Afastando-se, Enrico foi procurar algo pesado para colocar na frente da porta. Assim que ele lhe deu as costas, Justine reuniu forças e avançou. Ela deu um salto e agarrou no pescoço forte. A bolsa caiu no chão quando ela desferiu mais um golpe no ombro, e depois cravou a tesoura no pescoço do homem distraído. No desespero, ela se afastou e olhou para o líquido vermelho na palma de sua mão. — Traidora! — Enrico tossiu após dizer. O sangue descia ao lado de sua boca. — Devia ter ouvido o meu tio. Movida pelo desespero, ela correu para o lugar onde Bryan dormia. Ela pegou o filho no colo e tentou se esgueirar do homem que caiu no chão e agarrou sua canela. — O meu tio vai te matar… — ele puxou o ar e então silenciou. Usando as poucas forças que tinha, ela tentou empurrar a porta, mas algo pesado a impedia de abrir. — Socorro, ajude-me! — Berrou a todo pulmão. — Socorro! O barulho de algo se arrastando deixou seu coração em saltos. Do lado de fora, os funcionários que arrumavam
Haviam dois homens parados na sala de estar na suntuosa mansão de Bel-Air. Os olhos de ambos avaliavam toda a decoração à sua volta. O som de passos vindos das escadas deixaram os policiais em alerta.— O que os traz tão cedo a minha casa? — Ao chegar ao andar térreo, Kevin indagou, perscrutando-os. — Bom dia, senhor Harrison. — O oficial da lei cumprimentou em tom polido. — Sou o detetive Williams da polícia local — mostrou o distintivo, — e esse é o policial Garcia. — Fiquem à vontade, — indicou as poltronas.— Não será necessário, senhor! Viemos apenas para falar com sua esposa e levá-la para a delegacia.— Por quê? — Erguendo uma sobrancelha, Kevin esquadrinhou ambos os policiais.— Foi encontrado um kit de costura na despensa onde um homem foi assassinado em Madri. — O detetive Williams mencionou. — Foram encontrados digitais na caixinha e no material guardado. — A sua esposa é designer de moda e uma testemunha relatou que a viu na cozinha do restaurante.Kevin abriu e fechou as
Do lado de fora, Kevin usava toda a sua influência com amizades poderosas para evitar que a mulher fosse extraditada para a Espanha, onde ficaria presa até o julgamento.Após horas sendo interrogada naquela sala, Justine conseguiu sair sob fiança. Assim que apareceu no corredor, foi envolvida pelo abraço caloroso do marido.De olhos fechados, ela inspirou o perfume amadeirado. Ainda não sabia o que estava por vir, mas havia concordado em cooperar com as investigações e comparecer às audiências sempre que fosse intimada.— Vamos para casa. No caminho de volta, a Lamborghini passou perto da placa escrita “Bel Air”. Justine admirava as luxuosas propriedades com enormes terrenos e mansões surpreendentes no tranquilo bairro residencial.Ainda não podia revelar ao marido sobre o acordo que fez com o delegado. Mesmo se contasse, Kevin se oporia veementemente e isso poderia atrapalhar toda a investigação.Quando o carro estacionou, viu a dona Laura vigiando Bryan enquanto ele brincava na cas
O relógio marcava pouco mais de seis da manhã quando Justine, de olhos ainda sonolentos, desceu as escadas em silêncio. Ela havia planejado cada detalhe da surpresa. A cozinha parecia iluminada por um brilho especial enquanto ela preparava o bolo de chocolate. O aroma doce misturava-se ao frescor da manhã, preenchendo o ambiente com uma atmosfera de expectativa. Sobre o balcão, morangos vermelhos e suculentos aguardavam para decorar a obra-prima. Com o bolo pronto e cuidadosamente colocado sobre uma bandeja, Justine subiu para o quarto, onde Kevin dormia tranquilamente. Ao abrir as cortinas, a luz suave invadiu o espaço, tocando o rosto dele como um convite para acordar. — Acorde, dorminhoco… — disse ela, com um sorriso. Antes que Kevin pudesse reagir, Bryan, animado como sempre, subiu na cama e começou a pular. — Levanta, papai! — gritou o menino com energia. — Vocês não gostam de dormir… — Protestando com uma voz rouca, Kevin abriu os olhos devagar. — É seu aniversário, papai!
