Noite passada eu não tinha conseguido dormir e o problema foi que imaginei, ou melhor, sonhei em como seria minha vida se eu decidisse ter algo com Bridget e não consigo me imaginar assim. Com ela tudo parece estranho. Não que ela não seja bonita, ela é muito bonita, mas não me imagino tendo uma vida com alguém, parece que depois da Alexis eu acabo me saindo mal no amor.
Eu não quero parecer rude, mas agradeço por Catarina não ter tido algum problema durante a semana que me fizesse ir até lá e ter que decidir logo o que falar com Bridget. Na verdade, tive que me preocupar com algo novo, melhor dizendo, pessoas novas. Como minhas novas vizinhas da frente.
Eu não sei o que aconteceu. Só me lembro que durante uma manhã em que fui pegar a correspondência, um grande caminhão vermelho e cinza escrito em letras grandes "Mudanças Live: tenha uma mudança segura", estacionou no acostamento da frente.
Na rua onde eu moro ainda há casas a venda e a casa da frente pelo o que soube é alugada e o aluguel é alto demais para uma pessoa só pagar. E além disso, o tamanho da casa é também grande demais para uma pessoa só.
Assim que os homens começam a tirar os móveis do caminhão, minha vizinha do lado a Sra. Eleonor Sanchez, aparece com um olhar interrogativo, o que deixa seu rosto mais velho e enrugado, porque mesmo estando na casa dos 50 ela esconde muito bem as marcas da idade da pele. E nos cabelos grisalhos há fios ainda negros.
Seu neto não deve estar em casa, muito menos seu marido, já que ela é quem está cuidando das plantas na frente da sua casa.
— Ian, sabe quem vai morar na casa da frente? — Ela pergunta, sempre pronta para uma nova fofoca.
— Bom Dia para a senhora também, Sra. Eleonor — Exponho seu erro e ela sorri para mim como se estivesse se desculpando — E eu não sei quem são os novos inquilinos.
— Acho que são garotas, olhe como os móveis são bem coloridos e com um aluguel como aquele não se pode pagar sozinho — A senhora olha para a minha casa. Na primeira semana em que me mudei ela disse a mesma coisa sobre ela — Quem sabe o amor da sua vida na esteja agora morando na sua frente, Ian.
— Acho meio difícil, mas obrigado. Eu vou entrar tenho coisas para fazer.
— Espere, ontem eu vi um carro chique e caro na frente da sua casa, era algum conhecido ou erro de endereço?
Paro no meio do caminho que há entre mim e a porta, encaro ela e depois meus olhos vão em direção a senhora que me olha fixamente esperando uma resposta.
— Era a minha mãe, Sra. Sanchez — Eu explico e ela sorri novamente envergonhada — Tenha um bom dia.
— Obrigada. Para você também, querido.
Seguro com força os papéis que estão na minha mão e apresso o passo para chega mais rápido a porta de casa sem intromissões, mas o barulho de gritos felizes feminino e o barulho de um carro chamam minha atenção.
Olho para atrás e vejo um conversível vermelho, com 7 garotas enfiadas dentro dele. A capota está aberta e duas das sete estão sentadas na parte de cima do banco gritando de felicidade com um champanhe aberto na mão.
A partir de hoje o barro não será mais o mesmo com essas novas inquilinas. Elas são muito barulhentas e além disso observando elas de longe descerem do carro noto que conheço a maioria delas, incluindo minha ex namorada, Alexis. Ela está no banco do passageiro de óculos escuros olhando para cima.
Ela acena na direção da minha casa e a senhora Sanchez me encara como se estivesse me acusando de ter mentido, mas antes de alguém dizer alguma coisa entro em casa e fecho a porta brutalmente. Deixo os papéis sobre o balcão da cozinha e subo para o andar de cima para ver da janela o que elas estão fazendo.
Alexis saí do carro e começa a falar alto com uma das meninas que está em cima do banco, elas estão discutindo algo e Alexis está com raiva enquanto a outra ri dela. Espero por um tempo até que elas entrem na casa, mas duas das garotas saem correndo na direção da minha, então começo a contar os segundos. 5... 4... 3... 2... 1.
