Epígrafe: Quanto mais você se destrói por fora, mais as pessoas vão perceber o quanto elas te destroem por dentro. — Ian Price.
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"A maioria das pessoas acredita que a escolha de qual faculdade cursar é escolher a profissão que vai fazer você ganhar dinheiro – não... na verdade, que fará ganhar muito dinheiro.
Venho de uma família rica e por isso não tive problemas em escolher uma profissão que me encaixasse. Inclusive, por ter sido sempre a ovelha negra da família eu meio que já estava destinado a ferrar com tudo escolhendo o caminho errado.
Já me envolvi com drogas e bebidas em excesso, e por esse motivo meus pais, junto com uma sugestão minha, me colocaram em uma clínica de reabilitação.
A princípio odiei, mas quando minhas consultas com o psicólogo começaram, me apaixonei em descobrir o que se passava na cabeça de outras pessoas e entender seus pensamentos. Foi como uma revelação para mim.
Escolher Psicologia me fez ser visto com outros olhos pela minha família. Meu pai me queria cursando Direito para formarmos "A família perfeita" – o que não somos. Não o culpo, minha irmã mais velha é advogada, meu irmão do meio juiz e meus pais... como dizer que eles são pessoas importantes em uma cidade que fugi quando tive a chance?
Bom, parece que eu não tive o apoio de ninguém, mas tive, minha mãe, a mulher mais incrível que existe. Por mais que ela se mostrasse feliz por eu ter feito minha escolha sozinho, acabou sendo forçada a me persuadir a desistir. Eu via isso nos olhos dela quando me perguntava mais de uma vez a mesma coisa e se desligava do mundo com muita frequência. Mas nada me faria mudar de ideia.
Eu tive amigos, uma vida nada agradável, uma família horrível e estava na hora de ir embora.
Meu pai não me suportava e nem eu conseguia mais viver na mesma casa que minha família.
Um dia, com as chaves do meu carro peguei a estrada sem um destino especifico, pelo menos até perceber que dentro do porta-luvas estavam as chaves da casa que minha mãe havia pagado para mim em uma cidade longe de deles.
Eu começaria de novo e sozinho. Conseguiria um emprego, teria o sossego que tanto almejei e consultaria em casa, mas antes precisava de uma especialização.
Havia uma vaga de psicólogo na cidade vizinha, no Manicômio de Santis Lorde.
Após ter aceitado o trabalho por telefone, ouvi dos vizinhos histórias dizendo que ninguém entrava naquela cidade a muitos anos, nem mesmo para visitar.
Santis Lorde não tem uma boa fama. As pessoas têm medo de entrar e nunca mais conseguir sair, temem até mesmo os moradores que se assemelham com fantasmas. Ninguém os via, mas sabiam que estavam lá.
Meu nome é Ian Prince e estou a caminho de uma vida nova. "
Chego a cidade e me deparo com um clima estranho. O céu está nublado e não há pessoas nas ruas, nem no trânsito ou qualquer barulho de carro. Uma verdadeira cidade abandonada. Nunca entrei em uma cidade tão calada, onde o vento faz mais barulho do que as pessoas. Encontrar o Manicômio não foi difícil, ele é afastado e cercado por imensas árvores e por um solo escurecido que faz parecer que está de noite às dez horas da manhã. Aceitei um serviço semanal onde tenho que aparecer todas as quartas, mas decidi vir antes conhecer o ambiente onde terei que trabalhar, observar os pacientes e escolher um que eu pudesse tratar. Eu pensei que seria fácil, que não teria muito o que fazer, que a cidade fosse calma, serena e bem luminosa, mas tudo aconteceu ao contrário. – Sim, se ele é o único que não é barulhento e não é agressivo deve ser o mais apto a sair daqui. Agora parece que ela está sem ar. – Desculpe Dr. Price, mas não tem como ele querer sair daqui – Ela suspir
Demoro mais um pouco antes de voltar para casa. Fico um tempo a mais lendo a ficha da garota. Não tem como descrever o que passou na minha cabeça no momento em que li as primeiras páginas. Discórdia? Pode até ser. Arrependimento? Não chega a tanto. Dentro do carro fico tão imerso nos meus pensamentos e ideias que nem percebo que o rádio está desligado. Sinto-me melhor assim que saio da cidade nebulosa de Santis Lorde para uma claridade sem fim que é a cidade onde moro. Suas árvores são de um verde claro, seus trocos marrons, há pássaros que cantam nas ruas, pessoas andando, caminhando, correndo ou pedalando. É completamente o oposto daquela cidade. Eu não quis dar ouvidos aos comentários, mas eu não vi ninguém além dos funcionários do manicômio nas ruas.
