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Capítulo 5 - Em busca de um contatinho.

No dia seguinte, Ronan veio no horário combinado para levá-la até a faculdade. Quando escutou a campainha, gritou para a mãe dela mandar ele subir até o quarto. Estava muito insegura com a roupa e precisava da opinião dele.

— Olá outra vez Ronan. — Disse a mãe dela, ainda achando inusitada a situação.

— Olá senhora, a Regina já está pronta?

— Na verdade, ela quer que você suba até o quarto dela.

— Tudo bem, com licença.

Quando ele bateu na porta do quarto, Regina abriu rapidamente parecendo nervosa.

— Isso não vai dar certo. Olha para mim? Eu nunca andei com tanta pele aparecendo.

Ele balançou a cabeça sorrindo e entregou fechando a porta atrás de si. Ela usava uma calça jeans justa e de cintura muito alta, na cor preta e uma blusa cropped, branca, canelada, de gola alta e sem mangas. Nos pés usava um all star tradicional. Ronan a achou muito bem com aquela roupa, valorizava seu corpo.

— Deixa de ser neurótica, não tem nem dois dedos de pele entre sua calça e a blusa. 

Ele disse, tentando incentivá-la. Ela virou uma voltinha para ele avaliá-la.

— Tem certeza que está mesmo bom? 

— Claro, eu não ia deixar você sair de casa se não estivesse menos que perfeita.

Ela sorriu e pegou a bolsa para saírem.

— Ronan, você vale cada centavo investido.

Ele abriu novamente a porta do quarto para ela passar.

— Você nem tem ideia do quanto meu bem.

Quando chegaram na faculdade, seu cabelo, que ela havia deixado solto, estava bagunçado devido ao uso do capacete, então resolveu prendê-lo.

Eles entraram no campus caminhando lado a lado, e os olhares foram inevitáveis. Primeiro porque ele era alguém que as pessoas dificilmente ignoravam quando passava, por ser alto e bastante bonito. Segundo, porque era "ela" que estava com ele. Mesmo vestindo roupas diferentes, ainda era a Regina que todos conheciam e zoavam, e que havia recentemente levado um esculacho do seu pseudo namorado na frente de todos, e ainda fora transmitido nas redes sociais. Ao perceber os olhares, a frágil confiança de Regina começou a murchar, e ela foi diminuindo o passo, dando indícios de que daria meia volta e fugiria daquele lugar. 

Ronan percebeu sua excitação e segurou a sua mão, em um gesto de apoio. Ela parou de caminhar e olhou para as mãos entrelaçadas, em seguida o encarou, grata pelo apoio dele.

Eles trocaram olhares por um minuto, e ele retomou a caminhada com passos decididos, agora com os dois de mãos dadas. 

Ela pegou as cartas que faltavam com os professores e eles decidiram ir a um café comer algo. Quando faziam o caminho até a saído do campos encontram umas meninas do curso de moda, as mesmas que ela sabia haverem filmado a situação toda com o Leonardo. Elas não perdiam uma oportunidade de provocar e debochar dela.

As três param bem a sua frente, atrapalhando a passagem deles.

— Vejam só, parece que a nossa amiga resolveu se vestir de acordo com esse século. O que foi, se desintegraram as peças da avó que costumava usar? E esse quem é? Não vai me dizer que já arrumou outro namorado, o que será que esse quer, talvez a sua herança?

A primeira reação dela foi de passar por elas e seguir sem responder nada, igual fazia sempre. Mas sentir o aperto da mão de Ronan, que quase em nenhum momento desde que haviam chegado ali, havia largado a dela, lhe despertou uma súbita onda de coragem e ela respondeu.

— Sobre as roupas eu apenas comprei novas, porque eu quis e posso. E quanto a ele... — ela gesticulou com a cabeça se referindo a Ronan que estava a seu lado.— … esse eu comprei faz pouco. Vocês sabem, eu sou tão rica que agora resolvi comprar homens para não ter mais esse tipo de problema. E meninas, eu super indico. Não existe o que eles não façam, contanto que tenham dinheiro para pagar é claro, mas não sei se é o seu caso. Enfim, já vamos, afinal tempo é dinheiro.

Ronan precisou se controlar muito para não rir da expressão de choque daquelas garotas, definitivamente aquela não era a resposta que elas esperavam receber. Até mesmo ele havia ficado surpreso com a desenvoltura de Regina. Por trás daquele mar de sentimentos pessimistas e depreciativos de si mesma, ela era uma mulher muito espirituosa e perspicaz. Ele aproveitou, largou a mão dela e pousou o braço por cima de seus ombros, passando pelas rivais, caminhando abraçados. Isso certamente serviu para reforçar todas as ideias que elas deviam estar tendo sobre os favores que ele prestava em troca do dinheiro que sua contratante pagava. Aquilo não o deixava chateado, era confiante demais em suas capacidades para se importar em ser confundido com um garoto de programa. Além disso, era tudo por uma boa causa, a vingança que ela precisava ter para se sentir melhor, no que dependesse dele, Regina teria absoluto sucesso. Caminharam juntos até onde a sua moto estava estacionada, com as outras ainda observando. Ele entrou no personagem e colocou o capacete nela, após dar um rápido beijo no rosto. Sempre sorrindo e encarando-a, como se estivesse muito envolvido. Depois colocou o seu e os dois partiram, deixando ainda uma pequena plateia embasbacada os observando.

