O relógio marcava pouco mais de seis da manhã quando Justine, de olhos ainda sonolentos, desceu as escadas em silêncio. Ela havia planejado cada detalhe da surpresa. A cozinha parecia iluminada por um brilho especial enquanto ela preparava o bolo de chocolate. O aroma doce misturava-se ao frescor da manhã, preenchendo o ambiente com uma atmosfera de expectativa. Sobre o balcão, morangos vermelhos e suculentos aguardavam para decorar a obra-prima. Com o bolo pronto e cuidadosamente colocado sobre uma bandeja, Justine subiu para o quarto, onde Kevin dormia tranquilamente. Ao abrir as cortinas, a luz suave invadiu o espaço, tocando o rosto dele como um convite para acordar. — Acorde, dorminhoco… — disse ela, com um sorriso. Antes que Kevin pudesse reagir, Bryan, animado como sempre, subiu na cama e começou a pular. — Levanta, papai! — gritou o menino com energia. — Vocês não gostam de dormir… — Protestando com uma voz rouca, Kevin abriu os olhos devagar. — É seu aniversário, papai!
Dois anos haviam se passado desde que Justine se tornou um dos nomes mais comentados da alta moda. Na Paris Fashion Week, ela observava sua coleção de outono/inverno desfilar na passarela com uma expressão de realização plena. O brilho nos olhos traduzia não apenas o orgulho de quem vê seus sonhos se concretizarem, mas com gratidão pelo caminho percorrido. O seu trabalho passou por desafios, mas o esforço havia rendido frutos. Ao seu lado, Kevin aplaudia com genuíno entusiasmo, ciente de que Justine era o coração de tudo aquilo. Enquanto ela brilhava em seu universo criativo, Kevin celebrava outro tipo de conquista. Bryan se destacou no futebol durante os campeonatos escolares. Ele nunca perdeu um treino ou jogo, via o talento do garoto florescer. — Um dia o veremos no Milan. — Orgulhoso, o pai não escondia a empolgação ao comentar com os sócios. Aquele era mais que um sonho; era um voto de confiança no futuro promissor do filho. Em casa, a pequena Giovanna era a alegria de t
Justine estava acompanhando um marido numa festa onde viu uma bela cantora se apresentando. Kevin toma bebida enquanto conversa com o sócio de longa data. — Aqui está o cartão do meu ateliê e de uma das minhas lojas, — disse Justine para a senhora, tentando desconversar.Só queria sair dali e saber o porquê de Kevin olhar tanto para a italiana loira que cantarolava. “Quem era ela e de onde ele a conhece?” Perguntou-se, franzindo o cenho enquanto caminhava com graciosidade na direção do marido.— Com licença! — Justine sorriu para o outro homem alto e depois olhou para o marido.— Oi, amore mio. — Kevin enlaçou-a pela cintura numa atitude possessiva. — Quero te apresentar o meu sócio Lorenzo Gambino.Assim como o senhor Harrison, o sócio também liderava alguns dos negócios escusos no submundo do crime.— Ela canta muito bem, não é mesmo? — Perguntou Justine.— Marie é divina, perfeita. — Lorenzo manteve os olhos focados na italiana loira que desceu do palco e veio devagar na direção de
Bryan havia acabado de chegar de viagem. O rapaz tinha o corpo bem exercitado devido aos treinos na academia e no campo de futebol. Ele mal colocou os pés na casa quando foi avisado por Dona Laura que o pai o esperava no escritório. — Ele está zangado, vó? — Bastante. — A mulher de cabelos brancos respondeu. — Eu deveria estar aborrecido porque ele não mandou o dinheiro e não pagou os cartões esse mês. — Bryan, vá com calma, — a voz calma aconselhou o neto. — Não discuta com o seu pai. — Onde está a mamãe? — Justine foi atender uma cliente importante no ateliê. — Cadê a Giovanna? — Está fazendo o trabalho na casa das amigas. — Sei! — Bryan riu e coçou a nuca. Na certa, ela estava se divertindo com as amigas e tapeou dona Laura. — Vá ao escritório e não discuta com o seu pai… — a voz crepitante da idosa deu o conselho. Sem pressa alguma, Bryan rumou pelos corredores da mansão. Mentalmente, ele já estava se preparando para tomar uma bronca. Antes de bater, cerrou os olhos e
Após a acalorada discussão no escritório, Bryan subiu ao quarto e, sem demora, tomou um banho. A água morna escorria por seu rosto enquanto ele tentava apagar as palavras ríspidas que haviam sido trocadas com o pai. Assim que terminou, vestiu-se, pegou o celular, as chaves do carro e saiu. Ao surgir no corredor, deparou-se com a mãe, que o aguardava com uma expressão preocupada. — Bryan, aonde vai? — perguntou ela, cruzando os braços. — Vou encontrar uns amigos. Justine suspirou profundamente. — Você devia estudar e tentar recuperar suas notas. — Para quê? — Bryan parou e, com um olhar desafiador, retorquiu. — A senhora quer que eu viva estressado com o trabalho, igual ao meu pai? A resposta a pegou de surpresa, mas ela manteve a serenidade. — Meu filho, se não está gostando de cursar economia, escolha outro curso. Não é tarde para mudar de caminho. Bryan balançou a cabeça, claramente impaciente. — Quero jogar futebol, mãe. É isso que quero fazer da minha vida.
