Sirhan pegou Sahira pelo cangote e a tirou da arena. Ela procurou Arátor no meio do caos que rapidamente crescia.
-- Espere aí...
Conseguiu ver apenas a ponta da cauda alaranjada desaparecendo atrás de um grupo de leões e onças em combate.
A leoa que acompanhava Sef apareceu ao lado de Sirhan, com o pequeno gato na boca também. Os dois correram para o mesmo lugar, e deixaram os gatos perto do tronco ressecado de uma árvore caída.
-- Fiquem aqui – Sirhan orientou, e afastou-se junto da leoa. Sef comento
Os outros felinos mal tiveram tempo de se entreolhar, perplexos, antes que o ligre continuasse: -- Aceitarei minha derrota, mas não renuncio o trono. Ele é meu direito de nascença. Imediatamente os felinos leais a Sirhan protestaram, mas aqueles do lado de Ekom responderam: -- Sua majestade descende do rei. -- Sirhan é mais velho – Kiala retrucou. -- Um bastardo não tem direitos reais, não interessa a idade – um tigre rosnou
Iana, Sahira, Sef e Kiala chegaram primeiro à margem, tentando enxergar algo no meio das águas escuras. As duas onças, Anami e Acir, entraram no rio para procurar, mas antes que estivessem com a água na altura do queixo, Sirhan reapareceu. O coração de Sahira ficou mais leve ao vê-lo emergir e voltar para a margem, ofegante e sangrando. -- Você está bem, Sirhan?! – Iana correu para perto dele com Sahira em seus calcanhares. -- Onde está o Ekom? – alguém lá atrás perguntou. Mais onças foram para a água e nadaram pelos arredores.
-- Tem um jeito de salvá-lo, mas preciso ir para o deserto o mais rápido possível – Sahira falava para o grupo de curandeiros – Tem alguém que possa me levar até a vila dos caracais? -- O que tem lá que possa curar o Sirhan? – Iana perguntou. Sahira, porém, fizera um juramento aos gatos do deserto. -- Não posso dizer, mas vai ajudar. Tenho certeza. A maioria dos felinos olhava para Sahira com desconfiança, achando que podia ser uma brincadeira. -- Eu posso levá-la – algu
-- O quê? – Sahira balbuciou – Não, não pode ser verdade. Ela sentiu as patas tremerem como gelatina. Não acreditava, não queria acreditar que Sirhan tivesse morrido. Não conseguiu aceitar que fora incapaz de ajudar o felino que fez tanto por ela. Tudo foi inútil no final.Sahira começou a chorar. -- Ora, por que esse desespero todo? – Enzi perguntou – É só fazer outro pedido, Sahira. -- Como assim? O que se pode fazer se ele já morreu? -- Se desejar que ele
Arátor correu durante horas. Quando aquelas onças invadiram Xangô e começaram uma briga com os felinos de Ekom, o jaguarundi aproveitou o caos para fugir e se distanciar o máximo possível. Desde que aceitara uma aliança com Ekom, sabia que ele não era muito confiável, mas não esperava ser traído daquela forma.Mas o próprio Arátor não pretendia trabalhar para ele para sempre de qualquer forma. Quando percebeu, chegou ao Rio Verde, e faltando ainda algum tempo para amanhecer, o felino se deitou ali mesmo e imediatamente pegou no sono. Ao nascer do
Depois que a festa acabou, ao nascer do sol, Sahira levantou com o café da manhã à espera ao seu lado. -- Como está nossa pequena heroína? – Iana chegou quando ela terminava de comer. -- Muito melhor. Estou pronta para ir para casa. Um grupo de quatro leoas aguardava para levar Sahira. Sirhan também estava lá para se despedir. -- Como você vai ficar sem mim por perto para te encorajar? – a gata brincou. O leão lambeu suas costas.
O deserto era um enorme mar de areia, imerso em um silêncio quase tão forte quanto o calor do sol da tarde, quebrado apenas pelo soar ocasional do vento. O pelo cinza listrado de Heru era quase um farol no meio da areia clara, mas ele mantinha-se encolhido na sombra de um cacto, sem saber que havia alguém às suas costas. A jovem gata preparou o bote, a cauda agitada, os músculos retesados e balançando os ombros, e pulou. Heru miou de susto e os dois rolaram pelo chão. -- Sahira, saia de cima de mim! – o pequeno macho exclamou e se debateu, mal humorado. A gatinha de pelos negros se afastou sorridente. -- Você está chateado porque eu ganhei. Tocaiei você,
Sahira sempre ficava deslumbrada com a visão de Iana, e como seu tamanho e postura causavam uma impressão de imponência. A leoa vivia ali com os gatos desde que Sahira era um bebê. A gata lembrava-se que quase todos os gatos adultos saíram de suas tocas na noite em que Iana chegou, completamente exausta depois de atravessar o deserto sozinha. Sahira foi a única da ninhada curiosa o bastante para espiar fora da toca e dar uma olhada na estranha, o pelo alvo desgrenhado e sujo, os olhos inchados, talvez de ter levado areia no focinho. Quando Femi pegou a filha prestes a sair, deixou-a de castigo por uma semana.