5

Selene despertou com a cabeça latejando e o corpo pesado, como se tivesse sido atropelada por uma carruagem. Sua pele ardia, especialmente o braço esquerdo, onde sentia uma dor latejante. Quando tentou se mexer, soltou um gemido baixo.

— Senhorita Arctos? — chamou uma voz feminina, suave, porém insistente.

Selene piscou algumas vezes até focar na mulher de uniforme da Academia, que a observava com uma mistura de impaciência e preocupação.

— Levante-se. A senhora Irina e o senhor Thornheart estão esperando. É hora do exame.

O coração de Selene acelerou. O exame de sangue.

Ela se arrastou para fora da cama, percebendo que ainda usava a mesma roupa da noite anterior. O frasco de feromônio agora vazio estava em sua bolsa. O que eu fiz? Pensou. Sentia o corpo quente, como se estivesse febril, e cada passo parecia pesado.

A funcionária a guiou pelos corredores silenciosos até o laboratório da Academia. Selene tentou ignorar o cheiro doce que exalava de si mesma, mas a intensidade do aroma era inegável. Quando chegaram à porta, ela hesitou.

— Entre, senhorita Arctos — ordenou a funcionária, empurrando-a suavemente para dentro.

---

Lá dentro, Madame Irina, Darius, e um homem de aparência séria — o médico responsável — esperavam por ela.

Assim que Selene entrou, o ambiente pareceu mudar. O cheiro que ela exalava invadiu o ar, pesado e embriagante. Madame Irina estreitou os olhos com desagrado, enquanto Darius franziu o cenho e cruzou os braços.

— Selene Arctos — disse Madame Irina, ríspida. — Sente-se.

Selene obedeceu, tentando manter a compostura, embora suas mãos tremessem. O médico deu um passo à frente, ajeitando seus óculos com nervosismo.

— Senhorita Arctos… — Ele parou, franzindo o nariz. — Está… se sentindo bem?

— Eu… sim. Só estou um pouco… quente.

O médico trocou um olhar inquieto com Madame Irina.

— Senhor Thornheart, talvez você possa esperar lá fora. Este exame pode ser… complicado.

Darius não se moveu.

— Vou ficar — disse ele, firme.

O médico limpou a garganta e se aproximou de Selene, mas hesitou quando o cheiro se intensificou.

— Aparentemente, a senhorita está em seu período de… procriação — disse ele, desconfortável. — O cio.

Selene congelou.

— O quê?

Madame Irina arqueou uma sobrancelha.

— Cio? Isso não faz sentido. Ela é uma híbrida. Híbridos não entram no cio.

O médico recuou um passo, secando o suor da testa.

— Talvez nenhuma tenha entrado até então, mas o cheiro… é muito forte e inconfundível. Nossos instintos lupinos não mentem ou se enganam; ela está no cio.

Darius observava Selene com uma expressão ilegível, mas havia tensão em seu olhar. Seus olhos brilharam por um instante, e ele apertou a mandíbula, desviando o olhar.

— Não podemos fazer o exame de sangue dela nessas circunstâncias — continuou o médico. — Qualquer resultado seria comprometido pelos hormônios.

Madame Irina parecia irritada.

— Então, o que sugere, doutor?

— Recomendo que aguardemos alguns dias, até que os níveis hormonais se estabilizem.

Selene sentiu o alívio correr por seu corpo, mas sabia que era temporário.

Madame Irina se aproximou, parando ao lado de Selene.

— Senhorita Arctos, algo aqui não faz sentido. Se houver qualquer tentativa de fraude, isso será descoberto. Compreende?

Selene assentiu lentamente.

— Sim, senhora.

— Ótimo. Você está dispensada… por enquanto.

Darius a seguiu até a porta, mas antes que Selene pudesse sair, ele a segurou pelo braço — o mesmo braço que ele havia arranhado na noite anterior.

Darius olhou para o braço de Selene, onde a ferida que ele havia causado na noite anterior estava completamente cicatrizada. Ele tocou a pele com os dedos, pressionando levemente, e, para sua surpresa, não encontrou nenhuma marca ou indício de lesão.

— Isso… — Ele murmurou, mais para si mesmo do que para Selene. — Isso não deveria acontecer.

Selene sentiu o olhar dele percorrendo seu braço, seu toque inexplicavelmente intenso. Ela tentou desviar o olhar, incomodada, mas Darius, sem tirar os olhos dela, deu um leve sorriso — algo entre a surpresa e a satisfação; Selene não sabia, mas havia passado no teste. Ela não sabia se devia sentir alívio ou apreensão com a expressão dele, mas a única coisa que conseguia sentir era o peso crescente de seu corpo, devido aos efeitos do feromônio. Ter tomado o líquido que deveria ser usado apenas como um perfume era inclusive sua última memória da noite anterior. Todo o resto havia desaparecido.

Ele a observou por um momento, a expressão de curiosidade em seus olhos misturada com algo mais, por culpa dos feromônios. Era difícil ler o que ele sentia, mas a presença dele, tão próxima, a deixava desconfortável.

Darius, então, pareceu recuperar a compostura, seus ombros tensionando enquanto ele continuava.

— Está no cio. Isso não é uma situação comum. É perigoso andar por aí com os hormônios tão descontrolados.

Selene estremeceu ao ouvir aquelas palavras. O cio. Sua mente tentava entender, mas a sensação de calor e a necessidade de fugir daquela sala eram mais fortes. A pressão que ela sentia no peito estava ficando insuportável, e tudo o que queria era sair dali.

— Mas… Madame Irina me dispensou. — Ela balbuciou, tentando se segurar.

Darius a observou por um segundo antes de dar um leve suspiro, como se já tivesse esperado por essa resposta.

— Madame Irina pode dispensá-la, mas eu não. — Ele disse, com um tom autoritário. — Venha. Precisa ficar isolada até o cio passar. Não podemos arriscar.

Antes que Selene pudesse protestar, ele a puxou levemente, guiando-a para fora da sala com firmeza. Não havia espaço para discussão, e ela, que ainda tentava compreender o que estava acontecendo com seu corpo, se sentiu impotente diante da força que ele exercia, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Aquele homem tinha o controle sobre tudo — e parecia saber mais do que ela jamais poderia entender.

Enquanto caminhavam pelos corredores, o cheiro de Selene parecia aumentar, tornando o ambiente mais denso e abafado. A cada passo, ela sentia seus pensamentos se dispersando, sua mente turvada por um desejo instintivo, como se o próprio ar estivesse oprimindo sua racionalidade.

Ela não sabia o que ele queria dela, mas também sabia que não tinha escolha. Darius a conduziu até um quarto isolado nos fundos da academia, um espaço simples, mas funcional. Não havia janelas, apenas uma cama e uma mesa no centro. O silêncio era incômodo, e ela se sentou, hesitante.

Darius olhou para ela, sem dizer uma palavra, mas seu olhar dizia tudo. Ele observava com uma intensidade desconcertante, estudando cada movimento dela. Quando Selene tentou levantar-se, ele fez um sinal para que ficasse quieta.

— Não tente fugir. Você está em um estado muito vulnerável agora. — Ele disse, a voz suave, mas com a autoridade que não deixava margem para discussão. — O cio não é algo simples. Quando passar, podemos retomar tudo isso, mas por agora, você precisa descansar.

— E o que vai acontecer comigo? — ela perguntou, finalmente.

Darius a observou por bastante tempo, quase como se se manter ali fosse magnético, mas saiu sem lhe dizer uma palavra, como se quisesse fugir dali.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App