Escondeu-se atrás da árvore mais ao fundo e esperou, tenso, refletindo que não estava tendo sorte, naquela noite. Aquilo não estava previsto nos seus planos minuciosos. Fazer o quê? Suspirou e ficou alerta, de olho nelas.
A guria mais alta, entre risos, entrou no mato. Postou-se de costas para ele (a míseros três metros! — não o viu, claro) e baixou a bermuda e a calcinha. Agachou-se, então, para urinar. Uma cena erótica, que alimentou sua imaginação libidinosa. A branquinha ficou a um metro da mais alta, postando-se de pé, na entrada do matagal, de braços cruzados. A pele alva se destacava, na semi-escuridão. Vendo-as, não demorou a sentir o doce (e forte) aroma de seus perfumes. Perfumes baratos, com certeza, mas que provocaram, em sua libido, um efeito devastador! Vendo aquele par de seios enormes, sob a blusa decotada da branquinha, sentiu que estava tendo uma… ereção. Uma inexorável ereção! Aquilo foi demais, para seu cérebro sociopata. Com o membro rijo, não teve como se controlar. O vício era mais forte que ele! Mais forte! O desejo aflorou, deixando-o completamente enlouquecido.
Sabia que não era o momento, mas…
Decidiu agir!
Aproximou-se rapidamente, num salto feroz (a adrenalina a mil por hora, àquela altura!), ergueu o braço direito e o baixou sobre a nuca da garota mais alta, a que estava agachada. A coronhada foi forte e a garota desabou de bruços sobre o chão sujo, com um gemido baixo. Evidenciou um pequeno estremecimento, para depois ficar imóvel. Notou que a garota mais baixa, a branquinha sensual, ao ver a amiga desabar, entrou em estado de choque. Abriu a boca e arregalou os olhos, surpresa. Permaneceu quieta, sem saber o que fazer. Aproveitou aquele momento para se postar a dois metros dela.
— Quieta! Quieta! — gritou, raivoso. — Encoste-se na parede! VAMOS! VAMOS!
Empurrou brutalmente a guria de encontro à parede. Ela, apavorada, num ato instintivo, estando com as costas “coladas” à parede, ergueu os braços, como se com esse gesto pudesse apaziguar o estado de espírito daquele sujeito mascarado e hostil.
— Não se mexa! Senão, eu a matarei! Fique quieta!
A guria, obedecendo, manteve-se imóvel, pálida, assustada, chorosa, o corpo trêmulo e os braços erguidos. Vendo-a quietinha, agachou-se e pegou o vidro de clorofórmio. Largou a pistola, destampou o vidro e começou a embeber o lenço com o líquido. Tudo parecia estar dentro do controle. As outras garotas, vítimas de suas empreitadas anteriores, também ficaram imóveis, esperando que um milagre acontecesse. No entanto, como esta era uma madrugada de azar, refletiu, duas coisas aconteceram, numa sequência infernal. Dois atos imprevistos, que jamais haviam acontecido antes. Atos surreais e cruéis, que o pegaram completamente desprevenido.
No primeiro ato, a branquinha sensual, a gata bela que parecia estar em estado de choque, de repente (sabe-se lá que forças foi buscar no fundo da mente, que impulso maquiavélico a motivou a fazer isso) começou, de modo alucinado, a correr e a gritar:
— SOCORRO! MEU DEUS! SOCORRO! MEU…
Os gritos da garota reverberaram pelas paredes que cercavam o terreno, como um monstro renascido do inferno. Gritos inquietantes e… horripilantes!
Surpreendido, levou um susto!
