Traição e Humilhação

Na noite anterior, Justine mal conseguiu pregar os olhos após satisfazer o marido vigoroso. As coisas estavam tomando um rumo inesperado e ela não podia continuar naquela situação. Quando o celular vibrou na cabeceira ao lado da cama, Justine apanhou o iPhone e foi direto ao banheiro para falar com Andrew e acabar com o acordo.

Ao voltar para a cama, sentiu o toque de Kevin, mas a cabeça latejava. Mal sabia como conseguiria sair daquela situação. 

Na manhã seguinte, Justine acordou cedo, mas, como sempre, Kevin tinha saído mais cedo para alguma reunião.

Durante o dia, ela cumpriu o expediente em seu ateliê de Designer de Moda e, mais tarde, foi até a clínica médica, onde confirmou a gravidez. Ela voltou ao carro e seguiu para a joalheria e devolveu o colar de diamantes e os brincos que o marido tinha lhe dado na noite anterior.

Na cafeteria, ela encontrou uma amiga que lhe apresentou um joalheiro. Na primeira oferta pelo restante das joias, Justine aceitou.

Antes de chegar à casa do padrasto, ela desligou o celular, temendo que o marido ligasse na hora em que ela estivesse conversando com Andrew.

— Convença o Kevin assinar o acordo de cisão ou eu mesmo vou contar tudo para o seu marido. — Andrew insistiu que ela concluísse o plano.

Justine olhou para a mãe, mas Sophia não a ajudou. A mulher de meia-idade tinha uma beleza realçada por procedimentos cirúrgicos.

— O acordo acabou, não te devo mais nada, aqui estava tudo o que eu te devia — Justine deixou o pacote com o malote de dinheiro sobre a mesa. — Não se preocupe com Kevin, eu mesma vou contar tudo ao meu marido.

Andrew bateu com a mão aberta na mesa. Os olhos apertados voltaram-se para a mulher que bebia uma taça de vinho tinto.

— Converse com sua filha ou pode procurar outro lugar para morar, Sophia. — Esbravejou Andrew antes de sair do escritório com móveis rústicos.

Pondo a taça sobre a mesa, as pupilas negras de Sophia miraram na garota que acariciava o ventre.

— Vai mesmo fazer isso? — Sophia questionou.

— Vou!

— De qualquer maneira, o Kevin não vai te perdoar.

— O meu marido me ama, mãe.

— Nenhum amor resiste a uma traição, querida.

— Se o Kevin me ama de verdade, então ele vai me perdoar.

— Pense bem, querida, nós dependemos desse acordo de cisão para termos um teto sobre as nossas cabeças.

— Não preciso mais da ajuda do Andrew. — Após redarguir, Justine segurou a alça da bolsa e saiu.

Justine trabalhava com afinco em seu ateliê de modas e, se o marido pedisse o divórcio, ela tiraria o sustento de seu trabalho.  

— Já chega! Diga ao Andrew que eu não farei mais parte disso.

Durante a noite, não havia estrelas quando o Audi A1 vermelho estacionou em frente ao enorme portão da mansão Harrison Giordano. Justine pressionou o botão para ligar o para-brisa e secar as primeiras gotas de chuva que começaram a cair sobre o vidro do carro.

A mente e o coração estavam conturbados. Os olhos cor de âmbar se detiveram no retrovisor quando avistou o Porsche preto, que parou logo atrás.

O coração saltitou ao ver o marido sair do carro. Ao chegar mais perto, Kevin cerrou a mão direita e bateu na janela do Audi. Logo, ela acionou o botão, abaixando o vidro.

— Oi, querido! — A voz dela titubeou quando o cumprimentou.

— Saia do carro. — As três palavras de ordem estavam carregadas de fúria.

Justine ainda segurava o envelope na mão trêmula. Ela abriu a porta e desceu devagar. Subitamente, o seu braço foi agarrado pela mão comprida de Kevin.

— Onde estava? — O olhar gélido a perscrutou.

— Fui à casa de Beatrice.

— Não minta para mim! — A voz rouca berrou. — A Beatrice foi ao meu escritório pouco antes de eu sair.

