ANGELIC...Uma semana.Duas semanas.Três semanas.Três semanas desde a última vez que eu vi LeBlanc. Zero mensagens. Zero ligações. Zero contato. E não é como se eu esperasse que ele me ligasse no dia seguinte, não sou estúpida. No entanto, também não esperava que ele fosse desaparecer.Eu não sinto falta dele, nem perto disso. Mas, às vezes, me pego pensando no que o fez sumir logo após o que aconteceu no armazém. Eu não consigo entender, e ele não está aqui para me explicar.- Angelic? Angelic? - Margot chama.Olho para ela do outro lado da mesa de café da manhã. Uma de suas sobrancelhas está arqueada, então sei que perdi um monte de discursos.- Sim - respondo.- Saiu a primeira matéria sobre as eleições. Leia.O tablet está aberto em uma página jornalística sobre a mesa. Não há chance de eu ler. Não me interesso pela política de Elliot há algumas semanas. É engraçado, pois, há três meses, tudo que eu fazia era me importar com a imagem da família.- Claro.Bebo um gole do meu café
Eu odeio hospitais, definitivamente. Este é o pior local que um ser humano pode frequentar, depois do cemitério. Eu não odiava hospitais até ver minha mãe doente, internada de tempos em tempos, e depois morta. Eu também não odiava cemitérios, mas passei a odiar após o enterro.Caminho pelo extenso corredor até a última porta. Está vazio, e as luzes do teto estão falhando, criando um ambiente pouco confortável. Ainda é dia, mas a falta de janelas faz parecer que não há sol do lado de fora.As únicas pessoas no corredor são os dois seguranças diante da porta do quarto do Senador. Ainda não é de conhecimento público que ele está hospitalizado, mas logo será.Chegando à porta de número 1208, aceno para os seguranças antes de bater. Antes de vir, eu precisei ligar para Vicenzo e me certificar de que seria uma boa ideia fazer uma visita. Levando em consideração que este acidente aconteceu na mansão Donneli, não sei até que ponto nossas famílias continuam de bem.Ouço passos do outro lado, e
LEBLANC...Voltar não estava nos meus planos, nem de longe. Mas ela estava nos meus sonhos, bem de perto. Eu me pergunto o que há nela para atrair minha atenção. O que nenhuma outra mulher teve, ou fez, ou deixou de fazer?Eu superei o primeiro dia. Sonhei com ela, mas não foi grande coisa. Isso se chama atração física. No segundo dia, meu corpo ainda se lembrava da pele e calor dela. Eu me proibi de pensar nela debaixo do chuveiro, porque não sou um adolescente. Bem, pelo menos não era, porque, no sexto dia, me rendi. Precisei me render.Minha única companhia durante as três primeiras semanas foi um velho de humor duvidoso e uma casa grande e vazia. Nada de conversinhas sarcásticas e cabelo loiro. Então, após exatos 45 dias, eu entendi. O desafio me interessa mais do que a conquista. Não quero Angelic, quero vencer o joguinho de atração que ela começou, desde o primeiro dia.Ela estava naquele maldito salão de festas da Casa Branca, com o segurança em seu encalço. Eu soube que ela er
ANGELIC...Quando eu saí de casa esta manhã, estava decidida a não ir ao Bronx. Quem ele pensa que é, invadindo minha casa e ditando ordens? O que ele pensa que eu sou, obedecendo como um cachorrinho?Sempre que ele está ao meu redor, ditando ordens que não deveria, agindo como se fosse proprietário do que não é, eu me sinto intoxicada, comprimida em um espaço que cabe apenas ele.Eu fiz uma longa caminhada antes de ir para a faculdade, para forçar minha cabeça a se concentrar em minha própria vida. Eu sobrevivi mais de um mês longe dele, e eu não me permitiria surtar apenas porque sei que ele retornou.Após o almoço, fui à igreja. O Padre Bee estava ensaiando com o coral. Passei grande parte da tarde lá, tentando controlar meus olhos, que eventualmente olhavam para o relógio de parede. Eu aproveitei para me confessar.Quando o sol se pôs, percebi que havia passado o dia inteiro apreensiva. Meu coração batia rápido demais. Depois das oito horas, eu encarava o relógio, torcendo para qu
