3. Últimos Desejos

Completamente confusa com suas palavras, abro a boca para questionar, mas sou interrompida pelo advogado. Ignorando o olhar acusatório de Sean, concordo com a cabeça e sigo para o meu carro. Por opção minha, Emily me acompanha e em poucos minutos chegamos à sede da Blue Earth Gallagher Co.

— Obrigado por vir, Srta. Adkins. — Sr. Freeman diz, apontando para uma das cadeiras.

Sean senta-se na cadeira que há anos pertenceu ao seu pai. Com toda a imponência que só um Gallagher parece ter, ele se ajeita no assento, entrelaçando os dedos sobre a mesa.

— Prossiga, Sr. Freeman. — ele ordena, num tom autoritário. — Essa… mulher já está aqui, não há motivos para tomar ainda mais o meu tempo.

— Talvez você não se importe, mas perdemos uma pessoa especial aqui e ainda estamos nos recuperando, Sr. Rossi. — comento, ressaltando o sobrenome que ele me deu naquela noite.

— Imagino que tenha sido uma grande perda. Principalmente para você, não é mesmo?

— Sim, porque Richard era…

— Richard… Quanta intimidade para uma simples assistente pessoal. — Sean me interrompe, forçando uma risada amarga enquanto balança a cabeça em descrença. — Diga-me, Zoe Adkins, o que pretendia afinal? Se cansou de se divertir com o meu pai e resolveu se oferecer para mim? Quanto empenho para conseguir um sobrenome…

— O quê? Eu nem sequer sabia quem era você! Ou se esqueceu de que se identificou como Sean Rossi?

— Podemos acalmar os ânimos por aqui? — Sr. Freeman intervém, enquanto Emily observa a cena, tão chocada quanto eu. — É um momento muito difícil para nós, mas…

— Srta. Adkins, — Sean mais uma vez interrompe, vindo em minha direção —, sinto muito por frustrar seus planos ambiciosos, mas não sou tão ingênuo quanto você acredita e já entendi perfeitamente quais eram suas intenções. — ele cospe as palavras antes de puxar sua carteira e me dar um olhar gélido. — Mas como sou um homem justo, me dê seu preço pelos seus serviços naquela noite. Esse será o único dinheiro que você tirará de mim.

Suas acusações fazem com que eu me cale, controlando o ritmo da minha respiração para não chorar. Engulo em seco e encaro meus pés, sentindo que o olhar de todos permanece em mim.

— Já que a minha acompanhante de luxo não quer cobrar pelos seus serviços, pode prosseguir, Sr. Freeman. — Sean ordena, sentando-se novamente.

O Senhor Freeman inicia a leitura do testamento, mas suas palavras parecem distantes e sem sentido para mim. Minha mente parece fora do ar, resultado da dor da acusação injusta e da tristeza pela perda de Richard.

— 10%? — A voz autoritária de Sean me traz de volta à realidade. Ao erguer meu olhar, encontro-o me dando um olhar mortal. — O meu pai estava tão cego assim? Como ele pôde deixar 10% das ações para essa mulher?

— Sr. Gallagher, eu não tenho controle sobre os desejos de seu pai — Sr. Freeman responde, mantendo a calma diante da hostilidade de Sean. — Richard deixou instruções claras em seu testamento, e como seu advogado, estou aqui apenas para executá-las.

— Últimos desejos… isso só pode ser uma piada. Deixar uma porcentagem tão generosa para uma assistente. — Sean resmunga, com a voz carregada de desprezo.

— Posso continuar, Sr. Gallagher? — O advogado questiona, num tom calmo, embora seu olhar demonstre sua impaciência. Sean sinaliza para que ele continue. — Ao meu filho, Sean Rossi Gallagher, meu único e legítimo herdeiro, deixo todas as minhas propriedades, bens materiais e investimentos. Além disso, confio-lhe a responsabilidade de administrar meus negócios à frente da Blue Earth Gallagher Co. Escrevo este testamento com lucidez, sem estar sob coação ou influência de ninguém. Richard Warner Gallagher.

Após a leitura do testamento, um silêncio tenso se instala no escritório, sendo quebrado apenas pela respiração entrecortada de Sean. Sob seu olhar acusatório, respiro fundo e decido finalizar essa guerra antes mesmo de ela começar.

— Sr. Rossi. Ou melhor, Sr. Gallagher. — Digo, apoiando as mãos sobre a mesa para encará-lo. — Não sei o que o levou a pensar que sou uma interesseira, mas…

— Não precisa fazer esse papel de mocinha sofrida e inocente, Srta. Adkins. — Sean interrompe, abrindo um sorriso sarcástico ao cruzar os braços. — Conheço o seu tipo e depois de tudo isso, sei que você não passa de uma aproveitadora barata.

— Como eu dizia, — continuo, retornando à minha postura enquanto ignoro suas ofensas —, mas para mostrar que o senhor está errado, eu abro mão dessa porcentagem, Sr. Freeman.

— Sinto muito, mas isso não será possível, Srta. Adkins. Richard se assegurou de que não houvesse essa possibilidade. Vocês entenderão isso em breve.

— Tudo bem. — concordo, soltando um suspiro resignado. — Com licença, preciso ir até a minha sala organizar as minhas coisas.

Sem esperar por mais uma série de ofensas de Sean, passo pela porta sentindo seu olhar queimar minhas costas. Emily me segue em silêncio até chegarmos à minha sala.

— Por Deus! — exclamo assim que entramos. — Como ele pôde me acusar de dormir com ele por interesse?

— Realmente, a bebida muda as pessoas, Zoe. Me desculpe por não esclarecer as coisas, mas tudo estava tão tenso que…

— Tudo bem, não se preocupe. — digo, procurando uma caixa para começar a juntar tudo o que é meu, disposta a sair o mais rápido possível daqui. — Tudo o que quero agora é organizar tudo e ir embora. Não há mais nada para mim nesta empresa, não depois dessas acusações. — Concluo, sentindo minha voz embargar. — Emily, agradeço pelo apoio que você está me dando, mas se importa de me deixar sozinha, por favor?

Com um aceno de cabeça, ela se aproxima de mim e acaricia meu ombro antes de sair. Solto um suspiro pesado ao encarar a minha mesa, lembrando-me dos conselhos que recebi de Richard aqui, ao longo desses cinco anos. 

Enxugo as minhas lágrimas e volto a reunir minhas coisas, mas logo sou interrompida por duas batidas à porta. Ao me virar, encontro o advogado parado.

— Posso entrar, Srta. Adkins? — Sr. Freeman pergunta, num tom baixo. Assinto em silêncio. — Junto ao testamento, Richard deixou isso para você. — Ele me entrega um envelope pardo. — Talvez seja a resposta que você procura sobre tudo isso.

— Obrigada, Sr. Freeman.

O advogado me dá um leve aceno de cabeça e se retira, deixando-me a sós com meus pensamentos. Encaro o papel em minhas mãos, respirando profundamente antes de me sentar à mesa para ver o conteúdo.

Após longos minutos, entre sorrisos saudosos e lágrimas de tristeza, fecho meus olhos e solto um suspiro resignado. Em nome da amizade que construímos, cumprirei o último pedido de Richard, mesmo que isso signifique suportar as ofensas e acusações de Sean.

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