As lágrimas embaçam meu rosto enquanto caminho o mais rápido que consigo para fugir da chuva que molha meus cabelos. Do céu ao inferno em segundos, o dia que deveria ser de felicidade terminou sendo um dos piores da minha vida.
Apertando os passos, finalmente chego em casa, onde nem sequer me preocupo em tirar a roupa. Apenas me jogo na cama e me enrolo entre os lençóis, deixando minhas lágrimas correrem livremente. As palavras e acusações que aconteceram há pouco ecoam em meus pensamentos, intensificando meus soluços. “ — Grávida? — Sean vociferou após minha confissão, negando com a cabeça freneticamente. — Isso é uma brincadeira de péssimo gosto, Zoe! — Não é brincadeira! — respondi, sentindo minha voz embargar diante de seu olhar carregado de raiva. Sem me importar com as pessoas ao nosso redor, que seguiam com seus olhares atentos em nós, continuei: — Estou grávida de um filho seu, Sean! Aquela noite trouxe mais do que esperávamos. Me desculpe por demorar a contar, mas sim, estou grávida e quero que você esteja presente na vida do nosso filho. — Nosso filho… Ah, Zoe, você conseguiu me enganar tão bem. — ele disse, irônico, se aproximando lentamente. — No fim, você realmente não passou de uma interesseira, não é mesmo? Da pior classe, porque você usou os sentimentos para tentar conseguir o que queria. — Você está brincando, não está? — perguntei, com os olhos ardendo pelas lágrimas. — Me diga que isso é uma brincadeira de péssimo gosto! — Não, mas queria que você estivesse. — ele disse, num tom baixo. Desviei o olhar, incapaz de encarar o ódio em seu olhar, mas ele me segurou pelo queixo para me forçar a encará-lo, e então Sean cuspiu as palavras que destruíram de vez o meu coração: — Sinto muito por acabar com suas expectativas ambiciosas, mas não quero e nem vou participar disso, sabe por quê? Porque é impossível que esse filho seja meu, Zoe. — concluiu, me encarando com desprezo. — Aconselho que você encontre outro para isso.” As lembranças me provocam um soluço alto e eu me agarro ao travesseiro, me perguntando como pude me iludir com a ideia de que formaríamos uma família feliz. Logo, as lembranças daquela noite e de tudo o que aconteceu até que tudo chegasse a esse ponto retornam com força em minha mente. “Alguns semanas antes do caos…” O som abafado da música animada do pub se mistura às risadas e conversas ao meu redor enquanto vejo minha tentativa de distração se frustrar. Giro o copo de Martini, observando o líquido claro, mas meus pensamentos permanecem no jantar de aposentadoria de hoje. Tudo aconteceu exatamente como planejado, mas, embora o Sr. Gallagher, meu chefe, aparentasse estar feliz, a tristeza estava evidente em seus olhos. Dou um longo gole, finalizando minha bebida. Repouso o copo na mesa, questionando como alguém consegue fazer isso com seu próprio pai. Tudo bem, sei que eles nunca tiveram um bom relacionamento, mas seu herdeiro, aquele que irá assumir a empresa, deu a Richard a certeza de que apareceria no evento e nem sequer deu uma satisfação sobre sua ausência. Imersa nesses pensamentos, nem percebo quando Emily se aproxima, sentando-se ao meu lado. Ela me entrega um novo drink e coloca uma garrafa de tequila em cima da mesa. — Zoe, você está pensando demais de novo — ela diz, erguendo seu próprio copo em um brinde. — Vamos, beba. O Sr. Gallagher ficaria triste de te ver assim. Solto um suspiro, mas acabo cedendo, levando o copo à boca enquanto ela observa atentamente. Estranho o gosto um pouco mais forte que o anterior, mas ignoro a sensação e dou mais um gole antes de colocar o copo sobre a mesa novamente. — Você sabe, precisamos animar esta noite — Emily continua, com um brilho empolgado nos olhos que conheço bem. Ela abre a garrafa de tequila, servindo duas doses. — Que tal uma aposta de tequila como nos velhos tempos? Quem desistir primeiro tem que beijar qualquer cara que a ganhadora escolher. — Você não muda nunca, Emily — respondo, revirando os olhos dramaticamente, mas uma parte de mim parece agradecida por sua tentativa de me animar. — Tudo bem, estou dentro. Esteja pronta para perder, mocinha. Levantando a sobrancelha em desafio, a loira me encara, virando o líquido marrom de uma vez. Faço o mesmo, confiante, pois venço na maioria das vezes. No entanto, após