Antes que eu pudesse abrir os olhos, já percebia a falta dele na cama. O único rastro de sua presença, era o cheiro do perfume que ainda estava impregnado no travesseiro.
Sorrio e passo as mãos pelo meu rosto, relembrando os melhores detalhes da noite passada. Ela havia sido única, maravilhosa e me renderia banhos longos.
Pulo da cama e levanto o colchão. Pego a chave do cadeado e vou até o armário. Depois de abrir o pequeno cadeado, retiro uma lingerie, calça jeans e uma blusa de frio. Tranco-o e vou para o banheiro.
Só tinha um chuveiro, uma pequena pia com um espelho acima e um vaso sanitário. Coloco minhas roupas em cima do vaso e vou para o chuveiro. Deixo que a água quentinha escorra pelo meu corpo e não mexo um músculo. Estava sentindo umas fisgadas no pescoço. Era como se Liam estivesse por ali, raspando sua barba, enquanto sua mão tocava a minha intimidade.
Balanço minha cabeça e arfo.
Por que estou pensando nele? Foi apenas um cliente. Mais um cliente.
Termino o banho rapidamente, evitando pensar em Liam novamente. Seco-me e visto a roupa escolhida. Depois de escovar os dentes, penteio o meu cabelo negro e o prendo em um rabo de cavalo alto. Volto para o quarto e puxo de debaixo da cama, uma bota de cano médio preta. Quando acabo de calçá-la, escuto duas batidas na minha porta.
Era Gabriella. Minha melhor amiga nesse lugar.
— Aonde vamos hoje?
— Sei lá! — me levanto. — Só quero sair um pouco daqui e caminhar.
Ela me olha desconfiada, com aqueles enormes olhos castanhos.
— Por quê? Fiquei sabendo que sua noite ontem foi bem maravilhosa.
— Como assim? Bem, vamos deixar para falar lá fora.
Pego uma bolsa pequena e saio do quarto com ela. Era cerca de dez da manhã, então não havia quase ninguém acordado. A noite havia sido longa.
— Agora fala! — Gabi exclama, quando saímos no frio londrino. — O que você fez com ele?
— Você sabe o que acontece no quarto.
Ela bufa.
— O homem só foi embora às seis da manhã. Eles nunca vão embora quando o sol está aparecendo.
As seis?
— Sério?
— Não sabia? — balanço a cabeça negativamente e atravesso a rua. — Nossa... mas como foi?
— Amiga, foi... diferente. Eu senti aquilo. Foi a coisa mais intensa que já vivi na minha vida. A sensação... foi a coisa mais louca. Nossa... — solto uma risada.
Era só eu fechar os olhos, que as imagens da noite passada invadiam a minha mente.
Faço sinal para o ônibus que vinha e nós subimos.
Quando saio para passear, não costumo ficar pelas redondezas da casa. Aqueles comerciantes dali, não nos respeitam. Ficam nos xingando e expulsando-nos dali. Então eu prefiro pegar um ônibus e ir para o outro lado da cidade.
— E quando ele volta? — ela pergunta.
— Não sei.
— Não falaram sobre?
A olho.
— Não falamos nada! Bem... ele perguntou meu nome de verdade. Fiquei intimidada. Mas depois tudo ocorreu bem.
— Você falou?
— O que?
— Seu nome.
— Ficou louca? — aumento a voz. — Nunca!
— Calma!
Respiro fundo.
Não gosto quando falam sobre meu nome ou pedem para que eu me abra. A resposta sempre será NÃO, para essas coisas. Diante de tudo o que eu já vivi, prefiro me manter na minha.
Ela começa a falar como foi a noite passada, com seu sotaque brasileiro engraçado.
Entramos na primeira cafeteria a nossa frente. Não era nenhuma cafeteria famosa e super frequentada. E sim uma daquelas cafeterias bem antigas.
Nos sentamos nos bancos altos e uma garçonete se aproxima.
— O que desejam?
— Panquecas com um cappuccino. — peço.
— O mesmo.
A menina nos lança um sorriso e se afasta.
— Ah amiga... — Gabi se espreguiça — Estou cansada. Queria uma folga hoje.
— Noite foi pesada?
— Três.
— Nossa. — ela ri. — Novos?
— E lindos. Era aniversário de alguém.
— HAHAHAHA que sorte.
