No dia seguinte, Ronan veio no horário combinado para levá-la até a faculdade. Quando escutou a campainha, gritou para a mãe dela mandar ele subir até o quarto. Estava muito insegura com a roupa e precisava da opinião dele.
— Olá outra vez Ronan. — Disse a mãe dela, ainda achando inusitada a situação.
— Olá senhora, a Regina já está pronta?
— Na verdade, ela quer que você suba até o quarto dela.
— Tudo bem, com licença.
Quando ele bateu na porta do quarto, Regina abriu rapidamente parecendo nervosa.
— Isso não vai dar certo. Olha para mim? Eu nunca andei com tanta pele aparecendo.
Ele balançou a cabeça sorrindo e entregou fechando a porta atrás de si. Ela usava uma calça jeans justa e de cintura muito alta, na cor preta e uma blusa cropped, branca, canelada, de gola alta e sem mangas. Nos pés usava um all star tradicional. Ronan a achou muito bem com aquela roupa, valorizava seu corpo.
— Deixa de ser neurótica, não tem nem dois dedos de pele entre sua calça e a blusa.
Ele disse, tentando incentivá-la. Ela virou uma voltinha para ele avaliá-la.
— Tem certeza que está mesmo bom?
— Claro, eu não ia deixar você sair de casa se não estivesse menos que perfeita.
Ela sorriu e pegou a bolsa para saírem.
— Ronan, você vale cada centavo investido.
Ele abriu novamente a porta do quarto para ela passar.
— Você nem tem ideia do quanto meu bem.
Quando chegaram na faculdade, seu cabelo, que ela havia deixado solto, estava bagunçado devido ao uso do capacete, então resolveu prendê-lo.
Eles entraram no campus caminhando lado a lado, e os olhares foram inevitáveis. Primeiro porque ele era alguém que as pessoas dificilmente ignoravam quando passava, por ser alto e bastante bonito. Segundo, porque era "ela" que estava com ele. Mesmo vestindo roupas diferentes, ainda era a Regina que todos conheciam e zoavam, e que havia recentemente levado um esculacho do seu pseudo namorado na frente de todos, e ainda fora transmitido nas redes sociais. Ao perceber os olhares, a frágil confiança de Regina começou a murchar, e ela foi diminuindo o passo, dando indícios de que daria meia volta e fugiria daquele lugar.
Ronan percebeu sua excitação e segurou a sua mão, em um gesto de apoio. Ela parou de caminhar e olhou para as mãos entrelaçadas, em seguida o encarou, grata pelo apoio dele.
Eles trocaram olhares por um minuto, e ele retomou a caminhada com passos decididos, agora com os dois de mãos dadas.
Ela pegou as cartas que faltavam com os professores e eles decidiram ir a um café comer algo. Quando faziam o caminho até a saído do campos encontram umas meninas do curso de moda, as mesmas que ela sabia haverem filmado a situação toda com o Leonardo. Elas não perdiam uma oportunidade de provocar e debochar dela.
As três param bem a sua frente, atrapalhando a passagem deles.
— Vejam só, parece que a nossa amiga resolveu se vestir de acordo com esse século. O que foi, se desintegraram as peças da avó que costumava usar? E esse quem é? Não vai me dizer que já arrumou outro namorado, o que será que esse quer, talvez a sua herança?
A primeira reação dela foi de passar por elas e seguir sem responder nada, igual fazia sempre. Mas sentir o aperto da mão de Ronan, que quase em nenhum momento desde que haviam chegado ali, havia largado a dela, lhe despertou uma súbita onda de coragem e ela respondeu.
— Sobre as roupas eu apenas comprei novas, porque eu quis e posso. E quanto a ele... — ela gesticulou com a cabeça se referindo a Ronan que estava a seu lado.— … esse eu comprei faz pouco. Vocês sabem, eu sou tão rica que agora resolvi comprar homens para não ter mais esse tipo de problema. E meninas, eu super indico. Não existe o que eles não façam, contanto que tenham dinheiro para pagar é claro, mas não sei se é o seu caso. Enfim, já vamos, afinal tempo é dinheiro.
