— Pronto! — declarou Paola - em sua posição de ajudante da estilista contratada para ajustar seu vestido de casamento - ao fixar o Juliet cap[1] rendado nas pontas e preso com flores feitas de pérolas e renda. — Uma obra de arte! De frente para o enorme espelho no quarto de hospedes de seus sogros, Paulina não conseguia abandonar o enorme sorriso de felicidade e nem evitar que seus olhos umedecessem diante de sua imagem no vestido que, no passado, fora de sua mãe. — Céus... — ela murmurou, sentindo o rosto quente. — Segure a emoção Paulina, ou vai borrar a maquiagem — recomendou a estilista, Elisabeth Albuquerque, preocupada com a perfeição em cada detalhe. Minutos antes tinha repreendido as ajudantes pelo erro nas medidas que dificultara o fechamento da fileira de pérolas do corpete bordado. — Meu bem, pode passar um tsunami que essa make poderosa não vai borrar! — tranquilizou a maquiadora indicada por Thiago, que, junto com sua equipe, passara as últimas horas maquiando-a, arrum
Quando a marcha nupcial começou, Simon ofegou endireitando o corpo, a tensão abandonando-o somente quando o desfile de padrinhos acabou e Paulina passou pelo portal de braço dado com Paulo. Finalmente, estava acontecendo. Quantas vezes, em seu coração, desejou ardentemente que aquela cena se desenrolasse? Quantas vezes sonhou com o momento em que a sua Paulina entrasse naquela igreja, trajando aquele vestido? O momento pelo qual seu coração ansiou durante anos. "Linda!”, sua mente e coração gritaram com emoção. Conforme ela andava em sua direção – ocasionalmente lançando um sorriso para os convidados –, mesmo hipnotizado pela beleza de Paulina, Simon captava os suspiros de admiração que ela causava a casa passo. “Minha mulher”, cada fibra de seu corpo anunciava, exigindo que atravessasse o corredor, a levantasse em seus braços e levasse para casa para fazerem amor apaixonadamente para o resto de suas vidas. Haviam se passado poucas horas desde que a deixara dormindo, mas a necessid
Simon chegou à casa e inalou o delicioso aroma proveniente da cozinha, observou os lírios perfeitamente arrumados em um vaso sobre a mesa de centro da sala e, mentalmente, agradeceu a Deus por ter lhe dado à felicidade. Rapidamente caminhou para aquela direção. Encontrando o cômodo vazio, foi para a suíte de casal. Ao atravessar a porta do quarto sorriu ao ouvir o cantarolar de sua "felicidade” a poucos metros de onde estava. Largou sua pasta sobre a cama, afrouxou a gravata e seguiu para o banheiro. Lá estava a sua alegria, a mulher que dava cores e luz a sua vida, sentada de lado na madeira que rodeava o ofurô, o longo cabelo negro jogado sobre o ombro esquerdo, a cabeça levemente inclinada para o mesmo lado, totalmente concentrada em distribuir o óleo corporal pela perna esquerda. Aquele ritual de beleza, que Simon descobrira por acaso ao voltar mais cedo do trabalho, o fascinava, por isso fazia questão de terminar qualquer serviço
Simon Salvatore corria em círculos pelo jardim em uma típica brincadeira de criança de sete anos. Os bracinhos abertos e um sorriso largo na face bronzeada de sol, satisfeito com a força do vento chocando-se contra seu rosto e balançando seu cabelo negro. Era como voar. Adorava essa sensação, mas, acima de tudo, amava ouvir a risada miúda de sua amiga de brincadeiras, Paulina Perez, filha da governanta e do motorista da mansão Salvatore. A pequena menina prestes a completar cinco anos, se encontrava sentada no tapete de retalhos sobre o assoalho de madeira da varanda, os olhos cor de mel observando com fascínio o amigo rodar e rodar. — Vamos, Lina! É divertido — afirmou Simon efetuando mais um giro. — Não. Da outra vez fiquei tonta, cai e mamãe brigou — lembrou, a pele alva marcada pelas bochechas levemente coradas devido o calor da manhã primaveril de novembro. Simon parou de rodopiar. Contrariado, subiu os três degraus que levavam à varanda e sentou-se ao lado dela. — Não tem gr
