Quando voltamos da rua, elas estão falando sobre a noite passada. Chego no exato momento em que falavam de Liam.
— O melhor da noite, foi o da Mad. — ergo a cabeça. — Ele pagou sessenta mil!
— Grande coisa.
— Ninguém paga sessenta mil, atoa. — Luna diz. — Mad tem algo de especial.
Sorrio.
— Af. Vocês puxam muito o saco dessa garota! — Cíntia exclama. — Ele deve ser retardado.
— Ele é maravilhoso.
— Eu sei quem ele é. — Carol murmura, comendo a batata em seu prato. —— Liam Evan White. Um baita empresário no ramo da música. Ele agencia uma banda teen.
Hm.
— Ele é casado? — Gabriella quis saber.
— Parece que não. Ele tem apenas vinte e cinco.
Se quiser saber alguma coisa sobre alguém que seja bastante famoso e viva na mídia, pergunte à Carolina. Ela conquistou com muito custo, a compra de um notebook. Uma garota de apenas dezenove anos, com seu sonho de poder entrar em uma faculdade e cursar jornalismo ou publicidade. Mas com a morte precoce dos seus pais, ela teve que se virar desde muito cedo. Arrumou alguns empregos de baixa renda, mas nunca conseguiu se dar bem. Até que ela bateu aqui na porta. Segundo ela, o trabalho aqui é só até ter dinheiro o suficiente para bancar sua faculdade e poder viver longe daqui. Ela é pequena. Tem lá seus um metro e cinquenta. Cabelos longos, na cor castanho claro. Tem olhos pequenos e castanhos. Um piercing no septo, e outro no smile. Ela era uma deusa.
— Como conseguiu saber tudo isso? — Cíntia questiona.
— Eu estava assistindo o leilão de longe. Ouvi aquele nome, o lance e fiquei curiosa.
— Ele vai voltar? Mad?
— Que? — ergo minha cabeça.
— Ele vai voltar?
— Sei lá.
— Pelo visto alguém não fez um bom trabalho. — Cíntia ri, e sua fiel cachorrinha, Margot, a acompanha.
— Não vou perder meu tempo com você.
— Não tem como rebater?
— Não quero te humilhar. — pisco para ela e me levanto.
Vou para a pequena cozinha e Julieta ergue o olhar.
— Já?
— É. — respondo, indo até a pia.
— Deixa que eu lavo, querida.
— Não se levante. — digo, já esfregando o prato que usei. — Isso aqui não é nada. Daqui a pouco você terá que lavar os pratos daquelas aproveitadoras.
— A ideia de Marta, não deu muito certo.
— E nunca dará! — exclamo, enxaguando o objeto em minhas mãos. — Se ela decidisse nos manter uma longe da outra, aí sim. Aí o convívio seria ótimo. Mas nos obrigando a ficar juntas, não.
— Se preocupe só com as meninas que você confia.
— Só a Gabi. — digo. — Carol, eu ainda não confio cem porcento. A vi de conversinha com a Cíntia outro dia. E para mim, ou é minha amiga, ou é da galinha loira.
Ela ri.
— Parecem que estão na escola.
Esse é um lugar que eu parei de frequentar muito cedo. Tento arrumar tempo para voltar aos estudos, mas eu nunca consigo.
— Juli, sabe como será a noite de hoje?
— Hoje é a noite do pôquer.
Aquela simples palavra, fez meu coração parar de bater por um instante. Tudo rodou. Precisei me apoiar na cadeira.
— Mad? Mad você está bem?
— Sim. Vou... vou lá para cima.
— Mad...
Afasto-me dela e corro para o meu quarto.
Eu tentava afastar aquelas imagens. Mas agora, mais que nunca, elas vinham com força. Principalmente a imagem DELA.
— Onde você está, Maddie? — a voz grossa e bêbada de papai, me assustava. — Venha aqui agora.
Tento controlar a minha respiração e abraço minhas pernas com mais força.
— ESTÁ NA HORA DO PÔQUER! — ele grita. — MINHA APOSTA TEM QUE ESTAR LÁ.
Meu corpo inteiro treme. Eu não quero isso hoje. Eu não quero isso nunca mais.
— Estou aqui, papai.
Tiff?
— Onde estava garota? — ele enrola as palavras.
— No banheiro... vamos para a sala? O senhor precisa jogar e ganhar.
— E se eu não ganhar...
— Eu já sei. — ela diz, suavemente.
O quarto fica silencioso por um tempo, até que ouço sua voz de novo.
— Fique aí Mad. — ela diz. — Essa noite eu serei você. Essa noite você está livre daqueles homens.
Soluço e arqueio o meu corpo. Pressiono minhas duas mãos em minha cabeça, com a intenção de afastar aquelas lembranças.