Ronan precisou se controlar muito para não rir da expressão de choque daquelas garotas, definitivamente aquela não era a resposta que elas esperavam receber. Até mesmo ele havia ficado surpreso com a desenvoltura de Regina. Por trás daquele mar de sentimentos pessimistas e depreciativos de si mesma, ela era uma mulher muito espirituosa e perspicaz. Ele aproveitou, largou a mão dela e pousou o braço por cima de seus ombros, passando pelas rivais, caminhando abraçados. Isso certamente serviu para reforçar todas as ideias que elas deviam estar tendo sobre os favores que ele prestava em troca do dinheiro que sua contratante pagava. Aquilo não o deixava chateado, era confiante demais em suas capacidades para se importar em ser confundido com um garoto de programa. Além disso, era tudo por uma boa causa, a vingança que ela precisava ter para se sentir melhor, no que dependesse dele, Regina teria absoluto sucesso. Caminharam juntos até onde a sua moto estava estacionada, com as outras ainda observando. Ele entrou no personagem e colocou o capacete nela, após dar um rápido beijo no rosto. Sempre sorrindo e encarando-a, como se estivesse muito envolvido. Depois colocou o seu e os dois partiram, deixando ainda uma pequena plateia embasbacada os observando.
Chegaram ao café e escolheram uma mesa que ficava próxima a uma janela. Sentaram-se frente a frente e Regina largou a bolsa na cadeira ao seu lado e declarou.
— Eu não acredito que nos dias de hoje, pessoas crescidas ainda conseguem tempo para zombar de outras gratuitamente. Isso é tão aqueles filmes de colégio dos anos 90.
— É verdade, elas não têm um curso para terminar, um namorado para controlar, enfim, uma vida para viver? Parecem alunas da quinta série.
A garçonete os interrompeu e eles fizeram os pedidos, antes de Regina seguir com o assunto.
— Eu passo por esse tipo de coisa, desde antes da quinta série. As crianças podem ser muito cruéis. Foi uma vida inteira de bullying.
Ronan se debruçou na mesa, e juntou as mãos antes de falar.
— Eu sei que essas coisas acontecem, mas eu tenho dificuldade em compreender porque a diferença do outro choca tanto as pessoas. Não que qualquer tipo de bullying seja justificável, mas se ainda fosse algo do tipo, se faltasse alguma parte do seu corpo ou tivesse duas cabeças. Mas ser motivo de chacota porque não tem um peso padrão, usa óculos ou gosta de roupas diferentes dos que os outros usam? Não entra na minha cabeça.
— Isso porque você é uma pessoa coerente, que possui mais de dois neurônios. E falando nisso, o que você faz realmente da vida? Além de ser coach de vida e garoto de programa nas horas vagas, é claro.
Ela perguntou, com curiosidade.
Ele sorriu antes de responder o comentário jocoso dela com uma provocação.
— Eu te desafio a adivinhar!
— Como eu vou saber? Pode ser qualquer coisa. Se eu tivesse que chutar, eu diria sei lá, mecânico de automóveis, músico de uma banda de roque.
Ele riu ainda mais com as suposições que ela estava fazendo.
— Você sabe que está apenas me julgando pela minha aparência, não é?
— Sim, mas o que eu posso fazer, não sei nada sobre você.
— No momento eu não estou trabalhando na minha área de formação, mas pasme, eu me formei recentemente em Agronomia.
Ela arregalou os olhos com surpresa.
— Não acredito, isso não tem nada a ver com você! O estilo agroboy passa longe desse corpo.
— Já eu tenho que dizer que o estilo nerd da TI, é exatamente a sua vibe. - ele disse, tentando provocá-la. — O que eu posso dizer, sou de cidade pequena, com a economia totalmente voltada para o agro. Não tinha como fugir disso, desde que nasci eu vivo em fazendas com o meu pai, eu meio que sempre soube que era o que eu queria fazer.
— Muito bem, você pelo visto é uma caixinha de surpresas. Apesar de eu ser da área da tecnologia, eu sou apaixonada pelo campo. Inclusive o meu lugar favorito no mundo é a fazenda do meu tio Andreas, fazenda, castelo, chame como quiser. Se você visse, ia ficar de queixo caído. É o lugar mais bonito que existe no mundo.
Regiana falou muito empolgada, e Ronan lhe brindou com mais um de seus sorrisos.
— Falando assim, você está parecendo realmente apaixonada.
— Sim, eu realmente amo aquele lugar.
Eles foram novamente interrompidos com a chegada da comida.
Conversaram sobre diversos temas, era muito fácil se abrir com ele, Regina pensou. Ele era muito divertido e sincero, sempre falava o que pensava das coisas.
— E então, qual o próximo passo?
Regina o questionou, terminando de comer o hambúrguer que pediu.
— O próximo passo é irmos a um bar, você precisa aprender a socializar.
— Eu posso não sair muito, mas também não sou uma reclusa. Eu consigo socializar.