apenas três shots, um calor incomum me atinge, unido à sensação de lentidão. Com um suspiro resignado, empurro o copo, me dando por vencida. — Aquele ali. — ela diz, apontando para um homem de olhos verdes, cabelos claros, barba baixa e um corpo que a maioria das mulheres perderia horas admirando, aparentando ter 27 anos. Ele mantém seu olhar sério na garrafa de whisky à sua frente, totalmente alheio ao ambiente ao redor. — Lindo, não é? — Ele é lindo, mas não parece querer companhia. — Você conhece as regras, Zoe. — Emily afirma, bebendo mais um shot de tequila. — Mas serei boazinha, sem beijos. Apenas converse com ele e o distraia. Solto um suspiro resignado, ciente de que ela não desistirá tão facilmente, e me levanto. Mesmo com a confiança proporcionada pelo álcool, sinto um frio na barriga pelo nervosismo e, após alguns passos, paro em frente à mesa do homem. Ele me encara brevemente e volta a olhar para a garrafa quase vazia. — Obrigado, mas não quero seus serviços — ele declara, num tom sério. Sinto meu rosto esquentar, resultado do álcool e da vergonha, e por um momento cogito a possibilidade de fugir, apenas pela maneira intensa como ele me olha. Mas respiro fundo e falo: — Sei que pode parecer estranho, mas perdi uma aposta com uma amiga e tive que vir falar com você. — respondo, num tom baixo. O homem percorre o olhar pelo meu corpo de cima a baixo, abrindo um sorriso malicioso ao apontar para a cadeira ao seu lado. — Sente-se. — diz, num tom tão autoritário que rapidamente obedeço. — Obrigada por colaborar. — Agradeço ao sentar-me, sentindo um leve tremor em minha voz. — Posso saber qual foi a aposta? — Algo idiota que uma amiga inventou para beber sem culpa. — revelo, encarando Emily de longe. — Quem perder, precisa beijar um estranho. — Sinto muito em desapontá-la, senhorita…? — Adkins. Zoe Adkins. — Sinto muito em desapontá-la, Zoe. Mas sou um homem bem difícil. — ele afirma, com um brilho divertido no olhar. — Se quer um beijo, terá que me convencer a fazer isso. Que tal uma bebida e uma conversa enquanto decido o que fazer? — Posso saber seu nome, Sr. Difícil? — Sean Rossi. Após sinalizar para o garçom e pedir mais um copo, Sean me serve um pouco de whisky e logo iniciamos uma conversa sobre o ambiente. Seus olhos se mantêm fixos nos meus durante todo o tempo, e é como se ele conseguisse desvendar meus pensamentos mais íntimos. Longos minutos depois, assim que termino a minha bebida, ele se aproxima de mim. Sua mão gentilmente para na minha nuca, puxando meu rosto em direção ao dele. Ao perceber seu olhar fixo na minha boca, instintivamente fecho meus olhos e logo sinto seus lábios tocando os meus. Foi intenso, assim como seu olhar. Quando o beijo chega ao fim, estamos completamente sem fôlego. Permaneço com os olhos fechados por poucos segundos, tentando me recuperar da sensação maravilhosa que ele me causou. — Apostas são apostas, não é mesmo? — Sean pergunta ao me ver abrir os olhos. — Agora, você pode voltar para a sua mesa. — Claro. Obrigada por me ajudar. — respondo, abrindo um sorriso tímido enquanto me levanto. Mas antes que eu possa me afastar, ele segura meu pulso. — Algo errado? — A noite não precisa terminar aqui. — ele afirma, com a voz rouca, percorrendo o olhar pelo meu corpo novamente. — Te ajudei com a aposta, que tal retribuir e tornar a minha noite agradável? Seu olhar, somado ao álcool, intensifica o calor em meu corpo. Olho em direção à mesa onde Emily deveria estar e vejo-a vazia, o que me faz abrir um sorriso nervoso. Estou decidida a não deixar a nossa noite terminar ali. Concordo com a cabeça, deixando as palavras escaparem dos meus lábios. — O que está esperando para se levantar, Sr. Rossi? — pergunto, sentindo um frio na barriga pela decisão. Com um sorriso vitorioso, Sean sinaliza para o garçom. Em poucos minutos, saímos do pub e seguimos em direção ao hotel escolhido por ele. Durante todo o trajeto, sinto meu coração acelerado, enquanto me questiono se fiz uma boa escolha. Afinal, nem sequer conheço esse homem. Sean, percebendo meu nervosismo, acaricia meus cabelos. — Prometo tornar a sua noite inesquecível. — ele diz, num tom calmo. Logo, o táxi nos deixa em frente a um hotel luxuoso, um dos mais caros de Manhattan. Sean me ajuda a sair do veículo