Eu não conseguia me mexer. Quem diria respirar.
Ver aquele homem ali, na minha frente, fazia todo o meu sangue se esvair do meu corpo.
Ele matou a minha irmã.
Matou a minha pequena Tiffany.
— Mad? — Gabi me sacudia. — Vamos sair daqui.
Eu nem respondo. Apenas deixo que ela me puxe para longe daquele homem.
Caminhamos para o outro lado do salão e eu fico parada ao lado de um poste de pole dance. Gabi diz que vai dar uma passeada, antes que Marta cisme com ela.
Olho tudo à minha frente. Eram várias as mesas, com um tecido verde e um desenho de cartas. Em todas elas, havia pelo menos quatro homens. Todos gritavam muito. Boa parte estava bêbado e com uma mulher sentada em sua perna.
Eu olhava rosto por rosto em busca dele. Quem sabe ele não gostasse desse tipo de jogo. Mas pelo que eu via, ele não se encontrava hoje. Será que ele volta?
— Tiffany? — ergo meu olhar, e olho para Marta. — O que faz parada aí?
— Apenas observando.
— Então sua hora de observar acabou. Tem um homem que me ofereceu um bom dinheiro para dormir com você!
Fico ereta e sorrio, sem nenhuma emoção.
— Quem é o cavalheiro? — pergunto e deixo a taça que estava em minhas mãos, na mesa ao lado.
Ela vem para o meu lado.
— Olhe naquela mesa, onde está a Taci.
Forço meus olhos para enxergá-lo.
— Não. — sussurro.
— O que?
— Por favor. — a olho, com a voz tremula. — Ele não.
— É um cliente. Você não tem escolha.
— Mas...
— Maddie, eu sou muito boa com você aqui dentro. — diz. — Mas quando eu mando você ir para o quarto e fazer sexo com alguém, você me obedece. Estamos entendidas?
— Mas ele é...
— É o homem que quer você essa noite e vai ter!
Minha voz não era a única coisa tremula em mim. Eu estava tremendo por inteiro agora.
— Suba e o espere. — ela diz, firme. — Em minutos ele estará lá. E pegará muito mal se VOCÊ não estiver.
Ela passa a mão no meu rosto, sorrindo de um jeito bem falso e se afasta.
Eu não sabia o que fazer. Na verdade, sabia. Eu queria correr para bem longe dali e daquele homem inescrupuloso. Mas eu não podia ir a lugar algum. Não se eu quisesse ter onde morar.
Respiro do jeito mais fundo que consigo e me encaminho para as escadas. Tento encontrar Gabriella, mas ela não estava mais pelo salão.
Subo as escadas sem olhar para trás. Assim que alcanço o corredor, eu corro para o meu quarto e fecho a porta. Começo a andar de um lado para o outro, sem saber o que fazer.
Estava apavorada só de imaginar aquele homem encostando em mim... de novo.
Duas batidas são dadas na porta e meu coração para.
— Olá.
Fecho os olhos e respiro fundo mais uma vez, antes de me virar.
— Oi. — tento sorrir.
Ele continuava tão horrendo quanto eu lembrava. Ele era alto, tinha uma barba vagabunda e mal feita. Os olhos eram negros e sem vida. Hoje ele vestia um terno, mas dava para ver que não era nenhum Armani. Em seu rosto havia uma cicatriz bem feia.
— Sou Donald.
Eu sei.
— Tiffany.
Seu sorriso nojento se fecha.
— Tiffany? — ele pisca.
— Sim. Algum problema?
Eu fazia de tudo para que minha voz saísse normal.
— Você... nossa... — ele ri e balança a cabeça negativamente.
— O que foi?
— Já não basta você me lembrar alguém, ainda tem que ter nome parecido.
Gelo.
— Mas ela já não está mais entre nós. — ele sorri de lado. -- O que é uma pena. Ela era tão... deliciosa.
Eu queria socar a cara dele. Aquele ser grotesco estava falando da minha irmã! Estava falando da criança que ele matou e ainda sorri.
— E então? — ele se aproxima de mim. — Vamos ao trabalho?
A partir desse momento, eu ajo como uma boneca inflável.
Não deixo que ele me beije. Não depois de Liam ter me beijado. E se ele me beijasse, acho que eu não iria aguentar. Iria acabar vomitando.
