2. Tudo Faz Sentido

Desperto com os primeiros raios de sol penetrando pela janela. Abro os olhos lentamente, lutando contra a sensação de peso em minha cabeça. Com a visão embaçada, levo alguns segundos para que as formas ao meu redor se tornem mais nítidas.

Ao tentar me mexer, sinto as pernas de alguém entrelaçadas às minhas e um braço pesando em minha cintura. Tapo a boca para conter um grito surpreso quando me dou conta da situação em que me encontro. Ao virar o rosto lentamente, encontro um homem nu dormindo serenamente ao meu lado.

— Oh, meu Deus! — resmungo, tampando a boca novamente quando ele se mexe, apenas para se virar para o outro lado.

Em uma tentativa de não o acordar, me levanto com cuidado e quase corro para o banheiro. Sento-me na privada, prendo os cabelos entre os dedos e apoio a cabeça entre as pernas, tentando me lembrar de como vim parar aqui.

— Droga, droga, droga! — murmuro quando alguns flashes da noite passada surgem em minha mente. — Merda de aposta idiota!

Respiro fundo, tentando conter a vergonha que me atinge, e levanto-me para lavar o rosto. Ao parar em frente ao enorme espelho na parede, percebo quão intensa a noite foi. Cabelos bagunçados, algumas marcas vermelhas espalhadas pelo corpo e as nádegas marcadas por dedos, evidenciando a intensidade da noite que tivemos.

— Não acredito que fiz isso! — sussurro, negando com a cabeça.

Ciente de que já é tarde para arrependimentos, termino de lavar o rosto e saio do banheiro. Meu coração b**e acelerado quando chego ao quarto e encontro Sean sentado na cama, esfregando as mãos no rosto. Rapidamente, puxo o lençol para me enrolar e ele arregala os olhos ao me ver.

— Buongiorno, bella. Sei ancora qui... — Ele faz uma pausa, notando minha expressão confusa, e repete em inglês para que eu entenda: — Bom dia, linda. Vejo que continua aqui.

— Bom dia. Sim, mas… preciso ir — respondo, notando minha voz trêmula enquanto pego meu vestido jogado no chão. — Eu… não queria acordar você.

— Fique um pouco mais, posso pedir um café. Acredito que na noite passada, nós dois bebemos mais do que deveríamos.

— Não se preocupe, realmente preciso ir — repito e balanço o vestido, sentindo minha bochecha esquentar de vergonha. — Pode se virar, por favor? Prometo que será rápido!

— Não me lembro muito, mas após o que fizemos, acho que isso não é necessário.

Passo a mão nos cabelos, revirando os olhos antes de ir para o banheiro e trocar de roupa. Ao voltar para o quarto, encontro-o em pé, ainda nu, mexendo em seu celular. Sua fisionomia, antes relaxada, agora transparece estresse e algo que não consigo decifrar.

— Estou indo — aviso, pegando minha bolsa. — Tenha um bom dia.

Com um último olhar, me despeço do homem que, se Deus quiser, nunca mais verei, e sigo em direção à saída. Ao chegar no saguão do hotel, pego meu celular e, após desbloquear o aparelho, encontro diversas ligações perdidas de Emily, a última há poucos minutos.

— Droga, me esqueci dela! — exclamo, indo em direção à saída enquanto retorno à ligação, atendida no primeiro toque. — Oi, Emily!

— Zoe, onde você estava? Te liguei milhões de vezes! — diz, evidenciando a urgência. Solto um suspiro.

— É uma longa história. O que aconteceu?

— Está sentada? Porque tenho uma péssima notícia para te dar.

{…}

O céu nublado e o clima frio de Manhattan transmitem exatamente o que sinto: tristeza. Alguns dias se passaram desde a péssima notícia que Emily me deu: a morte de Richard Gallagher, nosso chefe, que abalou a todos, principalmente a mim.

— Ainda não acredito que isso aconteceu. — sussurro enquanto Emily e eu nos sentamos em um dos bancos vazios da igreja. — Enquanto ele precisava de mim, eu estava me divertindo com um desconhecido. Você tem noção do quanto isso é errado?

— Ninguém podia prever isso, Zoe. Por favor, não se culpe. Além disso, ele faleceu em casa, o que significa que sua presença teria sido indiferente.

Mesmo com as palavras de conforto, sinto meu coração pesar de tristeza e arrependimento. Com um soluço, observo o caixão à nossa frente e rezo baixinho para que tudo isso seja apenas um pesadelo.

À medida que as pessoas ocupam seus lugares na igreja, reconheço rostos conhecidos: colegas de trabalho, amigos de longa data e familiares distantes, todos com semblantes sombrios de luto.

Meu olhar percorre a igreja e arqueio as sobrancelhas ao ver um rosto quase familiar na primeira fileira, ao lado de um rapaz mais jovem, recebendo condolências de algumas pessoas da empresa.

— O que você está fazendo aqui? — murmuro, passando a mão nos cabelos. Mesmo em meio à tristeza, começo a juntar as peças do quebra-cabeça. — Sean Rossi… Gallagher. Não acredito nisso!

— Falou comigo? — Emily pergunta, levantando a sobrancelha.

Antes que eu possa responder, ele olha para nós como um ímã. Ao me reconhecer, vejo a fisionomia dele se transformar. A raiva surge em seus olhos, e ele me encara com uma intensidade que quase me faz desviar o olhar. Sem tempo para digerir a situação, a cerimônia fúnebre chega ao fim.

Com o coração acelerado pela despedida e pela surpresa, seguimos em direção ao cemitério. Durante o funeral, nossos olhares se encontram várias vezes, aumentando a tensão.

Por um momento, esqueço a presença de Sean e mantenho meu olhar focado no caixão que desce lentamente para a terra. As palavras do padre se perdem entre as memórias que surgem em minha mente. Com uma rosa-branca jogada suavemente sobre o caixão, me despeço do homem que foi fundamental para quem sou hoje.

— Srta. Adkins, espere. — Sr. Freeman, amigo pessoal e um dos advogados de Richard, me chama assim que Emily e eu nos afastamos para sair. Me viro abruptamente para encará-lo, percebendo Sean se aproximando de nós.

— Posso ajudá-lo, Sr. Freeman?

— Preciso que nos acompanhe até o escritório de Richard. Leremos o testamento e sua presença é indispensável.

— Eu? — pergunto, franzindo as sobrancelhas no mesmo momento em que vejo Sean parar ao lado do advogado. — Mas…

— Agora, sim, tudo faz sentido. — Sean me interrompe em um tom alto, visivelmente insatisfeito.

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