— Está reclamando daquele homem? — ela arregala os olhos para mim.
— Jamais.
Sorrio para ela e focalizo o meu olhar na madeira suja do balcão. Qualquer hora, era hora de pensar na noite passada. Pensar nos beijos dele. Pensar em sua grande mão me tocando.
Como eu queria viver aquilo de novo.
— Mad! — Gabi chama.
— Que?
— O seu pedido.
A olho confusa e então ela aponta para o balcão.
— Ah...
Tento - em vão - afastar as lembranças de ontem e começo a comer. Estava muito bom. Panquecas com caramelo era realmente um vício. Já não sabia viver sem.
Era domingo e estava quase na hora do almoço, então aquele lugar estava lotado. Enquanto eu tentava arrastar Gabriella para a livraria, ela queria ficar encarando e flertando com os meninos que tinham por ali.
— Se você não quer, pelo menos me deixa paquerar alguém. — reclama e se enfia em um dos corredores da livraria, soltando-se de mim.
Reviro os olhos e faço o mesmo que ela.
Passo meus dedos pelos livros expostos e suspiro. Eram todos de romance, daqueles bem impossíveis.
Viro-me e observo a segunda fileira da estante. Um livro grosso, com uma linda menina de olhos azuis na capa, chama minha atenção. Ele se chamava Belle.
Passo os dedos na capa e viro, para ler a descrição.
" Belle Cooper só tinha 15 anos quando sua vida muda para sempre. Morava em um bordel em Londres, administrado por sua mãe, mas nunca entendeu de fato o significado que esta casa tinha. Era proibida de circular pela casa à noite e sua mãe era uma mulher dura, de poucas palavras e quase nenhuma emoção evidente. Mog, a empregada, era praticamente sua mãe verdadeira. Não a teve, mas foi ela que cuidou de Belle, que a colocava para dormir e fez dela a adolescente inteligente, educada e esperta. A mãe de Belle, Annie, fez questão que ela frequentasse a escola, mas não queria enviá-la a uma escola interna, longe do bordel, longe delas. Quando Belle conhece Jimmy Reilly, o sobrinho de Garth, dono de um bar vizinho, percebe que, pela primeira vez na vida, ela acredita que terá um amigo.
Porém Belle, neste mesmo dia, acaba descobrindo o significado de bordel e prostituta quando ficou presa no quarto de uma das garotas da Casa de Annie. Mais do que o ato em si, ela presencia o assassinato de Millie. Dias depois é sequestrada pelo assassino e vendida a um bordel em Paris. E é a aí que o livro começa a chocar. Abusada, explorada e ferida, Belle quase morre, mas é comprada por outra pessoa e enviada a New Orleans. Presa e obrigada a viver em um bordel, Belle decide aproveitar a vida como cortesã e juntar dinheiro o suficiente para poder voltar para casa. Mas é preciso ter coragem para perder a inocência. E nada é tão fácil quando se é uma prostituta. Para muitas delas, é um caminho sem volta."
Arfo.
Parecia que a minha vida, estava exposta naquele livro. Bastou eu ler aquela descrição, para que um filme passasse na minha mente e me fizesse chorar.
— Você está bem?
Soluço e me afasto do menino que havia aparecido. Ele ainda tocou o meu ombro.
— Sim. — respondo, sem o olhar.
— É bom?
Passo a mão pelo meu rosto e o olho.
— O que?
Ele aponta para o livro.
— Não sei. — coloco o livro no lugar.
O garoto era bonito. Devia ser mais novo que eu. Uns dezoito, eu diria. Cabelos loiros e olhos de um verde bem vivo.
— Eu vi quando você entrou. — ele diz. — Você é linda.
— Obrigada. — murmuro.
Então começo a andar para longe dele. Eu achava que ele iria entender o recado e iria embora. Mas não. Ele começou a me seguir.
— Ei! Não quer falar comigo por quê? Tem namorado?
— Não.
— Então pare. Converse comigo.
Eu paro e me viro.
— Eu não acho que eu seja digna de conversar com um garoto como você.
— Mas você é...
— Sou uma mulher muito complicada. E você, um garoto com um brilhante futuro pela frente. Vá atrás disso. Vá atrás de uma menina que se pareça com você e não... comigo.
