O céu de Madri começava a clarear. A luz filtrou pelas cortinas de seda, como fios de ouro derretido no quarto quando Victor despertou, sentando-se à beira da cama. Saiu com o olhar fixo para o celular. Estava decidido, dessa vez, não responderia à esposa.
A notificação do vídeo dançando tango com Ruth já somava milhões de visualizações. Os comentários exaltavam a conexão entre eles, mas isso só o deixava mais confuso. Ele passou os dedos pelos cabelos, suspirando fundo a lembrança daquele momento.
Ruth, havia acordado mais leve do que nunca. Ao abrir as cortinas do quarto, respirou fundo, observando a cidade que ainda despertava. Ela tocou os lábios, como se ainda sentisse o calor discreto da oportunidade que teve. Sorriu empolgada, mas o sorriso logo se desfez ao lembrar da sua prima.
Horas depois, no café da manhã servido
O relógio ainda marcava nove horas da manhã quando as portas da Enterprise se abriram para o casal mais comentado dos últimos dias. Valentina surgiu imponente, em um vestido midi de linho que realçava sua silhueta, salto de couro preto e seu clássico óculos escuros, como se anunciasse um novo reinado. De mãos dadas com Victor, cada passo deles era seguido por sussurros e olhares disfarçados – ou nem tanto. A tensão no ar era nítida, não somente pelo poder que exalavam, mas por algo mais... havia algo diferente.Do outro lado do hall, Júlia arregalou os olhos, pulando para perto de Alice, que observava tudo com atenção.— Você viu isso?! — Sussurrou, com os olhos saltados.— Como não ver? — Respondeu Alice, ainda tentando processar a cena. — Se Dora estivesse aqui, com certeza teria alguma teoria maluca… e talvez certa.Valentina então puxou o braço de Victor, pedindo que ele esperasse um pouco. Ele assentiu, mas antes de seguir, se virou diretamente para Alice.— Preciso que chame Car
O iate balançava suavemente, mas o ar entre os três estava carregado de tensão. No meio daquele turbilhão de emoções, Ruth se via isolada, encurralada diante do mar revolto, como se ele refletisse o caos dentro de si. — Qual é a minha sentença por gostar de alguém comprometido?! — gritou, com os olhos marejados e a voz embargada. Valentina soltou uma risada debochada, cortante como lâmina. — Quer que eu te jogue no mar? Ou prefere um showzinho particular? Sei lá, podem dançar um tango pra mim... Seria bem romântico. Victor ficou perplexo. Aquela faceta de Valentina o desconcertava — era imprevisível, quase cruel. Ruth, porém, não se calou. — Eu não sou seu brinquedo, Valentina. Não vou me curvar aos seus caprichos. E não tenho medo de holofotes. Diferente de você... que precisa fingir amor pra conseguir atenção. As palavras cortaram fundo. Valentina tremeu por um segundo, mas ergueu o queixo, mantendo a pose. Victor tentou apaziguar.— Vamos dançar. Só pra mostrar que não é
O coração disparou, antes mesmo que ela abrisse os olhos. O despertador tocou pela terceira vez, até que Alice finalmente se levantou, em um salto, como se tivesse levado um choque. Tinha passado a madrugada acordada em meio a resolução de problemas de projetos do seu chefe.A garota correu para o banheiro, e o espelho lhe devolveu o reflexo: os fios de cabelo loiro-mel um caos, os olhos âmbar arregalados em suto, vencido pelo cansaço, escovou os dentes com pressa e jogou água gelada no rosto. Não havia tempo para grandes ajustes, então fez um coque improvisado, colocou sua bolsa no ombro e desceu as escadas às pressas, desviando do seu irmão mais novo, Tomás, que bloqueava a passagem com uma mochila gigante.— Droga, vou chegar atrasada de novo! — Resmungou, conferindo a hora.Morar com os pais e dois irmãos, um de doze e outro de vinte anos, significava uma rotina caótica. Entre discussões sobre quem usaria o banheiro primeiro e a briga por café da manhã, sair no horário era quase um
Alice ainda sentia o eco das palavras de Dora e Dona Santa em sua mente quando se afastou do refeitório. O peso da conversa parecia ter ficado impregnado na sua mente, uma sensação estranha, como se estivesse carregando um segredo perigoso. Tentando se concentrar no trabalho, ela passou por alguns departamentos, trocando cumprimentos rápidos com colegas. Mas sua mente não conseguia se afastar da imagem de Valentina Lancaster. A postura, o sorriso, o olhar, tudo parecia envolver Alice em uma rede de incertezas e angústia. Ela ainda estava tentando processar o que tinha acontecido de estranho, quando o telefone tocou e precisou se dirigir ao escritório do CEO. Ela parecia anestesiada, sentindo o cheiro de perfume caro que preenchia o ar.O escritório de Victor era um reflexo sofisticado da empresa, que trabalhava com cosméticos de luxo. Era um lugar organizado e imponente, um espaço dominado por uma grande mesa de mogno escuro, ladeada por poltronas rústicas. As paredes eram cobertas p
