Nas últimas duas semanas, enfrentei a intensa pressão e hostilidade de Sean, que fez de tudo para me desestabilizar. Apesar disso, mantive-me focada no trabalho, recusando-me a ceder. Como consequência, trabalhei muito mais nestes últimos dias do que em anos ao lado de Richard.
Sean não estava mentindo quando disse que tornaria a minha vida um inferno, mas o que ele não sabe é que vim de um e não estou disposta a ceder tão facilmente.Após essas semanas de intensa batalha, mesmo com a exaustão atingindo seu ápice e os sintomas de uma gripe se aproximando, dar o gostinho a Sean de me ver desistir está fora de cogitação. Afinal, meu futuro depende disso.— A sua cara está péssima. — Emily comenta, assim que nos encontramos na cafeteria em frente à empresa. — Você tem certeza que pode trabalhar assim? Você deveria ir ao médico.— É apenas um resfriado bobo, Emily. Tomei um remédio antes de vir trabalhar, daqui a pouco isso passa. Atchim!— Saúde! — ela deseja, entregando-me um guardanapo. — Zoe, sério, você sabe que não precisa passar por isso.— Tenho os meus motivos, apenas preciso aguentar um pouco mais.— Você e esses motivos misteriosos. Enfim, que tal a noite das meninas nesse fim de semana?— Obrigada, mas dispenso, Emily. — afirmo, revirando os olhos enquanto finalizo meu café expresso. — Há um mês, tivemos uma noite das meninas e ela me trouxe dores de cabeça que me acompanham até hoje. Prefiro aproveitar esse tempo para descansar e me recuperar dessa gripe.— Também é uma boa ideia. Vamos?Com um aceno de cabeça, concordo com sua sugestão e pego minhas coisas. Ao me levantar, uma leve tontura me atinge, fazendo com que eu segure no encosto da cadeira. Emily me olha, arqueando as sobrancelhas enquanto me dá um olhar desconfiado, mas se mantém em silêncio.No caminho, tento ignorar o cansaço e os diversos bocejos causados pela gripe, desejando que esse dia passe o mais rápido possível para que eu reencontre minha cama logo.— Você deveria mesmo ir ao médico, Zoe. — Emily recomenda assim que o elevador começa a se mover. — Isso não é saudável.— Obrigada pela preocupação.Com um sorriso, tento disfarçar meu incômodo com sua recomendação. Para alguém que precisou aprender a se virar sozinha logo cedo, a ideia de admitir fraqueza sempre foi um desafio. Logo, chegamos ao departamento administrativo e nos despedimos.Me preparo psicologicamente para o meu carrasco e, em poucos minutos, chego à minha mesa. Solto um suspiro pesado ao ver a montanha de documentos e tarefas que me aguardam.— O quê? — murmuro ao ver a lista que Sean deixou em meu e-mail. — Buscar meu terno no alfaiate? Providenciar alguém para limpar meu apartamento? Sean realmente está tentando me enlouquecer! Argh!Com um suspiro resignado, começo a organizar as prioridades e a planejar como executar as tarefas, mesmo aquelas que nem sequer são minhas.Após alguns minutos, vou até a sala de Sean para passar a sua agenda. Exatamente como tem sido nessas últimas semanas, passo seus compromissos, enquanto ele permanece de costas para mim, como se fosse apenas um mosquito tentando atrapalhar a sua paz.Ao sair da sala da presidência, não consigo evitar um suspiro de frustração. Nosso relacionamento profissional parece cada vez mais desgastante, e eu me pergunto por que ele simplesmente não opta por me demitir de uma vez.— Por Deus! Eu não aguento mais… — sussurro ao sair da sala da presidência. — Agora, vá buscar o terninho que vale o dobro do seu salário, Srta. Adkins. — resmungo, andando em direção ao elevador para ir ao alfaiate que, para variar, é bem distante daqui. — Está acabando. Em menos de três meses, estarei livre disso.Enquanto caminho em direção à garagem, ignoro a fraqueza que mais uma vez tenta tomar conta de mim. Ao entrar no meu carro, conecto a minha playlist e mantenho-me ocupada durante todo o trajeto, cantarolando músicas animadas.Duas horas depois, voltei à empresa. Enquanto caminho pelo corredor, rumo à sala de Sean, me vejo obrigada a diminuir a velocidade. Os sintomas da gripe parecem cada vez mais fortes, fazendo com que a dor de cabeça e a tontura se intensifiquem.