— Vim até aqui para saber como está o meu filho.— Ele vai ficar bem, Bryan é um garoto forte. — Justine disparou sem olhar no rosto dele.— Já pensou na proposta que te fiz?— O meu filho não está à venda. — Justine replicou secamente. — Não foi isso que insinuei. — A voz profunda de Kevin redarguiu. — Eu te aconselho a se dedicar a sua carreira ao invés de desperdiçar o seu tempo como uma subalterna em uma fábrica de costura. Você já fez muito pelo nosso filho nos últimos anos. De hoje em diante, eu posso cuidar do Bryan enquanto você se dedica a sua profissão.A raiva corroía Justine cada vez que ela ouvia a voz irritante do ex-marido.— Quantas vezes vou ter de dizer que não quero o seu dinheiro? — Levantou o rosto, mirando nos olhos azuis do ex-marido enquanto continuava a falar. — Prefiro ficar com o meu filho. Além disso, eu posso me dedicar a minha vida profissional e recomeçar de onde parei quando estiver na França. Era difícil para o Senhor Harrison aceitar um “Não” como re
Justine abriu os olhos com dificuldade, a cabeça latejando como um martelo em fúria. Uma silhueta esguia se destacava no quarto, desfocada e quase fantasmagórica. Ela piscou, tentando clarear a visão, até que a figura se tornou reconhecível. Beatrice usava um vestido preto de manga longa da Balenciaga. O tecido assimétrico, com torção, realçava sua silhueta magra enquanto andava pelo cômodo do pequeno apartamento com móveis rústicos. — Como se sente, querida? — Beatrice cortou o silêncio. Justine tentou se levantar, mas a dor na cabeça a fez cambalear de volta para a cama.— Traga um pouco de água para ela! — Ao olhar para o guarda-costas, Beatrice ordenou. Os ouvidos de Justine captaram as passadas pesadas e, em seguida, o ranger da porta abrindo e fechando. — Foi o seu noivo quem mandou você me sequestrar? — A voz de Justine era um fio de seda, desaparecendo num sussurro. — Ah, não, o Kevin não tem nada a ver com isso! — Beatrice deu uma risada seca e sem humor. — Aliás, o
O escritório, que normalmente era um santuário de poder e controle, naquele minuto, assemelhava-se ao palco de fúria. O CEO implacável estava à beira de um ataque.— Onde está o meu advogado, porra? — A voz ficava mais rouca quando ele berrava.O assistente engoliu em seco enquanto o suor frio escorria pela testa.— Ele está a caminho, senhor!— Por que está demorando tanto? — Esbravejou Kevin.— Ele estava em uma audiência importante, senhor.O senhor Harrison ajeitou o nó da gravata, sentindo a seda fria contra a pele quente de seus dedos. As veias na testa latejavam, o rosto ficava cada vez mais vermelho. Ele queria reconhecer a paternidade formalmente e colocar o nome na certidão de nascimento do filho de uma vez por todas; mas antes, precisava que Justine cedesse os documentos originais da criança.— Encontrou a minha ex? — Kevin manteve o olhar gélido fixo em Alessandro quando indagou.— Não, senhor! — respondeu o assistente ao tocar no nariz. — A enfermeira do hospital disse qu
Inerte, Justine permanecia presa ao olhar do homem que aguardava por uma resposta. No segundo em que os lábios dela se moveram, o motorista do táxi apareceu.— Quem vai pagar essa corrida?Só naquele instante, Justine sentiu falta da bolsa.— Eu, eu acho que fui roubada… — disse ela, olhando para a idosa ao lado. — Essa senhora me ajudou a chegar aqui.— Desculpe, mas isso não é da minha alçada, — replicou o taxista. — Eu só quero que pague a corrida de Giambellino até aqui.Em silêncio, Kevin franzia o rosto, olhando da ex-mulher para o motorista que exigia o pagamento.— Quanto foi a corrida? — A voz rouca do senhor Harrison se meteu na conversa. — € 17,65 — foi o valor que cobrou o motorista.Tirando a carteira do bolso do longo casaco marrom-escuro, Kevin pegou uma nota de 100 euros e olhou para a senhora ao lado de Justine antes de pagar ao condutor do táxi.— Leve essa senhora de volta e dê o troco para ela.— Muito obrigada, senhor.Com certa relutância, a idosa direcionou um o
