*O dia amanheceu chuvoso. Começou de madrugada e se estendeu durante o resto do dia. As nuvens foram se acumulando e fechando o céu, deixando o dia escuro.
Bianca não foi á clínica visitar Emília, apenas ligou para saber como estava. Adriano notou que ela estava estranha, mais agitada. Quando ele pegou a chave do carro para sair ela ficou andando atrás dele apertando os dedos.
_ O que você tem, Bianca?
Ela estava tão sensível que se assustou, dando um pulinho.
_ Nada.
_ Nada? E por que pulou de susto?
_ Estava
Adriano... Alexandre marcou um almoço comigo e Álvaro. Queria me dar notícias sobre o testamento de meu avô. Avisei á Bianca que não iria almoçar com ela, uma coisa que fazia muito e nem sei quando comecei. Ela simplesmente me pediu que voltasse para almoçarmos juntos um dia e eu disse sim. Não me pareceu chato ou errado, achei normal. E até gostei disso. Agora estamos casados há seis meses no total e eu gosto de ter minha vida preenchida por Bianca. Ela foi mudando as coisas e quando vi, meu apartamento agora parece mesmo o de um casal e não o de um solteiro. Ela mudou até a cor do hall de entrada que antes era cinza escuro e agora é azul
_ Meu Deus, é maravilhoso, Adriano. Você não exagerou dessa vez. Olhei para ela sorrindo. Após longas horas de voo finalmente chegamos á minha nova propriedade e bem na hora certa. O pôr-do-sol deixava tudo ainda mais bonito. Passamos rápido por Edimburgo, deixaria por último um tour na capital porque queria chegar logo ao castelo. Na verdade tem alguns lugares que quero levá-la para conhecer e lhe contar minhas histórias de quando era pequeno ali. _ Ele tem nome? O castelo? _ Dovvanttar - eu disse com orgulho. _ Diferente. Gostei. Adoro quando esse lugares têm um nome forte assim.
Adriano se esticou e tentou se virar, mas seu braço estava preso embaixo da cabeça de Bianca, sua espôsa há mais de três anos. Ele nem acreditava nisso. Logo ele que era contra o casamento, estava feliz ao lado dela e se sentindo bem casado. Na verdade naquele mês eles iriam fazer quatro anos. Ele se virou de lado e a agarrou, cheirando seu pescoço. Era difícil acreditar que depois de horas tentando fazer com que ela acreditasse e aceitasse seu amor, ele tivesse conseguido. E tinha sido ali mesmo naquele quarto do castelo que ele havia prometido que a faria feliz se lhe desse a chance de continuarem casados.
Adriano... Raiva era pouco para dizer o que eu estava sentindo. Minha vontade era xingar bem alto, ali mesmo no meio de toda aquela gente no restaurante lotado. Eu não ligo mesmo. Nunca liguei para a opinião dos outros. E eu nem estava me importando se alguém acharia feio, caso eu fizesse uma cena. Só não fazia isso por causa de Alexandre. _ Não aceito isso. Deve ter algum engano. Reveja isso com calma. _ Não há engano nenhum, Adriano. Nenhum mesmo – Alexandre acendeu um cigarro _ O seu avó foi bem claro quando fez o testamento dele. Cada detalhe.
Quando entrei no escritório eu parecia um furacão. Estava com muita raiva da última novidade que meu avô me aprontou. Não dei a mínima para minha secretária, Bianca Santana. Ela se assustou e derrubou alguns papéis no chão. Me deu até vontade de gritar com ela. “Criatura desastrada, vive derrubando tudo”. _ Senhor Mendez – ela disse em tom baixo _ Não o esperava aqui no escritório. _ E eu estaria onde? – fui ríspido, cruzei os braços _ Se o escritório é meu, posso vir aqui quando me der vontade. Ou eu tenho que lhe pedir permissão agora? _ S-Sim... Eu quis dizer a
Adriano... Eu estava tão maluco com a ideia de ter de me casar que quase não dormi e agora estava ainda mais aborrecido do que ontem. Isso era ótimo, para ser bem irônico. Se Hank não fosse tão irritante com essas regras familiares eu poderia já ser o dono legal do castelo á essa hora. O tempo corria e eu precisava me organizar para não deixar Diogo passar na minha frente. Isso eu não iria admitir. Diogo nem mesmo gostava desse tipo de coisa. Ele achava que propriedades assim antigas, deveriam ser reformuladas e modernizadas. Dizia que o passado deveria ficar para trás. Se ele ganhasse o castelo, eu poderia dizer adeus de vez á propriedade.
Bianca... Eu ainda não entendi o que o Sr. Mendez quis fazer com essa chamada e nem porque queria que parecêssemos íntimos. Foi estranho. Ele era estranho. Sempre fazia o que lhe pedia e ainda assim me tratava mal. O homem parece que me detesta e eu nem sei o motivo. Acho que só de chegar perto ele se irrita, por isso mesmo eu até evito e só falo com ele o necessário. O celular vibrou. Era a atendente da clínica. Precisava falar comigo. _ Eu não recebi nenhum aviso. _ Deve ter sido algum problem
Bianca... Acho que paralisei. Não consigo entender o que ele disse. Meus ouvidos estão com um zumbido estranho, parece aquela música de filme de terror. Talvez eu fosse mesmo um pouco lenta como ele sempre me dizia. Acho que abri e fechei a boca várias vezes sem emitir som porque ele me olhava impaciente. _ Entende o que digo? – arqueou a sobrancelha. _ Não – balancei a cabeça. Desci da cadeira o encarando _ Acho que o senhor está brincando comigo e não gostei da brincadeira. _ Não sou homem de brincadeiras. Não desse tipo.