Ele tocava todo o meu corpo como se nunca tivesse feito aquilo antes. Minha pouca roupa havia sido rasgada. O sexo com ele, havia sido tão podre quanto antes. A única diferença, foi que daquela vez eu chorei e fui forçada o tempo todo. Dessa vez, eu só fui forçada.
Quando ele termina, eu puxo o lençol para cima de mim, cobrindo parte do meu corpo nu. Eu estava tentando não chorar, pois vê-lo ali na minha frente, remetia memórias que eu todo santo dia, lutava para esquecer.
Fico olhando para o teto, enquanto aquele homem pegava suas roupas e as vestia.
— Vou embora. — informa. — Mas um dia eu volto.
Não respondo. Ao menos sorrio.
Ele abre a porta e sai.
Assim que me encontro sozinha, jogo o lençol para cima e corro para o banheiro. Abro o chuveiro e entro embaixo da água gelada sem cerimônia. Pego uma bucha e a esfrego pelo meu corpo com força. As lagrimas desciam com intensidade, enquanto eu me limpava, a fim de tirar a podridão daquele homem de mim.
— Ele nunca mais — passo a bucha com força pela minha barriga — vai encostar em mim. Nunca mais!
Passar aquela bucha era dolorido. Mas não mais do que a dor que preenchia meu coração.
Tive que fazer sexo com o homem que me estuprou e tirou a minha virgindade. Tive que me entregar, como se estivesse amando aquilo, para o homem que matou a minha pequena irmã.
A pequena garota que naquela noite não me deixou ser usada por aqueles idiotas.
Um dia com certeza, irei me vingar. Ainda não sabia como, mas que ele iria sofrer como nunca, isso ele iria.
O dia seguinte foi pior. Minha mente insistia em me dizer que eu fui fraca, em ter simplesmente me deitado com o homem que havia matado minha irmã. Mas as opções que me era possíveis, era gritar aos quatro ventos o que havia acontecido e chamava a polícia ou simplesmente fazia o que fiz. Eu tomei um banho de quase uma hora e ainda sentia como se estivesse rolado em todas as sujeiras que existe no mundo. Não podia dizer que horas eram lá fora. Eu não conseguira dormir e muito menos ter forças para sair da cama. Gabriella, Juli e a própria Marta, vieram ao meu encontro milhares de vezes, com perguntas sobre a noite passada. Mas eu não as dizia nada. Parecia até que eu estava em estado de choque. Já devia ter mais de vinte e quatro horas que eu estava acordada. Meu estomago urrava de fome, mas eu não tinha forças para sair da cama. Na verdade, eu nem queria sair. — Chega! A porta é aberta com força, mas eu nem me mexo. — Levanta-se dessa
— Entra. Obedeço-o prontamente. O apartamento dele era maravilhoso. Enorme. E pelas escadas que eu podia ver, tinha segundo andar. Caminho pela sala, indo até a enorme estante. Havia várias fotos, com muitas pessoas diferentes. Tinha com um casal mais velho, que supostamente seriam seus pais. Tinha com quatro garotos. Um tinha cabelo colorido. — É a banda com quem você trabalha? — pergunto. — Como sabe que trabalho com uma banda? Viro-me e o encaro. Ele estava parado perto da porta, com os braços cruzados. — Tem uma menina lá... que pesquisou a sua vida. Mas eu não pedi! — me defendo. — Acredito em você. Balanço a bolsa em minha mão e suspiro. — Então... vamos começar? — Para que a pressa? Não vamos a lugar nenhum hoje. Nem amanhã. Sorrio. Vou passar a noite toda com ele. Gostei. — Vamos conversar. — diz. — Oi? — Vamos conversar. — repete e desgruda da par
Acordo sentindo uma respiração pesada no meu ouvido. Abro os olhos lentamente e vejo que estou no quarto de Liam. Não lembro de ter vindo para a cama. Lembro de beber vinho, comer pizza e assistir um filme de comédia. Como ele havia prometido. Agora vir para o quarto, não. Ele estava abraçado a mim de uma forma tão forte, que me faz pensar que qualquer coisa seria incapaz de nos desgrudar. Depois que lhe contei meu nome e o que havia acontecido, Liam não me fez pergunta alguma. Eu sentia que tinha sido precipitada em contar aquilo a ele tão rápido, mas meu coração estava em paz por ter finalmente falado sobre. Eu queria que fosse possível sair daquele abraço. Liam havia sido tão gentil comigo, que eu tinha planos de lhe fazer um café da manhã. Só para agradecer tal cavalheirismo. Mas ele não me soltava. O abraço dele era muito apertado. E bom. Depois de um tempo, eu desisto. Passo minha mão pelo seu braço e entrelaço meus dedos aos dele. Liam