e me conduz para dentro do local. Em poucos minutos, adentramos a suíte. Assim que a porta se fecha atrás de nós, nossos olhares se encontram imediatamente. Em silêncio, ele pressiona meu corpo contra a parede, me encarando como se esperasse meu consentimento para prosseguir. Lentamente, fecho meus olhos, sentindo o toque dos seus lábios. Sean segura minha cintura e me puxa para o seu colo, intensificando o nosso beijo. Sem parar de me beijar, ele me deita delicadamente na cama. Seu corpo pesa sobre o meu, enquanto suas mãos passeiam pelo meu corpo, levando de vez o pouco de sanidade que havia em mim.Desperto com os primeiros raios de sol penetrando pela janela. Abro os olhos lentamente, lutando contra a sensação de peso em minha cabeça. Com a visão embaçada, levo alguns segundos para que as formas ao meu redor se tornem mais nítidas. Ao tentar me mexer, sinto as pernas de alguém entrelaçadas às minhas e um braço pesando em minha cintura. Tapo a boca para conter um grito surpreso quando me dou conta da situação em que me encontro. Ao virar o rosto lentamente, encontro um homem nu dormindo serenamente ao meu lado. — Oh, meu Deus! — resmungo, tampando a boca novamente quando ele se mexe, apenas para se virar para o outro lado. Em uma tentativa de não o acordar, me levanto com cuidado e quase corro para o banheiro. Sento-me na privada, prendo os cabelos entre os dedos e apoio a cabeça entre as pernas, tentando me lembrar de como vim parar aqui. — Droga, droga, droga! — murmuro quando alguns flashes da noite passada surgem em minha mente. — Merda de aposta idiota! Respiro fundo, t
Completamente confusa com suas palavras, abro a boca para questionar, mas sou interrompida pelo advogado. Ignorando o olhar acusatório de Sean, concordo com a cabeça e sigo para o meu carro. Por opção minha, Emily me acompanha e em poucos minutos chegamos à sede da Blue Earth Gallagher Co.— Obrigado por vir, Srta. Adkins. — Sr. Freeman diz, apontando para uma das cadeiras.Sean senta-se na cadeira que há anos pertenceu ao seu pai. Com toda a imponência que só um Gallagher parece ter, ele se ajeita no assento, entrelaçando os dedos sobre a mesa.— Prossiga, Sr. Freeman. — ele ordena, num tom autoritário. — Essa… mulher já está aqui, não há motivos para tomar ainda mais o meu tempo.— Talvez você não se importe, mas perdemos uma pessoa especial aqui e ainda estamos nos recuperando, Sr. Rossi. — comento, ressaltando o sobrenome que ele me deu naquela noite.— Imagino que tenha sido uma grande perda. Principalmente para você, não é mesmo?— Sim, porque Richard era…— Richard… Quanta inti
Os primeiros dias na empresa sem a presença de Richard foram os piores em muitos anos. Foi difícil chegar pela manhã trazendo apenas o meu café, e ainda mais difícil não ter ninguém reclamando sobre o clima, independentemente se estivesse frio ou calor.Para o meu alívio, as duas últimas semanas transcorreram sem a presença de Sean, que foi à Itália organizar tudo para se mudar de vez para Manhattan e assumir seu lugar à frente da Blue Earth. Mas, para a minha infelicidade, hoje ele retorna à empresa e tudo o que desejo é que ele pare de me enxergar como inimiga. Ou será difícil cumprir o último desejo de Richard.— Oh, você está aqui. — Ivy, do departamento jurídico, diz, abrindo um sorriso caloroso ao me ver sentada em uma cafeteria em frente à empresa. — Posso me sentar?— Claro! Fique à vontade.— Não sabia que você tomava café aqui. — ela comenta, sinalizando para a garçonete. Esboço um leve sorriso, levando minha xícara de café expresso à boca.— Estou tentando criar novos hábit
Nas últimas duas semanas, enfrentei a intensa pressão e hostilidade de Sean, que fez de tudo para me desestabilizar. Apesar disso, mantive-me focada no trabalho, recusando-me a ceder. Como consequência, trabalhei muito mais nestes últimos dias do que em anos ao lado de Richard.Sean não estava mentindo quando disse que tornaria a minha vida um inferno, mas o que ele não sabe é que vim de um e não estou disposta a ceder tão facilmente.Após essas semanas de intensa batalha, mesmo com a exaustão atingindo seu ápice e os sintomas de uma gripe se aproximando, dar o gostinho a Sean de me ver desistir está fora de cogitação. Afinal, meu futuro depende disso.— A sua cara está péssima. — Emily comenta, assim que nos encontramos na cafeteria em frente à empresa. — Você tem certeza que pode trabalhar assim? Você deveria ir ao médico.— É apenas um resfriado bobo, Emily. Tomei um remédio antes de vir trabalhar, daqui a pouco isso passa. Atchim!— Saúde! — ela deseja, entregando-me um guardanapo
