Grávida.Sim, muito grávida.Inegavelmente grávida.Encaro a televisão diante de mim, estática como um pedaço de madeira, pálida como um pedaço de papel. Pisco diversas vezes, esperando que o sonho termine e a realidade surja. No entanto, não acontece. Esta é a realidade.Margot Donneli está grávida.Elliot será pai novamente.Olho para a primeira dama na televisão muda, porque eu zerei o volume, em algum momento, para poder focar em meus pensamentos. Preciso conferir se meu queixo não está no chão conforme Elliot e Margot se abraçam, felizes pela benção em suas vidas.O tempo passa, tanto que as notícias mudam e a imagem do então presidente e sua esposa some. Eu continuo no mesmo lugar, sentada no meio da cama, olhando para o nada. Me permito sentir a rejeição, e também um pouco da inveja. Eu não queria estar no lugar deste bebê, pois não confio nas habilidades maternas de Margot. Contudo, eu sinto falta de ter uma família, por mais peçonhenta que a minha tenha sido.Continuo encaran
ANGELIC...Desperto, esticando a mão para o lado e percebendo que estou sozinha na cama. Meu corpo protesta, dolorido em todos os lugares. E que Deus me perdoe por toda profanidade que estou cometendo, mas não consigo me arrepender.Levanto-me. Alcanço minhas roupas no chão, porém elas tornaram-se farrapos inutilizáveis na noite de ontem. Vejo que minha mala está ao lado da porta, então a pego e abro sobre a cama. Escolho jeans e camiseta, para não mostrar as marcas avermelhadas na minha pele.Quando vestida, decido sair do quarto. A casa de Yolanda está sempre com as janelas e portas fechadas, o que não é surpreendente, já que ela mora no Bronx, mas é desconfortável. Os corredores parecem tenebrosos.Desço os degraus, varrendo a sala com os olhos. Há um homem armado na porta de entrada, e ele acena para mim, como se não estivesse pronto para enfrentar uma guerra enquanto eu mal abri os olhos. Contudo, aceno de volta.Este mundo é uma loucura.Me deixo guiar pelo cheio de café que vem
LEBLANC...A cidade de Veneza, na Itália, é conhecida por seus canais. Os turistas amam passear de barco pelo meio da cidade. No entanto, uma curiosidade sobre Veneza é que ela corre risco de afundar, literalmente. Sua maior qualidade será sua perdição. Eu poderia desdenhar da ironia, se não a adorasse.Sempre que estou em Veneza, faço questão de visitar o Bellagio, uma rede de cassinos que se esparrama como erva daninha pelo mundo. Não que eu tenha algo contra cassinos. São apenas prédios de luxo, onde homens ricos tiram dinheiro de outros homens ricos. Me lembra a igreja católica.Estaciono a Ferrari em frente ao edifício. Este é o carro que gosto de dirigir na Itália, já que este país é o berço da marca. Embora, eu preciso confessar, prefiro o conforto de um Bentley.A primeira regra sobre os cassinos é ser uma pessoa comunicativa. Ninguém faz bons jogos se não tiver uma boa conversa fiada. A segunda regra é estar bem acompanhado, e se a filha do presidente dos Estados Unidos não f
LEBLANC...Eu não bato na porta, apenas giro e empurro a maçaneta. O Bellagio é famoso por representar a escória da elite, e esta sala representa bem tal taxação. Há sofás de couro preto nas laterais, uma bar à direita e uma garrafa de tequila em cada metro quadrado.Encontro Benjamin sentado em um dos sofás. Primeiro, seus olhos pousam em mim casualmente, depois, me fuzilam. Ele faz parte daquele pequeno grupo que dançaria na minha cova.- Onde estão os bons modos? – ele pergunta, soprando a fumaça de seu cigarro para o ar – Eu acho que o antigo LeBlanc se lembraria que eu não mudo de expressão para matar um desgraçado.Nada como os velhos amigos.- Nós podemos pular a parte das ameaças. Eu conheço todas.Fecho a porta atrás de mim e me aproximo. Me sento no sofá diante dele. O contraste entre nós é interessante. Sua compulsão por bebidas, as roupas que o fazem parecer que acabou de cumprir pena em um presídio, as muitas tatuagens e o cigarro. Muito me surpreende que Benjamin ainda n
