Sopro todo ar dos meus pulmões, como se isso pudesse expulsar a raiva de mim.Babaca.- Sei un figlio di puttana – murmuro, em italiano, porque é a única descrição no mundo que me parece plausível para o momento.LeBlanc empertiga-se, tomando distância da porta. Eu dou um passo para trás, porque não quero – e não vou – ceder. Não importa a química que temos, ou a forma como nossos corpos se atraem. Isso não é real. Nós não somos reais. Nós não estamos juntos, e eu não vou me permitir pensar, nem por um segundo, que sim.- Você estava procurando no lugar errado – sua voz baixa vibra por todo meu corpo, forçando-me a baixar a guarda. Ele dá um passo adiante.- Pelo quê? – sussurro.- Por mim.Jesus. Como ele é arrogante.- Eu odeio você – pressiono o dedo contra seu peito – Odeio a forma como coloca o mundo abaixo de si mesmo, como se ninguém mais importasse. Eu simplesmente odeio você.LeBlanc olha para mim. Sua mão envolve a minha, retirando-a de seu peito. E então, antes mesmo que eu
LEBLANC...O consumidor de almas.Há um mito que diz que o diabo, na antiguidade, concedia favores. Era como uma espécie de credor, e as pessoas se endividavam por livre e espontânea vontade. Tempos depois, quando o diabo voltava para cobrar a parte que lhe cabia, as pessoas se negavam a pagar. Ele, por não gostar de ser passado para trás, queimava suas casas, suas crianças e suas fortunas.Olho através das janelas de vidro. É um dia bonito, na medida do possível para a cidade de Nova Iorque. Estou sentado em uma das mesas da cafeteria de três andares, exatamente no centro de Manhattan, uma das melhores da cidade, por sinal.- Senhor? – a atendente chama, com sua voz doce e baixa, porque ela não quer parecer rude.Eu encaro a moça diante da minha mesa. Charlote. Todos os dias, ela acorda no primeiro horário, pega um trem na estação mais próxima de sua casa e chega ao serviço antes mesmo do sol nascer. Charlote abre a cafeteria, limpa as mesas e veste seu impecável uniforme. Ela sorri
LEBLANC...Eu gosto de explicações lógicas e racionais. Eu não acredito em atitudes vindas da alma, ou do coração. Esse tipo de merda simplesmente não faz sentido para mim. Dito isso, eu gostaria de entender o que está acontecendo comigo.O que é esta sensação de que estou quebrando quando Angelic está perto de mim? Como se eu estivesse cheio, transbordando, e depois desmoronando.Uma fraqueza?Um quadro médico?Fecho os olhos e deixo a água do chuveiro levar esta sensação para o ralo enquanto tomo banho. Tento me livrar do cheiro dela, da sensação da pele dela, da visão do sorriso dela. Tudo que me deixa fraco. No entanto, esta tem sido uma tarefa difícil. Angelic tem meu cheiro, tem minhas manias e minhas roupas. Ela tornou-se uma parte de mim. Eu me vejo nela, tanto que a sinto até mesmo quando estou sozinho.Desligo o chuveiro e alcanço a toalha, que está molhada por causa do banho de Angelic. Eu a uso de qualquer forma, porque estou decidido a ter um dia de paz. Quando passo em f
ANGELIC...Uma roda gigante. Neste momento, sinto que estou em uma roda gigante.Eu vivi em cinco meses o que nunca havia vivido em vinte anos. Isso foi bom, foi uma aventura. No entanto, não posso negar que também foi aterrorizante.Aaron aperta minha mão e me guia até um portão de ferro. Estamos no fim do Bronx, na parte mais isolada do bairro. Ele bate com as costas dos dedos contra o portão.- O que está acontecendo? – pergunto, sussurrando.- Você não estava totalmente segura.Olho ao redor de um dos bairros mais perigosos do país.Eu estou mais segura aqui?- Por quê? – questiono.Minha pergunta morre entre nós, pois, pouco tempo depois, o portão começa a subir. Me aproximo de LeBlanc, talvez por um instinto ridículo que me diz que estou mais segura ao lado dele.Um homem surge do outro lado. Até então, nada para me preocupar, mas então noto a arma em suas mãos. Eu, claramente, não entendo sobre revólveres, mas o tamanho deste, em específico, me diz que ele pode causar um grande
