O primeiro dia de lições havia começado, e Selene estava determinada a se manter discreta. Cada aula era um teste constante de postura, comportamento e controle. A Academia Lupiére não era um lugar de aprendizado comum — era um campo minado, onde qualquer deslize poderia custar caro.
Logo pela manhã, Madame Irina reuniu as jovens no salão principal.
— A essência de uma Luna não está apenas em sua beleza ou graciosidade. Está em sua capacidade de observar, adaptar-se e sobreviver. Hoje, iniciaremos o treinamento de estratégia e dissimulação.
Selene sentiu os olhares das outras jovens sobre si — algumas curiosas, outras desconfiadas. Mas foi um par de olhos em particular que a fez estremecer.
Darius Thornheart estava encostado em uma das colunas do salão, os braços cruzados, observando cada movimento. Ele parecia desinteressado, mas Selene sabia que era apenas fachada.
Madame Irina continuou:
— Uma Luna deve ser capaz de manipular as percepções ao seu redor, convencer um oponente e se proteger sem recorrer à força. Para isso, cada uma de vocês receberá uma identidade falsa e deverá manter sua história coerente enquanto as demais tentam descobrir a verdade. O objetivo é simples: quanto mais convincente sua farsa, maior seu sucesso.
A prova começou. Selene foi a última a ser testada. Ela deveria se passar por uma nobre de outra região, inventando detalhes críveis sobre sua origem.
— De onde você veio? — perguntou Freya, a quem cabia desmascará-la.
— De Eldoria, — respondeu Selene com firmeza. — Meu pai é um embaixador da corte.
— Que interessante — Freya arqueou uma sobrancelha. — E quem é o atual regente de Eldoria?
Selene sorriu.
— Lorde Everard, é claro. Mas imagino que você já soubesse disso.
Freya hesitou por um instante. Não esperava uma resposta tão direta.
Darius, de seu canto, sorriu, como se tivesse se divertido com a troca.
Madame Irina observou atentamente antes de anunciar:
— Arctos, bem feito. Você sustentou sua farsa sem hesitação. Essa é uma habilidade valiosa.
Selene sentiu um alívio silencioso.
Naquela noite, no dormitório, Astrid aproximou-se de Selene, trazendo consigo uma pequena bandeja com chá.
— Você está bem? — perguntou Astrid, colocando a bandeja sobre a mesa ao lado da cama de Selene.
Selene assentiu, mas seu olhar distante denunciava que algo a incomodava.
— Você já está aqui há quanto tempo? — perguntou Selene, tentando sondar a experiência da outra garota, percebendo que ela sempre estava por perto, mas não participava das atividades. Selene logo concluiu que Astrid já era uma aluna admitida.
Astrid suspirou.
— Três anos. E ainda não sou uma Luna.
Selene arregalou os olhos.
— Pensei que as escolhidas se tornassem Lunas rapidamente.
Astrid soltou uma risada sem humor.
— Depende. Algumas são favorecidas, outras precisam lutar por isso.
Selene pegou a xícara de chá, absorvendo a informação.
— E o que vem depois? Quais são os próximos desafios?
Astrid inclinou-se ligeiramente para frente, abaixando a voz.
— O próximo grande teste é o Jogo da Caça. Você terá que provar que pode rastrear, fugir e enganar ao mesmo tempo. Algumas nunca passam desse desafio.
Selene franziu a testa.
— Parece brutal.
— E é. — Astrid bebeu um gole do próprio chá. — Mas você me surpreendeu hoje. Conseguiu enganar Freya sem hesitar. Isso pode significar que você tem talento natural para isso.
Selene desviou o olhar, incerta sobre como se sentir a respeito daquela qualidade. Ela esperava encontrar apenas hostilidade entre as híbridas, mas Astrid parecia realmente querer ajudá-la.
— Eu não esperava encontrar alguém gentil aqui. — Selene admitiu.
Astrid sorriu, divertida.
— Nós existimos. Mas a maioria aprende a não demonstrar.
Selene assentiu, sentindo um novo tipo de inquietação. A academia era um lugar de mentiras e jogos, mas talvez nem todas as híbridas fossem inimigas.
— Agora vamos dormir. Amanhã você terá mais lições, e Madame Irina não gosta de alunas sonolentas.
Selene riu baixinho, permitindo-se relaxar um pouco.