Levanto às 6:30 da manhã, tomo um banho relaxante passando e repassando várias vezes o plano que criei antes de dormir. Serei rápido hoje e não a forçarei a nada para conseguir a confiança dela, já que seu histórico diz que não tem muita confiança em ninguém e que agride muitas pessoas sem que elas tenham feito algo contra ela, menos o tal paciente Liam que parece adorar irritá-la. Não demoro muito para comer, normalmente de manhã não me dá muita fome, só como porque minha mãe fez eu me acostumar com o hábito de comer pouco durante o café, ela me dizia que é melhor do que nada. Pego a estrada às 7:15 eu havia marcado de chegar às oit
Meu relatório tinha dez linhas, isso porque decidi escrever mais do que havia para escrever, se eu quisesse escrever a verdade do que realmente aconteceu na consulta daria muito menos do que dez linhas, mas são dez linhas muito bem-feitas. Decidi que ficaria mais um pouco para observar Catarina na ala de jogos, conversei com John porque foi ele quem defendeu Catarina das ofensas de Samanta. Ele não falou muito porque precisava prestar a atenção nos pacientes. O silêncio de Catarina era tão profundo que eu poderia entrar nele e descobrir muito mais do que ela quer que a maioria de nós saibamos. Contei os dias para voltar na semana seguinte e decifrar mais histórias atrás daquele silêncio. Passei a semana estudando sobre Catari
Chego em casa com muito tempo de sobra para a hora que minha mãe havia marcado de chegar. Ela falou que passaria em uma cidade antes de vir até aqui, isso me dá tempo para fazer sua comida favorita, pelo menos um prato dela já que não sou um cozinheiro nato para fazer vários pratos franceses. Consigo fazer o famoso"Coqau Vin"e um pouco de arroz para acompanhar. Minha mãe pode ser uma pessoa refinada, mas gosta de comida caseira. Salada de beterraba e repolho roxo, vinho da safra favorita dela (esse foi ela quem pediu). Enquanto oCoqau Vinestá no fogão preparo a mesa do almoço do lado de fora da casa. Tem uma porta de vidro na cozinha que leva para o quintal. Nele há uma árvore bonita onde tem um bala
Noite passada eu não tinha conseguido dormir e o problema foi que imaginei, ou melhor, sonhei em como seria minha vida se eu decidisse ter algo com Bridget e não consigo me imaginar assim. Com ela tudo parece estranho. Não que ela não seja bonita, ela é muito bonita, mas não me imagino tendo uma vida com alguém, parece que depois da Alexis eu acabo me saindo mal no amor. Eu não quero parecer rude, mas agradeço por Catarina não ter tido algum problema durante a semana que me fizesse ir até lá e ter que decidir logo o que falar com Bridget. Na verdade, tive que me preocupar com algo novo, melhor dizendo, pessoas novas. Como minhas novas vizinhas da frente. Eu não sei o que aconteceu. Só me lembro que dur
Não consegui dormi nos dias seguintes. Eu tentei várias vezes durante o dia e até mesmo a noite sonhar novamente com Catarina para saber mais sobre aquela história da praga. Ainda não acredito no que minha mãe disse, mas é interessante. Tentei também lembrar da voz que eu ouvi pedindo para Catarina me mandar embora antes de começarem a bater na porta com brutalidade e eu não tive sucesso. Não fiquei muito em casa para não acontecer de uma das minhas novas vizinhas aparecerem sem serem convidadas, então passei um bom tempo na lanchonete do centro. Uma lanchonete branca com detalhes vermelhos e pretos. O movimento sempre é calmo durante o dia e de tarde, mas no almoço não é assim, há tanta gente que não consigo respirar direito.<
Catarina não me contou nada sobre o homem que ela tinha desenhado, inclusive quase me fez perder a cabeça por alguns instantes, quando seus olhos me cativaram por um bom tempo. Assim que saio do Hospício percebo que minha respiração está diferente, claro, fui acusado de ter abandonado meu filho que eu nem sabia que tinha. Pelo menos para Catarina eu tenho um filho, ela deixou claro que não sonhou com a mãe da criança, mas que tentaria. Dirijo por mais tempo do que costumo dirigir, pois meus pensamentos voam dessa vez. Tento ao máximo me concentrar na estrada, mas eles parecem ter vida própria colocando momentos da minha vida que já vivi na minha cabe&c