Sua ereção, obviamente, foi para o espaço. Tenso, numa fração de minuto, começou a raciocinar. Sabia que, se ela alcançasse a rua, com suas passadas desenfreadas, tudo estaria perdido. Sua prisão seria uma questão de tempo! A maldição do sistema judiciário penal (com suas nuances diabólicas) se abateria sobre ele! Tinha que agir! Tinha que fazer alguma coisa! Sem perder tempo, demonstrando uma frieza inimaginável (ou isso ou seria preso), correu atrás dela (sem largar o lenço molhado) e esticou o pé, derrubando-a no chão sujo. A garota caiu a dois metros da borda do terreno. Postou-se atrás dela e tapou, por trás, sua boca com o lenço. A garota (as lágrimas descendo) passou a mexer bruscamente o corpo (numa convulsão alucinada), tentando livrar-se de seu ataque. Pressionou-a contra o solo, utilizando braços e pernas. Por ser mais alto e mais forte, subjugou-a com facilidade. Estava com raiva dela, por sua pretensão em tentar escapar dele, prejudicando suas ações. Ao mesmo tempo, sentia desejo por ela. Era uma garota rebelde, sim; mas também era gostosa, sexy, potranca maravilhosa! Por ser uma gata rebelde, pensou, daria uma boa transa. Adorava garotas rebeldes. Sentia o perfume dela e isso o deixou novamente excitado. Sua ereção retornou, vívida e caliente. Assim que pudesse, iria desfrutar daquele corpo rebelde como nunca! Penetraria fundo em suas reentrâncias. Teria o maior dos orgasmos!
Segundos depois, dominado pelo desejo e pelos pensamentos sinistros, quase não percebeu que o clorofórmio havia surtido feito. A branquinha rebelde, de corpo espetacular, estava imóvel, sem sentidos. Ótimo! O melhor da empreitada estavas prestes a acontecer. Já ia arrastá-la para o matagal, quando a merda, aquilo que mais temia, aquilo que mais queria evitar, aconteceu.
O outro ato imprevisto!
Um casal surgiu diante dele, na entrada do terreno!
Sua segunda ereção desapareceu, dando lugar ao medo. Sua pistola! Estava longe dele, perto da árvore. Precisava pegá-la. Precisava pegá-la!!! Não poderia ser preso. Merda! Não poderia ser preso! Tudo, menos a prisão!
— LARGUE A GAROTA, SEU ESCROTO! — gritou raivosamente o rapaz, fixando os olhos nele. Era alto e musculoso, de tez clara e cabelos curtos e pretos, e não teria mais que 20 anos. Com certeza havia percebido que o mascarado estava desarmado.
Vendo aquele jovem abelhudo na sua frente, não pensou em mais nada. Simplesmente correu na direção do matagal. O rapaz, pensando que ele pretendia fugir, correu (com certeza para pagar embuste diante da companheira) atrás dele. Ao mesmo tempo, a namorada do rapaz, mulata bonita, baixa e magra, de cabelos curtos, crespos e pretos, agachava-se ao lado da branquinha rebelde, que estava desacordada.
Nervoso, sentindo seu perseguidor em seu encalço, correu para o pé de goiaba. Viu a pistola, preta e imponente, à sua espera, no solo. De modo ágil e preciso, agachou-se e segurou firme a coronha da arma. Bendita pistola! Uma arma simétrica, mortífera e poderosa, cujo contato frio aumentou sua confiança e lhe devolveu a frieza. Aquele pentelho infantil não iria pegá-lo! Ninguém iria pegá-lo, nessa merda de vida! Virou-se, irado, meio que de joelhos. Ergueu o cano da TAURUS e o apontou na direção do rapaz. Quando este viu a arma, parou de correr e ergueu os braços, como que tentando evitar o pior. Sentiu o medo nos olhos do rapaz? Não. Ele não teve tempo de sentir medo. Surpresa, talvez. Mas teve tempo de ouvir o mais diabólico dos sons:
POW!
O barulho do tiro (abafado pelo silenciador) ecoou discretamente pelas paredes que cercavam o terreno. O barulho da morte! O rapaz estremeceu, soltou um grito e caiu para trás. Um filete de sangue (tétrica “testemunha” do ataque mortal) começou a fluir da camisa branca, que ele usava, na altura do peito. Tive que fazer isso, pensou. Mas precisava terminar o que começou. Com pressa, passou por cima do corpo do rapaz (que ainda se mexia, em convulsões) e apontou a arma para as garotas. A mulata estava agachada, olhando para ele. A outra continuava desmaiada, o corpo sexy esticado no terreno. A visão daqueles belos corpos não o excitou. O tesão tinha ido embora, dando lugar à frustração e à raiva. Antes que a mulata gritasse (o terror era visível, nos olhos dela — devia ter percebido a queda do namorado), puxou o gatilho.
POW!