Mas, enquanto Astrid se retirou da área de convivência do alojamento, indo para o dormitório se deitar, Selene não conseguiu sequer pensar em pregar os olhos.
Não sabia o motivo, mas estava preocupada com Darius.
Os dias de teste na Academia Lupiére foram intensos. Selene enfrentou provas físicas exaustivas, treinamentos estratégicos e desafios que exigiam controle absoluto sobre seus instintos. Cada etapa parecia projetada para expor fraquezas, mas ela se recusou a falhar. Com determinação e inteligência, passou por todas as avaliações, surpreendendo até os mais céticos.Quando o último teste chegou ao fim, Selene recebeu seu uniforme oficial da academia. Agora, vestida como uma verdadeira aprendiz de Luna, ela se juntava às demais alunas nas aulas rigorosas de liderança, estratégia e combate. O perigo de ser descoberta ainda rondava seus pensamentos, mas, por enquanto, ela estava dentro.Em seu primeiro dia como aluna oficial, a manhã começou como qualquer outra. Selene se esforçava para acompanhar a aula de etiqueta enquanto Madame Megan corrigia a postura das alunas com um olhar afiado.— Coloquem-se como Lunas. Não há espaço para hesitação ou dúvida.Selene ergueu o queixo, ajustando-se
Selene despertou com a cabeça latejando e o corpo pesado, como se tivesse sido atropelada por uma carruagem. Sua pele ardia, especialmente o braço esquerdo, onde sentia uma dor latejante. Quando tentou se mexer, soltou um gemido baixo.— Senhorita Arctos? — chamou uma voz feminina, suave, porém insistente.Selene piscou algumas vezes até focar na mulher de uniforme da Academia, que a observava com uma mistura de impaciência e preocupação.— Levante-se. A senhora Irina e o senhor Thornheart estão esperando. É hora do exame.O coração de Selene acelerou. O exame de sangue.Ela se arrastou para fora da cama, percebendo que ainda usava a mesma roupa da noite anterior. O frasco de feromônio agora vazio estava em sua bolsa. O que eu fiz? Pensou. Sentia o corpo quente, como se estivesse febril, e cada passo parecia pesado.A funcionária a guiou pelos corredores silenciosos até o laboratório da Academia. Selene tentou ignorar o cheiro doce que exalava de si mesma, mas a intensidade do aroma e
Selene permaneceu enclausurada por dias, presa a um quarto simples e abafado, sem janelas ou qualquer forma de ventilação. O ar pesado parecia saturado pelo cheiro que emanava de sua pele, resquícios de um feromônio que ainda se recusava a desaparecer por completo. Mesmo após o fim do cio, o aroma característico dos híbridos lobo não deixou seu corpo, tornando-a ainda mais evidente entre os outros. O tempo passava em uma névoa indistinta enquanto ela tentava recuperar o controle sobre seu próprio corpo, sobre sua própria vontade. Mas o medo continuava ali, rastejando sob sua pele.Os boatos se espalharam rápido. Em pouco tempo, toda a Academia sabia da híbrida que entrara no cio, algo impensável. O espanto deu lugar ao fascínio, depois à especulação. Muitos a viam como uma aberração; outros, como um mistério a ser decifrado. Suas colegas, que antes a ignoravam ou desprezavam, agora a observavam com um misto de inveja e incômodo. Como era possível que Selene, filha de uma loba solitári
O primeiro baile do ano se aproximava, e a tensão na academia crescia a cada dia. As meninas se preparavam com esmero, escolhendo vestidos luxuosos e maquiagens impecáveis, tudo planejado para atrair a atenção dos alfas. Para elas, era uma oportunidade de conquistar aqueles que governavam o mundo e podiam mudar suas vidas com um único olhar. Mas, para Selene, a expectativa da noite era sufocante.Diferente das outras, ela não tinha a intenção de se tornar um prêmio. Era humana, e humanos não podiam se envolver com híbridos de lobo. O simples toque de um alfa selaria seu destino de forma trágica. Casar-se com um deles significaria sua morte inevitável. Essa era a regra implacável de seu mundo.Mesmo assim, não tinha escolha a não ser comparecer ao baile. Para sua sorte, desde que ingerira a essência com feromônios, o cheiro lupino não sumira, a deixando ao menos segura, já que como estava sendo extremamente observada, sair da cidade Alta para comprar mais essência, era impossível. Na
