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            O ar já faltava em meus pulmões, meu corpo estava quente e minha garganta doía ainda mais, tudo parecia ser um labirinto a minha volta, minha respiração não era constante, meus batimentos cardíacos estavam extremamente acelerados, até que parei, parei em meio a aquelas árvores enormes e tudo parecia rodar, levei minhas mãos a minha cabeça e berrei puxando os cabelos me agachando e continuei gritando, um grito que saia do fundo dos meus pulmões doloridos e da minha garganta. Meus joelhos caíram no chão, meu choro era alto, meus soluços faziam meu peito doer pela falta de ar, até que cai para o lado e me abracei tremendo, me encolhi em posição fetal, gemia e tremia, o mundo parecia estar acabando dentro da minha cabeça. Minha respiração foi diminuindo, normalizando, e meus olhos turvos fechando, eu estava sentindo cada músculo meu relaxando e tudo simplesmente escureceu. 

            Despertei de uma vez só puxando o ar para dentro de meus pulmões doloridos, me sentei rapidamente e olhei em volta a floresta escura e com uma fina nevoa.

          — Mas que p****... — eu disse levando a mão a minha garganta que voltou a doer mais ainda. — C*****, onde eu estou?! — me levantei, minha roupa estava úmida, o que me deixou com o corpo gelado, eu estava fria como uma pedra de gelo. — Eu morrer nessa desgraça — comecei a andar olhando em volta. — Maldito surto, maldito surto! — dizia sem parar enquanto esfregava meus braços com as mãos, como se fosse adiantar alguma m****. Continuei pisando firme no chão repleto de folhas secas umidecidas fazendo estalos a cada passo que eu dava, mas então eu parei dando um sobressalto ao escutar o som de animais, rosnados e até mesmo choros de cães e estava bem a minha frente. Tremendo feito uma vara verde andei lentamente até mais perto, sem fazer barulho, perto o bastante eu pude ver... Ver quatro lobos enormes, maiores que um cavalo adulto, um preto, um cinza, um de pelo amarronzado e outro num cinza mais claro quase branco. Os quatro bichos estavam estraçalhando a carcaça de um cervo macho adulto, suas bocas, caras e patas estavam encharcadas de sangue. Nesse momento eu senti o vômito subir por minha garganta, mas o contive, minha sorte era a que os lobos estavam mais interessados no cervo do que no que estava acontecendo a sua volta. Dei um passo para trás para ir embora e pisei num maldito galho que fez barulho. Os quatro olharam para mim com os enormes olhos cintilantes na escurodão e pude ver que o lobo preto tinha os olhos amarelos iguais aos que eu vi.

          — Cachorrinho? — eu disse tremendo e o preto deu um passo na minha direção, então sai correndo. Os escutei os me perseguindo junto com o som de rosnados, era isso, era meu fim, eu ia virar a p**** da sobremesa de lobos gigantes.

          Continuei a correr sem olhar para trás, estranhei que não havia sido pega ainda, parei, olhei e não vi nada. Talvez estão me cercando. Pensei. Olhei para todos os lados tentando enxergar alguma coisa, mas nada, não conseguia ver, nem ouvir e nem sentir o cheiro de alguma coisa por conta do medo. Fui me abaixando, agachei e abracei minhas pernas pois estava muito gelada, se eu não fosse devorada eu iria morrer de hipotermia. 

           — Ayla! — escutei a voz de um homem e olhei para frente, era Orion. Ele estava ofegante, vestindo apenas uma regata fina que deixava seus braços musculosos a vista, calças jeans e coturnos, estava suado e saia vapor de sua pele, a camiseta estava colada em seu corpo definido. — Ayla, você está bem? — ele perguntou vindo para perto, mas gritei e cai no chão, comecei a me arrastar para trás.

           — Longe! Fica longe! — eu dizia gaguejando. — Não toca em mim! — apenas parei de me arrastar quando minhas costas bateram numa arvore.

            — Longe! — berrei.

