Faltando duas semanas para o seu casamento, Paulina estava física e mentalmente esgotada. A tensão que a rodeava era tão intensa que até o mau humor matinal de Simon a contagiara.
Apesar de não falar nada, contendo a vontade de ser rude após as provocações habituais do Salvatore, ele percebera que havia algo errado, perguntando por três vezes se estava bem.
— Estou ótima — respondeu quando ele estacionou em frente à casa de Guilherme.
Desceu do carro, correndo para a casa sem olhar para trás, para evitar novas perguntas. Até mesmo estar ai fora para evitar questionamentos. Por ela estaria debaixo das cobertas, sofrendo sem testemunhas por perto.
Bateu na porta de madeira. Logo Paulina era envolvida pelo abraço forte de Tábata.
— Que prazer revê-la, Lina — cumprimentou Tábata com alegria. — Guilherme acab
Uma corrente gélida percorreu todo o corpo de Paulina, fazendo-a tremer levemente. Os olhos claros estavam arregalados e a boca abria e fechava nervosamente, embora nenhum som saísse. — Você é maravilhosa, linda, gentil e compreensiva, a melhor pessoa que conheço. — Nathaniel acariciou seus dedos. Longe de transmitir conforto, aquele gesto, junto com a declaração seguinte, levou lágrimas aos olhos da Perez. — Qualquer homem seria feliz ao seu lado. O problema é comigo. Eu não te mereço. — Não entendo... — murmurou com dificuldade, já que sua garganta formigava como se tivesse areia. — Não quero iludi-la Lina. Valorizo demais sua amizade. — Amizade? — Paulina chiou com voz aguda. Desnorteada, respirou fundo e sacudiu a cabeça, necessitando colocar os pensamentos em ordem. Nathaniel não podia larga-la, não podia. Ela o amava e ele a amava. — Tudo bem... — murmurou sustentando um sorriso trêmulo. — Podemos dar um tempo... alguns dias... meses talvez? — Desculpe-me, Lina. É definit
Estava desconfortável equilibrado na beirada da cama e temia cair a qualquer momento. Para piorar sua situação, suas costas doíam e seu braço direito, em que Paulina apoiara a cabeça ao deitar, estava dormente, mas não movia um músculo com medo de um novo mar engolfa-lo até os ouvidos.Observou a face adormecida. Paulina estava péssima. Pele lívida, rosto inchado, marcas cristalizadas de lágrimas nos cílios e bochechas, cabelo desgrenhado e o nariz vermelho. Mesmo assim, pela primeira vez, Simon achou sentido no apelido que ela ganhara de Nathaniel.Recordou que costumava compara-la com as bonecas de porcelana que sua mãe colecionava. A princípio de forma positiva, pois, quando criança, Paulina sempre estava com as bochechas coradas, em contraste com a pele clarinha, e lábios naturalmente rosados. As roupas também eram parecidas, vestidinhos imaculadamente limpos e cheios de babados que a mãe dela costurava. Com o tempo a comparação tornou-se negativa. Quando se irritava Simon dizia
— Vá embora!— Acalme-se! Isso não te fará bem.— Sabe o que me faria bem? Corta-lo em pedacinhos e joga-los aos porcos.Surpreso com os gritos da secretária, Simon saiu do elevador observando Cherry, em pé atrás de sua escrivaninha, encarar furiosa o Muller. Lançou um olhar para os departamentos financeiro e administrativo, as portas estavam abertas e os poucos funcionários que chegaram acompanhavam a confusão com diferentes graus de interesse e diversão estampados nos rostos.— Cherry, precisamos conversar — suplicou o Muller.— Não preciso de nada vindo de você. — Ela agarrou um enorme buque de rosas vermelhas de cima da mesa e tacou em Nathaniel. — Quero que vá para o inferno e enfie suas rosas no mei...— Cherry! — alertou Gabriel.A secretaria parou numa pose ereta e tensa, os olhos verdes arregalados ao dar-se conta da plateia.— Senhor Gabriel, senhor Simon, bom dia!Simon acenou com a cabeça, sério por fora e rindo por dentro. Paulina tinha muito a aprender com Cherry sobre c
Enquanto ajudava Tábata nos afazeres domésticos, como sempre fazia ao visita-la, Paulina não demorou em contar o que a deixara a beira das lágrimas. Não fora exatamente uma iniciativa sua, Tábata tinha um jeito sutil de arrancar informações, deixando-a a vontade para abrir o coração.Depois de algumas horas conversando sobre diversos assuntos e, por fim, desabafar, Paulina sentia-se mais leve, assumindo que Simon tinha razão, remoer sua dor sozinha trazia mais sofrimentos que alivio. Era incomodo, mas Tábata não parecia chateada, até tentava anima-la. Em meio à conversa, conseguira fazer Paulina brincar ao falar que o primo deveria leva-la para o escritório de advocacia em que trabalhava.— Pensei que Cherry fosse uma boa pessoa — reclamou após depositar dois copos de suco na mesinha de centro do quarto de bebê e sentar em uma das poltronas. — Sempre a tratei bem e ela fez isso comigo.— Não creio que a culpa seja toda dela. — Sentada na outra poltrona, dando de mamar para Lean, Tábat
