LEBLANC...Ela está olhando para mim, com os grandes e expectantes olhos azuis, me fazendo sentir a pior pessoa do mundo. A esperança brilha em cada piscar, e eu, como o babaca que sou, estou prestes a mentir para Angelic.- E então? – ela pergunta enquanto me mantém paralisado com seus olhos desgraçadamente lindos.Ser um bom mentiroso não quer dizer que eu goste de mentir, e mais, não quer dizer que eu goste de mentir para ela. No entanto, não me restam opções. Aceno positivamente com a cabeça, porque creio que gestos falsos sejam menos cruéis do que palavras falsas.- Apenas seja sincero – ela pede.Não. De jeito nenhum.Estou encostado contra o batente da cozinha, por sua vez, Angelic está atrás da bancada, diante do fogão. Em minha mão direita, há algo que ela acabou de cozinhar. Angelic informou que se tratavam de biscoitos com pingos de chocolate. Ela disse que eram biscoitos de Natal. Mas, honestamente, eu ainda não encontrei o sabor do chocolate, apenas de massa queimada e tr
LEBLANC...Sua mão é quente contra a minha, e, de certo modo, seu calor e maciez são confortáveis. Não é como se ela fosse um corpo estranho ao lado do meu, é como se ela fosse uma extensão.Descemos as escadas de mãos dadas, assim como fizemos ontem, e antes de ontem, e no dia antes disso. É claro que, as vezes, eu me surpreendo com o quão desejável a presença dessa criatura se tornou.Angelic sorri ao adentrar a cozinha, pois Wanda, a cozinheira, aceitou ser sua tutora e lhe ajudar a cozinhar. Isso é ótimo, já que a futura engenheira é capaz de erguer um prédio, mas não de fazer a mais singela comida de forma decente.- Bom dia, Wanda – Angelic solta minha mão e corre para trás do balcão.Ela é bonita em todos os momentos, até mesmo quando não faz o menor esforço para ser. O cabelo muito claro contrastando com os olhos muito azuis. As bochechas e lábios rosados. Os cílios longos e grossos. Na verdade, é tão bonita que me faz desejar gravar essa imagem na minha cabeça. E talvez não a
LEBLANC...A tecnologia sempre me impressiona. A forma como o mundo evolui, mesmo que as pessoas não sigam o mesmo caminho. E, dito isso, eu gostaria de ressaltar uma tecnologia em específico: a roda gigante.Sim, a roda gigante. Falemos sobre ela, então.Um grande aro de ferro reforçado, com cabines penduradas, girando incessantemente para a direita. Rápida o suficiente para entreter as pessoas, lenta o bastante para não causar enjoou. Simplesmente fascinante, ainda mais levando em consideração o espetáculo de luzes coloridas ao redor.- Eu também achava encantador – Angelic diz, interrompendo meus pensamentos sobre George Ferris, o criador da roda gigante.- O quê? – pergunto.- A roda gigante. Eu era fascinada por ela quando era criança.Olho para Angelic, que está diante de mim. Consigo visualizar sua versão mirim, talvez com laço no cabelo. Quase posso vê-la, pequenina, encarando a roda gigante, admirada com tudo que os olhos curiosos de uma criança normal podem alcançar.Porém,
- Ótimo – Angelic bate palminhas, voltando-se para Joe – Eu quero dez fichas.Tiro ao alvo é um jogo que exige concentração, domínio da mente e corpo e precisão. É quase como ter uma arma de fogo em mãos. A forma é a mesma, muda apenas o resultado. É por isso que eu conto com o militar determinado a dar um cachorro para a filha.Angelic pega o protótipo de espingarda e dez balas de festim e se move até o estande, onde há uma fileira de alvos coloridos, de cerca de dez centímetros. Acertar uma sequência dificulta o jogo, mas não impossibilita. E, a menos que Angelic tenha a mira e coordenação motora desconhecidas por mim, é mais fácil para o militar do que para ela.- Você pode separar as pernas para ter mais estabilidade – Joe orienta – E lembre-se de acertar alvos consecutivos.- Entendido – ela diz.Eu observo Angelic fazer como Joe a orientou. Ela parece confiante, e um tanto quanto gostosa também, não posso negar. Ela aponta para a fileira de alvos e dispara o primeiro tiro, acert