As palavras do médico ecoam em minha mente imediatamente, fazendo uma onda de choque percorrer pelo meu corpo. Grávida? A ideia parece tão surreal, que é como se eu estivesse presa em um sonho estranho do qual não consigo acordar. — Isso é impossível, doutor. — murmuro, balançando a cabeça negativamente. — Este exame deve estar errado, estou apenas gripada, é isso. — Srta. Adkins, eu entendo que receber essa notícia não seja fácil, mas é altamente improvável que o exame de sangue esteja equivocado. A senhorita teve alguma relação sexual sem proteção nas últimas semanas? — Não, eu nem tenho um… — minhas palavras são interrompidas por uma lembrança. Em um dos poucos flashes que me lembro daquela noite, vi Sean colocar a camisinha. Mas do jeito que estávamos e da maneira como meu corpo amanheceu, percebo que um preservativo podia facilmente ter se perdido e nem sequer daríamos conta. Com um leve aceno de cabeça, peço ao médico que continue. Enquanto ele explica os próximos passos e
Com a presença de Ellie, que se mudou para o meu apartamento após conseguir uma excelente oportunidade de emprego em uma das subsidiárias da Blue Earth, parte do meu susto pela notícia se esvaiu. Ter alguém ao meu lado para dividir essa situação fez com que eu me acalmasse.Ainda assim, a notícia sobre a gravidez continua sendo digerida, mas sei que preciso me concentrar no trabalho que me aguarda. Infelizmente, isso inclui voltar à empresa para mais um dia ao lado de Sean.— Você tem certeza de que está bem? — Ellie indaga durante o nosso café da manhã.— Sim, fique tranquila. Além da possível gravidez, apenas os espirros estão me tirando do sério, mas logo passa. Sem dizer que não posso faltar hoje se planejo ir ao médico em breve. — Afirmo, respirando profundamente. — Ainda tenho esperanças de que esse resultado pode estar errado e que não há um bebezinho aqui dentro.— Mas não se esqueça, Zoe. Se tiver um bebê aí dentro, ele já é muito amado por mim e tenho certeza de que assim qu
“Por Sean Gallagher” Ao receber a notícia de que ela me acompanhará durante a viagem, quase posso ouvir as engrenagens de Zoe girando enquanto ela permanece imóvel. Apesar de suas tentativas de disfarce, a expressão de surpresa estampada em seu rosto me traz uma sensação de satisfação. — Comigo? — Ela sussurra para si mesma, mas o silêncio no ambiente permite que eu ouça claramente. — Disse algo, Srta. Adkins? — Não, senhor. Estava apenas… — É parte do seu trabalho. Por que está tão surpresa com a notícia? — pergunto, interrompendo suas palavras. — Afinal, você costumava acompanhar meu pai em viagens de negócios. — Seu pai não me odiava. — ela resmunga, arregalando os olhos ao perceber que seu pensamento escapou por seus lábios. — Olhe, Sr. Gallagher, eu tinha outros planos para a próxima semana e acompanhá-lo não estava entre eles. Mas como disse, faz parte do meu trabalho. — Ótimo. — afirmo, voltando ao meu lugar. — Preciso do relatório que será discutido na próxima reu
“Por Zoe Adkins”Meu corpo inteiro parece congelar enquanto as palavras de Sean ecoam na minha mente. Tento controlar a náusea que ameaça subir novamente, enquanto encaro a expressão indecifrável de Sean, esperando sua resposta.— É isso, certo? — insisto, após ver uma troca de olhares entre os dois. — Você só pode ser louco se pensa que eu conseguiria fazer mal ao Richard.— Meu pai morreu, você se beneficiou. Convenhamos que muitas coincidências envolvem o seu nome, não acha?— Eu nunca faria mal a ele. Richard foi um grande amigo para mim.— Que tal acalmarem os ânimos por aqui? — Stefano tenta amenizar a tensão, mas Sean o ignora, aproximando-se de mim. — Ouça, Srta. Adkins, — Sean começa, encarando-me intensamente —, por enquanto estou apenas tentando entender os fatos, mesmo que seja difícil ignorar as circunstâncias.— Circunstâncias que surgiu na sua cabeça por conta de uma infeliz coincidência. O nosso… encontro, foi um erro mútuo, mas não justifica acusações infundadas. —