Em Porto Alegre, o primeiro ônibus daquele dia com destino à estação da América do Sul iria partir às oito horas. No momento em que o motorista deu a partida, uma forte descarga elétrica atingiu o veículo empurrando-o em direção à parede. Mas como não havia mais para onde ir, o veículo foi perdendo velocidade até que todos os seus painéis e luzes se apagaram de vez, parando-o no meio do caminho.
O motorista não soube o que dizer aos passageiros, tentou tudo o que foi possível para religá-lo e nada aconteceu, o veículo estava morto. Restava apenas uma coisa a fazer e, depois de pedir desculpas aos passageiros outra vez, foi procurar o diretor.
– Temos um problema grave – disse ele alguns minutos depois, invadindo a sala de Eliseu. – Meu ônibus com destino à América do Sul parou de repente. Já fiz tudo o que foi possível e a passagem continua bloqueada.
Já havia outro rapaz na sala de Eliseu quando o motorista entrou.
– Nós já sabemos! – disse Eliseu mu
Quando Ana voltou à universidade, mandou chamar as duas equipes de caçadores disponíveis, a de Jorge e a de Everton. Trinta minutos mais tarde as duas equipes aguardavam por Ana no pavilhão, onde havia vários corredores rodeados por gaiolas de diversos tamanhos. Eles estavam próximos a filhotes de pachycephalosaurus, um dinossauro herbívoro que viveu na América do Norte no final do cretáceo e tinha um calombo que se ergue acima e detrás das órbitas oculares, com várias projeções ósseas redondas atrás do calombo e saliências ósseas pelo focinho. Um pachycephalosaurus adulto chegava a medir oito metros de comprimento e, por isso, Ana nunca os trazia para a universidade. As maiores gaiolas usadas pela universidade tinham seis metros de comprimento por quatro de largura e dois de altura. Em contrapartida, animais como o protoceratops, um dinossauro herbívoro que viveu no final do período cretáceo na Ásia, mesmo os adultos cabiam em gaiolas com
Já passava das nove horas da manhã quando Luís percebeu que não daria tempo para tirar todo aquele entulho ao redor da plataforma do metrô. Então ordenou que abaixassem o local por onde ele passaria, limpando apenas uma parte das beiradas para que pudessem passar e subir nele. Quando o metrô chegou era pontualmente nove e meia. A tempestade já havia passado, mas continuava chovendo. Ele surgiu de repente, materializando-se ao longe como se estivesse vindo de outro mundo. O brilho azulado em volta dele, refletido pela eletricidade atingida pela água da chuva, reforçava essa ilusão. Era como se o metrô atravessasse uma barreira de plástico, que ia se espichando e moldando-se a ele, até arrebentar no momento em que parava na estação, como se tivesse saído de um túnel invisível. Uma escavadeira teve que se afastar o mais rápido que lhe era possível, chacoalhando por cima do entulho até deixar a plataforma e desviar para um lado, evitando a colisão. Já o metrô quando parou estava
Como previram no dia anterior, os ecologistas sabiam que se quisessem alcançar seus objetivos, a permanência deles ali seria longa e difícil, mas nunca esses objetivos estiveram tão distantes quanto naquela manhã. Para começar, caía uma terrível tempestade como há muito tempo não viam e, para seu pesar depois daquele espetáculo elétrico que se espalhou por toda estação, souberam que o prédio pelo qual chegaram havia desabado. Quando tudo começou, alguns hóspedes saíram em busca de uma explicação para o que estava acontecendo e mesmo depois, quando começou a chover, ainda havia hóspedes saindo atrás da origem dos terríveis estrondos que ouviram. Já os ecologistas, que pareciam ter nervos de aço, preferiram manter a calma e continuar na pousada. Sabiam que logo todos estariam comentando e ainda tinham certo receio de se expor. Agora que a tempestade era forte, todos estavam voltando e a queda do prédio em frente tornou-se o assunto principal. Naquele momento, os ecolog
Fazia mais de cinco anos que Greice trabalhava na estação de Porto Alegre. Depois que as linhas com a estação na América do Sul ficaram mudas, ela e seus colegas fizeram de tudo para descobrir o que havia acontecido. Ligaram diversas vezes para a estação na América do Norte, na Ásia e para diversas estações ao redor do mundo na época atual, sendo que de todas elas recebia a mesma resposta. “Também tentamos comunicação com eles desde cedo e ainda não tivemos nenhuma resposta para o que está acontecendo.” Eles também recebiam muitas ligações, cujas perguntas não sabiam responder. E assim, a manhã daquela sexta-feira passou sem que ninguém soubesse de nada. Greice não sabia mais o que fazer, Eliseu já aparecera duas vezes cobrando uma resposta: “Preciso saber o que está acontecendo e o que devo fazer, antes que o próximo ônibus saia”, berrava Eliseu da porta. E então chegava o horário de outro ônibus partir, e mais outro, e mais outro, e nada de respostas. Eliseu então