— O que veio fazer aqui? — questionou assim que acomodou Paulina.— Queria confronta-la... Dizer que ela... não presta... — balbuciar, secando o rosto com mãos aflitas.— Você confrontando alguém? — Simon suspirou e puxou uma cadeira, sentando de frente para a Perez. — De que adiantaria fazer isso?— Não sei... Talvez ela me deixasse o Nathaniel... — murmurou, zangando-se ao declarar: — Ela é uma sem vergonha, falsa... Que tipo de mulher se envolve com um homem comprometido? Até você respeita o relacionamento dos outros.. Simon massageou a têmpora.— Cherry não sabia que Nathaniel estava noivo — contou na esperança de apaziguar Paulina.— Ah, por favor!— Ele não disse. Convenhamos, vocês não saem muito juntos e só você usa aliança. — Diante da descrença de Paulina revelou: — Nathaniel a pediu em casamento hoje e ela recusou por se sentir traída. Diria que ela foi tão vítima quanto você.— Ele a pediu em casamento... e ela recusou?Assentiu.— Então... — Levantou agitada. — Tenho que
— Não ensinarei porra nenhuma! — esbravejou levantando, a palma esfregando o rosto. Ela tinha a mão pesada para alguém tão pequena.— Desculpe-me... — Tomada pelo desespero, Paulina ergueu-se e o agarrou pelo braço. — Por favor, Simon! Não queria... É que...— Inferno! Estou farto de lágrimas — exasperou-se, segurando-a pelos ombros. — Você não cansa de bancar a vítima? Quem levou o tapa fui eu, droga!— Juro que não queria... — desculpou-se choramingando.— Entendi. Agora pare de chorar — ordenou.— Vai me ensinar...?— Sem chance! — respondeu, afastando-se com uma carranca.A raiva e o desgosto de Simon eram palpáveis, mas nada disso apavorou Paulina, ao contrario, aumentou seu desespero e a vontade de fazê-lo mudar de ideia. Precisava convencê-lo a ajuda-la.— Foi o nervosismo... Quando fico nervosa faço coisas sem pensar...— Você sempre fica nervosa comigo — retrucou, completando categórico: — Desista.O toque do interfone interrompeu a nova leva de súplicas. Apertou o botão de v
Costumava ser o último a sair do trabalho, mas era a primeira vez que saia quase a meia noite. Adiantara o serviço do dia seguinte antes de se dar por vencido e desligar o computador. Dirigiu devagar até o prédio em que morava, a tensão em cada músculo do seu corpo. Quando chegou em frente à porta do apartamento se censurou por hesitar em voltar para a própria casa. Entrou e encontrou a luz da sala acessa, a televisão ligada e nenhum sinal de Paulina por perto. Caminhou até o televisor e o desligou, foi quando ouviu um bocejo e viu a governanta deitada no sofá.Ela piscou sonolenta, esticou o corpo e sentou, aos poucos recobrando a lucidez. Estava com as roupas desalinhadas e o cabelo bagunçado, mas não aparentava ter chorado até cair no sono como no dia anterior.— Boa noite! — ela murmurou com voz rouca, ao que ele assentiu observando-a ajeitar a roupa e levantar. — Como foi o seu dia? — questionou como o habitual.— Bom — respondeu monossilábico como sempre.— Vou esquentar sua com
Em silêncio ela assentiu novamente.— Não faz sentido — Simon murmurou confuso. Pierre conheceu Paulina, e passou a ir a casa dos Salvatore, depois de se casar com Tamara. — Quando isso aconteceu?— Na festa de bodas de prata dos seus pais... — Só de olha-lo rapidamente, soube que Simon a condenava por se envolver com um homem casado. — Eu não queria... Juro que não...Simon soltou um palavrão quando Paulina começou a chorar.— Calma! — Levou as mãos ao rosto dela, recebendo um tapa tão forte quanto o que recebera horas antes.Paulina arregalou os olhos, chocada por bater nele de novo.— Desculpe-me...— Venha comigo. — Simon segurou sua mão e a conduziu até o sofá. — Sente-se e conte como exatamente aconteceu.— Por quê? — Paulina questionou ao sentarem lado a lado.A pergunta pegou Simon desprevenido. Estava se envolvendo demais naquela história quando o que planejara era retirar sua proposta absurda. Porém, era óbvio que Pierre apavorara Paulina de alguma forma, e, conhecendo o his