— Preciso da minha casa. — resmungo, passando a mão nos cabelos.Ao chegar à sala de Sean, encontro-o em pé junto à janela, distraído em uma conversa ao telefone. Seus olhos encontram os meus quando entro, e ele encerra rapidamente a ligação, estendendo a mão para pegar o terno que trago.— Finalmente, Srta. Adkins! — o CEO diz, tirando a roupa da capa protetora. Passando a mão em sua barba perfeitamente aparada, ele levanta a sobrancelha e guarda o terno novamente. — Isso não vai caber em mim, é visível que está largo. Leve-o de volta.— Sr. Gallagher, o senhor nem sequer experimentou. — afirmo, sentindo a minha voz enfraquecer. — Não seria mais fácil se o levasse pessoalmente para tirar as medidas corretas?— Não tenho tempo para isso, Srta. Adkins. Leve-o de volta e avise ao alfaiate para fazer os ajustes necessários. — ele finaliza sua ordem, franzindo as sobrancelhas ao me encarar.Sinto a tontura atingir seu ápice e levo a mão à cabeça, lutando para manter o equilíbrio. Antes que eu possa procurar por algo para me apoiar, sinto a mão firme de Sean segurando minha cintura, impedindo que eu caia.— Você está bem? — Sean pergunta, surpreendentemente num tom calmo. Ele me ajuda a sentar em uma das cadeiras e coloca uma das mãos na cintura, aguardando a minha resposta.— Estou bem. É só… só uma gripe boba.— Se está doente, deveria ir ao médico, Srta. Adkins. — ele afirma, voltando à sua postura habitual. — Ou quer que todos pensem que estou te sobrecarregando ao ponto de desmaiar pelos departamentos da empresa? Ligue para alguém e peça para virem te buscar.— Não é nece…— Não é um pedido, é uma ordem.Com um suspiro, pego meu celular e, ao ver que já está quase no horário do almoço, ligo para Emily. Em poucos minutos, ela surge na sala com uma fisionomia preocupada.— Srta. Davis, por favor, leve-a para casa. — Sean pede, num tom autoritário. — Você tem minha permissão para sair.Emily concorda prontamente e me ajuda a levantar enquanto me dá um olhar de reprovação. Nem sequer me preocupo em olhar para Sean e rapidamente saímos da sala. Logo, estamos no carro de Emily.— Esse não é o caminho para a minha casa. — digo, num tom confuso.— Te levarei ao médico, Zoe. Como deveria ter sido.Abro a boca para retrucar, mas o olhar que ela me dá faz com que eu me cale imediatamente e em poucos minutos chegamos ao hospital. Algum tempo depois, entre fazer a ficha médica e aguardar na sala de espera, chega finalmente a minha vez.Após o primeiro atendimento, o médico pede alguns exames básicos e sai, me deixando no quarto com a Emily. Deitada na cama, os minutos se tornam horas, até que finalmente o médico retorna ao quarto, trazendo alguns papéis consigo. Após folhear os papéis para analisar o resultado, ele pede para Emily sair e me olha para mim com uma expressão séria.— Srta. Adkins, todos os resultados dos exames estão dentro da normalidade, exceto um. — O médico anuncia, aproximando-se com uma expressão séria. — Você está grávida.As palavras do médico ecoam em minha mente imediatamente, fazendo uma onda de choque percorrer pelo meu corpo. Grávida? A ideia parece tão surreal, que é como se eu estivesse presa em um sonho estranho do qual não consigo acordar. — Isso é impossível, doutor. — murmuro, balançando a cabeça negativamente. — Este exame deve estar errado, estou apenas gripada, é isso. — Srta. Adkins, eu entendo que receber essa notícia não seja