— AAAAAAAAH! — grito, me levantando em seguida.
Agarro no pequeno vaso que estava na janela e o acerto na porta do banheiro.
Essa era a pior parte dos meus dias. A hora em que as lembranças vinham e me sufocavam. A hora em que essas malditas lembranças, me faziam ser aquela pequena e inútil criança novamente.
— Mad? — Gabriella irrompe o quarto, ofegante. — Você está bem?
— Não!
Ela me olha por poucos segundos e sem mais nenhuma palavra, me abraça.
— Respira fundo. — sussurra. — Imagina comigo...
Então ela começa a sua atividade rotineira de me acalmar.
— Um campo vasto. Você sentada no meio dele. A sua volta tem diversas margaridas. Elas são tão perfumadas, amiga.
E eu imagino. Eu consigo me ver perfeitamente bem, no meio daquelas flores.
— Obrigada. — digo, apertando-a. — Você é a melhor coisa que me aconteceu.
— Que fofa. Vem, — ela se afasta e pega minha mão — vamos ver um filme.
— Mas Marta não deixa ligar a TV agora. É hora da arrumação do salão.
— Veremos no escritório dela. Sei que ela não negará.
[...]
— Isso aqui está apertado! — Gabriella resmunga, ajeitando o corpete.
— Nem fala.
Um garçom passa por nós e nos oferece dois copos com uísque.
— Os homens ali do bar, que pagaram.
— Até aqui eles pagam para gente. — Gabi comenta, se virando para vê-los. — Ih amiga, são velhos. Um é até feio.
Solto uma risada e me viro. Eu sabia que ela estava falando aquilo, mas que ria para os tais homens.
— Cadê? — pergunto, olhando para o bar.
— Ali. São aqueles de chapéu.
Aperto meus olhos um pouco e os encontro. O copo que estava em minha mão escorrega e encontra o chão no mesmo instante em que eu agarro o braço de Gabriella.
— O que foi? — pergunta. — Você está pálida, Maddie.
— É ele. — sussurro.
— Ele? Ele quem?
— O homem que me estuprou e matou minha irmã.
Eu não conseguia me mexer. Quem diria respirar. Ver aquele homem ali, na minha frente, fazia todo o meu sangue se esvair do meu corpo. Ele matou a minha irmã. Matou a minha pequena Tiffany. — Mad? — Gabi me sacudia. — Vamos sair daqui. Eu nem respondo. Apenas deixo que ela me puxe para longe daquele homem. Caminhamos para o outro lado do salão e eu fico parada ao lado de um poste de pole dance. Gabi diz que vai dar uma passeada, antes que Marta cisme com ela. Olho tudo à minha frente. Eram várias as mesas, com um tecido verde e um desenho de cartas. Em todas elas, havia pelo menos quatro homens. Todos gritavam muito. Boa parte estava bêbado e com uma mulher sentada em sua perna. Eu olhava rosto por rosto em busca dele. Quem sabe ele não gostasse desse tipo de jogo. Mas pelo que eu via, ele não se encontrava hoje. Será que ele volta? — Tiffany? — ergo meu olhar, e olho para Marta. — O que faz parada aí? —
O dia seguinte foi pior. Minha mente insistia em me dizer que eu fui fraca, em ter simplesmente me deitado com o homem que havia matado minha irmã. Mas as opções que me era possíveis, era gritar aos quatro ventos o que havia acontecido e chamava a polícia ou simplesmente fazia o que fiz. Eu tomei um banho de quase uma hora e ainda sentia como se estivesse rolado em todas as sujeiras que existe no mundo. Não podia dizer que horas eram lá fora. Eu não conseguira dormir e muito menos ter forças para sair da cama. Gabriella, Juli e a própria Marta, vieram ao meu encontro milhares de vezes, com perguntas sobre a noite passada. Mas eu não as dizia nada. Parecia até que eu estava em estado de choque. Já devia ter mais de vinte e quatro horas que eu estava acordada. Meu estomago urrava de fome, mas eu não tinha forças para sair da cama. Na verdade, eu nem queria sair. — Chega! A porta é aberta com força, mas eu nem me mexo. — Levanta-se dessa
— Entra. Obedeço-o prontamente. O apartamento dele era maravilhoso. Enorme. E pelas escadas que eu podia ver, tinha segundo andar. Caminho pela sala, indo até a enorme estante. Havia várias fotos, com muitas pessoas diferentes. Tinha com um casal mais velho, que supostamente seriam seus pais. Tinha com quatro garotos. Um tinha cabelo colorido. — É a banda com quem você trabalha? — pergunto. — Como sabe que trabalho com uma banda? Viro-me e o encaro. Ele estava parado perto da porta, com os braços cruzados. — Tem uma menina lá... que pesquisou a sua vida. Mas eu não pedi! — me defendo. — Acredito em você. Balanço a bolsa em minha mão e suspiro. — Então... vamos começar? — Para que a pressa? Não vamos a lugar nenhum hoje. Nem amanhã. Sorrio. Vou passar a noite toda com ele. Gostei. — Vamos conversar. — diz. — Oi? — Vamos conversar. — repete e desgruda da par