Massageando a têmpora na esperança de amenizar as pontadas na cabeça, Simon ouvia entediado o que a morena, de olhos negros, cabelo marrom, vestindo um microvestido azul dizia. A voz dela era irritante, o cruzar e descruzar de pernas eram irritantes e as caras e bocas eram irritantes. Tudo naquela mulher o irritava, mas o principal era que ela o obrigava a perder seu precioso tempo para entrevistá-la quando era óbvio que desejava muito mais que ser sua governanta. Era evidente no modo de sorrir, de fingir ter pudor ao puxar devagar a barra do vestido ultrajusto para cobrir — obviamente sem sucesso — as coxas grossas e no modo como se inclinava por qualquer motivo oferecendo ao Salvatore uma bela visão dos seios fartos. Cerrou os olhos por um instante após a oitava vez que ela cruzou e descruzou vagarosamente as pernas desde que começara a entrevistá-la. Presumia que ela assistira Instinto Selvagem [1]demais. Não era a primeira entrevistada a se insinuar descaradament
Depois de mais uma entrevista de emprego, retornando ao seu quarto, esgotada, Paulina jogou a pasta de couro sobre a cama e caminhou até o espelho da penteadeira. Ficou distante do objeto, para poder analisar o reflexo da cabeça aos pés, procurando alguma imperfeição em seu traje. Não era sofisticado, se tratava de uma camisa branca de manga cumprida, uma saia longa e um terninho discreto, ambos na cor azul escuro. Queria parecer responsável e mais velha do que realmente era e o traje, em teoria, fornecia essa imagem, na prática, obviamente não conseguiu o efeito desejado. O dia começou bem, mas foi anuviado no momento em que o selecionador do hotel, no qual desejava trabalhar como governanta, olhou-a de cima a baixo e torceu o nariz. Foi questão de minutos para ouvir o tão conhecido “a senhorita não corresponde ao perfil desejado”. Era a terceira entrevista só naquela semana que teve de ouvir “não corresponde ao perfil” e começava a se perguntar que maldito “perfil” era esse que tod
Paulina olhava aturdida para cada canto da sala do advogado dos Salvatore, Carlos Ramos. Não pela elegância do local e sim por estar prestes a assinar um contrato para trabalhar para a pessoa que mais abominava no mundo. Tudo bem, não chegava a tanto, mas havia somente uma linha tênue para que isso ocorresse. Imaginava que debaixo do mesmo teto essa linha seria passada em questão de minutos, assim que o Salvatore insistisse em tirar sarro de sua vida “sem sal”.Tinha péssimas lembranças da época em que moravam na mansão e das vezes que visitara seu pai. Praticamente se sentira pisando em ovos, temendo encontrá-lo pelos corredores, ver o sorriso cínico e ouvir um comentário desagradável.Paulina não era uma pessoa que arranjava briga, nunca sequer levantara a voz para alguém, por isso em todas as vezes que Simon fizera um comentário idiota sobre a vi
No fim de tarde, enquanto arrumava o que levaria, Paulina se perguntava se havia tomado à decisão certa. Seu pai dissera que sim; Mirela e seu marido, Fabrício, pareciam tranquilos com a possibilidade do filho ter alguém “ajuizada” por perto; até sua irmã, Paola, suspirou ao imaginar a convivência com Simon.— Você arrumando a cama dele, de repente ele aparece só de toalha e...Balançou a cabeça diante das lembranças do que a mais nova dissera que conseguia fazer com que suas bochechas ficassem quentes. Nunca imaginara que Paola, cinco anos mais nova, pudesse ter pensamentos tão... Nem conseguia descrever.— Pronta, Lina?— Sim, dona Mirela — respondeu fechando a pequena valise.Mirela olhou para a valise e franziu a testa.— Só isso?— Sim... — gaguejou constrangida. Decidira levar pouc