Chegaram ao café e escolheram uma mesa que ficava próxima a uma janela. Sentaram-se frente a frente e Regina largou a bolsa na cadeira ao seu lado e declarou.

— Eu não acredito que nos dias de hoje, pessoas crescidas ainda conseguem tempo para zombar de outras gratuitamente. Isso é tão aqueles filmes de colégio dos anos 90.

— É verdade, elas não têm um curso para terminar, um namorado para controlar, enfim, uma vida para viver? Parecem alunas da quinta série. 

A garçonete os interrompeu e eles fizeram os pedidos, antes de Regina seguir com o assunto.

— Eu passo por esse tipo de coisa, desde antes da quinta série. As crianças podem ser muito cruéis. Foi uma vida inteira de bullying.

Ronan se debruçou na mesa, e juntou as mãos antes de falar.

— Eu sei que essas coisas acontecem, mas eu tenho dificuldade em compreender porque a diferença do outro choca tanto as pessoas. Não que qualquer tipo de bullying seja justificável, mas se ainda fosse algo do tipo, se faltasse alguma parte do seu corpo ou tivesse duas cabeças. Mas ser motivo de chacota porque não tem um peso padrão, usa óculos ou gosta de roupas diferentes dos que os outros usam? Não entra na minha cabeça.

— Isso porque você é uma pessoa coerente, que possui mais de dois neurônios. E falando nisso, o que você faz realmente da vida? Além de ser coach de vida e garoto de programa nas horas vagas, é claro.

Ela perguntou, com curiosidade.

Ele sorriu antes de responder o comentário jocoso dela com uma provocação.

— Eu te desafio a adivinhar!

— Como eu vou saber? Pode ser qualquer coisa. Se eu tivesse que chutar, eu diria sei lá, mecânico de automóveis, músico de uma banda de roque.

Ele riu ainda mais com as suposições que ela estava fazendo.

— Você sabe que está apenas me julgando pela minha aparência, não é?

— Sim, mas o que eu posso fazer, não sei nada sobre você.

— No momento eu não estou trabalhando na minha área de formação, mas pasme, eu me formei recentemente em Agronomia.

Ela arregalou os olhos com surpresa.

— Não acredito, isso não tem nada a ver com você! O estilo agroboy passa longe desse corpo.

— Já eu tenho que dizer que o estilo nerd da TI, é exatamente a sua vibe. - ele disse, tentando provocá-la. — O que eu posso dizer, sou de cidade pequena, com a economia totalmente voltada para o agro. Não tinha como fugir disso, desde que nasci eu vivo em fazendas com o meu pai, eu meio que sempre soube que era o que eu queria fazer.

— Muito bem, você pelo visto é uma caixinha de surpresas. Apesar de eu ser da área da tecnologia, eu sou apaixonada pelo campo. Inclusive o meu lugar favorito no mundo é a fazenda do meu tio Andreas, fazenda, castelo, chame como quiser. Se você visse, ia ficar de queixo caído. É o lugar mais bonito que existe no mundo.

Regiana falou muito empolgada, e Ronan lhe brindou com mais um de seus sorrisos.

— Falando assim, você está parecendo realmente apaixonada.

— Sim, eu realmente amo aquele lugar.

Eles foram novamente interrompidos com a chegada da comida.

Conversaram sobre diversos temas, era muito fácil se abrir com ele, Regina pensou. Ele era muito divertido e sincero, sempre falava o que pensava das coisas.

— E então, qual o próximo passo?

Regina o questionou, terminando de comer o hambúrguer que pediu.

— O próximo passo é irmos a um bar, você precisa aprender a socializar.

— Eu posso não sair muito, mas também não sou uma reclusa. Eu consigo socializar.

Ronan a encarou com olhar que deixava clara sua incredulidade.

— Meu bem, quando eu disse socializar, eu quis dizer paquerar, dar em cima de homens, arrumar um contatinho, chame como preferir.

— Ah, entendi. Com isso eu realmente vou precisar de um pouco de ajuda.

Ele se inclinou novamente para a frente, a fim de falar bem próximo ao rosto dela com aqueles brilhantes olhos verdes.

— É para isso que eu estou aqui, por isso agora vou te levar para casa, e te pego novamente às 9, para mais essa lição.

— Mas hoje, assim tão rápido?

— Eu acho que o seu é um caso extremo de falta de vida social, precisamos resolver o mais rápido possível. Os caras legais estão por aí, apenas esperando você decidir que os quer.

Ele falou muito, como sempre muito confiante.

— Tudo bem, mas eu acho melhor você deixar a moto lá em casa, e usarmos um carro de aplicativo, não vai graça se eu tiver que beber sozinha.

— Está bem, combinado. Agora vamos, você ainda precisa planejar a roupa que vai usar, tem que ser algo para parar o trânsito.

Ela se levantou e pegou a bolsa da cadeira ao lado, se apressando para acompanhar os passos largos dele até a porta. 

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