A campainha toca.
— Ian Prince! — Uma delas cantarola meu nome — Sabemos que você está aí, lindo.
A voz não é estranha, sei que as conheço de algum lugar, mas não estou a fim de rever essas garotas que fizeram parte do meu passado turbulento. Onde havia muitas drogas, bebidas e nada de bom. Caminho na direção da porta sem me importar muito com a demora. Respiro fundo antes de finalmente abri-la.
Assim que abro a porta encontro uma ruiva e uma morena. A ruiva se chama Hayley, ela tem olhos claros e sua pela também é de um tom amendoado claro, seu rosto tem pequenas e quase imperceptíveis sardas. E a morena, se chama Danielle. Essa não tinha uma boa reputação quando a conheci. Danny tem olhos escuros e pele mais escura que a de Hayley, seu cabelo é tingido de um loiro mel misturado com um tinta rosa já despostada.
— Como vai, gato? — Danny pergunta, se mantendo longe... ainda.
— Vou bem, e vocês?
— Temos tantas fofocas para contar, ficamos muito felizes de saber que você seria nosso vizinho igual aos velhos tempos, lembra?
"Época das drogas".
— Claro que eu lembro.
— Danny vem aqui! — Uma voz do outro lado grita seu nome em tom de reprimenda — Ou eu vou jogar suas roupas pela janela!
— Desculpa, Ian. Foi um prazer rever você, posso te dar um abraço?
Concordo querendo muito dizer não, mas não é tão ruim quanto eu pensava. Pelo menos gostaria de saber o porquê Hayley está andando com elas agora. Ela sempre foi a mais quieta de todos nós e eu sempre tive que chamar ela para o nosso grupo.
Danny saí correndo para o outro lado da rua gritando mais um pouco com a dona da voz ameaçadora que havia ameaçado ela com gritos ensurdecedores. Olho para Hayley, ela ainda continua usando o mesmo tipo de roupa que antes, acho que isso as meninas não conseguiram mudar.
Hayley está usando uma calça rasgada nos joelhos, uma camisa branca, uma jaqueta xadrez vermelha e preta amarrada na cintura, e calça all star preto, os favoritos dela.
— Estou tão feliz em ver você de novo, faz tanto tempo desde nossa... última vez juntos — Ela sorri, sua voz doce como sempre.
— É bom ver que você está bem, Hayley — Admito, notando a forma como ela fica toda protetora na frente da minha casa desviando o olhar toda vez que seus olhos cruzam com os meus — Quer entrar?
— Claro! — Ela concorda.
Dou espaço para que entre. Passo na sua frente após fechar a porta e entro na cozinha pegando um café para mim. Ainda está cedo e minha mesa do café ainda está montada.
— Fique à vontade, Hayley — Aponto para o meu café da manhã.
Ela senta à mesa.
— Parece que sua vida mudou mesmo — Ela passa seus olhos pela cozinha, olhos que brilham ao pararem sobre mim — E olha para você como está diferente!
— Diferente como? — Pergunto, ela sempre acaba falando com um pouco de insistência.
— Você era magro, agora olha como você está musculoso. Há alguns anos atrás eu nunca teria imaginado você em uma vida como essa, tão calma e cômoda. Acredito que nem você mesmo imaginaria.
Hayley pega um pedaço de bolo, seus olhos o admiram como se ela estivesse a algum tempo sem comer. Essa reação me faz olhar para seu corpo. Ele está magro. Hayley era corpulenta, sempre mais que as outras meninas, mas agora vendo seu corpo vejo que ela está muito magra, o que a deixa muito semelhante as modelos que se privam de comer.
— No que trabalha? — Ela sorri ao perceber meu olhar sobre seu corpo.
— Sou psicólogo, tenho uma paciente que trato uma vez por semana — Respondo e ela assente enquanto mastiga devagar — E você?