Ronan a encarou com olhar que deixava clara sua incredulidade.
— Meu bem, quando eu disse socializar, eu quis dizer paquerar, dar em cima de homens, arrumar um contatinho, chame como preferir.
— Ah, entendi. Com isso eu realmente vou precisar de um pouco de ajuda.
Ele se inclinou novamente para a frente, a fim de falar bem próximo ao rosto dela com aqueles brilhantes olhos verdes.
— É para isso que eu estou aqui, por isso agora vou te levar para casa, e te pego novamente às 9, para mais essa lição.
— Mas hoje, assim tão rápido?
— Eu acho que o seu é um caso extremo de falta de vida social, precisamos resolver o mais rápido possível. Os caras legais estão por aí, apenas esperando você decidir que os quer.
Ele falou muito, como sempre muito confiante.
— Tudo bem, mas eu acho melhor você deixar a moto lá em casa, e usarmos um carro de aplicativo, não vai graça se eu tiver que beber sozinha.
— Está bem, combinado. Agora vamos, você ainda precisa planejar a roupa que vai usar, tem que ser algo para parar o trânsito.
Ela se levantou e pegou a bolsa da cadeira ao lado, se apressando para acompanhar os passos largos dele até a porta.
Quando Ronan a deixou na frente de casa, Regina entrou e já ia direto para o seu quarto, mas percebeu que Céu estava com a sua mãe na sala.— Parada aí, garota. Agora para eu conseguir te ver só dando incerteza aqui na sua casa. E que roupa nova é essa? Eu amei!— Eu tinha que ir lá na faculdade pegar minhas cartas de referência. E andei comprando umas roupas novas.Ela explicou se justificando a amiga.— Sim, é pelo visto qualquer coisa que você precise fazer agora, tem que ser acompanhada daquele cara alto que tem uma moto.— Por acaso vocês não estavam espiando pela janela quando eu cheguei, estavam?
Ronan a levou em um bar que ficava em uma rua com diversos outros estabelecimentos do mesmo tipo. E talvez por uma coincidência do destino, todo o estilo do lugar e a decoração, lembravam um bar de motoqueiros. Havia três mesas grandes de sinuca, e um palco para música ao vivo. Algumas pessoas até se aventuravam no Karaokê. Ronan devia conhecer bem o lugar, pois comprimentou amigavelmente o barman. — O que você vai querer beber? Ele perguntou no ouvido dela, pois a música estava alta. — Não sei, me surpreenda. Ele pediu ao rapaz do bar as bebidas e a puxou até uma mesa que estava vaga. — Você precisa tomar uns dois drinks para ganhar coragem e depois vamos começar.
Mesmo depois de mais algumas bebidas, Regina não achou que estava pronta para tentar outra aproximação. Ronan já estava ficando impaciente.— Tudo bem Regina, chega de drinks para você. Eu acho que já está me enrolando, se tomar mais uma Pina Colada, não vai estar em condições de falar com ninguém.— Não seja um pé no saco Ronan, me deixa aproveitar o momento.Ela disse, sorvendo mais um gole pelo canudo do copo.— Aproveitar entrando para dentro do copo? Porque até agora, você nem chegou perto do objetivo que nos trouxe aqui. A única pessoa com a qual falou por mais de cinco minutos fui eu. — Agora você está se subestimando, porque eu te acho uma boa companhia de bar.Ela disse, enrolando um pouco a língua, deixando evidente que a bebida já a afetava.Ronan sorriu da expressão de Regina, ela já falava com a língua arrastada, e apertava os olhos quando olhava para ele, devia estar com dificuldade para focar. A busca pelo contatinho havia oficialmente acabado, o estado alcoólico em que
Quando chegaram na casa de Ronan, Regina parecia pior do que no bar, havia dormido boa parte do caminho, e reclamado de enjoo o restante do tempo. Ele a ajudou a descer e abriu a porta com a mão que tinha livre, pois com a outra a enlaçou pela cintura. A levou até sua cama, a deitou e começou a tirar os sapatos dela.— O Ronan, a minha mãe acha que eu devo, mas eu não quero transar.Ele deu um longo suspiro, pelo visto ela estava pior do que ele imaginava e provavelmente não lembraria daquele diálogo, mas mesmo assim, ele considerou falta de educação não responder.— Não se preocupe, Regina, ninguém vai transar hoje.Ela levantou um pouco a cabeça, parecendo realmente tonta, e se apoiou nos braços.— Isso é bom! Mas não tem nada de errado com você, eu até acho você bem…— ela pareceu confusa com que palavra usar, até que se decidiu. -- transavel, com tudo isso aí de músculos e essas coisas. Mas eu não quero. Eu acho que preciso de algo menos superficial.Ele não sabia se ria ou se sent
