-- Tem um jeito de salvá-lo, mas preciso ir para o deserto o mais rápido possível – Sahira falava para o grupo de curandeiros – Tem alguém que possa me levar até a vila dos caracais?
-- O que tem lá que possa curar o Sirhan? – Iana perguntou. Sahira, porém, fizera um juramento aos gatos do deserto.
-- Não posso dizer, mas vai ajudar. Tenho certeza.
A maioria dos felinos olhava para Sahira com desconfiança, achando que podia ser uma brincadeira.
-- Eu posso levá-la – algu
-- O quê? – Sahira balbuciou – Não, não pode ser verdade. Ela sentiu as patas tremerem como gelatina. Não acreditava, não queria acreditar que Sirhan tivesse morrido. Não conseguiu aceitar que fora incapaz de ajudar o felino que fez tanto por ela. Tudo foi inútil no final.Sahira começou a chorar. -- Ora, por que esse desespero todo? – Enzi perguntou – É só fazer outro pedido, Sahira. -- Como assim? O que se pode fazer se ele já morreu? -- Se desejar que ele
Arátor correu durante horas. Quando aquelas onças invadiram Xangô e começaram uma briga com os felinos de Ekom, o jaguarundi aproveitou o caos para fugir e se distanciar o máximo possível. Desde que aceitara uma aliança com Ekom, sabia que ele não era muito confiável, mas não esperava ser traído daquela forma.Mas o próprio Arátor não pretendia trabalhar para ele para sempre de qualquer forma. Quando percebeu, chegou ao Rio Verde, e faltando ainda algum tempo para amanhecer, o felino se deitou ali mesmo e imediatamente pegou no sono. Ao nascer do
Depois que a festa acabou, ao nascer do sol, Sahira levantou com o café da manhã à espera ao seu lado. -- Como está nossa pequena heroína? – Iana chegou quando ela terminava de comer. -- Muito melhor. Estou pronta para ir para casa. Um grupo de quatro leoas aguardava para levar Sahira. Sirhan também estava lá para se despedir. -- Como você vai ficar sem mim por perto para te encorajar? – a gata brincou. O leão lambeu suas costas.
O deserto era um enorme mar de areia, imerso em um silêncio quase tão forte quanto o calor do sol da tarde, quebrado apenas pelo soar ocasional do vento. O pelo cinza listrado de Heru era quase um farol no meio da areia clara, mas ele mantinha-se encolhido na sombra de um cacto, sem saber que havia alguém às suas costas. A jovem gata preparou o bote, a cauda agitada, os músculos retesados e balançando os ombros, e pulou. Heru miou de susto e os dois rolaram pelo chão. -- Sahira, saia de cima de mim! – o pequeno macho exclamou e se debateu, mal humorado. A gatinha de pelos negros se afastou sorridente. -- Você está chateado porque eu ganhei. Tocaiei você,
Sahira sempre ficava deslumbrada com a visão de Iana, e como seu tamanho e postura causavam uma impressão de imponência. A leoa vivia ali com os gatos desde que Sahira era um bebê. A gata lembrava-se que quase todos os gatos adultos saíram de suas tocas na noite em que Iana chegou, completamente exausta depois de atravessar o deserto sozinha. Sahira foi a única da ninhada curiosa o bastante para espiar fora da toca e dar uma olhada na estranha, o pelo alvo desgrenhado e sujo, os olhos inchados, talvez de ter levado areia no focinho. Quando Femi pegou a filha prestes a sair, deixou-a de castigo por uma semana.
Femi parou perto da entrada da toca e se sentou. Sahira engoliu em seco antes de parar ao seu lado. Começou a se desculpar: -- Mãe... -- Sahira, você não vai ser a feiticeira chefe da família depois de mim. -- O quê?! Por quê? -- Você me desobedeceu, se pôs em perigo e Heru também. Não pode ser boa maga sendo tão imprudente, então não me deixa escolha senão nomear Sef como meu sucessor.  
-- De onde aqueles grandalhões vieram? E por que nos atacaram? – Sahira não parava de perguntar. Ela e Iana estavam andando há um bom tempo, e Bast até já desaparecera no horizonte – Desde quando leões e tigres vivem juntos? Iana suspirou, percebendo que a gata não desistiria até obter respostas, e resolveu explicar: -- É uma longa história, mas também é um longo caminho que temos à frente, o bastante para eu contar. Há alguns anos, bem antes de você nascer, leões do reino de Xangô e tigres de um território chamado Brahma travaram uma guerra. Não importa porque começou ou terminou, mas
Só quando os primeiros raios do sol apareceram no horizonte, Iana procurou uma grande rocha e se deitou à sua sombra. A essa altura Sahira não aguentava mais a sede, e aparentemente Iana também não. Sua língua caía da boca aberta, comprida e seca. Depois de andar a noite inteira e sem água nem comida, nenhum felino duraria muito quando o calor do deserto chegasse ao ápice. Sahira olhou ao redor à procura de algo para beber, e lá longe avistou um oásis. -- Iana, espere aqui, vou procurar água. E saiu correndo antes que ela pudesse fazer objeções.