ANGELIC...Os raios de sol incidem em meu rosto, me fazendo despertar. Nos últimos dias, dormimos com as portas da sacada abertas, para ouvirmos o som das ondas quebrando no horizonte do oceano. Este tem sido meu paraíso; dormir e acordar nesta ilha.Abro os olhos, olhando ao redor do quarto em busca de Aaron. Ele é sempre a primeira coisa que procuro, o primeiro em minha mente desde o primeiro minuto do dia. Ele não está aqui, mas, em compensação, deixou um arranjo de lírios na cabeceira.Me levanto, arranco uma flor do arranjo e giro, analisando as pétalas brancas. Sou invadida por uma lembrança antiga, que costumava doer muito. Eu tinha doze anos, e, logo após o velório de minha mãe, estava no jardim de casa. Eu estava devastada depois de perdê-la, não somente por sua morte, mas também por saber que aquilo significava que eu ficaria sozinha. E para uma menina de doze anos, estar sozinha em uma casa tão grande era realmente cruel.Eu pensei que amava minha família. Fui tão leal a ca
ANGELIC...Sinto meus pensamentos travarem por um segundo, como se não fosse capaz de processar toda a informação.Diamantes?O que ela quis dizer?Vagamente, começo a tentar raciocinar. A família da minha mãe tinha uma jazida na Rússia, mas isso faliu há muitos anos. Ela sequer tinha uma herança decente a receber.Ou Genevieve tem a informação muito errada... ou eu tenho.- Os... diamantes? Do que você está falando? – pergunto. O único som vindo do outro lado é de cliques de salto alto se aproximando – Genevieve?- Puta merda! O que você disse? – ouço Margot murmurar.- Genevieve! – chamo novamente, porém a ligação é encerrada – Puta merda – repito.Afasto o celular do ouvido e trago para frente dos olhos, encarando a tela com tamanha incredulidade. Vejo que a chamada realmente foi encerrada, mas não consigo deixar de olhar para o celular, relembrando a conversa e criando teorias.Diamantes. Que merda isso significa?Eu não posso escolher este momento para ser estúpida. Eu sei que Ge
LEBLANC...Revivo o mesmo momento em minha mente. Uma. Duas. Dez. Mil vezes. A mesma cena se repete incansavelmente enquanto meu subconsciente me pune com a memória e o arrependimento.Mas...Este foi o melhor fim que poderíamos ter.De todas as possibilidades, em todas as malditas vezes que eu pensei em como chegaríamos ao precipício, esta foi a melhor forma.Quando eu tentei me afastar de Angelic, e, sim, eu tentei, foi como pedir ao meu coração para desistir de bater. Foi como me afastar da única coisa pela qual eu queria viver. Me irrita ter que admitir que eu falhei, e eu falhei em me manter longe dela.Mas agora é diferente. Não é minha opção. Não fui eu quem decidiu se afastar. Não foi minha mente perturbada que me convenceu de que Angelic merece mais do que uma vida comigo. Foi ela. Ela percebeu isso.Mas, porra, aqueles olhos...Por que você chorou por mim?Por que você hesitou antes de ir embora?Se você percebeu que eu era o monstro na sua história, por que isso doeu em voc
ANGELIC...Aaron segura meu rosto entre suas mãos. Elas são grandes e macias, e me fazem pensar no quão segura estou ao seu lado. Eu me deleito entre seus dedos como um gatinho recebendo carinho.Ele beija a ponta do meu nariz, depois a testa, e então parte para as bochechas. A cada toque, me sinto um pouco mais feliz. Um pouco mais completa. Um pouco mais apaixonada. Um pouco mais viva.- Podemos ficar aqui para sempre? – sussurro.Ele está sobre mim, entre minhas pernas, e se sustenta em seus antebraços. Aaron cessa os beijos e me encara. Seu rosto tranquilo e relaxado enquanto ainda estamos nus após o sexo é tudo que eu quero ver pelo resto da minha vida.Seus olhos pincelam meu rosto, e quando nossos olhares se encontram, quase posso ver tristeza em sua expressão. Melancolia. Remorso, talvez.- Eu faria qualquer coisa para ficar com você para sempre.E quando eu separo os lábios para lhe responder, não tenho voz. Aos poucos, a imagem de Aaron fica borrada, como grãos de poeira sen