fácil, mas é altamente improvável que o exame de sangue esteja equivocado. A senhorita teve alguma relação sexual sem proteção nas últimas semanas? — Não, eu nem tenho um… — minhas palavras são interrompidas por uma lembrança. Em um dos poucos flashes que me lembro daquela noite, vi Sean colocar a camisinha. Mas do jeito que estávamos e da maneira como meu corpo amanheceu, percebo que um preservativo podia facilmente ter se perdido e nem sequer daríamos conta. Com um leve aceno de cabeça, peço ao médico que continue. Enquanto ele explica os próximos passos e
Com a presença de Ellie, que se mudou para o meu apartamento após conseguir uma excelente oportunidade de emprego em uma das subsidiárias da Blue Earth, parte do meu susto pela notícia se esvaiu. Ter alguém ao meu lado para dividir essa situação fez com que eu me acalmasse.Ainda assim, a notícia sobre a gravidez continua sendo digerida, mas sei que preciso me concentrar no trabalho que me aguarda. Infelizmente, isso inclui voltar à empresa para mais um dia ao lado de Sean.— Você tem certeza de que está bem? — Ellie indaga durante o nosso café da manhã.— Sim, fique tranquila. Além da possível gravidez, apenas os espirros estão me tirando do sério, mas logo passa. Sem dizer que não posso faltar hoje se planejo ir ao médico em breve. — Afirmo, respirando profundamente. — Ainda tenho esperanças de que esse resultado pode estar errado e que não há um bebezinho aqui dentro.— Mas não se esqueça, Zoe. Se tiver um bebê aí dentro, ele já é muito amado por mim e tenho certeza de que assim qu
“Por Sean Gallagher” Ao receber a notícia de que ela me acompanhará durante a viagem, quase posso ouvir as engrenagens de Zoe girando enquanto ela permanece imóvel. Apesar de suas tentativas de disfarce, a expressão de surpresa estampada em seu rosto me traz uma sensação de satisfação. — Comigo? — Ela sussurra para si mesma, mas o silêncio no ambiente permite que eu ouça claramente. — Disse algo, Srta. Adkins? — Não, senhor. Estava apenas… — É parte do seu trabalho. Por que está tão surpresa com a notícia? — pergunto, interrompendo suas palavras. — Afinal, você costumava acompanhar meu pai em viagens de negócios. — Seu pai não me odiava. — ela resmunga, arregalando os olhos ao perceber que seu pensamento escapou por seus lábios. — Olhe, Sr. Gallagher, eu tinha outros planos para a próxima semana e acompanhá-lo não estava entre eles. Mas como disse, faz parte do meu trabalho. — Ótimo. — afirmo, voltando ao meu lugar. — Preciso do relatório que será discutido na próxima reu
“Por Zoe Adkins”Meu corpo inteiro parece congelar enquanto as palavras de Sean ecoam na minha mente. Tento controlar a náusea que ameaça subir novamente, enquanto encaro a expressão indecifrável de Sean, esperando sua resposta.— É isso, certo? — insisto, após ver uma troca de olhares entre os dois. — Você só pode ser louco se pensa que eu conseguiria fazer mal ao Richard.— Meu pai morreu, você se beneficiou. Convenhamos que muitas coincidências envolvem o seu nome, não acha?— Eu nunca faria mal a ele. Richard foi um grande amigo para mim.— Que tal acalmarem os ânimos por aqui? — Stefano tenta amenizar a tensão, mas Sean o ignora, aproximando-se de mim. — Ouça, Srta. Adkins, — Sean começa, encarando-me intensamente —, por enquanto estou apenas tentando entender os fatos, mesmo que seja difícil ignorar as circunstâncias.— Circunstâncias que surgiu na sua cabeça por conta de uma infeliz coincidência. O nosso… encontro, foi um erro mútuo, mas não justifica acusações infundadas. —