Bryan caminhava apressado, ignorando as pessoas que por ali passavam. Com um sotaque italiano inconfundível, e olhar altivo, a garota havia despertado algo que nenhuma outra conseguiu. O modo como ela o ignorou feriu seu ego, como também o instigou. Não era apenas desejo, era um desafio. — Espere! — Ele exclamou. Tentou alcançar a jovem que andava sem olhar para trás, como se não o ouvisse ou, pior, como se ele fosse invisível. — Pare de me seguir… — respondeu ela, sem sequer virar o rosto. Por mais segura que ela parecesse, algo naquele encontro também mexeu com ela. Antes que pudesse insistir, dois homens robustos desceram de um carro preto estacionado na esquina. Outro, que parecia mais jovem, surgiu atrás dele e, sem aviso, torceu-lhe o braço, prendendo-o em um movimento rápido e preciso. Bryan sentiu a dor irradiar pelo ombro, mas manteve o semblante duro. — Esse rapaz está te incomodando, senhorita Gambino? — perguntou o segurança, fitando Bella com respeito quase servil.
No quarto, Justine terminou de se maquiar e ajeitar os cabelos num penteado que realçou as maçãs proeminentes de seu rosto. Terminou de colocar os brincos, mas teve dificuldades de ajustar o fecho do colar com uma pedra de diamante na ponta. A porta abriu, e no instante em que ouviu o suave clique da porta ao fechar-se, ela virou o pescoço brevemente para ver o marido entrando. O semblante severo indicava que ele teve um daqueles dias em que tudo à sua volta o irritava. Ele tirou lentamente o blazer de seu terno negro, exibindo seus enormes ombros. — Problemas? — Justine voltou a olhar a bela mulher de meia-idade refletida no espelho. Apesar de os anos terem passado, ela mantinha a boa aparência com ajuda de cuidados estéticos e com uma boa alimentação. — Bryan! — Já conversei e pedi para ele melhorar as notas e… — Não! — Ergueu a mão para interrompê-la. — Desta vez, ele conseguiu aborrecer alguém que não devia. — Lorenzo ligou e disse que Bryan estava perseguindo a filha dele.
Bryan estava inquieto enquanto esperava pela mãe no corredor. Seus olhos estavam fixos na porta fechada à sua frente, enquanto ele verificava a hora no celular. A ansiedade e o incômodo transpareciam em seu rosto. — Posso entrar? — Bryan questionou, impaciente. — Não! Estou me vestindo… espere um pouco, Bryan. — A resposta veio rápida e cortante. Ele bufou, irritado com a demora, e saiu em direção ao seu quarto. Sem hesitar, pegou o celular e começou a olhar as mensagens recebidas. Os comentários sarcásticos dos amigos não ajudaram a aliviar o mal-estar que sentia. Harry havia deixado um áudio debochado, enquanto Will enviou uma mensagem de texto sugerindo que ele “admitisse a derrota”. Aqueles meninos pareciam divertir-se à custa de seu desconforto.Bryan jogou-se na cama, esticando as pernas, ainda absorto nas palavras dos amigos. A maneira como foi tratado por Bella ainda o incomodava. Ele pensou em algo mais profundo, algo que explicasse o desprezo daquela garota. Contudo, não