tia Artemis. — Devia ter dito anes.

            — É, eis a questão tia, toda a vez que eu chego perto, ou sei lá toco um dedo nela ela grita, fica assustada como se eu fosse fazer algum mal para ela — eu disse e minha tia ficou pensativa. — Ela vive tremula e com um olhar assustado. Ela grita, grita de verdade se tocar nela sem permissão, mas o engraçado é que vi Vanessa a abraçando uma vez...

            — Talvez o problema seja o seu sexo — disse tia Artemis.

            — Hoje eu a encontrei tentando entrar na floresta de novo — eu disse. — Ela... ela ficou apavorada quando a coloquei no carro para ir embora e na volta voltou encolhida no banco.

            — Com toda certeza alguma coisa tem — disse tia Artemis. — Eu ouvi que os três caçadores estavam dando em cima dela quando ela teve um ataque de pânico, apenas por um toque de um deles no ombro. Ela com toda certeza tem algum coisa contra homens, algo que a aterroriza muito.

            — Ela sempre pensa que eu vou machucar ela... — eu disse olhando para o chão e minha tia veio até mim.

            — Acho que não deve ir ao fundo disso — disse minha tia pegando em meu queixo. — Cada pessoa tem seus próprios fantasmas para lidar... Agora, vai jantar aqui?

            — Tenho que ir para casa — eu disse sorrindo e então dei um beijo na testa de minha tia. — Obrigado — falei e subi as escadas. Eu não deveria ir ao fundo disso? Não, eu deveria, eu preciso saber o que feriu tanto Ayla, o que a causa tanta dor e sofrimento.

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