— Eu? — Ela pergunta corando com a pergunta pessoal, outro detalhe dela: Hayley nunca foi fã de falar de si mesma. Concordo — Eu vim para cá para tentar fazer isso, a faculdade que tem aqui me aceitou e eu irei começar na próxima segunda, farei medicina veterinária.
Caminho até a mesa e sento ao seu lado. É estranho porque quando saí da cidade ela tinha sido aceita em uma faculdade de veterinária, por que será que veio para cá? E depois de tanto tempo?
— O que houve? — Pergunto, suavemente.
Seus olhos brilham, mas dessa vez o brilho é diferente e lágrimas começam a brotar.
— Você não soube? — Sua voz fica embargada.
Nego. Se alguma coisa tivesse acontecido minha mãe me contaria. É a Hayley minha ex-melhor amiga.
— Eu sofri um aborto, mas antes disso eu tinha largado a faculdade para ter meu filho e eu estava disposta a mudar todos os meus planos por ele. Depois que ele se foi... você também não estava mais lá e eu não tinha mais ninguém.
— Por que não me ligou? — Pergunto, surpreso.
Suas lágrimas escorrem pelo seu rosto.
— Eu tentei, sua mãe me deu seu número depois de eu ter pedido várias vezes, mas quando eu tentei ligar para você quem atendeu foi uma mulher que riu na minha cara.
Como? Eu não tinha ficado com ninguém desde que eu saí da cidade e minha mãe não daria um número errado de propósito para Hayley... para ela não, se fosse a Alexis sim e eu até entenderia, mas ela não.
— Hayley, eu não sei o que aconteceu, mas desde que eu saí da cidade não fiquei com nenhuma mulher, talvez minha mãe tenha se enganado quando deu o número, ou alguém trocou ele, não sei — Eu me abaixo a sua frente pois seus olhos estão voltados para o chão e as lágrimas continuam caindo — Desculpe-me, eu juro que não fiz isso e se eu soubesse que você estava com problema teria ajudado você.
Seguro suas mãos que estão geladas e tremendo, ela sorri e me abraça. Minha história com a Hayley é ainda mais longa do que a minha história com Alexis. Hayley foi minha melhor amiga antes, durante e depois das drogas. Mesmo que antes das drogas eu não acreditasse muito por sermos de muitos totalmente diferentes, mas depois que aprendi a gostar do mundo dela e ela do meu, passei a acreditar no famoso ditado: "Os opostos se atraem".
Alguém bate na porta, antes de ir abrir pego uma caixinha de lenços de papéis na gaveta do armário e deixo-os com Hayley, enquanto abro a porta e encontro uma Alexis zangada.
— Oi, Ian — Ela tenta sorrir.
— Oi Alexis, quer alguma coisa?
— Claro, sempre quero. Mas atualmente quero só que a Hayley vá nos ajudar na mudança.
Ouço passos atrás de mim e vejo que Hayley está com o rosto lavado agora e exibe um belo sorriso que a deixa mais atraente.
— Eu já estou indo, Alexis — Hayley avisa e Alexis revira os olhos saindo — Ian, foi bom conversar com você. Isso me faz lembrar dos velhos tempos.
— Claro, quando precisar você sabe onde me encontrar — Ofereço e ela beija minha bochecha me abraçando em seguida — Se quiser desabafar, sou um ótimo ouvinte.
— Com certeza deve ser, tenho até ciúmes do seu paciente. Eu vou aceitar e preciso que você me ajude a ter coragem de dizer ao pai do meu filho o que aconteceu.
— Sim, sei como deve estar sendo difícil para você.
— Ah e eu já ia me esquecendo, elas querem fazer um jantar para todos da vizinhança, pelo menos os mais próximos. Vai ser depois de amanhã às 8h e eu iria adorar se você fizesse companhia a mim.
Aceito com um aceno. Hayley caminha e espero ela sair do meu campo de vista para poder fecha a porta. Ela olha duas vezes para atrás e acena para mim, seu sorriso permanece por um bom tempo em seu rosto.