Ele me olha torto e totalmente confuso com o que eu disse. Simplesmente suspiro e me afasto dele. Procuro Gabriella pelos corredores, até finalmente encontrá-la na porta da livraria, conversando com um menino.
— Estou indo embora. — informo, ao passar por ela.
— Mad? MADDIE, ME ESPERA.
Eu não espero. Ela precisa correr para me alcançar.
— O que houve? — pergunta. — Eu vi você conversando com um loiro.
— É.
— Ele fez algo errado?
— Não. Ele só foi... homem.
— Então... ?
Paro e a olho.
— Gabi, esse não é meu mundo. — abro os braços. — Essa vida — aponto para um casal aos beijos — eu nunca terei. Nunca serei uma garota normal. Nunca terei um namorado ou marido, pois eles nunca irão querer ter uma ex prostituta em suas vidas. Isso é, se um dia, eu deixarei de ser isso. Enfim, vamos embora.
Ela não protesta e nem responde. Apenas entrelaça seu braço ao meu e caminha ao meu lado.
Quando voltamos da rua, elas estão falando sobre a noite passada. Chego no exato momento em que falavam de Liam. — O melhor da noite, foi o da Mad. — ergo a cabeça. — Ele pagou sessenta mil! — Grande coisa. — Ninguém paga sessenta mil, atoa. — Luna diz. — Mad tem algo de especial. Sorrio. — Af. Vocês puxam muito o saco dessa garota! — Cíntia exclama. — Ele deve ser retardado. — Ele é maravilhoso. — Eu sei quem ele é. — Carol murmura, comendo a batata em seu prato. —— Liam Evan White. Um baita empresário no ramo da música. Ele agencia uma banda teen. Hm. — Ele é casado? — Gabriella quis saber. — Parece que não. Ele tem apenas vinte e cinco. Se quiser saber alguma coisa sobre alguém que seja bastante famoso e viva na mídia, pergunte à Carolina. Ela conquistou com muito custo, a compra de um notebook. Uma garota de apenas dezenove anos, com seu sonho de poder entrar em uma faculdade e cursa
Eu não conseguia me mexer. Quem diria respirar. Ver aquele homem ali, na minha frente, fazia todo o meu sangue se esvair do meu corpo. Ele matou a minha irmã. Matou a minha pequena Tiffany. — Mad? — Gabi me sacudia. — Vamos sair daqui. Eu nem respondo. Apenas deixo que ela me puxe para longe daquele homem. Caminhamos para o outro lado do salão e eu fico parada ao lado de um poste de pole dance. Gabi diz que vai dar uma passeada, antes que Marta cisme com ela. Olho tudo à minha frente. Eram várias as mesas, com um tecido verde e um desenho de cartas. Em todas elas, havia pelo menos quatro homens. Todos gritavam muito. Boa parte estava bêbado e com uma mulher sentada em sua perna. Eu olhava rosto por rosto em busca dele. Quem sabe ele não gostasse desse tipo de jogo. Mas pelo que eu via, ele não se encontrava hoje. Será que ele volta? — Tiffany? — ergo meu olhar, e olho para Marta. — O que faz parada aí? —
O dia seguinte foi pior. Minha mente insistia em me dizer que eu fui fraca, em ter simplesmente me deitado com o homem que havia matado minha irmã. Mas as opções que me era possíveis, era gritar aos quatro ventos o que havia acontecido e chamava a polícia ou simplesmente fazia o que fiz. Eu tomei um banho de quase uma hora e ainda sentia como se estivesse rolado em todas as sujeiras que existe no mundo. Não podia dizer que horas eram lá fora. Eu não conseguira dormir e muito menos ter forças para sair da cama. Gabriella, Juli e a própria Marta, vieram ao meu encontro milhares de vezes, com perguntas sobre a noite passada. Mas eu não as dizia nada. Parecia até que eu estava em estado de choque. Já devia ter mais de vinte e quatro horas que eu estava acordada. Meu estomago urrava de fome, mas eu não tinha forças para sair da cama. Na verdade, eu nem queria sair. — Chega! A porta é aberta com força, mas eu nem me mexo. — Levanta-se dessa
