— E então, vai me dizer o que te trouxe aqui essa noite?
— Não acredito que isso seja da sua conta!
Era incrível como aquele cara era insistente, ela estava fazendo questão de ser nem um pouco simpática e mesmo assim ele não ia embora.
— Eu sei, mas isso é tipo, uma conversa de boteco. Sabe, as pessoas costumam jogar conversa fora em bares, nem todos ficam no balcão bebendo até cair.
Ele disse, insinuando que era o que ela estava fazendo ali. Ela pensou por um momento e sorriu amargamente.
— Quer saber, você é um estranho em um bar, que está sendo incrivelmente inconveniente. A pessoa perfeita para ouvir os meus lamentos, talvez no final possa me dar até algum conselho ou palavra de apoio. Ou talvez possa apenas rir comigo disso tudo, você que vai decidir, ninguém mandou que interrompesse o meu mento de paz e reflexão, agora aguenta.
Ela disse isso e lhe contou tudo o que havia passado, enquanto ele pedia uma bebida para si mesmo. A escutava atentamente, parecendo genuinamente interessado. Ao final do relato ele ficou um minuto em silêncio como se ponderasse sobre a situação.
— Realmente, isso tudo foi uma droga! Mas não acha que subir naquele prédio foi meio exagerado?
— É, mas o bom é que eu não levei muito tempo para me dar conta disso. Eu só… estou tão cansada de ser isso.
Ele a encarou novamente com expressão de curiosidade.
— Ser o que exatamente?
Ela deu de ombros ao responder.
— A que sempre é ignorada, humilhada por uns ou superprotegida por outros. Não existe um meio-termo, e isso é um saco. Eu só queria espaço para ser eu, sem ter que atender expectativas de ninguém.
— E tem certeza que está realmente sendo você? Desculpe, mas depois de tudo que me contou, eu não posso evitar pensar que, na verdade, está em uma grande casca confortável.
— Depois de tudo que te contei, você acha que eu vivo confortável com isso?
— Não, mas acho que já virou uma forma de se proteger. Sendo e vivendo dessa forma, você já sabe o que esperar do mundo e das pessoas. Eu sei que o novo pode ser ainda mais assustador.
Regina ficou apenas o encarando por um momento, como se o achasse desequilibrado. Enquanto ele continuou falando.
— Não entenda mal, eu não acho que tenha realmente algum problema em você ser como é. Acredito que o seu maior problema é a falta de confiança mesmo.
— Como assim, olha para mim? Sou a tentação do bullying em pessoa.
Ele a avaliou atentamente por um momento.
— Realmente, você está horrível agora! Mas eu acho que tem mais a ver com ter chorado muito em cima de um prédio em que ventava muito.
Ela deu um leve tapa no braço dele, para revidar o comentário, conversar com ele estava sendo surpreendente fácil, como se fossem velhos amigos. Talvez fosse o efeito da bebida, ou todo aquele clima de bar que ele havia mencionado.
— O quê? Nem sendo o homem mais cavalheiro do mundo, eu poderia dizer que sua aparência está boa agora! Está assustadora com esses cabelos e essa cara toda inchada, se eu dissesse qualquer coisa diferente disso seria muita falsidade.
— Obrigada pelo apoio, você é a própria gentileza em pessoa.- Ela respondeu sarcástica.
— Pode sempre contar comigo querida para apoiá-la. Mas o primeiro passo para uma mudança e libertação é decidir, você quer realmente ser o que está sendo? Gostaria de ser diferente ou mudar algo? Porém, tem sempre que ter em mente que toda a mudança tem que ser por você. Para se encontrar como pessoa. Porque quanto mais você sabe quem você é ou o que quer, menos vai deixar as coisas te aborrecerem.
— Até que inacreditavelmente esse não é um conselho ruim.
Ele fingiu estar ultrajado enquanto devorava todos os amendoins de cortesia que estavam na frente deles.
— É claro que não! Eu dou bons conselhos, você sairia ganhando se me tivesse como “coach” de estilo de vida, relacionamentos, essas coisas. Mas é só uma dica.
— Desculpe, mas eu acho engraçado pensar que existe mercado para isso
— Meu bem, existe mercado para quase tudo. Todos os tipos de necessidades precisam ser atendidas.
Regina pensou um pouco sobre o que ele havia proposto.
— Só por curiosidade, quanto sairia uma consultoria desse tipo?