Outro carro preto parou. Os seguranças, que passaram a tarde seguindo Justine, saíram do automóvel. Kevin fez sinal para o seu assistente, que se aproximou.

— Onde ela estava, Alessandro? — Ele sibilou a pergunta entre os dentes.

— A sua esposa saiu da mansão do Turner pouco antes de voltar para casa.

O olhar de Justine voou até encontrar o belo rosto do homem comprido. Ela mirou na mandíbula apertada do marido.

— Vá embora! — Kevin mandou ao assumir a sua habitual postura autoritária.

Era assim que ele agia com os funcionários, mas nunca a tratou daquela maneira.

— Posso explicar tudo, meu amor.

— Estou farto das suas mentiras! — Ele soltou o braço magro de Justine. — Saia logo daqui antes que eu faça algo do qual vou me arrepender. — Kevin cerrou os punhos ao lado do corpo, esforçando-se para manter o controle.

Um clarão riscou o céu, fazendo-a encolher-se. Justine tampou os ouvidos com as mãos quando o som do raio ressoou como um monstro enfurecido.

— Estou grávida! — Ela mostrou o envelope que segurava.

— Procure o Andrew Turner, esse filho não é meu. — A raiva era tanta que ele se recusou a acreditar.

Dando-lhe as costas, ele entrou no Audi, deixando-a para trás. Equilibrando-se no salto, ela correu com intenção de alcançá-lo, mas acabou tropeçando nos próprios pés e caindo no chão.

— Kevin, por favor, vamos conversar — a voz chorosa de Justine pediu.

Por um momento, o instinto protetor o compeliu a olhar sobre o ombro direito. Ele suspirou fundo, resistindo à vontade de retroceder.

— Você me traiu com o meu pior inimigo, Justine. — Ele apertou os olhos ao fitá-la pela última vez. — Não há mais nada para conversar.

A chuva estava ficando cada vez mais forte. Gotas pesadas caíam sobre o belo rosto oval de Justine. A água escorria pelas mechas loiras escuras. Apressando-se, ela levantou e passou a mão, puxando o tecido para ajustar o vestido preto da Gucci.

Kevin entrou no Audi vermelho e fechou a porta do automóvel. Olhou para o lado quando Justine começou a bater com a palma da mão aberta na janela do lado do motorista. Ela continuava pedindo para deixá-la entrar e explicar tudo, mas era tarde demais. Ele não estava disposto a lhe dar uma chance.

Antes de voltar para casa, Kevin descobriu que a esposa passou na joalheria para pegar o dinheiro das joias de volta. Tinha que tomar o Audi antes que ela fizesse o mesmo com o carro. Mantendo sua postura firme, Kevin pisou no acelerador no momento em que o portão abriu.

A fisionomia inescrutável misturou-se ao clima mórbido daquela noite. O olhar taciturno fitou a esposa pelo retrovisor antes de cruzar os portões de sua luxuosa propriedade. A traição o deixou ainda mais frio e rancoroso.

— Venha, senhora! — Alessandro tentou ajudá-la. — Quer uma carona?

— As minhas coisas ficaram lá dentro, tenho que pegar as minhas roupas e os meus documentos.

— Senhora, eu tenho permissão para lhe dar uma carona, quanto ao restante, o advogado vai entrar em contato para resolver essas questões.

Depois que o Audi e o Porsche preto passaram, o portão fechou. Ela nem ao menos pode pegar a bolsa que ficou no banco do carona do carro. Restava-lhe apenas o resultado positivo de gravidez em suas mãos trêmulas.

— Senhora, quer que a leve até a casa do senhor Turner? — Alessandro perguntou.

Exausta, Justine se limitou a concordar com a cabeça. Ela se sentou no banco de trás do carro, onde o assistente de Kevin assumiu a direção. Sem saber o que fazer, Justine passou a mão no rosto para secar as lágrimas.

“Como tudo virou de ponta-cabeça daquela maneira?” indagou-se em seu subconsciente. “Eu só queria fazer tudo certo desta vez”, lamentou Justine consigo.

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