Segunda-feira e era preciso retornar às suas responsabilidades. Mona acordou no susto com o despertador de seu celular tocando, esticou o braço, tateando o aparador, e quando o encontrou, percebeu que ainda era o primeiro, das 6h. Sentou-se na cama meio atordoada pelo sono, notou que seu namorado não estava mais ao seu lado e se perguntou para onde ele teria ido tão cedo. Bocejando, entrou no banheiro e enquanto escovava os dentes, ouviu passos dentro do quarto, era Matteo que havia acabado de chegar. Recostada à pia e com a porta aberta, podia vê-lo tirando suas roupas de corrida pronto para entrar na ducha. Riu ao vê-lo se aproximando, tão distraído com os fones de ouvido que nem percebeu sua presença. Foi só quando seus olhos se encontraram que ele parou. – Eita! Desculpe… – Murmurou parecendo envergonhado, já girando nos calcanhares para fugir dali. – A porta estava aberta então, não pensei que você estaria aqui dentro… Mona acabou rindo. Não tinham aquele nível de intimid
A culpa estava consumindo os pensamentos de Mona. Quanto mais tempo passava, mais se sentia uma traidora por guardar aquele segredo de Matteo. A verdade era que não sabia como contar sobre aquilo, e também se via sem ter com quem conversar sobre aquilo. Até pensou na tia, mas ficou com vergonha. “Isso também conta como traição?” Ela se questionava perdida em seus próprios pensamentos. Contudo, foi tirada de seus devaneios ao sentir algo gelado tocando sua bochecha, balançou a cabeça contrariada e então encarou a amiga. – Você me chamou para conversar sobre algo, mas fica pensando ai sozinha… – Mariana murmurou enquanto tentava enfiar o canudo na tampa do milk shaike. – ‘Tô’ te chamando há um tempão. – Oh… desculpe… – Mona pediu sincera e suspirou encarando o copo gelado à frente. – Acho que cometi um grande erro, Mariana. – O que aconteceu? A amiga perguntou puxando um pouco do líquido adocicado, não parecia ter entendido ainda a gravidade da situação. – Eu… hum… – Mona murmur
O dia amanheceu de maneira conturbada na enorme mansão dos Vaccine, as empregadas, com seus uniformes padronizados, se acomodavam às portas, tentando ouvir o que acontecia no salão principal. Era sempre um verdadeiro “show” quando uma das cunhadas entrava em pé de guerra com a outra, mas dessa vez, por mais surpreendente que parecesse, quem se encontrava no centro da discussão era a única mulher de mente centrada naquela casa, Carlota. – Isso é um disparate! A cunhada mais nova argumentava num tom exasperado, sua voz chegava a elevar alguns tons. – Você só pode ter enlouquecido, seu irmão logo retornará da Sicília, e o que você fará? – Basta, Marine! Carlota, a filha primogênita, exclamou irredutível. – Não estou pedindo a sua opinião, muito menos dele, já está decidido. Os homens, mesmo observando tudo, não diziam nada, em parte porque não havia nada que pudesse ser feito àquela altura. A situação havia passado dos limites, extrapolando o controle de qualquer um deles e talvez,
Alana agarrou a rama esverdeada, puxando-a bruscamente do solo e encarou as batatas cheias de areia, se perguntando se estavam maduras o suficiente para o consumo, no fim, sem chegar a uma conclusão, deu de ombros, e as jogou no cesto. Todos naquele orfanato tinham funções, e as meninas mais velhas, como ela, cuidavam das hortas ao redor da catedral. Foi tirada de seus devaneios quando, numa demonstração da ruptura que estava prestes a acontecer, de repente, começou a chuviscar, e o dia antes ensolarado, deu lugar a nuvens negras que “fechavam” o tempo, escurecendo rapidamente os céus. “Parece que vai chover…” A moça pensou consigo mesma, olhando ao redor, ficando preocupada com as outras crianças que corriam no campo aberto. – Entrem, o clima está ficando perigoso, pode haver raios! Gritou apontando para as nuvens escuras sobre sua cabeça. – Cuidado para não se machucar. – Será que algum raio derrubará a velha árvore? Uma das meninas, questionou rindo, e contagiando as outras men
