Lilly chorava silenciosamente na minha frente, o copo de café em sua mão tremendo tanto que podia cair no chão a qualquer momento.
– Achei que você deveria saber – digo, meu tom seco tentando esconder minhas próprias emoções.
Lilly tinha voltado de viagem de Londres em meados de janeiro. Eu já tinha enviado uma mensagem para ela falando que precisávamos conversar, logo quando Adam me contou toda a verdade. Então, assim que chegou no Brasil ela me procurou. Marcamos em uma cafeteria do shopping perto do escritório.
Ela estica uma das mãos para frente e segura a minha mão.
– Como você está?
Balanço a cabeça negativamente enquanto tento entender meus próprios sentimentos.
– Com medo – admito. – Que eu possa ser a próxima. E... aliviada – consigo dizer em voz alta. – Po
~KARA~– Você não consegue fazer nada certo? – Ele não grita, mas sua voz se eleva o suficiente para chamar atenção das pessoas em volta. Especialmente depois de verem o que aconteceu com o celular. – Eu mandei você se afastar dele, porra!– Acontece que você não manda em mim... – eu digo com a voz mais tranquila do mundo, mas sentindo o turbilhão crescendo no meu interior. – Chega – eu digo. – Eu estou terminando com você.– Não, não tá... – ele diz com convicção. – Kara, pensa bem...– Você não quer uma namorada, Liam, você quer uma submissa pra fazer as coisas do jeito que você quer. E eu não sou essa garota. Eu não nasci pra em submeter a ninguém.– Não fala besteira. Eu só faço o que faço porque
~ADAM~– Não se desculpe... – eu contorno a mesa e me abaixo diante dela. Eu sabia o quanto se desculpar era difícil para ela, por a fazer se sentir em uma posição de vulnerabilidade. – Você não fez nada.– Eu não aguentei levar o namoro adiante... Eu surtei e arranquei aquelas roupas ridículas na frente do refeitório inteiro e joguei em cima dele – eu não consigo conter um risinho ao imaginar a cena, e Kara ri junto. Mas logo ela está triste novamente. – Agora ele vai publicar aquele vídeo em algum lugar e... e... Adam... – ela balança a cabeça negativamente e baixa a voz para um murmúrio. – Eu não ligo pro que vão falar de mim. Eu sou essa garota. Mas... eu sei exatamente o que vão falar de você.E eu também sabia. Era bem fácil de prever. O cara mais velho, que deveria
O bom de ser Kara Milani é que, no dia seguinte, quando voltei para o escritório e continuava sendo a principal fofoca do lugar, bastava um rápido olhar feio na direção dos cochichos para que as pessoas baixassem a cabeça e voltassem aos seus afazeres. E, verdade seja dita, eu dei muitos olhares feios naquele dia.Liam, por outro lado, tinha se isolado em sua sala. Quando passei em frente – por ser meu caminho – as cortinas estavam fechadas, impedindo que o interior do ambiente fosse visto.Eu não me lembrava exatamente como tinha sido a briga, o que tinha sido dito apenas entre nós dois e o que tinha sido dito em voz alta o suficiente para que todos ouvisse. Mas provavelmente eu disse algo sobre o vídeo, já que todo mundo andava pensando que se tratava de um vídeo de sexo nosso. Eu preferia que pensasse isso do que soubessem a verdade. Liam ainda não tinha tornado o v&iacut
– Bom dia, Wanessa, eu preciso ver o... – me calo, quando meus olhos caem no sofá que ficava em um dos cantos da sala de espera do escritório de Adam.– Senhorita Milani, o senhor Benatti está em uma vídeo conferência – a secretária de Adam me diz. – Deve estar prestes a terminar, se puder aguardar um pouquinho.Confirmo com a cabeça e me encaminho para o sofá, mas não me sento.– Oi... – digo.– Kara, né? – Giovanna abre um sorriso que me parece forçado. – Como vai?– O que faz aqui? – Sou direta em tentar saciar a minha curiosidade. – Outro almoço com Adam?– Espero que sim – ela abre um sorriso. – Eu só estava por perto e resolvi passar. – Ela faz uma careta e baixa a voz. – Eu realmente não esperava que ele fosse tão ocupado e qu
Quando acordei, na manhã daquela sexta-feira, passei bons minutos apenas deitada olhando para o teto, sem ousar nem mesmo me mexer. Por que eu sempre precisava me reinventar quando minha vida parecia estar entrando em uma constante? Eu lembrava muito pouco sobre como era a vida quando eu ainda tinha meus pais, mas tinha fortes memórias de chorar noites e noites depois que eles se foram e Otto e eu tivemos que mudar totalmente de vida ao ir morar com nossos avós. E depois, quando nossos avós se foram, em meio a minha adolescência rebelde, demorei muito a me acostumar que a partir dali éramos somente meu irmão e eu. Ainda assim, nós erámos tão próximos, tão unidos...E então Otto se foi. E eu acho que essa é a perda a qual eu nunca vou me acostumar. Desde pequena, ele era a única coisa certa na minha vida, a única pessoa que sempre esteve presente em todas as fases. E,
~ADAM~Giovanna estava “por perto” do escritório novamente naquela sexta-feira. E depois dela ter esperado por mim algum tempo, não tive como recusar seu convite para almoçar. Mas precisaria de desculpas melhores caso ela continuasse insistindo nessa aproximação, além da amizade, que eu não desejava.Eu disse para Kara que nós estávamos saindo. Mas não estávamos. Pelo menos não do jeito que eu fiz parecer. Mas se Kara acreditasse que nós dois tínhamos alguma chance, especialmente depois dos dias na fazenda e do passeio na virada do ano, ela nunca sairia do Brasil.– Então... o que você acha?– O que eu acho...?Estava completamente distraído. Talvez Giovanna estivesse falando por pelo menos uns dez minutos sem que eu me desse conta do tópico. Da última vez em que prestei um pouco de atenç
Eu caminhava de um lado para o outro na sala de espera, meus saltos finos batendo ruidosamente contra o assoalho sendo o único barulho que se destacava dentro do ambiente cheio de tensão.Meus olhos caíram em Thiago, sentado em um sofá no canto da sala. Ele estava destruído. Seus pais haviam sido avisados e estavam a caminho, mas, por enquanto, ele só tinha Adam para consolá-lo.Não passei por isso quando Otto se foi, a espera angustiante. Quando fomos resgatados e levados ao hospital, entramos em cirurgia imediatamente. Horas depois fui levada ao centro de recuperação e lá fiquei por dias, dopada praticamente o tempo todo pela medicação fortíssima. Quando me recuperei minimante, recebi a notícia de que Otto não tinha resistido. Então, me doparam novamente.Ainda assim, eu não tinha boas experiências com hospitais. Todos os que eu v
O quarto do hospital estava mergulhado em uma calmaria artificial, o som constante dos monitores ecoando suavemente no ar. Alguns dias já haviam se passado, mas Liam continuava internado, em recuperação. Por sorte, ele era jovem e tinha uma excelente saúde, então, segundo os médicos, ele estava indo muito bem e logo teria alta.Sentada ao lado de Liam, segurando o tabuleiro de palavras cruzadas, ou scrabble, como ele sempre fazia questão de me corrigir, eu me concentrei nas letras diante de nós.– R–E–S–P–E–I–T–O. Respeito! – eu declarei, movendo as peças com confiança para formar a palavra.Liam olhou para o tabuleiro e sorriu, aceitando o desafio.– Você sempre foi boa nisso, Kara – ele franze a testa enquanto observa as suas peças. – Acho que estou indo de mal a pior...Eu ri, satisfeita com m