Eu me aprumo na cadeira. Os próximos minutos serão épicos.- Meus caros, temos uma disputa, com noventa mil dólares na mesa dez – o mestre de cerimônia diz, animado com o rumo das propostas.Mesa... dez?Essa é a porra da nossa mesa.Meus olhos se voltam para Angelic, e para a surpresa de um total de zero pessoas, a plaqueta está levantada em sua mão direita. Minha reação tarda a vir. Eu não sei se estou irritado por sua infantilidade, admirado por seu espírito competitivo ou intrigado.- Cento e cinquenta mil dólares – a voz feminina vem do outro lado do salão, da mesa cinco, em alto e bom tom.- Cento e cinquenta mil dólares! Temos um lance mais alto?Um breve momento de silêncio preenche o salão enquanto as pessoas esperam pelo próximo lance. E agora que sabem que são duas mulheres dando lances, as expectativas são altas. O mestre de cerimônia está quase pronto para encerrar as propostas, entretanto, vejo a plaqueta sendo levantada mais uma vez, e se não fosse pela minha garota, eu
ANGELIC...Quando descemos do helicóptero, as portas de entrada da casa já estão abertas. LeBlanc me carrega em seus braços, porque eu adormeci em algum momento da viagem. Isso é explicável, já que fizemos um pequeno trajeto de carro, e, depois, simplesmente viajamos até uma ilha. Ele me disse algo sobre ser uma pessoa reservada, mas eu não pude imaginar o quanto.Ainda sinto metade do meu cérebro dormindo, então sequer retruco por estar sendo levada no colo. Eu estou cansada da noite de hoje. Na verdade, para além de cansada, estou ressentida.Faço meu melhor para captar os detalhes da casa. Parece ser uma construção antiga, com detalhes que lembram castelos. Isso combina com LeBlanc, já que ele parece ter síndrome de rei.- Você vive em uma ilha – comento. Minhas palavras soam embriagadas de sono.- Eu não gosto de vizinhos – ele argumenta, me fazendo sorrir.- Parece arrogante.- Parece? – ele olha para mim – Não se engane, eu sou.Me aconchego em seu peito enquanto ele sobe as esc
Não preciso olhar para cima para saber que seus olhos estão em mim. Eu sinto. Arrasto as unhas por suas coxas, de baixo para cima, e ele treme.A água respinga em nós, e o vapor domina o banheiro quase completamente. Ele não pode me ver com perfeição, e isso me encoraja.Seguro seu pau novamente, desta vez com ambas as mãos. Agora sei exatamente quanta pressão devo fazer. Me inclino para frente, beijando seu abdômen. E quando sinto que um beijo não é suficiente para apreciar seu gosto, eu lambo sua pele molhada.LeBlanc apoia ambas as mãos na parede.- Caralho – ele sussurra, gemendo.Seu pau pulsa em minhas mãos, mais duro a cada segundo. Continuo beijando sua barriga, mordendo e chupando sua pele. Eu quero que minhas marcas ainda estejam em seu corpo quando ele tomar o próximo banho. Na verdade, eu quero que ele seja incapaz de estar sob o chuveiro sem lembrar-se de mim.Olho para cima sob meus cílios molhados. Seu peito se movimenta para acomodar a respiração violenta, e os músculo
LEBLANC...Ela está olhando para mim, com os grandes e expectantes olhos azuis, me fazendo sentir a pior pessoa do mundo. A esperança brilha em cada piscar, e eu, como o babaca que sou, estou prestes a mentir para Angelic.- E então? – ela pergunta enquanto me mantém paralisado com seus olhos desgraçadamente lindos.Ser um bom mentiroso não quer dizer que eu goste de mentir, e mais, não quer dizer que eu goste de mentir para ela. No entanto, não me restam opções. Aceno positivamente com a cabeça, porque creio que gestos falsos sejam menos cruéis do que palavras falsas.- Apenas seja sincero – ela pede.Não. De jeito nenhum.Estou encostado contra o batente da cozinha, por sua vez, Angelic está atrás da bancada, diante do fogão. Em minha mão direita, há algo que ela acabou de cozinhar. Angelic informou que se tratavam de biscoitos com pingos de chocolate. Ela disse que eram biscoitos de Natal. Mas, honestamente, eu ainda não encontrei o sabor do chocolate, apenas de massa queimada e tr