O silêncio de Justine o encorajou a continuar:— Por que você tinha que me trair com o meu maior inimigo? — Questionou-a entre dentes. — Você passou uma hora na casa do seu amante, imagino que tenha se divertido muito com Andrew naquele dia.Perplexa, Justine ouvia o interrogatório do ex. Ele sequer notou a maneira como a insultava.— O Andrew nunca foi o meu amante… — respondeu ela antes que Kevin continuasse insultando seus princípios morais.— Então, quer dizer que ele era seu melhor amigo? — A voz profunda estava repleta de sarcasmo.— O Andrew era meu padrasto. — As lágrimas escaparam de seus olhos no momento em que confessou.Cerrando os olhos, Kevin sentiu o nó no estômago. Ele havia se casado com a enteada do homem que fez de tudo para destruir os seus negócios. As pálpebras abriram e os olhos azuis miravam na mulher sentada ao lado da cama do menino que dormia placidamente.— Antes do nosso casamento, você disse que era órfã.Cabisbaixa, ela assentiu com um leve aceno de cabe
Kevin não parava de caminhar de um lado para o outro no corredor do hospital. O seu olhar estava fixo na ex-mulher, que tinha as mãos apertadas nas bordas da saia e os olhos baixos. — Tudo isso é culpa sua! — A voz estava ficando mais rouca de tanto berrar. — Que tipo de mãe deixa o filho correr na frente de um carro? — Eu me distraí por um segundo e Bryan correu para pegar a bola.— A culpa é toda sua, Justine!Kevin não compreendia que ela sacrificava a sua juventude enquanto trabalhava em dois empregos para cuidar do filho. A constante reprovação de Kevin apenas agravava a dor de uma vida já complicada por si só.— Bryan estaria em um hospital melhor se você tivesse concordado com a porra da transferência. — A voz de Kevin se fez ouvir novamente. Justine se concentrou em seus sapatos surrados, como se ela pudesse encontrar alguma resposta ali. O silêncio dela parecia uma defesa mais forte do que qualquer argumento. Kevin parecia não se importar com a luta silenciosa dela; sua
— Por que está usando o casaco do meu noivo? — Os olhos de lince da mulher enciumada examinavam Justine de cima a baixo. — Eu estava com muito frio e o Kevin me emprestou. Beatrice percebeu quando Justine tocou na marca vermelha no pescoço. Aquele aperto forte do capanga poderia ter danificado o esôfago e a traqueia dela. “Será que ela fez fofoca?” Murmurou a questão em seus devaneios. “Justine não seria tão estúpida ao ponto de rejeitar a minha proposta. Ela sabe que ficará sem o filho se fizer isso.” O estalo em sua mente fez com que Beatrice recuperasse sua autoconfiança. — Contou alguma coisa para o meu noivo? — Não contei nada… — Justine retrucou em voz baixa. — Por que ele está aborrecido? — O Kevin vive estressado. — Tenho um calmante perfeito para ele… — Melindrosa, Beatrice teceu o comentário e então umedeceu a boca com a língua. Justine revirou os olhos e, em seguida, deu uma breve olhada para o homem que estava bem distante dela antes de encarar Beatrice mais uma vez
As rodas do Porsche Panamera Turbo seguiam pelas ruas em meio à tempestade que se abatia sobre a cidade. Justine estava acomodada no assento macio do banco traseiro e a sua roupa ensopada molhava o estofado. Sentado do outro lado, Kevin discutia com a noiva pelo celular.— Não sei que horas vou chegar. — A mandíbula dele estava tão apertada que parecia que cada palavra que ele pronunciava era uma luta. — Tenho algo importante para resolver no momento. Te ligo assim que puder, até mais! — Tocou na tela e encerrou a chamada.Minutos antes, o senhor Harrison havia dado a ordem seca e direta para que seu guarda-costas os levasse até Case Bianchi na Via Salomone, uma decisão que vinha carregada de uma urgência fria.Após guardar o celular, Kevin olhou de soslaio para Justine, que estava encostada no banco. Os olhos dourados estavam voltados para a janela, como se a vista turva da chuva pudesse oferecer algum tipo de alívio. A presença da ex-mulher dentro do veículo trazia uma recordação c