Diferente de Valdir e Alex, que compraram um terreno e mandaram construir suas casas, Ana preferiu morar num apartamento. Morava no sétimo andar de um prédio com oito andares. Esse apartamento pertencia ao primeiro prédio residencial construído ali, onde ela mora ainda hoje e os últimos acontecimentos apenas lhe davam a certeza de que fizera uma ótima escolha. Conhecia os horrores daquela terra como ninguém e, apesar de já existir o manto elétrico na época em que se mudou para a estação, não confiaria sua vida naquela ilusão. Quando Ana iniciou o seu trabalho, ela gostava do que fazia, mas a duras penas percebeu que para que seu trabalho tivesse êxito, aqueles animais deviam ser respeitados. Sua experiência naquele mundo a fizera acreditar que a natureza fez dos dinossauros os únicos animais capazes de enfrentar o homem com igualdade. Ana os temia, apesar de jamais demonstrar e ser capaz de controlar seu medo, por isso desejava viver num lugar bem alto, para que eles
A chuva daquela sexta-feira só parou na madrugada de sábado. Quando o dia amanheceu, o céu ainda estava nublado, mas não choveu mais durante todo o fim de semana. Na manhã de sábado acabaram de retirar o entulho da área do metrô e constataram que a plataforma, apesar de danificada, ainda podia ser utilizada. Se já era difícil encontrar um local para improvisar a partida dos ônibus, no caso do metrô isso se tornava impossível, pois eles precisavam de espaço e o caminho por onde passavam atravessava a estação de um lado a outro. Quando o metrô chegou para levar os turistas naquele dia, Alex pediu que no domingo viessem dois, um pela manhã e outro à tarde. A nebulosidade diminuiu na tarde de sábado de forma que o dia terminou ensolarado e agora, sem o manto elétrico, outro problema surgia. A temperatura neste período era mais elevada do que a que estamos acostumados e o manto elétrico sempre fora mais eficiente que ar condicionado, por isso apesar de estarem entrando no inverno
O trabalho de retirada dos escombros prosseguiu sem folga no domingo. Chegaram à conclusão de que o prédio deveria ser reconstruído. Outros dois metrôs partiram, permitindo que outro grupo de turistas continuasse viagem. Com tudo isso acontecendo, Alex mal teve tempo para descansar naquele fim de semana. No domingo a temperatura continuou aumentando. Como o próprio manto elétrico se encarregava de manter a temperatura agradável dentro da estação, não havia ar condicionado, nem ventilador, mas mesmo que tivesse não poderiam ser usados, porque estavam sem energia elétrica. Agora, a única coisa à qual podiam recorrer para se refrescar do calor quase insuportável era a água das piscinas. Uma lista com os itens mais necessários foi redigida e entregue a um dos pilotos, pedindo que no dia seguinte enviassem um metrô de carga trazendo os equipamentos da lista. Nesta lista foram incluídos materiais de reforma, alimentos não perecíveis e, quando soube dela, Valdir incluiu div
Como não sabia em que quarto Berenice estava hospedada, Sebastião teve que ir até a recepção pedir informações. Assim que chegou em frente ao balcão, lembrou-se que nem o nome dela ele sabia, o que dificultaria um pouco as coisas. Preferiu perguntar por uma jovem de cabelos longos, escuros e ondulados, usando um vestido branco, que havia saído há pouco do restaurante acompanhada pelo marido, um pouco mais alto que ela, cabelos curtos e escuros... Não precisou continuar. Para sua sorte, a recepcionista os tinha visto saindo do restaurante em direção à escada, então deu ao segurança todas as informações que precisava. Apesar do sucesso que obteve com as informações, Sebastião deixou a recepção com um ar desapontado, agora eram mais vinte andares que teria que subir pelas escadas. Ao voltarem para o quarto depois da briga, Inácio e Berenice ficaram em silêncio. Quando Sebastião bateu à porta do quarto deles, nenhum dos dois havia dito uma única palavra ainda. Inácio sus