Dois anos haviam se passado desde que Justine se tornou um dos nomes mais comentados da alta moda. Na Paris Fashion Week, ela observava sua coleção de outono/inverno desfilar na passarela com uma expressão de realização plena. O brilho nos olhos traduzia não apenas o orgulho de quem vê seus sonhos se concretizarem, mas com gratidão pelo caminho percorrido. O seu trabalho passou por desafios, mas o esforço havia rendido frutos. Ao seu lado, Kevin aplaudia com genuíno entusiasmo, ciente de que Justine era o coração de tudo aquilo. Enquanto ela brilhava em seu universo criativo, Kevin celebrava outro tipo de conquista. Bryan se destacou no futebol durante os campeonatos escolares. Ele nunca perdeu um treino ou jogo, via o talento do garoto florescer. — Um dia o veremos no Milan. — Orgulhoso, o pai não escondia a empolgação ao comentar com os sócios. Aquele era mais que um sonho; era um voto de confiança no futuro promissor do filho. Em casa, a pequena Giovanna era a alegria de t
Justine estava acompanhando um marido numa festa onde viu uma bela cantora se apresentando. Kevin toma bebida enquanto conversa com o sócio de longa data. — Aqui está o cartão do meu ateliê e de uma das minhas lojas, — disse Justine para a senhora, tentando desconversar.Só queria sair dali e saber o porquê de Kevin olhar tanto para a italiana loira que cantarolava. “Quem era ela e de onde ele a conhece?” Perguntou-se, franzindo o cenho enquanto caminhava com graciosidade na direção do marido.— Com licença! — Justine sorriu para o outro homem alto e depois olhou para o marido.— Oi, amore mio. — Kevin enlaçou-a pela cintura numa atitude possessiva. — Quero te apresentar o meu sócio Lorenzo Gambino.Assim como o senhor Harrison, o sócio também liderava alguns dos negócios escusos no submundo do crime.— Ela canta muito bem, não é mesmo? — Perguntou Justine.— Marie é divina, perfeita. — Lorenzo manteve os olhos focados na italiana loira que desceu do palco e veio devagar na direção de
Bryan havia acabado de chegar de viagem. O rapaz tinha o corpo bem exercitado devido aos treinos na academia e no campo de futebol. Ele mal colocou os pés na casa quando foi avisado por Dona Laura que o pai o esperava no escritório. — Ele está zangado, vó? — Bastante. — A mulher de cabelos brancos respondeu. — Eu deveria estar aborrecido porque ele não mandou o dinheiro e não pagou os cartões esse mês. — Bryan, vá com calma, — a voz calma aconselhou o neto. — Não discuta com o seu pai. — Onde está a mamãe? — Justine foi atender uma cliente importante no ateliê. — Cadê a Giovanna? — Está fazendo o trabalho na casa das amigas. — Sei! — Bryan riu e coçou a nuca. Na certa, ela estava se divertindo com as amigas e tapeou dona Laura. — Vá ao escritório e não discuta com o seu pai… — a voz crepitante da idosa deu o conselho. Sem pressa alguma, Bryan rumou pelos corredores da mansão. Mentalmente, ele já estava se preparando para tomar uma bronca. Antes de bater, cerrou os olhos e
Após a acalorada discussão no escritório, Bryan subiu ao quarto e, sem demora, tomou um banho. A água morna escorria por seu rosto enquanto ele tentava apagar as palavras ríspidas que haviam sido trocadas com o pai. Assim que terminou, vestiu-se, pegou o celular, as chaves do carro e saiu. Ao surgir no corredor, deparou-se com a mãe, que o aguardava com uma expressão preocupada. — Bryan, aonde vai? — perguntou ela, cruzando os braços. — Vou encontrar uns amigos. Justine suspirou profundamente. — Você devia estudar e tentar recuperar suas notas. — Para quê? — Bryan parou e, com um olhar desafiador, retorquiu. — A senhora quer que eu viva estressado com o trabalho, igual ao meu pai? A resposta a pegou de surpresa, mas ela manteve a serenidade. — Meu filho, se não está gostando de cursar economia, escolha outro curso. Não é tarde para mudar de caminho. Bryan balançou a cabeça, claramente impaciente. — Quero jogar futebol, mãe. É isso que quero fazer da minha vida.