Paulina terminou de aprontar o jantar, os olhos a todo o momento se colocando sobre o telefone. Àquela hora Simon costumava telefonar para avisar de alguma visita, de forma que ela pudesse colocar a mesa para dois.
Também lhe incomodava que Nathaniel não lhe telefonara. Mandara uma mensagem dizendo que estava bem e lhe desejando um bom dia, mas gostava de ouvir a voz dele, saber como fora seu dia. Era um alento para a distância que tinham durante a semana, embora durante todo o relacionamento fossem pouquíssimas as vezes que ele ligara, gostava quando aconteciam.
Não podia e nem iria cobra-lo. Ele trabalhava muito desde que o pai morrera e precisava de espaço para se dedicar a empresa, relembrava para afastar o bichinho que cochichava que Nathaniel devia lhe dedicar mais tempo e atenção.
De qualquer forma, seu fim de tarde fora ocupada por um Salvatore, ou melhor, uma Salvatore. Mirela telefonara, e n
Não era a primeira vez que reparava e nem era o único a perceber a atração mortífera. Assim que a lamparina atravessava a porta da sala de reunião, os olhos azulados da mariposa a seguiam com avidez.Quanto mais até se queimar? Era a questão que dominava a mente de Simon. Não muito, supôs quando a mariposa disse algo que fez a lamparina ilumina-se. Só mais uma volta esvoaçante e as asinhas se queimariam na chama ardente.O que se passava na cabeça de mariposa de Nathaniel para derreter-se em sorrisos para Cherry daquele jeito? E o que a noivinha dele diria se contasse? Simon queria saber sua reação. Não por maldade, apenas por curiosidade. Provavelmente não acreditaria, presumindo que mentia para azucrina-la. Mesmo que a verdade fosse escancarada na cara dela, Simon duvidava que percebesse. A inocência de Paulina beirava a burrice quando se tratav
Havia algo errado com ele, deduziu enquanto observava os movimentos – ou a falta deles – dos seios enormes e redondos. A mulher rebolava, beijava e gemia furiosamente, mas ele não tirava qualquer prazer disso. Queria que acabasse logo.Talvez fosse o cabelo. O que dera nela para corta-lo na altura dos ombros e pinta-lo de loiro? Ou as unhas afiadas cravadas em suas costas. Embora nunca se incomodasse com isso antes. O mais provável era que estava estressado e cansado. Aceitar o convite dela naquelas condições fora péssima ideia.Fátima Câmara tinha sua própria empresa de arquitetura, viajava o mundo com seus projetos e era uma das poucas mulheres com quem Simon se encontrava mais de uma vez. Tinham se conhecido em um bar anos atrás e ocasionalmente, quando estava na cidade, ela o procurava.Inteligente, sofisticada e independente, ela era uma boa companhia e não desejava nada al&eac
Escolhendo o modelo do convite da festa de casamento, Paulina, sentada entre Carlota e Nathaniel, esforçava-se para não se irritar com seu noivo. Às vezes Carlota pedia a opinião de Nathaniel, que respondia com resmungos inaudíveis, dava de ombros, torcia a boca e, na maioria das vezes, dizia que aprovaria o que elas escolhessem.Não era assim que imaginara seu noivado. Esperara que Nathaniel a ajudasse, incentivasse e demonstrasse felicidade. Desde que a pedira em casamento ele estava estranho, distante, calado, muito diferente do homem extrovertido e sorridente por quem se apaixonara. O que fizera para ele agir como fosse empurrado para uma armadilha inevitável?Compreendia que ele não desejava uma festa, ideia de Carlota para apresenta-la aos familiares e amigos como esposa de Nathaniel. Compreendia que preferia trabalhar a perder tempo com detalhes, como ele mesmo chamara quando Carlota exigira que ajudasse. C
Estudando a história e características de um novo cliente, Simon interfonou para a mesa da recepção, necessitando de um café para aguentar o cansaço. Após três toques sem resposta desistiu. Supondo que Cherry estava a serviço de Gabriel, não querendo esperar, foi para a copa.Ao entrar teve uma grande surpresa. O choque deu lugar à incredulidade, depois irritação e por fim, divertimento. A mariposa caíra de boca na lamparina.Limpou a garganta, mas o casal não parou a sessão de amasso, aumentou o som até ser notado. Cherry foi a primeira a reagir, afastou-se de Nathaniel e ajeitou a roupa e o cabelo com mãos nervosas.— Senhor Simon em que posso ajuda-lo? — perguntou, fingindo que não fora flagrada atracada com um cliente.— Um café — respondeu entrando no jogo.Nathaniel olhava desnortea