“Por Sean Gallagher” A tarde de sábado começa com a mesma monotonia que tem marcado meus dias desde que cheguei a Manhattan. No quarto onde improvisei uma pequena academia, apenas o som da minha respiração corta o silêncio tenso, em contraste com a agitação que sempre esteve presente na minha vida em Milão. A necessidade de mudança me trouxe à cidade que nunca dorme, mas não contava que um encontro despretensioso com Zoe me faria reviver experiências que eu tanto lutava para esquecer. Aprendi da maneira mais difícil que confiar nas pessoas pode ser uma faca de dois gumes. Você se entrega totalmente e, no fim, descobre que o que realmente importa não são os sentimentos, mas quem você é e o que pode oferecer. Seja em Milão ou Nova York, sempre há algo que me lembra das cicatrizes que o passado deixou. — Por que estou com a impressão de que há algo errado novamente? — resmungo, enquanto forço meus músculos em mais uma série de flexões. — Falando sozinho… O auge da solidão. — a v
“Por Zoe Adkins” Acordo com uma sensação desagradável no estômago. Ainda meio sonolenta, antes de conseguir assimilar o desconforto, corro para o banheiro, mal chegando a tempo antes de vomitar. Segurando a borda do vaso, respiro fundo, tentando acalmar meu estômago revoltado. Depois de alguns minutos, o enjoo começa a diminuir e me sinto capaz de me levantar. — Mas o que é isso? — resmungo, pegando minha escova de dentes. — Então é assim que as grávidas são normalmente acordadas? Após fazer minha higiene pessoal, deito-me na cama novamente, na esperança de conseguir dormir um pouco mais antes de mergulhar nas tarefas impostas por Sean. No entanto, após rolar de um lado para o outro, acabo esticada na cama como uma estrela-do-mar, encarando o teto. — Droga! — resmungo, soltando um suspiro frustrado. — Voltar a dormir seria pedir muito, não é? Passando a mão no rosto, decido me levantar para iniciar o dia. Ao sair do quarto e passar pelo corredor, sinto o cheiro de café rec
Estreito o olhar imediatamente, torcendo para a visão ser apenas fruto da minha mente cansada. No entanto, logo confirmo que ele realmente está aqui. Sentado em uma mesa do outro lado do pub, Sean está ao lado de Stefano. Sem que eu tenha controle, um misto de emoções toma conta de mim, desde a raiva pelo que ele tem me feito passar até o desejo inegável que, infelizmente, ainda sinto por ele. Ao se certificar de que eu o vi, um sorriso sarcástico brota em seus lábios antes que ele leve seu copo de uísque à boca. — Oh, meu Deus… O que fiz de errado na minha última encarnação? — resmungo, desviando o olhar rapidamente. Ellie me encara, confusa. — Parece que você viu um fantasma. Você está bem? — Sim, tudo bem. — respondo, forçando um sorriso. — Vamos dançar? — E você pode fazer isso? — Ellie, pelo amor de Deus! — exclamo, virando meu suco em um só gole, como se isso fosse capaz de me acalmar. Nunca quis tanto um pouco de álcool como agora. — Estou grávida, não morta. É claro que
Após ter jogado meu suco no rosto de Sean e saído sem olhar para trás, voltei para casa decidida a encontrar outro meio para trilhar meu caminho. No entanto, quando a manhã de domingo chegou, estando um pouco mais calma, ponderei as opções e resolvi reconsiderar minha decisão.Ainda assim, preparei-me para um eventual aviso do departamento de recursos humanos informando sobre a minha demissão. Mas, ao contrário do que previ, recebi um e-mail formal do meu chefe confirmando o horário do nosso voo, o que significa que permaneço sendo sua assistente.No entanto, a ideia de passar mais tempo ao lado de Sean após aquele contratempo faz com que meu estômago reclame imediatamente.— Por favor, de novo não — resmungo enquanto pego minha bolsa, sentindo meu estômago reclamar, insistindo em pôr para fora, pela segunda vez, meu café da manhã. — Definitivamente, preciso ir ao médico.Com um suspiro frustrado, saio do apartamento e ando em direção ao elevador, tentando ignorar o mal-estar. Ao cheg