Eu não sinto falta do meu passado, mas as vezes reencontrar alguém que fez parte dele faz eu me sentir bem e feliz por ter me tornado outra pessoa.
Meu telefone toca vejo no identificador de chamadas que é do Hospício Santi's, espero cair na caixa postal como da última vez para ter certeza se é algo importante ou nada demais.
— Bom Dia, Dr. Price — É a voz de Bridget — Bem, eu nem sei o que dizer depois do que fiz aquele dia, mas precisamos conversar por telefone, ou pessoalmente, que seja, mas precisamos conversar, Ian — Silêncio — Sinto muito, eu não sei se você está em um relacionamento, se está deve ser por isso que está me evitando. Ah, e não se preocupe não aconteceu nada com a Catarina.
Ela desliga, como eu disse eu ainda não decidi o que irei fazer com o que aconteceu.
Tranco as portas da casa e subo para o andar de cima, deito na minha cama para ler um livro e acabo caindo no sono. Sonhei com Catarina, como ela seria sem aquele moletom que cobre todo o seu corpo.
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"Ela está vestindo um grande vestido vermelho, justo na cintura e largo após as coxas, tem uma pequena abertura na coxa esquerda até a ponta do vestido mostrando sua perna. Catarina está linda. Ela é linda. E está no topo de uma escada que abre alas para a direita e a esquerda com mais lances de degraus.
A sua direita há dois homens jovens, bem vestidos e sorrindo para ela com afeto. A esquerda há uma mulher de preto e um homem mais velhos de smoking. Olho ao redor e vejo que estou em um grande salão de mármore. O piso é marrom, as paredes são brancas com uns pequenos detalhes escuros.
As pessoas no salão inteiro estão bem vestidas com roupas elegantes e muito bonitas. Ao fundo ouço quando começa a tocar uma sonata pouco conhecida, chamada "The Last Butterfly" de Wodkah e um dos garotos a direita dela desce ao seu encontro estendendo o braço para que ela o segurasse. Seu cabelo cai como uma enorme cascata negra sobre seus seios.
Assim que ela fica diante de mim, ela sorri.
Catarina estende a mão para que eu a segure, e logo começamos a dançar ao som suave da música. Enquanto todos ao redor também fazem o mesmo.
— Dr. Ian Price, nunca imaginei que o veria aqui.
Olho espantado para ela, mas essa voz calma e doce não tinha saído de sua boca. Mesmo assim tenho certeza de que ela quem está falando sem mexer a boca.
— Onde estamos?
Dou mais uma olhada em volta e vejo um casal dançando ao nosso lado, o homem vira na nossa direção e então noto que metade de seu rosto está composto apenas pela carne viva, sem pele. Consigo ver sua mandíbula e onde seus dentes começam. Seus olhos estão esbugalhados, mas estão assim porque não há nada para cobri-los.
— Isso eu não posso dizer. E não se preocupe ninguém aqui fará mal a você — Ela sorri e encosta sua cabeça em meu ombro.
— Por que estou aqui?
— Eu não sei, nunca apareceu alguém aqui de verdade — Ela mexe sua cabeça, tentando encontrar uma área confortável — Todos eles estão mortos.
Sua voz sai como um sussurro.
Passo meus olhos novamente pelo salão inteiro e noto agora que falta alguma coisa em cada uma das pessoas ali. Alguns, um pedaço da mão, outros sem um olho, com a boca escancarada e alguns estão sem as pernas.
— Não me diga que você é a noiva cadáver? — Sugiro, quase acreditando na minha hipótese.
Ela ri alto, negando com a cabeça.
— Não, essas são as pessoas que morreram na cidade de Santis Lorde, quando a praga chegou.
— Como assim? — Pergunto, incrédulo.
— Não tem como eu contar aqui. Eles podem estar mortos, mas escutam melhor do que qualquer vivo.
Catarina segura minha mão com firmeza e me guia para fora do salão para um enorme corredor de paredes emolduradas por desenhos elegantes que se assemelham as ondulações de conchas. Há quadros pendurados nas paredes e luzes.