— É claro que não é humana; se fosse, Selene, você acha que estaria aqui? — Darius sorriu, um brilho desdenhoso nos olhos. Ele se aproximou com calma, mas sua presença dominadora tornava o ambiente sufocante. — Engraçado você ter tanto medo de um alfa. Nunca quis estar com um homem? Sentir prazer?As palavras a atingiram como um golpe, deixando um gosto amargo na boca. Um nó se formou em seu estômago, e, por um instante, Selene sentiu as pernas fraquejarem. Mas não podia ceder. Ele queria exatamente isso: ver sua expressão se desfazer em vulnerabilidade.— Eu… — tentou dizer algo, mas sua voz morreu antes de sair completamente. Humilhação queimava sob sua pele. Como ele ousava?— Nunca se sentiu atraída por um homem? Nem mesmo por um alfa? — Darius insistiu, a voz sedosa, carregada de desafio.Selene desviou o olhar, lutando para manter a compostura.— Eu não sou esse tipo de garota… — murmurou, esforçando-se para manter o tom firme.Ele soltou uma risada baixa, cheia de escárnio.— M
Naquela tarde, o alojamento de Selene fervilhava de animação. As garotas riam e tagarelavam enquanto pacotes luxuosos eram entregues, envoltos em fitas de cetim e embalagens sofisticadas. Cada presente parecia ser um troféu silencioso, um reflexo de status e atenção. Os olhos brilhavam de expectativa, os sorrisos eram largos, mas Selene sentia-se alheia àquele frenesi.Ao entrar no quarto, seu coração disparou ao ver a pilha de caixas sobre a cama. Não eram apenas lembranças triviais. Roupas de grife, sapatos impecáveis, joias reluzentes. Tudo parecia exagerado, excessivo. No meio de tantos luxos, algo prendeu sua atenção: um pequeno envelope repousava ao lado de uma rosa negra, tão perfeitamente preservada que exalava um perfume suave e envolvente.Com dedos hesitantes, Selene pegou o bilhete. A caligrafia era elegante, desenhada com precisão e intenção. As palavras eram simples, mas carregadas de significado:"Para a bela Selene, Que me fez esquecer o mundo por uma noite. Que esta r
Após uma semana do baile, o nome de Aiden Vasquez ainda pairava nos corredores da academia, sussurrado entre risinhos e comentários cobiçosos. Ele era um dos alfas mais influentes e desejados, e o fato de ter demonstrado interesse por Selene não passou despercebido. Era a primeira vez que ele se interessava por alguém e toda a academia estava ansiosa, curiosa para seu próximo passo.A constatação de que ele com toda certeza já havia escolhido sua luna, veio na sexta-feira à tarde, quando Selene encontrou um bilhete delicadamente perfumado em sua mesa. As palavras eram diretas, sem espaço para recusas:"Selene, Gostaria que me acompanhasse amanhã para um passeio. Aguardarei você às dez horas, próximo ao portão principal."Ela segurou o papel entre os dedos, hesitante. A ideia de aceitar o convite fazia seu coração acelerar, mas recusar Aiden Vasquez poderia ser uma afronta perigosa, madame Irina ficaria sabendo e voltaria a persegui-la. No fundo, sabia que sua escolha já estava feita.
O tempo na academia passava mais rápido do que Selene imaginava. Em três meses, ela já se sentia parte daquele mundo, tão diferente de tudo o que conhecia. Não havia mais a sensação de deslocamento ou a hesitação ao atravessar os corredores de pedra. Agora, cada canto do imenso edifício lhe parecia familiar, os rostos antes desconhecidos se tornaram comuns, e as aulas, que antes eram desafiadoras, passaram a ser parte de sua rotina.E, claro, havia Aiden.Havia um mês e meio que saíam juntos. Passeios por bosques floridos, visitas a vilarejos charmosos, tardes tranquilas sob o céu dourado do entardecer. Ele sempre segurava sua mão, seu toque leve e deliberado, como se quisesse que cada momento fosse gravado em sua pele. E naquela tarde, com um sorriso satisfeito, ele lhe prometera algo novo: uma viagem na próxima temporada. A promessa pairava em sua mente, aquecendo seu peito de um jeito que ela não queria admitir.Mas sua vida na academia não se resumia apenas a encontros românticos.