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Capítulo 3 - Evidências

    Demoro mais um pouco antes de voltar para casa. Fico um tempo a mais lendo a ficha da garota. Não tem como descrever o que passou na minha cabeça no momento em que li as primeiras páginas. Discórdia? Pode até ser. Arrependimento? Não chega a tanto.

   Dentro do carro fico tão imerso nos meus pensamentos e ideias que nem percebo que o rádio está desligado. Sinto-me melhor assim que saio da cidade nebulosa de Santis Lorde para uma claridade sem fim que é a cidade onde moro.

   Suas árvores são de um verde claro, seus trocos marrons, há pássaros que cantam nas ruas, pessoas andando, caminhando, correndo ou pedalando. É completamente o oposto daquela cidade. Eu não quis dar ouvidos aos comentários, mas eu não vi ninguém além dos funcionários do manicômio nas ruas.

   Chego em casa por volta de uma da tarde, decido correr um pouco para tirar algumas suposições que se formaram na minha cabeça. Visto um short e uma regata e dessa vez lembro de pegar meus fones e acoplá-los no celular para ouvir música.

   Minha casa é muito grande para apenas uma pessoa morar nela. Acho que minha mãe estava pensando que fugi de casa porque engravidei alguém. E eu não estou exagerando, além dos outros quartos tem um que é completamente mobiliado para uma criança recém-nascida. Ele é muito bonito, mas eu não sabia o que fazer com ele quando vi, então mantenho ele trancado.

   A entrada da casa leva a um corredor; na primeira porta à direita é a cozinha; à esquerda é a sala; seguindo reto ainda à direita há uma sala onde seria o meu consultório que não posso usar por enquanto; depois dessa porta há a escada que leva ao andar de cima. Têm três quartos, dois banheiros e o quarto para criança.

   Termino de correr e volto para casa para tomar banho. Um banho pensativo, e é o primeiro que eu demoro tanto. Olho-me no espelho e a menina do Hospício aparece na minha mente, de todos os meus pensamentos ela já fazia parte. A pequena brecha que pude ver do seu rosto me permitiu criar diversas hipóteses.

   Não que eu tenha me interessado por ela, mas ela não me pareceu estar amedrontada por estar em um manicômio como os outros. Ela parecia feliz com aquilo. É como se ela estivesse tentando fugir de algo que estivesse fora dali.

   Saio do banheiro e a campainha toca, quando chego ao pé da escada. Seco meu cabelo e atendo a porta.

   Fico decepcionado com a pessoa do outro lado. Alexis, minha ex-namorada. Maluca. Essa sim merece estar no Hospício.

     — O que faz aqui? — Pergunto, sem saber se quero mesmo a resposta.

     — Fui na sua antiga casa falar com você, mas você não estava e sua mãe me deu seu novo endereço.

     — Isso não responde minha pergunta.

   Ela sorri, constrangida querendo alguma coisa eu tenho certeza. E eu sei que é falta de respeito conversar com alguém na porta de casa por muito tempo sem convidarpara entrar, mas eu não vou convidar ela, nem se ela fosse a salvação da humanidade. Ela é definitivamente louca!

     — Desculpe, você está ocupado?

     — Eu estou sempre ocupado Alexis e começo a trabalhar amanhã, se você não se importar em voltar outro dia...

     — Olha, eu sei que você deve achar que estou perseguindo você, mas fique tranquilo, eu estou de mudança para cá com umas amigas e eu superei, devo-lhe desculpas por tudo que fiz a você. Eu só pensei em passar aqui e avisar para você não supor que tenho segundas intenções.

   Respiro fundo, não que eu queira ser rude, mas apenas desculpas não irão fazer tudo sumir. Ela me fez ficar solteiro durante 6 anos após terminar com ela. Todas as garotas que vieram depois do término ela dava um jeito de fazer elas correrem e ficarem longe de mim, era irritante.

     — Alexis, eu realmente estou ocupado e preciso começar agora, com ou sem sua licença. Tenha uma boa mudança — Mentira! Que ela esqueça e não se mude para esse bairro.

   Não espero ela responder e fecho a porta na sua cara, pego a ficha da garota do Hospício que eu deixei na cozinha, faço um chá e sento no sofá para lê-las.

                                         Hospital Psiquiátrico

Santi's Lorde

                                                 Prontuário do Paciente                                                      

"Número do Prontuário: ­­­­­­233

Data de abertura: 21/03/2011

Nome completo: Catarina Davidson Braga

Data de nascimento: Desconhecida

Sexo: F [x] M [ ]

Endereço: Desconhecido Telefone: Desconhecido

Médico(s) do paciente (se houver): Meredith Andrews

Escolaridade: Desconhecida Ocupação: Nenhuma

Limitações: [ ] Cognitiva [ ] Locomotiva [ ] Visão [ ] Audição [ ] Outras: ­­­­­­­_____________.

Alergias: _____________.

Diagnósticos e Observações: A paciente tem apenas 22 anos de acordo com nossas pesquisas, mas não há nenhum documento onde possamos confirmar tal fato. Nenhum parente próximo vivo.

   Ela não conversa e é extremamente agressiva.

   Catarina sofre com transtornos, pesadelos e grita a maior parte do tempo. Seu diagnóstico é grave, sem saída e precisa dos remédios para se manter estável. [...]

   Catarina, piorou e sua dosagem de remédios tem que ser aumentada. Ela pensa que pode estar em um sonho e está mais agressiva do que nunca.

   As dosagens dos remédios foram muito altas e ela definitivamente não tem chances.

   Em pouco tempo ela pode morrer..."

   A última atualização desse prontuário foi há 3 anos atrás e parece que Catarina sobreviveu a uma face ruim lá dentro.

                     Ocorrências:                       

   "Catarina quis bater em mim assim que entrei no refeitório e comecei a colocar comida no prato de outras pessoas. Ela se levantou e arremessou seu prato de sopa quente sobre mim."

                                                      - Jacob.

   "Catarina quase me enforcou com a mangueira enquanto eu estava dando banho em outros pacientes. Ela entrou no banheiro e pegou a mangueira da minha mão."

                                                        - Lisa.

   "Catarina me chamou de prostituta e se meteu em uma briga com um dos pacientes. O paciente se chama Liam

Cleavaland, ele é maior que ela e mesmo assim isso não a impediu. "

                                                       - Clarisse.

   "Liam puxou o cabelo de Catarina durante o almoço e isso fez com que ela se levantasse e começasse a arremessar facas em sua direção, isso fez com que acertasse duas enfermeiras. "

                                                        - Fátima.

   Há outras ocorrências a maioria inclui o mesmo parceiro de crime. Liam. Eu não sei o nome de ninguém ali, muito menos os rostos. Amanhã talvez eu pergunte quem é essa pessoa que acaba fazendo Catarina ter ocorrências tão horríveis e com certeza foi por isso que aumentaram a dosagem de remédios dela.

   Quando termino de ler e analisar tudo, faço minhas anotações e vou dormir, pensando em tudo que posso fazer se essa garota tiver justificativa para tudo o que aconteceu, ela deve ter. E se não tiver? O que vai ser do meu trabalho?

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