Mais uma vez o barulho da morte se fez ouvir. A bala diabólica perfurou a caixa craniana da garota, que não teve tempo de protestar. Minúsculos pedaços de cérebro foram lançados longe. A mulata caiu para trás, com um baque surdo. O sangue fluiu do corpo sem vida. Não quis matar a branquinha rebelde. Decidiu poupar as vidas das duas garotas. Castigou apenas o casal, pela ridícula, inoportuna e nauseabunda intromissão.
Rapidamente, com a ansiedade sufocando seu peito, voltou para o interior do matagal e colocou o material dentro da mochila, incluindo a pistola, a máscara (que havia tirado do rosto) e as luvas. Colocou a mochila nas costas. Enxugou o suor da testa. Cuspiu. Respirou fundo, para afastar o medo. Cautelosamente, deslocou-se até a borda do terreno e deu uma olhada. Se visse alguém correndo, teria que fugir pelos fundos. Teria que pular o muro e atravessar o outro terreno baldio, que sabia estar do outro lado. Terreno este que desembocava na rua transversal. Essa fuga também estava nos seus planos, caso as coisas não dessem certo. Uma espécie de plano “B”, claro. No entanto, por incrível que possa parecer, não havia ninguém nas imediações. Ninguém tinha ouvido os gritos da branquinha rebelde, exceto o casal. Seria o casal que estava namorando na igreja? Provavelmente sim. Por ironia da vida, decidiram voltar para o clube (após uma transa sob as sombras da igreja, deduziu), justamente naquele momento.
Azar deles. Coisas do destino, refletiu, irônico.
Olhou o relógio: 3h45min.
Poderia prosseguir com a empreitada? Que tal esconder os corpos no matagal e continuar esperando sua garota solitária? Sua gatinha cheirosa, talvez mais sexy que a branquinha rebelde? Ou, então, que tal transar com a branquinha rebelde mesmo, cujo corpo sedutor estava ali, à sua disposição? Valeria à pena? Respirou fundo. A verdade é que não tinha mais condições psicológicas de prosseguir. Não dava mesmo. Aquelas mortes não estavam previstas nos seus planos. Além do mais, como as garotas não estavam mortas, ambas poderiam acordar a qualquer momento. Se apenas a branquinha rebelde estivesse ali, talvez… provavelmente…
Melhor não. Nada disso!
Controlou-se. O desejo se fora, dando lugar ao temor. Sem desejo, sem transa. Resignado com sua má sorte, arrastou os corpos para o matagal e decidiu abortar a missão. Quem sabe em outra oportunidade? Cobriu o sangue com areia, saiu do terreno e começou o caminho da volta. Merda! Por que a maldita guria tinha que gritar? O que deu na cabeça dela, para achar que aquilo poderia dar certo?
Idiota! Imbecil!
Suspirou, para controlar a raiva.
Foi um retorno tortuoso, angustiante, sufocante! Queria correr, para sair dali o mais rápido possível. Sair antes que as garotas despertassem; sair antes que dessem pela falta do casal; sair antes que algum morador insone (que poderia ter ouvido os gritos) viesse verificar o que tinha acontecido. Mas não correu. Apenas andou, apressadamente, atento aos menores ruídos. Teria ouvido uma janela bater? Teria visto uma pessoa observando suas ações, de dentro de uma daquelas casas? Alguém teria visto tudo? Estaria sendo seguido? Olhou para trás, apavorado! Nada viu. Os jovens estavam distantes, nos bares. Um cachorro latiu, ao longe. Um carro buzinou. Alguém tossiu. E se aparecesse uma viatura policial, naquele instante? — Acalme-se, seu babaca — murmurou, para voltar à calma. — Acalme-se, seu imb
Blém, blém! Acordou assustado, os olhos arregalados, sem saber onde se encontrava. Estaria num buraco, repleto de sombras sinistras por todos os lados? Preso por correntes? Que barulho era aquele? Seria o chamado do demônio? Ou o som da perdição? Sua desorientação durou alguns segundos. Depois, reconheceu os contornos do quarto (seu aconchegante quarto!) e se acalmou. Não havia buraco nem sombras sinistras. Não havia demônios! Sentou-se na cama de casal e esticou os braços, espreguiçando-se. Bocejou. Olhou o visor do relógio: 7h55min. Blém, blém! Novamente a campainha. Seria a polícia? Estariam os malditos policiais ali, prontos para levá-lo? Impossível,