Ela entra em uma sala de portas duplas mostrando um escritório. Há uma escrivaninha de madeira e uma cadeira do lado direito, do esquerdo há um sofá e duas poltronas pretas, mais à frente na parede tinha um grande quadro que exibia uma pintura muito sombria. Aproxima-se do quadro e o observa com um olhar triste.
Quando me aproximo lembro da história que minha mãe me contou sobre a escuridão que caiu sobre Santis Lorde. No centro do quadro está um homem e uma mulher sobre um pódio reto como se estivessem sobre uma árvore caída e debaixo desse pódio há pessoas com uma expressão de agonia e dor. o homem e a mulher estavam felizes, mas as pessoas sofriam com alguma coisa.
E depois de prestar bastante a atenção reparo que algumas delas tinham metade do rosto sem pele como eu vi no salão. Assim que chego mais perto ver ouço alguém bater na porta com brutalidade.
— Catarina, ele está vindo! — Uma voz familiar avisa e o rosto dela muda de expressão. Está com medo — Mande ele embora, agora!
Minutos depois, rápido demais outra voz diz:
— Catarina, o que está fazendo aí? Sabe que eu não gosto quando você e o Li... — Antes dele terminar Catarina me puxa para si e começa a cantarolar baixinho no meu ouvido me impedido de ouvir o nome que o homem está gritando.
— Você precisa ir — Ela diz.
— Como?
— Acorde, Ian! Abra os olhos — Ela se afasta de mim se aproximando da porta — Agora!
— Quando irei vê-la novamente?
— Na próxima consulta — Ela sorri.
O homem do lado de fora continua a esbofetear a porta e a gritar o nome de Catarina.
— E quando irei ouvir sua voz? — Pergunto, pois, sua voz é diferente da que eu imaginei para ela. Uma voz doce, mas confiante e firme.
— Isso eu não sei responder, mas precisa acordar, Ian! — Sua voz sai como uma súplica.
Fecho meus olhos e me sinto sendo jogado em um buraco e depois fico sem ar para respirar..."
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Acordo e me encontro no meu quarto com o livro sobre o meu peito. Olho para fora, está de noite. Levanto e olho pela janela, o caminhão de mudança não está mais lá, mas as luzes da casa da frente estão ligadas.
Tomo um banho e vejo a hora, fiquei dormindo quase onze horas e aquele sonho parecia tão real. Quando ela tocou minha mão, quando deitou no meu ombro, os sons da sonata tocando ao fundo e as pessoas... os mortos como ela os chamou. O que será que Catarina esconde de mim? O que ela é? Não estou louco eu ouvi a voz dela, mas sua boca não se mexeu em nenhum momento.
Não consegui dormi nos dias seguintes. Eu tentei várias vezes durante o dia e até mesmo a noite sonhar novamente com Catarina para saber mais sobre aquela história da praga. Ainda não acredito no que minha mãe disse, mas é interessante. Tentei também lembrar da voz que eu ouvi pedindo para Catarina me mandar embora antes de começarem a bater na porta com brutalidade e eu não tive sucesso. Não fiquei muito em casa para não acontecer de uma das minhas novas vizinhas aparecerem sem serem convidadas, então passei um bom tempo na lanchonete do centro. Uma lanchonete branca com detalhes vermelhos e pretos. O movimento sempre é calmo durante o dia e de tarde, mas no almoço não é assim, há tanta gente que não consigo respirar direito.<
Catarina não me contou nada sobre o homem que ela tinha desenhado, inclusive quase me fez perder a cabeça por alguns instantes, quando seus olhos me cativaram por um bom tempo. Assim que saio do Hospício percebo que minha respiração está diferente, claro, fui acusado de ter abandonado meu filho que eu nem sabia que tinha. Pelo menos para Catarina eu tenho um filho, ela deixou claro que não sonhou com a mãe da criança, mas que tentaria. Dirijo por mais tempo do que costumo dirigir, pois meus pensamentos voam dessa vez. Tento ao máximo me concentrar na estrada, mas eles parecem ter vida própria colocando momentos da minha vida que já vivi na minha cabe&c