ANGELIC...Meu coração quase saiu pela boca quando deixei o carro na garagem de Elliot e vi a marcação nos pneus. Eu pensei que não poderia ficar mais nervosa, então entrei no carro de LeBlanc, e fiquei.Tudo bem que ele seja bonito, e isso é indiscutível. Mas sua postura alinhada, seu mistério em revelar quem é, de onde vem, o que quer. Seu perfume forte, mas não do tipo exagerado, e sim do tipo marcante. Tudo isso, colocado ao meu lado dentro de um carro, me deixou inquieta.Chegamos a um edifício no coração de Nova Iorque, próximo à Times Square. Aqui estão localizados os prédios mais altos e caros da cidade. LeBlanc para em uma das vagas do estacionamento, que curiosamente está lotado. Ele desce, dá a volta no carro a abre a porta para mim.- Obrigada.Eu poderia fazer uma brincadeira sobre como não pensei que ele fosse cavalheiro, mas reconsidero. Hoje não.LeBlanc apoia uma mão da base da minha coluna, e embora haja um grosso tecido entre sua palma e minha pele, meu corpo automa
- Sim - ela gagueja - Perfeitamente.- Isso vale para todos- Todos serão avisadosLeBlanc acena, em seguida, seus olhos voltam para mim. Neste momento, sei exatamente porque pensei nele durante sete semanas. Sei porque passei o dia agoniada com a possibilidade de vê-lo. Sei porque me rendi naquele armazém.- O que você veio buscar, encrenca?- Ah... - penso - Água.- Leve água para o andar de cima - ele ordena para a mulher.Antes de sua resposta, LeBlanc passa um braço pela minha cintura e me guia em direção às escadas. Subimos. Há várias brincadeiras que quero fazer com o que acabou de acontecer, mas as guardo. Estou cansada demais para fazer qualquer coisa, se não continuar sentindo sua mão em mim, e imaginando-a em outras partes do meu corpo.Ele aproxima os lábios do meu ouvido, para superar a música, que é ainda mais alta no segundo andar, e sussurra:- Pensei que fosse se manter longe de problema.- O problema veio até mim - ergo a cabeça, apenas para que ele possa me escutar
ANGELIC...Hoje o motorista de Margot foi demitido. Isso não me surpreende, já que a campanha de Elliot está levando todo o dinheiro da família. O que me surpreende é que ela não surtou. Me lembro de um dia, há cinco anos, quando Margot quis trocar seu carro apenas porque encontrou um com a cor mais bonita. Elliot se recusou e ela surtou, pediu o divórcio e passou vinte dias fora de casa. É claro que ele foi atrás dela, como um cachorrinho, e comprou o bendito carro.Eu já me importei com a família Donneli. Era o sobrenome de minha mãe, e eu queria que fosse cuidado. Agora sei que tudo de bom neste sobrenome morreu com ela.Entro no carro, jogo meu casaco e celular no banco passageiro e dirijo para fora da mansão. Marcos está por conta de Margot hoje. Claro, é melhor que eu fique sem segurança do que a primeira dama. Minha cabeça ainda está latejando após a noite de ontem, mas eu me recuso a acreditar nas memórias. Eu mal reconheço as atitudes que tive, como uma prostituta barata. Me
Paro ao lado dele. Não sinto seu perfume de imediato, então sei que não estou suficientemente perto. Olho para a mesa. Há mais algumas armas a serem limpas, e por mais idiota que pareça, eu não sinto medo. Ele poderia me machucar hoje tanto quanto poderia em outras ocasiões.LeBlanc limpa o cano do revólver com uma flanela macia. Suas mãos são hábeis e suaves, como as de alguém que faz isso há muitos anos. Ele coloca a peça acinzentada sobre a mesa, pega outra arma e começa a limpá-la.Observo, um tanto quanto admirada. Não é sobre o poder que uma arma lhe dá, mas sim sobre o que faz com ele. LeBlanc age como se esse poder fosse simplesmente nada.Quase naturalmente, minha mão vai até a arma que ele acabou de deixar sobre a mesa. Espero uma repreensão, mas ela não vem. Pego o revólver. É mais leve do que eu supus. Enquanto observo os detalhes da peça, meu cérebro processa uma informação. LeBlanc nunca me impede de fazer o que eu quero, ou me repreende por fazer errado. Ele apenas fica