— Entra. Obedeço-o prontamente. O apartamento dele era maravilhoso. Enorme. E pelas escadas que eu podia ver, tinha segundo andar. Caminho pela sala, indo até a enorme estante. Havia várias fotos, com muitas pessoas diferentes. Tinha com um casal mais velho, que supostamente seriam seus pais. Tinha com quatro garotos. Um tinha cabelo colorido. — É a banda com quem você trabalha? — pergunto. — Como sabe que trabalho com uma banda? Viro-me e o encaro. Ele estava parado perto da porta, com os braços cruzados. — Tem uma menina lá... que pesquisou a sua vida. Mas eu não pedi! — me defendo. — Acredito em você. Balanço a bolsa em minha mão e suspiro. — Então... vamos começar? — Para que a pressa? Não vamos a lugar nenhum hoje. Nem amanhã. Sorrio. Vou passar a noite toda com ele. Gostei. — Vamos conversar. — diz. — Oi? — Vamos conversar. — repete e desgruda da par
Acordo sentindo uma respiração pesada no meu ouvido. Abro os olhos lentamente e vejo que estou no quarto de Liam. Não lembro de ter vindo para a cama. Lembro de beber vinho, comer pizza e assistir um filme de comédia. Como ele havia prometido. Agora vir para o quarto, não. Ele estava abraçado a mim de uma forma tão forte, que me faz pensar que qualquer coisa seria incapaz de nos desgrudar. Depois que lhe contei meu nome e o que havia acontecido, Liam não me fez pergunta alguma. Eu sentia que tinha sido precipitada em contar aquilo a ele tão rápido, mas meu coração estava em paz por ter finalmente falado sobre. Eu queria que fosse possível sair daquele abraço. Liam havia sido tão gentil comigo, que eu tinha planos de lhe fazer um café da manhã. Só para agradecer tal cavalheirismo. Mas ele não me soltava. O abraço dele era muito apertado. E bom. Depois de um tempo, eu desisto. Passo minha mão pelo seu braço e entrelaço meus dedos aos dele. Liam
— OLHA QUEM CHEGOU!Assusto-me com a barulhenta recepção de Gabriella. Ela e as outras meninas estavam limpando o salão.— Oi. — sorrio e aceno. — Querem ajuda?— Claro que não. Queremos informações.— Ahhh, Gabi, eu estou cansada.— Ele é mesmo quem a Ca disse ser?Ela parece não se importar com o que acabei de dizer.— É. E muito mais.Elas ficam eufóricas e falam entre si. Aproveito a deixa e escapo para o quarto. Estava quase chegando, quando a voz dela me faz parar.— Fez tudo certinho?Reviro os olhos.— Direitinho, Cíntia. Não há nada com o que se preocupar.— E ele te pagou?Franzo o cenho e me viro.— Que?— Ele pagou os seus serviços?— Não. Deve ter resolvido tudo com Marta. P
Eu observava de longe, enquanto Ryder falava com o filho. Nunca imaginei que veria esse tipo de coisa acontecer. Não atualmente.Quando percebo que o homem mandou que o garoto viesse até mim, termino de beber o drink em minha mão e deixo o copo de lado.Não sabia o que falar ou como agir com aquele menino tão inocente.Ele para na minha frente e eu lanço um sorriso encorajador.— Sou Ethan.Ele tinha uma voz rouca e fofa.— É um prazer conhecê-lo, Ethan. Podemos subir?— Já? — pergunta, assustado.Solto uma risada.— Não precisa se assustar. Só vamos sair daqui. Ir para um lugar silencioso.— Tu-tudo bem.Eu só conseguia achar graça daquilo.— Apenas me siga.Ethan pisca algumas vezes e assente.Caminho na direção da escada, capturando os olha
— Juro que estou muito surpreso de te encontrar por aqui. É do outro lado de onde você mora.— Eu sei. — viro-me para ele. — E pelo que me lembro, seu apartamento não é por aqui.Liam sorri.— Mas meu trabalho, é.Olho em volta. Com certeza um daqueles luxuosos prédios deveria ser onde ele trabalha.Liam estava usando terno e gravata. Uma cinza, que me lembrava muito um certo livro erótico. Eu conseguia imaginar nós dois em várias cenas daqueles livros. Acabo dando um sorriso, o que chama atenção dele.— Que foi? — Liam questiona.— Nada. Estava apenas pensando.— Por que não tomamos um café e você me conta seus pensamentos?— O café eu topo, mas é melhor eu manter meus pensamentos só comigo.Liam me encara e assente. Dou um passo à