— Te garanto que seria um valor bem acessível. É um serviço relativamente fácil, e nem se compara com acompanhar senhoras idosas em momentos de lazer.
Ela demorou um tempo para se dar conto do que ele havia sugerido com o comentário.
— Eu não acredito, você é um garoto de programa!
Ele olhou para os lados como se conferisse se alguém havia escutado e fez um sinal com o dedo para que ela abaixasse o tom de voz.
— Eu não disse isso, foi só um exemplo. Não que eu nunca tenha feito nada do gênero, você sabe que jovens sempre precisam de um tênis ou celular novo
— Eu acho que vou vomitar. Sério, isso é nojento.
Ele riu muito da expressão de desconforto dela. Era um sorriso bonito, Regina pensou, devia mesmo fazer sucesso com as senhoras idosas.
— Era brincadeira, precisava ver a cara que você fez. Mas dizer que vai vomitar, com certeza se enquadra em um desrespeito com essa categoria que trabalha árdua e honestamente.
— Agora é tarde, eu já imaginei a cena. E nunca vou ter certeza se era real ou não. Vou ter que conviver com isso.
Ele deu de ombro ainda sorrindo e comendo mais amendoins. Tomou apenas uma cerveja e não pediu outra.
— E então temos um acordo de trabalho?
— Eu não posso aceitar nada sem saber valores.
— E eu não posso discutir valores com uma pessoa alcoolizada. Faz assim, vou salvar seu número e eu te chamo para combinarmos tudo.
Ele pegou o celular dela que nem sequer possuía uma senha, digitou o número dele e fez uma chamada para salvar o dela.
— Agora é melhor mesmo nos irmos! A sua família deve estar muito preocupada com você.
Ele tinha razão, não era justo fazer aquilo com eles. Ela pegou o celular e respondeu para a mãe e para a Céu que estava bem e já iria para a casa.
— Eu vou chamar um motorista.
— Relaxa! Agora que já somos íntimos e sou quase seu funcionário, eu te levo para casa.
Ela pareceu muito em dúvida. Mas algo a impelia a confiar nele.
— Não acho que seja adequado eu entrar no carro de um desconhecido, ainda mais tendo já bebido.
— Teoricamente, eu sou menos desconhecido que o motorista do aplicativo.
Disse Ronan levantando-se e pagando as últimas bebidas. Ele foi em direção a porta e ela o seguiu às suas costas.
— E se a sua preocupação é entrar em um carro de um estranho, te garanto que isso não vai acontecer.
Ele disse já na calçada, apontando para uma bonita e assustadora moto estacionada na frente do bar.
— Nem em sonho que eu vou subir nessa coisa, isso deveria ser chamado de quebra pescoço.
Ele sorriu e entregou um capacete reserva a ela.
— Eu garanto que é totalmente segura, e eu sou um ótimo piloto. Você vai chegar sã e salva em casa. Esqueceu que a última chamada no seu celular foi para o meu? Eu não poderia fazer nada contra você. Considere isso como um primeiro passo para a mudança, fazer algo que nunca fez, sentir a sensação de liberdade que uma motocicleta traz.
Ela estava ainda indecisa segurando firme o capacete, estava um pouco tonta devido às doses que havia tomado.
— Eu bebia além da conta e se eu cair?
Ele subiu primeiro e indicou onde ela devia colocar os pés para montar na carona.
— É só se segurar em mim como se a sua vida dependesse disso. E depende, acredite. Eu não irei muito rápido, procure acompanhar os meus movimentos.
Ela colocou o capacete e subiu da forma que ele havia indicado e colou as pernas no quadril dele, o mais apertado que conseguiu. Envolveu os braços ao redor de sua cintura em um apertado abraço.
— Está pronta? Vamos lá.
Regina nunca havia andado em uma motocicleta, a sensação era, simultaneamente, de liberdade e pavor. Aquele negócio parecia desafiar as leis da gravidade em cada curva que ele fazia. Sentia um frio na barriga e, ao mesmo tempo, a sensação de euforia. Ela indicou o endereço e eles chegaram sem problemas na casa dela. Ela desceu da moto e entregou a ele o capacete.
— E então, o que achou?
Ronan lhe perguntou.
— Bem, parece que eu sobrevivi!
— Que dramática. — Ele disse voltando a colocar o próprio capacete que havia tirado. — Amanhã eu te ligo.
