Ao encerrar a ligação, o policial sacudiu a cabeça com o rosto nublado de preocupação. Mesmo com a chamada direta dos sequestradores, o rastreamento continuava impossível.Ao me virar, encontrei Valentino paralisado a alguns passos. Seu rosto tinha perdido todas as cores e as palavras saíam entrecortadas: — Bruna, meus tios foram realmente sequestrados? Mas o Arthur me jurou que era tudo armação sua...Ignorei sua perplexidade e não tinha ânimo para explicações, cortando seco: — Ligue para ele. Agora. Conte a verdade. Meus olhos não saíam do relógio. Como o tio do Arthur, dono de uma fortuna, ainda não tinha transferido os cinco milhões? Após minutos de espera inútil, decidi ligar.— Bruna? — A voz envelhecida ecoou na linha. Abri a boca para falar, mas ele antecipou com um suspiro carregado. — Bruna, mentira tem perna curta. Naquela família, só seus sogros te toleram, ninguém realmente se importa com você. Até quis te ajudar por pena, coitadinha... Mas até a piedade tem limite. Se
Ao concluir meu depoimento na delegacia, já me encaminhava para a saída quando esbarrei na silhueta do tio de Arthur bloqueando a entrada. Pelo olhar devastado, era óbvio que já tinham lhe dado a notícia.Um riso cortante lhe escapou ao me avistar, cada sílaba pingando veneno: — Que palhaçada sem graça! Armou todo esse teatro, chegou a subornar agentes públicos para sustentar sua farsa?Mantive os olhos fixos no chão de cimento gelado, respondendo em tom monocórdio: — Acha mesmo que tenho influência para comprar policiais e orquestrar pantomimas? Os corpos dos meus sogros já estão no IML. Melhor correr para avisar Arthur.A menção ao agente de uniforme que me acompanhava fez sua tez adquirir a tonalidade de giz.— Para com essa... Com essa brincadeira de mau gosto! Isso não tem graça. — Ele empalideceu de repente e disse com voz trêmula. — Bruna, confessa que é mentira! Eu juro que não vou te denunciar!Observei impassível o homem se desintegrando como areia movediça. Quando abri a b
Deslizei o acordo de divórcio pela mesa até Arthur, mantendo o tom suave, porém firme: — Chega, Arthur. Quero o divórcio.Seu maxilar tensionou enquanto um sorriso ácido lhe deformava os lábios. — Você está falando sério, Bruna?Mantive o olhar fixo no dele, imóvel. — Como a aurora depois da noite.Ele agarrou a caneta com ar desdenhoso, como se estivesse anotando uma lista de compras.— Ótimo! Só não apareça depois chorando no meu portão, hein? Já passou da idade para pantomimas.Deixei escapar um sorriso de canto de boca e respondeu com firmeza: — Nem no seu enterro.A caneta dançou sobre o papel num movimento fluido, deixando a marca negra de sua letra angulosa. Foi quando Helena irrompeu como um furacão de chiffon.— Espera aí! — Ela arrancou o documento de minhas mãos, seus olhos escaneando as cláusulas. O rosto lhe descorou, e gritou. — Arthur! Olha a parte patrimonial! Essa sanguessuga quer sugar até os ossos dos seus pais! Eu não permito!Arthur arrebatou o documento como q
A decisão que Arthur não teve coragem de enfrentar, assumi por ele. Anos suando em negócios que construí sozinha, minha empresa finalmente com alicerces firmes. A herança dos sogros? Recusei na hora. Brigar por migalhas com viúvo desamparado nunca foi meu estilo.Deixei o apartamento conjugal levando só minhas malas. Em dias seguintes, fechei todos os detalhes com o advogado. Só restava ultrapassar o último obstáculo: a rubrica final de Arthur.O ar do IML pesava com mistura de cera e desinfetante. O tio de Arthur parecia ter envelhecido dez anos em 48 horas. Ao me ver, me agarrou o braço com força de afogado.— Bruna! Sabia que não abandonaria o Arthur! Ele está lá... Fala com ele, pelo amor de Deus...Engoli o nó na garganta e empurrei a porta metálica. Mal dei dois passos, esbarrei num vulto encolhido no chão - não cadáver, mas algo mais triste.— Arthur? — Exclamou, surpresa, reconhecendo o terno de seda amassado. O homem no chão ergueu o rosto - cabelos grisalhos, olhos vermelhos
Depois de resolver minhas pendências, voltei pra casa e fiquei uns dias descansando. Meus pais, anjos de paciência infinita, jamais apontaram dedos acusatórios pelo divórcio. Só queriam saber se eu tinha passado por humilhações durante esses anos. Senti um calor reconfortante tomando conta do peito, me arrependendo amargamente daquela decisão impulsiva de me casar. Como fui cega a ponto de trocar esse porto seguro pelo vendaval que foi meu casamento? Tinha raízes sólidas, asas forjadas em diplomas, um coração que já havia batido em liberdade antes de se enclausurar na masmorra do "amor".Um sorriso renascido florou em meus lábios ao declarar:— Minha verdadeira vida começa hoje. De agora em diante, não me dobro mais a caprichos alheios.Na quinta manhã de reconstrução, o telefone estridente fendeu minha paz matinal. Do outro lado, voz burocrática ecoou: — Srta. Bruna, Arthur Costa cometeu homicídio. Se encontra detido na...Interrompi o fluxo com frieza cirúrgica: — Desculpe interr
No exato instante em que Helena, amada de Arthur, chegava, meu celular tocou. A voz rouca do sequestrador ecoou na linha:— Preciso de 20 milhões! Uma hora para deixar o dinheiro debaixo da ponte central. Se chamar a polícia, vou matar os reféns na hora!Por instinto das memórias da vida passada, ativei o viva-voz. Arthur ouviu tudo, seu rosto endurecendo como mármore.— Tão desesperada para afastar Helena, Bruna? — Sua gargalhada cortou o ar como navalha. — Montou esse teatro com meus pais?Dessa vez, nem lágrimas, nem súplicas. Em vez disso, respondi com uma calma que surpreendeu até a mim mesma: — Não estou encenando nada. Seus pais estão com sequestradores. Precisamos de 20 milhões para o resgate. Vá buscar o dinheiro agora.Arthur olhou para mim com frieza, sua expressão impenetrável. — Por não te amar, resolveu me assaltar?Eu conhecia cada dobra daquela alma há vinte anos. Havia salvado-o de um acidente na infância, e as famílias nos amarraram num noivado. Sabia do nojo que se