— OLHA QUEM CHEGOU!Assusto-me com a barulhenta recepção de Gabriella. Ela e as outras meninas estavam limpando o salão.— Oi. — sorrio e aceno. — Querem ajuda?— Claro que não. Queremos informações.— Ahhh, Gabi, eu estou cansada.— Ele é mesmo quem a Ca disse ser?Ela parece não se importar com o que acabei de dizer.— É. E muito mais.Elas ficam eufóricas e falam entre si. Aproveito a deixa e escapo para o quarto. Estava quase chegando, quando a voz dela me faz parar.— Fez tudo certinho?Reviro os olhos.— Direitinho, Cíntia. Não há nada com o que se preocupar.— E ele te pagou?Franzo o cenho e me viro.— Que?— Ele pagou os seus serviços?— Não. Deve ter resolvido tudo com Marta. P
Eu observava de longe, enquanto Ryder falava com o filho. Nunca imaginei que veria esse tipo de coisa acontecer. Não atualmente.Quando percebo que o homem mandou que o garoto viesse até mim, termino de beber o drink em minha mão e deixo o copo de lado.Não sabia o que falar ou como agir com aquele menino tão inocente.Ele para na minha frente e eu lanço um sorriso encorajador.— Sou Ethan.Ele tinha uma voz rouca e fofa.— É um prazer conhecê-lo, Ethan. Podemos subir?— Já? — pergunta, assustado.Solto uma risada.— Não precisa se assustar. Só vamos sair daqui. Ir para um lugar silencioso.— Tu-tudo bem.Eu só conseguia achar graça daquilo.— Apenas me siga.Ethan pisca algumas vezes e assente.Caminho na direção da escada, capturando os olha
— Juro que estou muito surpreso de te encontrar por aqui. É do outro lado de onde você mora.— Eu sei. — viro-me para ele. — E pelo que me lembro, seu apartamento não é por aqui.Liam sorri.— Mas meu trabalho, é.Olho em volta. Com certeza um daqueles luxuosos prédios deveria ser onde ele trabalha.Liam estava usando terno e gravata. Uma cinza, que me lembrava muito um certo livro erótico. Eu conseguia imaginar nós dois em várias cenas daqueles livros. Acabo dando um sorriso, o que chama atenção dele.— Que foi? — Liam questiona.— Nada. Estava apenas pensando.— Por que não tomamos um café e você me conta seus pensamentos?— O café eu topo, mas é melhor eu manter meus pensamentos só comigo.Liam me encara e assente. Dou um passo à
— Ethan? O que faz aqui?Olho em volta, tentando ver se o pai dele estava por ali.— Precisamos conversar.— Eu sei, mas...— Agora, Maddie.— Ok! Vamos para o meu quarto.Caminho apressadamente no meio daquelas pessoas, indo na direção da escada. Para Ethan praticamente me obrigar a falar com ele, é porque o assunto deve ser sério.— O que aconteceu? — pergunto, assim que entro no quarto.— Meu pai.Ethan fecha a porta e começa a andar de um lado para o outro.— O que tem?— Ele descobriu tudo!— Tudo o que?— Você é burra ou se faz? SOBRE NÓS.Arregalo os olhos, diante daquele ser com cara inocente e atitude de homem idiota.— Ei! — o repreendo — Não é porque você está irritado que tem o direito de me insulta
— Só mais cinco minutos. — resmungo, virando para o outro lado.— Nem um minuto a mais. Acorda, Maddie.— Ah, Gabriella. — bufo. — O que quer?— Conversar.— Isso nós podemos fazer depois. Não na hora que estou dormindo.— Você não está mais dormindo.Bufo mais uma vez e me sento na cama.— Sobre o que quer falar? — ela sorri malicioso. — Não vou falar sobre ontem.— Ah Maddie, para. Você já me falou coisa pior.— Eu sei, mas ontem foi...Eu queria esconder dela o fato daquele cara ter me feito gozar. Ele não devia ter feito e eu não consegui me segurar o suficiente.— Horrível. — termino.Ela rola os olhos.— O loiro era lindo. Duvido que tenha sido horrível.— Mas foi! — exclamo.<