– Kara, você tá me assustando.
– Hum?
– Para de me olhar assim!
Ah, sim. Provavelmente eu estava encarando Luca há um bom tempo, enquanto mordia a borracha da ponta do lápis em minhas mãos. A questão é que eu estava tentando colocar meus pensamentos em ordem, e especialmente depois da conversa frustrada com Liam – e de ter que estar usando as roupas patéticas que ele me fez comprar – eu precisava agilizar as coisas.
– Andei olhando seu currículo... – baixo a voz, não quero que as garotas nos escutem.
– Sério? – Ele franze a testa pra mim. – Por quê?
– É tudo verdade?
Ele ri.
– Sim, Kara, eu não menti. Nem tem muito lá sobre o que mentir.
– Mais ou menos... – digo com sinceridade. – Você é formando em administraç
Acontece que eu tenho o melhor amigo do mundo. Quando Luca percebe que o convite para almoço de Liam está mais para uma imposição do que para um convite de verdade, ele se oferece para vir junto, ao que prontamente eu aceito. Mesmo que Liam tenha tentado fazê-lo desistir ao insinuar que nós iriamos a um restaurante caro do shopping, Luca não se deu por vencido. Eu peguei, de canto de olho, ele dando uma breve olhada no seu saldo bancário pelo aplicativo do celular, provavelmente fazendo contas.– É por minha conta... – sussurro pra ele, enquanto andávamos pelo corredor do escritório.– Não posso aceitar...– Então é por conta da Milani!Quando chegamos ao hall de entrada, minha sombra está parada lá, esperando por mim.– Esse cara realmente tem que ficar nos seguindo? – Liam reclama. Ele já tinha
– Que merda foi aquela, Kara? – O tom de voz de Liam sai elevado.– Vai ter que ser mais específico... – digo com um pouquinho de ironia, apesar de estar com medo dele. – Aparentemente eu faço muita merda.– É, VOCÊ FAZ! – Ele grita, enquanto passa as mãos pelos cabelos nervosamente. – Você passou o Natal na casa do Benatti!– Passei... – confirmo, mesmo que Liam tenha feito uma acusação e não uma pergunta.– E me disse que ia passa com a família da sua amiga.– Disse... – confirmo novamente.– E POR QUE PORRA VOCÊ FEZ ISSO? – Ele me segura pelo braço, nervoso.– PARA! – Eu grito de volta, tentando me esquivar. – Você tá me machucando! – Minha voz soa tremula quando eu tento controlar o medo que crescia dentro de mim. – Por
Lilly chorava silenciosamente na minha frente, o copo de café em sua mão tremendo tanto que podia cair no chão a qualquer momento.– Achei que você deveria saber – digo, meu tom seco tentando esconder minhas próprias emoções.Lilly tinha voltado de viagem de Londres em meados de janeiro. Eu já tinha enviado uma mensagem para ela falando que precisávamos conversar, logo quando Adam me contou toda a verdade. Então, assim que chegou no Brasil ela me procurou. Marcamos em uma cafeteria do shopping perto do escritório.Ela estica uma das mãos para frente e segura a minha mão.– Como você está?Balanço a cabeça negativamente enquanto tento entender meus próprios sentimentos.– Com medo – admito. – Que eu possa ser a próxima. E... aliviada – consigo dizer em voz alta. – Po
~KARA~– Você não consegue fazer nada certo? – Ele não grita, mas sua voz se eleva o suficiente para chamar atenção das pessoas em volta. Especialmente depois de verem o que aconteceu com o celular. – Eu mandei você se afastar dele, porra!– Acontece que você não manda em mim... – eu digo com a voz mais tranquila do mundo, mas sentindo o turbilhão crescendo no meu interior. – Chega – eu digo. – Eu estou terminando com você.– Não, não tá... – ele diz com convicção. – Kara, pensa bem...– Você não quer uma namorada, Liam, você quer uma submissa pra fazer as coisas do jeito que você quer. E eu não sou essa garota. Eu não nasci pra em submeter a ninguém.– Não fala besteira. Eu só faço o que faço porque
~ADAM~– Não se desculpe... – eu contorno a mesa e me abaixo diante dela. Eu sabia o quanto se desculpar era difícil para ela, por a fazer se sentir em uma posição de vulnerabilidade. – Você não fez nada.– Eu não aguentei levar o namoro adiante... Eu surtei e arranquei aquelas roupas ridículas na frente do refeitório inteiro e joguei em cima dele – eu não consigo conter um risinho ao imaginar a cena, e Kara ri junto. Mas logo ela está triste novamente. – Agora ele vai publicar aquele vídeo em algum lugar e... e... Adam... – ela balança a cabeça negativamente e baixa a voz para um murmúrio. – Eu não ligo pro que vão falar de mim. Eu sou essa garota. Mas... eu sei exatamente o que vão falar de você.E eu também sabia. Era bem fácil de prever. O cara mais velho, que deveria
O bom de ser Kara Milani é que, no dia seguinte, quando voltei para o escritório e continuava sendo a principal fofoca do lugar, bastava um rápido olhar feio na direção dos cochichos para que as pessoas baixassem a cabeça e voltassem aos seus afazeres. E, verdade seja dita, eu dei muitos olhares feios naquele dia.Liam, por outro lado, tinha se isolado em sua sala. Quando passei em frente – por ser meu caminho – as cortinas estavam fechadas, impedindo que o interior do ambiente fosse visto.Eu não me lembrava exatamente como tinha sido a briga, o que tinha sido dito apenas entre nós dois e o que tinha sido dito em voz alta o suficiente para que todos ouvisse. Mas provavelmente eu disse algo sobre o vídeo, já que todo mundo andava pensando que se tratava de um vídeo de sexo nosso. Eu preferia que pensasse isso do que soubessem a verdade. Liam ainda não tinha tornado o v&iacut
– Bom dia, Wanessa, eu preciso ver o... – me calo, quando meus olhos caem no sofá que ficava em um dos cantos da sala de espera do escritório de Adam.– Senhorita Milani, o senhor Benatti está em uma vídeo conferência – a secretária de Adam me diz. – Deve estar prestes a terminar, se puder aguardar um pouquinho.Confirmo com a cabeça e me encaminho para o sofá, mas não me sento.– Oi... – digo.– Kara, né? – Giovanna abre um sorriso que me parece forçado. – Como vai?– O que faz aqui? – Sou direta em tentar saciar a minha curiosidade. – Outro almoço com Adam?– Espero que sim – ela abre um sorriso. – Eu só estava por perto e resolvi passar. – Ela faz uma careta e baixa a voz. – Eu realmente não esperava que ele fosse tão ocupado e qu
Quando acordei, na manhã daquela sexta-feira, passei bons minutos apenas deitada olhando para o teto, sem ousar nem mesmo me mexer. Por que eu sempre precisava me reinventar quando minha vida parecia estar entrando em uma constante? Eu lembrava muito pouco sobre como era a vida quando eu ainda tinha meus pais, mas tinha fortes memórias de chorar noites e noites depois que eles se foram e Otto e eu tivemos que mudar totalmente de vida ao ir morar com nossos avós. E depois, quando nossos avós se foram, em meio a minha adolescência rebelde, demorei muito a me acostumar que a partir dali éramos somente meu irmão e eu. Ainda assim, nós erámos tão próximos, tão unidos...E então Otto se foi. E eu acho que essa é a perda a qual eu nunca vou me acostumar. Desde pequena, ele era a única coisa certa na minha vida, a única pessoa que sempre esteve presente em todas as fases. E,