Chegaram na casa de Regina bem próximo do meio dia, quando entraram para pegar o capacete e as chaves da moto, a mãe dela já estava arrumando a mesa para o almoço.— Bom dia mãe.— Bom dia senhora.Ela sorriu e seguiu colocando os pratos ao responder para os dois — Por pouco não é boa tarde. Vai ficar para almoçar conosco Ronan?— Não obrigada, eu só vim trazer a Regina e buscar a minha moto mesmo.— Pensa bem, se não ficar vai ter que cozinhar.Regina zombou provocando-o.— Fica Ronan, eu estava contando que você almoçaria conosco.Ele sorriu e se deu por vencido.— Já que as damas insistem, eu não tenho como recusar. Onde é o banheiro?— No corredor, a primeira porta à direita.Regina respondeu, apontando a direção.Quando ele saiu, a mãe dela estava encarando-a sem conseguir esconder um sorriso.— O que foi mãe?Regina perguntou.— Minha filha, cada vez que ele dá um sorriso desses para mim, eu entendo porque você anda sumida. Que homem é esse? Eu já estava achando que você nem vo
Quando terminaram de almoçar, Regina convidou Ronan para ir com ela até o seu quarto. Se os pais acharam aquilo estranho, não demonstraram nenhuma objeção.Quando ele entrou ela fechou a porta para terem privacidade.— Agora sim espertinho, você me sacaneou legal. Vou ter que preparar algo para a festa deles.Ele se jogou na enorme cama sorrindo, demonstrando estar zero arrependido de ter entregue o segredo dela.— Já estava mais que na hora de você revelar esse talento oculto! Tenho certeza que todos vão amar te ouvir cantar, vai ser o melhor presente de todos.— Eu vou pensar em algo, e combinar com a banda! Preciso também resolver isso do vestido, você também vai precisar de uma roupa.— Caso não tenha percebido, eu tenho roupas.— Você entendeu, algo mais apropriado para essa festa.— E por acaso conhece todas as roupas do meu guarda-roupa ?— Olha, até o momento eu só tive o prazer de te ver com camisetas e essa jaqueta de couro.Ela disse, soando debochada, enquanto andava de um
Quando o filme terminou, Regina estava deitada bem próxima a Ronan e ambos estavam com o cobertor os cobrindo quase ate os olhos. O letreiro final foi subindo na tela e ela foi se distanciando.— Nem foi tão assustador assim!— Então por que motivo você estava agarrada no meu braço como se sua vida dependesse disso?— Você, que estava segurando minha mão, parecia que ia chamar a sua mãe a qualquer momento.Ronan se levantou da cama e começou a calçar os sapatos que estavam jogados no chão do quarto.— Você vai embora essa hora?Ele vestiu também agasalho que havia levado para voltar de moto para casa.— Ainda é cedo, eu preciso tomar banho e arrumar umas coisas. Você não quer ir procurar um vestido para a festa amanhã?— Pode ser, vamos amanhã à tarde se estiver livre. — Ok, eu te pego às 15 horas.— Ok.Eles desceram juntos as escadas e ela o acompanhou até a porta. Sua mãe estava no sofá vendo tv, parecia distraída, mas eles sabiam que estavam sendo observados. Ronan olhou em direç
Regina acordou com uma sensação estranha no dia seguinte, como se tivesse vivido algo que não era certo. O sonho fora muito real, ela podia reviver claramente as sensações que as mãos de Ronan haviam proporcionado. Talvez toda a proximidade dos últimos dias, tivesse contribuído para seu inconsciente ficar criando essas fantasias. E que fantasias, ela lembrou, deitada na cama, com a cabeça escorada no travesseiro, encarando fixamente o teto do quarto. Em seu sonho Ronan fazia coisas com ela, que fariam corar qualquer pessoa de mais pudor. Ela mesmo se julgava cheia de pudores no que se referia a sexo, por isso mesmo estava chocada com as cenas que seu inconsciente havia projetado. De alguma forma, os dois haviam acabado na casa dele, e se beijavam como se não houvesse amanhã. Aqueles beijos expressavam uma necessidade tão grande, uma verdadeira fome um do outro. Ele soltou a grande massa de cabelos encaracolados dela, e entrelaçou seus dedos entre os cachos, segurando firmemente sua c