            Orion me olhava confuso, então ele agachou lentamente e olhou bem em meus olhos.

            — Ayla, sou eu, Orion — ele disse e comecei a chorar. — Está tudo bem, eu não vou fazer nada com você... — colocou as mãos no chão e lentamente começou a engatinhar até mim.

            — Não chega perto... — eu disse fazendo uma careta de choro e soluçando.

            — Estão procurando por você — ele disse e neguei. — Você está desaparecida faz horas...

            — Eu sei — eu disse me encolhendo. — Eu sei...

            — Então... Vem, eu vou te levar até a sua tia, Eve não é? — disse Orion parando há quarenta centímetros longe de mim. — Não se preocupa... Eu não vou te machucar.

            — Promete? — perguntei como uma criança.

            — Com todo meu coração — ele disse estendendo a grande mão para mim. — Você está segura...

            — Mas... Mas e os lobos? — perguntei olhando em volta. — Eles vão pegar a gente... — sussurrei essa última parte e Orion deu um sorriso sem graça.

            — Não tem lobos, se não eles já estariam aqui — ele disse assentindo com a cabeça. — Vem Ayla... — trêmula levei a minha mão a de Orion que a apertou gentilmente e me puxou para ele devagar, encostei minha cabeça em seu peito quente e me desabei em choro, senti uma mão dele em minhas costas e outra afagando meu cabelo úmido.

            — Está bem, está tudo bem — ele disse e chorei ainda mais, pela primeira vez em dois anos eu me sentia protegida. Orion me pegou em seus braços e passei os meus pelo seu pescoço, ele me carregava como se meu peso fosse mínimo e não tinha dificuldade alguma com o chão instável da floresta. Andamos alguns quilômetros até que eu vi as luzes dos carros da polícia e das ambulâncias.

             — Ali! — disse um policial apontando para Orion que me carregava.

             — Ayla! — disse minha tia vindo até nós junto de paramédicos e policiais.

             — A coloque na maca senhor! — disse um dos paramédicos tirando minha mochila das minhas costas e Orion me colocou na maca.

             — Ayla, querida, você está bem?! — perguntava a minha tia, mas eu apenas conseguia olhar para Orion que me olhava com preocupação. Me colocaram dentro da ambulância e ainda estava perdida, ainda não sabia o que havia acontecido direito. A única coisa que eu sabia era que meu surto fora tão intenso que vi coisas que sequer existem.

            Apaguei depois que entrei na ambulância e apenas acordei no hospital, minha visão estava turva, mas pelo menos meu corpo estava quente, olhei para o soro que pingava lentamente, tentei engolir a saliva, mas a dor de minha garganta era uma tortura.

            — Ayla... — escutei minha tia me chamando e a olhei, sorri de canto.

            — Desculpa tia — eu disse conseguindo vê-la melhor. — Eu surtei de novo...

            — Está tudo bem querida — disse tia Eve fazendo carinho em minha cabeça. — Quando estiver melhor, por favor, me conte o que aconteceu...

            — Aqueles... Aqueles — eu ia dizendo e então escutei o aparelho que monitorava meus batimentos cardíacos apitar mais rápido. — Homens...

            — Homens? Que homens? — perguntou minha tia.

            — Caçadores — eu disse com a voz fraca por conta da dor de garganta.

            — Eles fizeram algo com você? — perguntou tia Eve.

            — Eles... — tentava dizer, mas as palavras não saiam da minha boca.

            — Senhora Crawford — chamou o policial e minha tia fora até ele. Fechei os olhos e respirei fundo. Fora então que a imagem dos quatro lobos veio na minha cabeça me fazendo estatelar os olhos. P*** q** p****. Pensei. E então a imagem de Orion me estendendo a mão tomou o lugar.

            — Orion... — eu disse baixinho e levei minha mão ao meu peito apertando o cobertor. Apenas fiquei em silêncio olhando para o teto, respirei profundamente novamente, pisquei algumas vezes e dormi de novo, parecia que havia uma tonelada em cima de mim naquele momento.

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