Eu sei que eu sou um monstro, mas a mulher esquisita na nossa frente era muito mais assustadora, tinha certeza. Ela possuía cabelos flamejantes, olhos negros, pele pálida e asas de morcego. Porém, o que mais me chamou a atenção nela era uma perna de égua e outra de bronze. Por um segundo me perguntei se ela conseguia andar com aquilo.
— Eu falei para vocês entrarem no quarto — disse o monstro devagar.
Suas garras de bronze pendiam ao lado do seu corpo. Dois passos a mulher deu na nossa direção. Eu me afastei dois. Karen fez o mesmo e trocamos olhares.
Mal tivemos tempo de pensar no que poderíamos fazer para escapar daquilo, pois aquela coisa esquisita veio rapidamente na nossa direção —
No corredor do meu quarto, fiz questão de colocar o colar de volta no pescoço, com medo da Milena me ver na forma de monstro. Contar para Karen já foi arriscado demais. Até porque agora a oficial que cuidava dos dormitórios, apesar de também ser um monstro, sabia que existiam duas... sobrenaturais no treinamento daquele mês.Ao abrir a porta, agradeci à minha intuição pois a Milena estava de fato no quarto, deitada na própria cama. Entretanto, por causa da luz da lua intensa vindo do lado de fora, consegui perceber a garota se sentando na cama, assustada ao ver um vulto.— Elas pegaram você também? — questionou num tom assustado.Caminhei devagar até Milena e me abaixei perto da
Enquanto desamarrávamos Karen, ela só fazia gemer de dor. Começamos a soltá-la pelos tornozelos. Nos pulsos, Milena a segurou para que a garota não desabasse no chão com as costas feridas. Os machucados eram mesmo horrendos e estavam claramente sensíveis.Quando soltei o último nó, Milena clamou por ajuda e eu logo fui socorrê-la por conta do peso de Karen. Juntas, colocamos a garota devagar na grama, com as costas voltadas para cima. Meu estômago dava voltas só de olhar pro que sua pele tinha se transformado por culpa do chicote.Mais uma vez eu e Milena trocamos olhares, decidindo silenciosamente em levar nossa colega de quarto para a enfermaria. Devagar, segurei seus braços e Milena suas pernas, da mesma forma que tinham feito comigo. Entã
A terceira semana de treinamento começou chuvosa. O céu derramava seu choro sobre nós, Iniciandas. Minhas roupas de iniciação estavam úmidas por estar exposta ao mau tempo. Eu, Milena e Karen esperávamos numa fila para recebermos pela primeira vez, equipamento. Meu coração no peito quase saltava de emoção. Estava próxima de me sentir uma Guerreira de verdade.Não tivemos café da manhã hoje.— Podiam ter preparado tudo isso num lugar coberto — resmungou Karen.Milena revirou os olhos e eu senti que no fundo ela queria contra argumentar.— Podiam ter ao menos nos dado o café da manhã. Estou morta de fo
Não sei quanto tempo demorou até avistarmos a casta 5, mas a boa notícia era que o sol não tinha se posto ainda. Porém a parte ruim da caminhada é que fomos recebidas no território de maneira bem agressiva. De uma hora pra outra estávamos agitadas e assustadas enquanto algumas flechas vinham na nossa direção.Eu mesma estava assustada.Hesitante, puxei uma flecha da aljava e posicionei de mal jeito no arco. Não sabia nem como fazia para atirar. Olhei ao meu redor. Minha equipe e o resto das Iniciandas estavam tão perdidas quanto eu. Gritos enchiam o ar. Tencionei o arco, sentindo os músculos arderem pelo esforço. Ao soltar, acerto alguém. Não sei quem. A pessoa estava sem armadura, então supus ser alguém da casta
A manhã estava fria quando acordei e saí da barraca improvisada montada por nós e pelas Guerreiras que nos acompanhavam. Durante o restante da tarde de ontem, só recebemos instruções de como deveríamos agir no dia de hoje. O objetivo do treinamento da semana era aprender a eliminar as consideradas "desnecessárias" para a continuação da nossa sociedade feminina.Como eu e minha equipe não sabíamos que passaríamos mais de um dia, foi necessário improvisar novas gases e estas improvisações teriam que durar pelos próximos dias. Talvez com a dor mais aguçada, a Karen ficasse mais comportada com as Guerreiras.As armaduras presas em meu corpo pesavam. Minhas pernas reclamavam pelo peso extra, porém, eu dizia a e
Minha colega de quarto ficou paralisada ao ver a cena que se desenrolava na nossa frente. Muitas Iniciandas desviaram o olhar enquanto minha amiga desabava com os joelhos na terra e chorava copiosamente. Ao nosso redor, tudo ficou em silêncio, como se estivessem de luto por ela. Apenas o choro da Karen preenchia o ar.Fui abrindo caminho entre as garotas ao meu redor e quando estava me aproximando, Milena segurou meu braço por um instante. Nossos olhares se cruzaram e eu puxei meu braço, querendo que o soltasse. Ela o fez em silêncio e enfim consegui completar meu caminho até a Karen.Me abaixei lentamente e passei meus braços ao seu redor. Não consegui nem pensar em dizer alguma coisa, mas o abraço... Quando eu era menor e chorei por meu passarinho ter morrido, isso foi o que Bianca
Encarei o teto da tenta pela milésima vez naquela noite. Faziam horas que eu estava tentando dormir, mas o sono não vinha. Talvez psicologicamente a conversa com a Karen ainda estivesse me afetando um pouco. Queria poder fazer algo por ela, porém, precisava focar em mim. Eu queria ser uma Guerreira e faria isso pela minha família, por mais que envolvesse alguns sacrifícios.Me sentei, observando o acampamento silencioso. As outras Iniciandas pareciam ter conseguido pegar no sono fácil apesar da matança ocorrida durante o dia. Queria ter a capacidade delas de conseguir relaxar dessa forma.Apesar do escuro, ainda conseguia enxergar algumas coisas pela fresta da tenda. Acabei olhando pro cântaro de água perto de onde eu dormia. Estava vazio e me fazia lembrar um pouco da maneir
O sono não demorou muito para surgir depois de toda aquela confusão secreta que tinha vivido. Bem cedo, as Guerreiras acordaram as Iniciandas para tomar o café da manhã, o que serviu para matar minha sede por não possuir mais meu cântaro. Nem sequer disse a alguém que estava sem. Imaginava que qualquer pessoa questionaria o motivo e eu não sabia nem explicar os acontecimentos.Desmontamos o acampamento e caminhamos na direção das baixas colinas, não muito afastadas de onde ficava a cabana daquela mulher, a Ártemis. As árvores ficaram mais espaçadas e em algumas horas, chegamos a uma espécie de vilarejo. Parecia deserto naquele instante. Possivelmente nenhuma mulher da Casta 5 gostava muito das serviçais da princesa Marilene.&m