Grávida.Sim, muito grávida.Inegavelmente grávida.Encaro a televisão diante de mim, estática como um pedaço de madeira, pálida como um pedaço de papel. Pisco diversas vezes, esperando que o sonho termine e a realidade surja. No entanto, não acontece. Esta é a realidade.Margot Donneli está grávida.Elliot será pai novamente.Olho para a primeira dama na televisão muda, porque eu zerei o volume, em algum momento, para poder focar em meus pensamentos. Preciso conferir se meu queixo não está no chão conforme Elliot e Margot se abraçam, felizes pela benção em suas vidas.O tempo passa, tanto que as notícias mudam e a imagem do então presidente e sua esposa some. Eu continuo no mesmo lugar, sentada no meio da cama, olhando para o nada. Me permito sentir a rejeição, e também um pouco da inveja. Eu não queria estar no lugar deste bebê, pois não confio nas habilidades maternas de Margot. Contudo, eu sinto falta de ter uma família, por mais peçonhenta que a minha tenha sido.Continuo encaran
ANGELIC...Desperto, esticando a mão para o lado e percebendo que estou sozinha na cama. Meu corpo protesta, dolorido em todos os lugares. E que Deus me perdoe por toda profanidade que estou cometendo, mas não consigo me arrepender.Levanto-me. Alcanço minhas roupas no chão, porém elas tornaram-se farrapos inutilizáveis na noite de ontem. Vejo que minha mala está ao lado da porta, então a pego e abro sobre a cama. Escolho jeans e camiseta, para não mostrar as marcas avermelhadas na minha pele.Quando vestida, decido sair do quarto. A casa de Yolanda está sempre com as janelas e portas fechadas, o que não é surpreendente, já que ela mora no Bronx, mas é desconfortável. Os corredores parecem tenebrosos.Desço os degraus, varrendo a sala com os olhos. Há um homem armado na porta de entrada, e ele acena para mim, como se não estivesse pronto para enfrentar uma guerra enquanto eu mal abri os olhos. Contudo, aceno de volta.Este mundo é uma loucura.Me deixo guiar pelo cheio de café que vem
LEBLANC...A cidade de Veneza, na Itália, é conhecida por seus canais. Os turistas amam passear de barco pelo meio da cidade. No entanto, uma curiosidade sobre Veneza é que ela corre risco de afundar, literalmente. Sua maior qualidade será sua perdição. Eu poderia desdenhar da ironia, se não a adorasse.Sempre que estou em Veneza, faço questão de visitar o Bellagio, uma rede de cassinos que se esparrama como erva daninha pelo mundo. Não que eu tenha algo contra cassinos. São apenas prédios de luxo, onde homens ricos tiram dinheiro de outros homens ricos. Me lembra a igreja católica.Estaciono a Ferrari em frente ao edifício. Este é o carro que gosto de dirigir na Itália, já que este país é o berço da marca. Embora, eu preciso confessar, prefiro o conforto de um Bentley.A primeira regra sobre os cassinos é ser uma pessoa comunicativa. Ninguém faz bons jogos se não tiver uma boa conversa fiada. A segunda regra é estar bem acompanhado, e se a filha do presidente dos Estados Unidos não f
LEBLANC...Eu não bato na porta, apenas giro e empurro a maçaneta. O Bellagio é famoso por representar a escória da elite, e esta sala representa bem tal taxação. Há sofás de couro preto nas laterais, uma bar à direita e uma garrafa de tequila em cada metro quadrado.Encontro Benjamin sentado em um dos sofás. Primeiro, seus olhos pousam em mim casualmente, depois, me fuzilam. Ele faz parte daquele pequeno grupo que dançaria na minha cova.- Onde estão os bons modos? – ele pergunta, soprando a fumaça de seu cigarro para o ar – Eu acho que o antigo LeBlanc se lembraria que eu não mudo de expressão para matar um desgraçado.Nada como os velhos amigos.- Nós podemos pular a parte das ameaças. Eu conheço todas.Fecho a porta atrás de mim e me aproximo. Me sento no sofá diante dele. O contraste entre nós é interessante. Sua compulsão por bebidas, as roupas que o fazem parecer que acabou de cumprir pena em um presídio, as muitas tatuagens e o cigarro. Muito me surpreende que Benjamin ainda n