Ele deu partida na moto e em segundos, sumiu de sua vista. Indo muito mais rápido do que havia andado quando a carregava. Nesse momento, sua mãe abriu a porta da casa.
- Regina, por onde você andou, aquilo era o barulho de uma motocicleta? Como pode desaparecer, assim tem ideia de como ficamos preocupados? A Maria do Céu está surtando e o seu pai também. Que cheiro é esse, você andou bebendo?
A mãe a atropelava com colocações e perguntas, visivelmente ainda muito nervosa.
— Eu já avisei a Céu, disse que depois falava com ela. Sim, eu andei bebendo, mas considerando que sou maior de idade, não tem problema nenhum nisso. E sim era uma motocicleta. Como todos já devem saber, eu tive um momento muito ruim, encontrei um amigo em um bar e ele me trouxe para casa em segurança.
— E desde quando você tem um amigo, com uma moto e frequenta bares?
Ela passou pela mãe e entrou na casa, querendo apenas deitar na sua cama.
— Não sei mãe, talvez essa seja a nova Regina. Eu sou adulta, então vocês vão ter que aceitar, agora que você já sabe que eu estou bem, eu gostaria muito de tomar um banho e dormir.
Ela entrou no próprio quarto fechando a porta, deixando a mãe do lado de fora. O relacionamento delas sempre havia sido de amizade e companheirismo, mas ela precisava de um tempo agora. Aquele dia havia sido caótico, e toda aquela loucura do cara no bar era muito para a cabeça dela. Precisava pensar no que fazer e se queria realmente a ajuda dele.
Ronan foi direto para casa, uma kit-net que estava alugando no centro da cidade. Poderia considerar que obtiveram sucesso em sua missão, mas isso não o deixava orgulhoso de si mesmo. Quando o seu primo Caleb ligou para pedir ajuda, ele não podia negar, devia muito a ele, foram criados como irmãos. Os pais deles era irmãos, e compartilhavam um ódio mortal por um primo que havia deixado sua empresa para um estranho e não para eles. Caleb havia sido contaminado com esse ódio, pois viu o pai se lamentar até sua morte, acabando-se na bebida. Já Ronan não dava a mínima para tudo aquilo, acreditava que cada um fazia o que bem entendesse com o que era seu.Mas o primo estava obstinado a recuperar o que acreditava pertencer a sua família. Estudou administração e conseguiu um emprego na empresa, devido o seu bom desempenho subiu rapidamente de cargo, virando um dos homens de confiança do CEO, Andreas.O dono tinha uma filha única na casa dos 20 anos, o plano de Caleb era seduzi-la e casar com
Foram na moto dele até o shopping mais próximo, e ela buscava peças parecida com as que sempre usava. Depois dela lhe mostrar umas 15 e ele só balançar a cabeça em negativa, Regina começou perder a paciência.— Mas você não gosta de nada que eu escolho.— Porque parece que está escolhendo a mesma coisa que está usando agora.— Você disse não haver nada de errado com o que eu uso.Ela usou as palavras dele contra ele mesmo.— Eu disse, mas combinamos que o objetivo aqui é uma mudança, lembra?Ele falou e pegou um vestido rosa, coberto com uma renda preta. A parte rosa era mais curta um pouco e a renda ia até passar pouco os joelhos. As alças eram finas de amarrar, e o decote era sutil e arredondado.— Esse aqui ia ficar ótimo com um coturno, e não adianta negar, eu tenho certeza que você tem um, no armário.Ela fez uma careta com o comentário dele.— É tão óbvio assim?Ele só fez que sim, colocou a peça no ombro e foi procurar mais na arara de roupas. Pegou mais umas camisetas e croppe
No dia seguinte, Ronan veio no horário combinado para levá-la até a faculdade. Quando escutou a campainha, gritou para a mãe dela mandar ele subir até o quarto. Estava muito insegura com a roupa e precisava da opinião dele.— Olá outra vez Ronan. — Disse a mãe dela, ainda achando inusitada a situação.— Olá senhora, a Regina já está pronta?— Na verdade, ela quer que você suba até o quarto dela.— Tudo bem, com licença.Quando ele bateu na porta do quarto, Regina abriu rapidamente parecendo nervosa.— Isso não vai dar certo. Olha
Quando Ronan a deixou na frente de casa, Regina entrou e já ia direto para o seu quarto, mas percebeu que Céu estava com a sua mãe na sala.— Parada aí, garota. Agora para eu conseguir te ver só dando incerteza aqui na sua casa. E que roupa nova é essa? Eu amei!— Eu tinha que ir lá na faculdade pegar minhas cartas de referência. E andei comprando umas roupas novas.Ela explicou se justificando a amiga.— Sim, é pelo visto qualquer coisa que você precise fazer agora, tem que ser acompanhada daquele cara alto que tem uma moto.— Por acaso vocês não estavam espiando pela janela quando eu cheguei, estavam?