— Se você aceitar jantar comigo — Sugiro. Seus olhos ganham um brilho esperançoso, então sem dizer nada apenas sorrindo ela entra. — Eu já tinha feito o jantar e eu sempre faço para mais de uma pessoa. — Eu imagino, Ian. E sei também que você cozinha muito bem. Entro na cozinha e coloco um prato no balcão para que ela se sirva da comida que está no fogão, eu não me sinto na obrigação de montar uma mesa para jantar sendo que apenas eu irei comer. Hayley pega o prato enquanto ai
Não há remetente na carta, sem um nome no qual eu possa ter certeza que a carta seja verdadeira, talvez a senhora da livraria saiba o que pode estar esperando por mim assim que eu ler esse livro, mas não voltarei a ver ela para que me olhe como me olhou hoje. Talvez eu esteja completamente encrencado. Depois de deixar o livro de lado eu acabo me sentando para fazer a lista dos possíveis lugares nos quais posso levar Catarina, não sei se serão os melhores lugares para que ela veja, mas escolho os pontos turísticos da cidade e as lanchonetes mais calmas também. Meia hora antes do combinado para ir ao jantar na casa das vizinhas eu decido tomar banho, não consegui ler o livro, mas tenho certeza de que a curiosidade vai ficar martelando na
Como alguém ficou sabendo sobre essa história para poder escrever esse livro? Pelo o que entendo, essa foi a peste que fez Santis Lorde se tornar a cidade sombria que ela é hoje. Ainda não sei como fez ela ser abandonada, quase uma cidade fantasma e também não sei o que eu, ou melhor, Catarina tem a ver com essa história? E porque ela estaria em um salão lotado de pessoas mortas? # # # # # Passei o resto da semana deitado, em pé e sentado, mas não larguei o livro nem por um segundo. Consegui adiantar muita coisa, li moti
A campainha está tocando quando percebo que lera durante o dia inteiro. Minha barriga reclama de fome, meus olhos ardem e minha garganta está seca. O livro está me consumindo por inteiro, passei os dias da mesma maneira sem graça e viciante lendo sem parar. Levanto-me da cama para atender a porta. Antes de descer passo uma água no rosto para disfarçar as olheiras profundas de cansaço. Vejo de relance o sol que se ponhe ainda no horizonte e repentinamente sinto como o dia está frio, porque o piso do corredor está gelado e a janela aberta. Novamente a campainha volta a tocar quando chego ao pé da escada, mas ao abrir a porta não encontro nenhuma sombra. Nenhum ser humano. Ninguém. Olho para a área da frente e pr
Ao chegar em Santis Lorde acelero exageradamente a velocidade do carro para não chegar atrasado, por sorte assim que estaciono e olho no relógio, faltam apenas dois minutos para as oito. Pego meus papéis e minha pasta onde o livro está. Entro sem bater na porta e encontro no balcão da recepção as três garotas que já me ajudaram ao chegar no hospício, Bridget é a única que sorri, Blondie revira os olhos e Samanta apenas vem até mim com os papéis nas mãos. — Bom dia, Dr. Price — Ela finalmente sorri, alegre demais. — Bom Dia, Samanta — Pego os papéis e devolvo um sorri um pouco mais cansado
O caminho que pego fica do lado oposto ao que eu passo quando saio da cidade. Mesmo não conhecendo esse lado, meu coração palpita rapidamente cada vez que me aproximo da floresta densa e escura. Acabo levando isso como um sinal de que encontrarei o que procuro. Quando a estrada abre para uma trilha na floresta com espaço suficiente para o carro passar, pego essa direção e vou até o fim. O canto dos pássaros é assustador durante o caminho e cada metro percorrido me deixa mais inquieto. Passo por uma casa grande e malcuidada, mas muito bem estruturada, e me lembro do livro automaticamente. Então paro e desço do carro. A casa é grande mesmo e há ga