O sono não demorou muito para surgir depois de toda aquela confusão secreta que tinha vivido. Bem cedo, as Guerreiras acordaram as Iniciandas para tomar o café da manhã, o que serviu para matar minha sede por não possuir mais meu cântaro. Nem sequer disse a alguém que estava sem. Imaginava que qualquer pessoa questionaria o motivo e eu não sabia nem explicar os acontecimentos.
Desmontamos o acampamento e caminhamos na direção das baixas colinas, não muito afastadas de onde ficava a cabana daquela mulher, a Ártemis. As árvores ficaram mais espaçadas e em algumas horas, chegamos a uma espécie de vilarejo. Parecia deserto naquele instante. Possivelmente nenhuma mulher da Casta 5 gostava muito das serviçais da princesa Marilene.
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Ouvi alguém chamar por mim, mas só ouvia coisas embaçadas. Ainda estava desesperada e comecei a mexer os braços, querendo voltar desesperadamente para superfície. Entretanto, afundava tão rápido que nem sequer os meus dedos conseguiam romper o teto d'água.A mão que tinha me puxado ali para dentro, não mais me segurava. Entretanto, algo agarrou meu tornozelo. Meus pulmões ardiam, implorando por um pouco de ar. Não sabia nem mais o que fazer. O próprio desespero tinha chances muito maior de me matar.Então, algo também segurou meu pulso e tentou me puxar para cima. Porém, a força em meu tornozelo ficou mais intensa. Mesmo assim, o que me puxava para cima insistiu no ato e assim que algo se soltou da minha perna, essa for
Durante a terceira semana de treinamento, aprendi muitas coisas. Aprendi que essas semanas foram cruciais para a mudança de várias garotas. Praticamente todas elas mudaram bastante desde que chegaram. Era essa a transformação. Tinham deixado para trás a donzela e agora encarnavam Guerreiras. Construíam uma casca grossa por fora e endureciam seus corações.Para isso que fomos criadas.Aquela Sirene de dias atrás tinha dito que eu havia mudado. Talvez fosse apenas uma conversa boba, mas me deixou pensativa. Será que eu realmente mudei tanto assim? Mamãe me reconheceria caso me visse novamente? Tomara que sim. Eu era a mesma, quase podia jurar isso.Tem certeza, Cia? Você quebrou uma das regras de sua m
Meus olhos estavam pesados de sono. Mal tinha acordado direito e já tinha que estar acompanhada das minhas colegas de quarto por entre o corredor dos dormitórios. Do lado de fora, o céu nem tinha começado a amanhecer. Me senti meio perdida, mas as outras Iniciandas pareciam tão perdidas quanto eu.Nós três as seguimos e acabamos chegando no refeitório. Uma Guerreira nos aguardava por lá com um meio-sorrio. Não era muito amigável.— O que vocês acham que vão encontrar aqui? Comida? — debocha. — Podem ir embora. Todas pro estábulo.Com essa dica, nós caminhamos na direção dos estábulos. Mais a frente deles ficavam os campos abertos. Após est
Por um segundo. Apenas um segundo. Eu não sabia o que fazer. O monstro se aproximava com seus dentes afiados e ele por si só era desafiador. Não era um animal comum. Era um leão com a cauda de cobra e outra cabeça de cabra. Seu nariz lançou fumaça na nossa direção. Fumaça quente.— Não ataquem — consegui dizer algo.— Não atacar? Essa coisa vai matar a gente, Cia — Milena estava tão nervosa que gritava comigo.— Mas... Mas não podemos — eu estava fraquejando.Estava com medo.E se a ninfa estava mentindo para mim? E se a ninfa quisesse todas n&oacu
O que sobrara da luz das chamas foi sugado pelo meu corpo escuro antes de eu voltar com o colar sobre o pescoço. Em pouco tempo, estava na forma humana novamente, sem mais tanta adrenalina pelo corpo.Estendi a folha que servia de mapa para Karen. Esta aceitou e deu uma analisada com os próprios olhos.— Tá bom. Agora eu mereço uma explicação sobre os... poderes de vocês — disse Milena, claramente não querendo se sentir "excluída".— Bom, eu fui amaldiçoada no meu nascimento. — Encolho levemente os ombros.— Saber que eu tenho poderes já está de bom tamanho — comentou Karen, não querendo revelar as suas origens
Demorou mais ou menos dois dias até as Guerreiras declararem que a última prova do nosso treinamento havia sido encerrada. Me apertava o coração saber que muitas garotas não haviam sequer conseguido achar o caminho de volta e o resultado disso foi o acampamento militar praticamente vazio. Das cem garotas que iniciaram o treinamento, diria que trinta conseguiram sobreviver.Nesses dois dias recebíamos duas alimentações por dia compostas por poucas coisas. Na verdade, nem sentia tanta fome assim por causa do episódio da Milena. Ainda sentia a culpa me corroendo por dentro. Se não fosse pelo meu estômago, ainda teríamos nossa colega de quarto conosco.Karen insistia para eu esquecer isso.Após o caf&
As cartas pareciam não chegar nunca. A espera estava me deixando agoniada e depois de alguns dias, eu e a mamãe entramos num acordo e decidimos fazer uma viagem. Como ela estava precisando de alguns condimentos para cozinhar, acabei dando a ideia para irmos visitar a casta quatro, onde a Karen vivia com a sua padaria.Ela concordou com a minha ideia e em algumas horas conseguimos nos organizar para partir no dia seguinte. Lembro-me de arrumar umas roupas numa pequena trouxa antes de adentrar a carruagem que nos levaria para casta da minha colega de treinamento.Um dia de viagem corrida foi necessária para finalmente chegarmos por lá. A Bianca acabou escolhendo ficar em casa, cuidando das coisas. Como ela era uma Guerreira ativa, à ameaça de qualquer invasão, ela poderia ser convocada pela
PARTE DOISO OUTRO LADORecuperei a consciência num lugar escuro. Tentei mexer meus pulsos, mas algo os prendia. A mesma coisa acontecia com meus tornozelos. Pelo menos sentia o tecido do vestido sobre o meu corpo. Para completar, o ferimento do meu braço latejava de dor e eu fico imaginando o quanto deve estar horrendo.O lugar chacoalhava, então deduzi ser uma carruagem. Um ponto de luz aparece brevemente e consigo enxergar de forma limitada mais corpos. Algo prendia minha boca. Devia estar amordaçada. Aos poucos fui entendendo os acontecimentos: tinha virado uma prisioneira de guerra.Meu