Acordo sentindo uma respiração pesada no meu ouvido. Abro os olhos lentamente e vejo que estou no quarto de Liam. Não lembro de ter vindo para a cama. Lembro de beber vinho, comer pizza e assistir um filme de comédia. Como ele havia prometido. Agora vir para o quarto, não. Ele estava abraçado a mim de uma forma tão forte, que me faz pensar que qualquer coisa seria incapaz de nos desgrudar. Depois que lhe contei meu nome e o que havia acontecido, Liam não me fez pergunta alguma. Eu sentia que tinha sido precipitada em contar aquilo a ele tão rápido, mas meu coração estava em paz por ter finalmente falado sobre. Eu queria que fosse possível sair daquele abraço. Liam havia sido tão gentil comigo, que eu tinha planos de lhe fazer um café da manhã. Só para agradecer tal cavalheirismo. Mas ele não me soltava. O abraço dele era muito apertado. E bom. Depois de um tempo, eu desisto. Passo minha mão pelo seu braço e entrelaço meus dedos aos dele. Liam
— OLHA QUEM CHEGOU!Assusto-me com a barulhenta recepção de Gabriella. Ela e as outras meninas estavam limpando o salão.— Oi. — sorrio e aceno. — Querem ajuda?— Claro que não. Queremos informações.— Ahhh, Gabi, eu estou cansada.— Ele é mesmo quem a Ca disse ser?Ela parece não se importar com o que acabei de dizer.— É. E muito mais.Elas ficam eufóricas e falam entre si. Aproveito a deixa e escapo para o quarto. Estava quase chegando, quando a voz dela me faz parar.— Fez tudo certinho?Reviro os olhos.— Direitinho, Cíntia. Não há nada com o que se preocupar.— E ele te pagou?Franzo o cenho e me viro.— Que?— Ele pagou os seus serviços?— Não. Deve ter resolvido tudo com Marta. P
Eu observava de longe, enquanto Ryder falava com o filho. Nunca imaginei que veria esse tipo de coisa acontecer. Não atualmente.Quando percebo que o homem mandou que o garoto viesse até mim, termino de beber o drink em minha mão e deixo o copo de lado.Não sabia o que falar ou como agir com aquele menino tão inocente.Ele para na minha frente e eu lanço um sorriso encorajador.— Sou Ethan.Ele tinha uma voz rouca e fofa.— É um prazer conhecê-lo, Ethan. Podemos subir?— Já? — pergunta, assustado.Solto uma risada.— Não precisa se assustar. Só vamos sair daqui. Ir para um lugar silencioso.— Tu-tudo bem.Eu só conseguia achar graça daquilo.— Apenas me siga.Ethan pisca algumas vezes e assente.Caminho na direção da escada, capturando os olha
— Juro que estou muito surpreso de te encontrar por aqui. É do outro lado de onde você mora.— Eu sei. — viro-me para ele. — E pelo que me lembro, seu apartamento não é por aqui.Liam sorri.— Mas meu trabalho, é.Olho em volta. Com certeza um daqueles luxuosos prédios deveria ser onde ele trabalha.Liam estava usando terno e gravata. Uma cinza, que me lembrava muito um certo livro erótico. Eu conseguia imaginar nós dois em várias cenas daqueles livros. Acabo dando um sorriso, o que chama atenção dele.— Que foi? — Liam questiona.— Nada. Estava apenas pensando.— Por que não tomamos um café e você me conta seus pensamentos?— O café eu topo, mas é melhor eu manter meus pensamentos só comigo.Liam me encara e assente. Dou um passo à
— Ethan? O que faz aqui?Olho em volta, tentando ver se o pai dele estava por ali.— Precisamos conversar.— Eu sei, mas...— Agora, Maddie.— Ok! Vamos para o meu quarto.Caminho apressadamente no meio daquelas pessoas, indo na direção da escada. Para Ethan praticamente me obrigar a falar com ele, é porque o assunto deve ser sério.— O que aconteceu? — pergunto, assim que entro no quarto.— Meu pai.Ethan fecha a porta e começa a andar de um lado para o outro.— O que tem?— Ele descobriu tudo!— Tudo o que?— Você é burra ou se faz? SOBRE NÓS.Arregalo os olhos, diante daquele ser com cara inocente e atitude de homem idiota.— Ei! — o repreendo — Não é porque você está irritado que tem o direito de me insulta