A sala de reuniões estava impecavelmente organizada, mas o ar quente e carregado de expectativa fazia o ambiente parecer menor. Alice distribuía os papéis da campanha, sentindo a pressão pairar sobre a equipe. A nova fragrância de outono não poderia ter falhas, e ela sabia que tudo dependeria da forma como a reunião acontecesse.O som suave da porta se abrindo fez com que algumas cabeças se virassem. Valentina entrou. Seu andar era impecável, a postura tão precisa que, por um instante, parecia que tudo ao redor perdia importância.O vestido formal lhe caía como uma segunda pele, e ao se aproximar da mesa, Ao atravessar a porta, com um leve sorriso, sentou-se na cadeira mais próxima, cruzando as pernas de forma impecável. pousou sua bolsa tiracolo na cadeira ao lado e retirou os óculos escuros com um gesto fluido, deixando-os sobre os papeis. Valentina possuía um gesto elegante. Ela demonstrava tanta naturalidade que até as luzes da sala pareciam se ajustar à sua presença. Antes de mai
Diferente de Valentina, que exalava um magnetismo intenso, Alice era mais tranquila como uma brisa suave em meio a uma tempestade. Valentina sabia que não era qualquer pessoa que trabalhava para seu marido, só pessoas altamente eficazes e de confiança. E isso despertava o desejo dela de explorar o mundo de Alice. O que ela tinha de tão especial? — Você é publicitária, certo? — Valentina perguntou, com um ar de interesse. — Sou sim… — Alice respondeu, sem entender aonde aquilo ia levar.Valentina sorriu de canto e se levantou, chegando mais próximo de Alice. — Minha proposta é simples, quero que você trabalhe comigo. O silêncio preencheu a sala. Alice piscou, confusa. Victor arregalou os olhos, indignado. Não podia acreditar no que acabara de ouvir. Em um movimento instintivo, puxou Valentina pelo braço, obrigando-a a encará-lo. — Que palhaçada é essa? Como você ousa ser cara de pau! — disparou, com os olhos faiscando. — Fazer uma proposta dessas para minha assistente?! Valent
Algumas semanas depois, Alice assinava o contrato que a tornava oficialmente agente publicitária da nova empresa de Valentina. Ela mal acreditava no que acabara de assinar. Mas aquilo era apenas o começo. Não apenas pelo cargo da nova linha de Valentina, mas pelo que aquilo significava. Valentina estava construindo algo ambicioso, e ela seria uma das primeiras a ver de perto e ter melhores oportunidades de reconhecimento no mercado.No final da tarde, Valentina a levou para conhecer o novo local de trabalho. O edifício ficava na Avenue, a poucos quarteirões da sede da Lancaster, e logo não se tratava de uma empresa comum. Ao cruzar as portas automáticas, Alice foi recebida por um ambiente que misturava elegância e inovação. A fachada era revestida de tijolos ecológicos e aço com paineis que cobriam parte da estrutura. Ao entrar, Alice sentiu o frescor do ambiente. O ar não era acondicionado de forma artificial, mas por um sistema de ventilação inteligente que regulava a temperatura co
Alice, concentrada na tela do computador, ergueu o olhar. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo simples, expondo a linha delicada do pescoço. Antes que pudesse reagir, sentiu o frescor cítrico tocar sua pele quando Valentina borrifou a fragrância sobre ela.— Sente a diferença? — Valentina perguntou, ansiosa, inclinando-se levemente, observando cada detalhe da reação da assistente.Alice piscou algumas vezes, inspirando devagar. O cheiro era agradável, sim, mas… não tão diferente do que já conhecia.— Hm… está agradável, mas… — hesitou, escolhendo bem as palavras.Valentina franziu a testa.— Mas, o que tem de errado?— Não sei se percebo algo tão distinto assim.— Estranho… Carlito ficou encantado com a nuance. Ele disse que era o toque que faltava. Finalmente capturamos a essência do outono.Alice olhou para a patroa, que agora cruzava os braços, desconfiada. Sentia que deveria dizer algo a mais, mas não queria mentir. Antes que pudesse pensar numa resposta, Valentina a surpree