Ronan a levou em um bar que ficava em uma rua com diversos outros estabelecimentos do mesmo tipo. E talvez por uma coincidência do destino, todo o estilo do lugar e a decoração, lembravam um bar de motoqueiros. Havia três mesas grandes de sinuca, e um palco para música ao vivo. Algumas pessoas até se aventuravam no Karaokê. Ronan devia conhecer bem o lugar, pois comprimentou amigavelmente o barman. — O que você vai querer beber? Ele perguntou no ouvido dela, pois a música estava alta. — Não sei, me surpreenda. Ele pediu ao rapaz do bar as bebidas e a puxou até uma mesa que estava vaga. — Você precisa tomar uns dois drinks para ganhar coragem e depois vamos começar.
Mesmo depois de mais algumas bebidas, Regina não achou que estava pronta para tentar outra aproximação. Ronan já estava ficando impaciente.— Tudo bem Regina, chega de drinks para você. Eu acho que já está me enrolando, se tomar mais uma Pina Colada, não vai estar em condições de falar com ninguém.— Não seja um pé no saco Ronan, me deixa aproveitar o momento.Ela disse, sorvendo mais um gole pelo canudo do copo.— Aproveitar entrando para dentro do copo? Porque até agora, você nem chegou perto do objetivo que nos trouxe aqui. A única pessoa com a qual falou por mais de cinco minutos fui eu. — Agora você está se subestimando, porque eu te acho uma boa companhia de bar.Ela disse, enrolando um pouco a língua, deixando evidente que a bebida já a afetava.Ronan sorriu da expressão de Regina, ela já falava com a língua arrastada, e apertava os olhos quando olhava para ele, devia estar com dificuldade para focar. A busca pelo contatinho havia oficialmente acabado, o estado alcoólico em que
Quando chegaram na casa de Ronan, Regina parecia pior do que no bar, havia dormido boa parte do caminho, e reclamado de enjoo o restante do tempo. Ele a ajudou a descer e abriu a porta com a mão que tinha livre, pois com a outra a enlaçou pela cintura. A levou até sua cama, a deitou e começou a tirar os sapatos dela.— O Ronan, a minha mãe acha que eu devo, mas eu não quero transar.Ele deu um longo suspiro, pelo visto ela estava pior do que ele imaginava e provavelmente não lembraria daquele diálogo, mas mesmo assim, ele considerou falta de educação não responder.— Não se preocupe, Regina, ninguém vai transar hoje.Ela levantou um pouco a cabeça, parecendo realmente tonta, e se apoiou nos braços.— Isso é bom! Mas não tem nada de errado com você, eu até acho você bem…— ela pareceu confusa com que palavra usar, até que se decidiu. -- transavel, com tudo isso aí de músculos e essas coisas. Mas eu não quero. Eu acho que preciso de algo menos superficial.Ele não sabia se ria ou se sent
Chegaram na casa de Regina bem próximo do meio dia, quando entraram para pegar o capacete e as chaves da moto, a mãe dela já estava arrumando a mesa para o almoço.— Bom dia mãe.— Bom dia senhora.Ela sorriu e seguiu colocando os pratos ao responder para os dois — Por pouco não é boa tarde. Vai ficar para almoçar conosco Ronan?— Não obrigada, eu só vim trazer a Regina e buscar a minha moto mesmo.— Pensa bem, se não ficar vai ter que cozinhar.Regina zombou provocando-o.— Fica Ronan, eu estava contando que você almoçaria conosco.Ele sorriu e se deu por vencido.— Já que as damas insistem, eu não tenho como recusar. Onde é o banheiro?— No corredor, a primeira porta à direita.Regina respondeu, apontando a direção.Quando ele saiu, a mãe dela estava encarando-a sem conseguir esconder um sorriso.— O que foi mãe?Regina perguntou.— Minha filha, cada vez que ele dá um sorriso desses para mim, eu entendo porque você anda sumida. Que homem é esse? Eu já estava achando que você nem vo