O trânsito estava tranquilo, naquela manhã de sol. Era um sábado realmente agradável. Mesmo assim, levou quase uma hora para chegar a seu destino. Manteve velocidade moderada, de modo a facilitar as coisas para o sujeito de bigode, que o seguia, lá atrás, no comando do caminhão-baú. Percorreu várias ruas, rotatórias e avenidas, até alcançar a ponte Tex Wint, de 120 metros de extensão, sobre o rio Buril. Deixou a ponte para trás, percorreu 200 metros da larga avenida Dézio Khisp e virou à direita, entrando na rua Alípio Tunner. Rua esta que possuía um aclive inicial de 20 metros, para depois ficar plana. Seguiu em frente e virou à direita, entrando na segunda rua, a rua Péricles Avron. A sua rua! Seu novo e maravilhoso lar! Era uma rua alta, estreita e sem saída,
Atônito, não soube o que dizer. Pegou o papel e olhou para o setor que o garçom apontava. Alimentou o sonho e a esperança de ser a loira, a autora da ousadia. A loira, a deusa do amor eterno, havia entrado em contato? Tomara a iniciativa, oferecendo sua paixão incontida? Será? Infelizmente não era a loira e, sim, uma morena, que estava sentada do outro lado do restaurante, também a 20 metros dele. Empolgado com a loira, só tinha olhado uma vez, naquela direção, quando de seu reconhecimento visual e superficial do ambiente. A morena, que se encontrava sentada de frente para ele, estava acompanhada de uma mulata baixinha. Quando fixou os olhos nela, percebeu que ela sorriu, confiante, além de erguer seu copo de cerveja, como se fosse um convite. Incrível! Teve que sorrir, ante o inu
Dizia o texto: RELATÓRIO “A LOIRA DA FAÍSCA” O QUE É A FAÍSCA?De modo resumido, para não me alongar no assunto, “faísca” é a palavra que encontrei para denominar “paixão”. Sentir a “faísca” é estar apaixonado, é desejar inte
Continuação do relatório. Macto estava concentrado, apesar de já ter lido tudo aquilo mil vezes.5.4. OBSERVAÇÃO:Caso um dia alguém leia o conteúdo desse relatório, após a minha morte, poderá achar o perfil acima descrito como esdrúxulo e profundamente incoerente. Tudo bem. Talvez seja. No entanto, tenho esperanças de encontrar uma garota que se encaixe em pelo menos 80% dos itens por mim idealizados. De resto, é apenas uma questão de diálogo e adequação. Além do mais, na medida em que vou envelhecendo, vou ficando mais maleável, mais tolerante. Sei que o mundo também está mudando, principalmente nas ideologias e no comportamento social dos seres humanos. Por isso, não
Fez o caminho de volta, levando o saco com as coisas que acabara de comprar. Ao passar pelas garotas, nada disse. Manteve-se no meio da rua, um pouco mais longe do trio. Mas encarou a garota. Fixamente! Notou que ela também o encarou, sorrindo. Num impulso, balançou a cabeça, afirmativamente. Sheila percebeu e soltou uma risada alta, olhando para o céu. Parecia estar se divertindo. Sorriu também e passou por elas. Ao abrir o portão pequeno, da casa 14, notou que as três garotas olhavam na sua direção. Levantou a mão direita e acenou, dando um “tchau!”. Para sua alegria, Sheila (somente ela) também levantou sua mão direita e retribuiu o aceno, sorrindo. Incrível! Sensacional! Não tinha mais dúvida. Era ela! Era ela! Ou tinha? Ao entrar na casa, sentiu seu coração pulsar, em ritmo acelerado. Pulsava forte, co
Continuou seu discurso, descrevendo tudo o que leu, a respeito do assunto. Fingiu prestar atenção à lenga-lenga do colega, enquanto murmurava palavras como “horrível”, “lamentável” e “horripilante”. No fundo, estava enfastiado com o assunto, não querendo mais saber de um troço do qual fora o protagonista. Havia sofrido na pele a angústia de quase ter sido preso! Tudo por causa do maldito casal. Pare de falar, Fábio, seu ridículo, pensou. Mal via a hora de concluir a refeição, o que ocorreu, minutos depois. Despediu-se de Fábio (um alívio!) e foi até uma das agências da VIVO, onde atualizou o endereço, fins recebimento do boleto da internet sem fio. Depois, saiu e entrou na praça “Lírio Doce”. Sentou-se num dos bancos de