O som estridente da campainha ecoou pelo apartamento, despertando e assustando Paulina. Acendeu a luz e olhou o relógio. Quem apareceria às dez da noite e subiria sem ser anunciado pelo porteiro? Só Mirela tinha essa liberdade, mas nunca aparecera naquele horário. Se fosse a Salvatore esperava que Simon estivesse em casa. Ele avisara que demoraria a chegar e ela não precisava espera-lo.Bocejando sonolenta, levantou e encaminhou-se para a entrada irritada com o som persistente. A pessoa podia tirar o dedo da campainha, afinal, já gritara que estava a caminho durante praticamente todo o percurso até a porta. Ficou ainda mais espantada quando, ao abrir a porta, encontrou Simon escorado na parede, o dedo afundando o botão da campainha.Ao vê-la, ele retirou o dedo, escorregou as costas pela parede e sentou no chão, o forte odor de álcool cercando-o e invadindo as narinas da Perez.— E
Faltando duas semanas para o seu casamento, Paulina estava física e mentalmente esgotada. A tensão que a rodeava era tão intensa que até o mau humor matinal de Simon a contagiara.Apesar de não falar nada, contendo a vontade de ser rude após as provocações habituais do Salvatore, ele percebera que havia algo errado, perguntando por três vezes se estava bem.— Estou ótima — respondeu quando ele estacionou em frente à casa de Guilherme.Desceu do carro, correndo para a casa sem olhar para trás, para evitar novas perguntas. Até mesmo estar ai fora para evitar questionamentos. Por ela estaria debaixo das cobertas, sofrendo sem testemunhas por perto.Bateu na porta de madeira. Logo Paulina era envolvida pelo abraço forte de Tábata.— Que prazer revê-la, Lina — cumprimentou Tábata com alegria. — Guilherme acab
Uma corrente gélida percorreu todo o corpo de Paulina, fazendo-a tremer levemente. Os olhos claros estavam arregalados e a boca abria e fechava nervosamente, embora nenhum som saísse. — Você é maravilhosa, linda, gentil e compreensiva, a melhor pessoa que conheço. — Nathaniel acariciou seus dedos. Longe de transmitir conforto, aquele gesto, junto com a declaração seguinte, levou lágrimas aos olhos da Perez. — Qualquer homem seria feliz ao seu lado. O problema é comigo. Eu não te mereço. — Não entendo... — murmurou com dificuldade, já que sua garganta formigava como se tivesse areia. — Não quero iludi-la Lina. Valorizo demais sua amizade. — Amizade? — Paulina chiou com voz aguda. Desnorteada, respirou fundo e sacudiu a cabeça, necessitando colocar os pensamentos em ordem. Nathaniel não podia larga-la, não podia. Ela o amava e ele a amava. — Tudo bem... — murmurou sustentando um sorriso trêmulo. — Podemos dar um tempo... alguns dias... meses talvez? — Desculpe-me, Lina. É definit
Estava desconfortável equilibrado na beirada da cama e temia cair a qualquer momento. Para piorar sua situação, suas costas doíam e seu braço direito, em que Paulina apoiara a cabeça ao deitar, estava dormente, mas não movia um músculo com medo de um novo mar engolfa-lo até os ouvidos.Observou a face adormecida. Paulina estava péssima. Pele lívida, rosto inchado, marcas cristalizadas de lágrimas nos cílios e bochechas, cabelo desgrenhado e o nariz vermelho. Mesmo assim, pela primeira vez, Simon achou sentido no apelido que ela ganhara de Nathaniel.Recordou que costumava compara-la com as bonecas de porcelana que sua mãe colecionava. A princípio de forma positiva, pois, quando criança, Paulina sempre estava com as bochechas coradas, em contraste com a pele clarinha, e lábios naturalmente rosados. As roupas também eram parecidas, vestidinhos imaculadamente limpos e cheios de babados que a mãe dela costurava. Com o tempo a comparação tornou-se negativa. Quando se irritava Simon dizia