Sua nova casa era gigantesca, uma mansão na verdade, mordomos e empregadas vestidos em uniformes de corte tradicional, uma biblioteca maravilhosa de perder o fôlego, lustres brilhantes feitos de diamante sobre as longas escadarias, e um jardim impressionante se espalhava ao redor da gigantesca construção pertencente àquela família por três gerações. Era a observação ingênua de uma menina ofuscada pela grandiosidade daquele lugar, notando apenas os elementos que a encantavam, sem perceber que na verdade, tudo aquilo apenas ofuscava sua visão do que realmente era aquele lugar. Ela ainda não havia percebido, mas, dentre aquele turbilhão de sentimentos, não havia pertencimento. Curiosa, observava a empregada que caminhava ao seu lado, guiando-a pelos corredores em direção ao andar onde ficavam os quartos, era uma mulher bonita, cabelos longos e negros prestos num rabo-de-cavalo baixo, parecia gentil, mas não falava muito. Quando pararam em frente à pesada porta de mogno, a recém-cheg
Então, alguns dias passaram. Nesse meio tempo, Alana foi tentando se acostumar àquela nova realidade, mas tudo era tão diferente que quase não conseguia acompanhar. Às vezes, a falta de diálogos a irritava, não entendia o que acontecia à sua volta e ninguém lhe dava explicação, no fim, era sufocante. Os acontecimentos que antecederam seu nascimento eram um mistério para ela, e os quatorze anos longe de sua família biológica mostravam que, apesar de ter herdado seu sangue, não era um deles. Por mais doloroso que fosse admitir, a verdade era inapagável, ela era uma bastarda, assim como a prima cruelmente havia dito. “Não posso baixar a guarda com ela.” A moça pensou consigo mesma, e então, um livro que havia lido escondido das freiras lhe veio à mente, pensou um pouco e riu ao lembrar o título, era: Menina má, de Christine Penmark. – Há algo que não entendo… – Alana chamou baixinho, inclinando a cabeça para trás, fitando a mulher que penteava seus cabelos. – Porque eu fui trazida para
Alana não conseguiu dormir mais nada depois de ouvir aquelas palavras, cada peça daquele quebra-cabeças só deixava tudo mais confuso e sentia como se estivesse diante de um poço sem fundo, o que poderia ser considerado cômico se não fosse tão dramático. O dia amanhecia quando percebeu que realmente não conseguiria voltar a dormir, então, foi para a biblioteca e enquanto procurava por algo do seu interesse, se perdeu em pensamentos. De repente, se lembrou do longo sermão que a irmã Joana havia lhe dado quando a encontrou lendo algumas de suas leituras “tortas”, e riu se questionando o que a mulher teria dito se a visse lendo O Retrato de Dorian Gray. Eram suas pequenas rebeldias. Foi tirada de seus devaneios quando ouviu uma respiração ofegante e passos apressados às suas costas, a menina se virou, assustada e ainda pensando que talvez aquela casa fosse assombrada, mas se deparou com uma Olivia pálida e ofegante. – Não faça isso! A mulher exclamou depois de tomar algum fôle
Ela tentava se acostumar ao seu novo nome. Mona lhe soava estranho, mas sentia que poderia se acostumar. Além disso, tinha maiores preocupações naquele momento, pois logo descobriu que, com sua nova vida luxuosa, veio também as responsabilidades de rica, um absurdo e rigoroso cronograma no qual não lhe sobrava tempo para se martirizar. Às vezes, enquanto a professora de etiqueta ensinava sobre uma boa postura, se lembrava da tia, e tentava imitar seus gestos, ela era sua inspiração. Estranhamente estava feliz, e o que mais amava eram as aulas de piano, suspirando de olhos fechados enquanto arriscava algumas notas que já havia aprendido. Porém, como nem tudo eram flores, vez ou outra, recebia uma bronca da professora por estar cantando a letra das músicas errado, a verdade era que, aos seus ouvidos despreparados, aqueles idiomas pareciam impossíveis de pronunciar. Era cansativo, desgastante, mas estava se esforçando. Acordava cedo todos os dias para treinar sozinha antes das aulas m